FORTALEZA HERDOU O ALPENDRE SERTANEJO

                                                                  Nada da Europa se construiu

Foi uma herança sertaneja,

Que com muita peleja

Realizada o povo sorriu;

Atribui-se a Belle Époque

Construção de bangalôs,

Isto são alôs

Que francês, é o sertão no toque;

 

 

O Alpendre do Sertão

O homem com suor ainda a cair

Vem para casa se recolher,

Depois ainda tem o que fazer

Vai ainda se reunir;

 

Palco da conversa dos sertanejos

No armador redes armadas,

No embalar contam-se piadas

De todos vêm gracejos;

Aí o gado rugindo já dentro do curral

As galinhas no poleiro adormecendo,

O dia já está morrendo

A labuta chegou ao final;

 

Com o cheiro da roça trabalhada

O vento assobiando no matagal,

Ao longe rugido de algum animal

Procurando ainda pousada;

 

Todo se reúne após a ceia

Para comentar como foi o dia,

No convívio quanta alegria

Nada de conversa feia;

Enfadados se recolhe o povo

O recanto fica melancólico,

Mas é efêmero e simbólico

Amanhã tem de novo;

 

Fica o grilo, e o barulho do vento

Estalando a folha seca do cajueiro,

É barulho corriqueiro

Tudo ao relento;

Depois a lua invade com imensidão

Trazendo sua luz prateada

Deixando a melancolia escanteada

Para o alpendre não ficar na solidão.

 

 

OS LAZARETOS NA FORTALEZA DE ANTES DE ONTEM

 

Lazzaretto em Veneza – Itália

Lazareto palavra italiana (Lazzaretto), remota ao Lázaro bíblico expressado numa das parábolas de Jesus Cristo, cujo registro está no Evangelho de Lucas capitulo 16, versículos 19 ao 31.

Lázaro sofria o mal de chagas, ou seja lepra, doença contagiosa, tal qual a que seriam a varíola e a cólera. O bacilo de Hansen que a ciência descobriria em 1873 (daí o nome “Hanseníase”) e outras doenças contagiosas, levaram as autoridades sanitárias a isolar os que eram acometidos.

Na época da criação dos Lazaretos, não existia cura para as doença contagiosas, e o tratamento com isolamento perdurou, segundo o doutor Lima Junior Biomédico*, até 1940.

Hoje existe o combate eficaz, e a varíola segundo a OMS, foi erradicada em 1980.

 

Retroagindo

A saúde pública sofreu mudanças, um dos benefícios da vinda da família real para o Brasil em 1808. Dom João VI que já havia tomado conhecimento destas pestes na Europa, abriu os portos, criou o Banco do Brasil, e daí investimentos no setor. Criou-se duas escolas médicas: Escola de Cirurgia da Bahia, e a Médica no Rio de Janeiro.

Foi Luís Barba Alado de Meneses, o primeiro governador a ter a responsabilidade de preparar médicos para o Ceará Autônomo da Colônia, mas devemos o avanço ao Inácio de Sampaio que Governou de 1812 até 1820, a concretização dos Lazaretos e pequenas casas de atendimento médico pois, o Primeiro hospital público seria o Hospital da Caridade, depois Santa casa de Misericórdia que data de 12 de março de 1857, ao lado do Campo da Pólvora (Passeio Público).

O primeiro Lazareto é datado de 1814, e a assistência aos doentes em sua maioria indígenas, era feita pelos Jesuítas, mas de modo precário em local de taipa, com cobertura de palhas de coqueiros. O serviço não era organizado, e os pacientes muitas vezes eram abandonados após cada crise.

No entardecer do Brasil Colônia quando o mesmo passou para Reino-Unido, o Governador Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, criou casas de saúde para abrigar doentes contagiosos, principalmente os leprosos, daí o nome “ Leprosários ou Lazaretos”.

Por volta de 1817, começou os estudos para a estruturação no meio social urbano da cidade de Fortaleza; isto devido a percepção dos habitantes especificamente os acometidos dos males infectocontagiosos. A cidade se delineou quanto sua estrutura ao se falar em Cadeias Públicas, Lazaretos, criação de cemitérios já que, os enterramentos eram feitos nas igrejas.

Lazareto era sinônimo de uma espécie de quarentena preventiva ou seja, um local que possibilitava a desinfecção de mercadorias e as pessoas que, chegassem de regiões suspeitas.

Havia um contexto que, em meados do século XVIII, existisse uma relação empírica comercial, principalmente em locais banhados pelo mar, e que isto vinha ocorrendo desde a idade média.

Na gestão de Inácio Sampaio, em 1819 foi construído mas já com tijolo de alvenaria e cobertura de telhas, o Lazareto no Sítio Jacarecanga, logo após a passagem sobre o Riacho do mesmo nome, por Barcos.

Vista Aérea e o Local do Campo Baturité marcado. Foto de 1956

 

Arqueologia Involuntária

No Campo de Baturité, uma das quadras do Jacarecanga no entorno Sul da Vila São José, o autor destas linhas acompanhou como curioso, as escavações para a construção da Autoviária São Vicente de Paula em 1970, onde constantemente era encontrada ossadas humana.

Em 1975, já no Governo Adauto Bezerra defronte ao extinto SAPS na Avenida Francisco Sá, aconteceu o mesmo. Ossadas humanas encontradas, o que pressupõe a existência do cemitério dos coléricos, e dos pacientes do Lazareto que no desprezo por ali morriam.

Eu ainda alcancei um galpão com portas verde fechados, na Rua Monsenhor Dantas, onde vizinho, a Família dos Figueiredo construíram a Cajubraz em 1965. Os mais antigos diziam que aquele galpão fechado era a administração de “Campo Sagrado”. Cinco anos após, o mesmo seria destruído como já foi descrito: erguimento da Autoviária São Vicente de Paula.

Lembro-me que vinha umas caminhonetes da polícia fazer este resgate e, depositava os restos mortais no Cemitério São João Batista, no mausoléu chamado “Ao Cristão Desconhecido”. Tudo está indelével em minha mente, pena que não tenho documentos comprobatórios.

Ilustração interna de um Lazareto

 

Lazareto de Lagoa Funda

O segundo Lazareto, o de lagoa Funda surgiu em 1855, tendo sido autorizado por uma sessão da Junta real da Fazenda. Em terreno adquirido do coronel Francisco Xavier Torres, o Presidente da Província, João Silveira de Sousa teve essa iniciativa prevendo o surto colérico que estava ameaçando as Províncias do Pará, Bahia e Rio de janeiro, e estava prestes a chegar ao Ceará.

João Silveira de Sousa

Concluído no ano de 1856, o surto do Cólera-morbo não atingiu a cidade com a intensidade que receavam as autoridades. Fez vítimas em Maranguape e Pacatuba no ano de 1862.

Nos anos de 1878 até 1879 o Ceará vivenciou uma das piores secas de sua história. Vieram então para a cidade de Fortaleza em busca de assistência, milhares de retirantes. Nesse período ocorreu um surto de varíola sem precedentes na cidade e o Lazareto da Lagoa Funda era o único lugar para onde poderiam ser enviados os doentes.

No ano 1878 o lazareto da Lagoa Funda teve seu ápice de funcionamento. Neste período, mais precisamente no dia 10 de dezembro de 1878, deram entrada em um dia no cemitério do Lazareto, 1004 corpos. Naquele ano de 1878, o obituário em Fortaleza registrou 57.780 mortos, a maioria vítima da varíola.

O cemitério do Lazareto de Lagoa Funda, também foi confirmado através de ossadas encontradas na hoje Rua Olavo Andrade e no entorno da Lagoa Funda que fora aterrada em 1979. Atualmente existe em seu local um conjunto habitacional, beirando a Avenida Leste Oeste, próximo à Colônia. A natureza não se defende, se vinga. Constantemente ocorre enchentes nestes locais.

A entrada para este Lazareto era na Carroçável Estrada dos Carvalhos, Estrada do Urubu hoje Francisco Sá. Após a Via Férrea, entrava-se na antigas Rua da Felicidade, atual Dom Helder Câmara.

 

Fim dos Lazaretos

Por fim o Lazareto de Jacarecanga foi fechado quando da inauguração da Santa casa (1861), e o de Lagoa Funda após a estiagem de 1877.

 

Communico(sic) a Vossa Excelência que tendo hontem(sic) sahido(sic) do lazareto da Lagoa – Funda a ultima doente, que ali se achava em tratamento, fiz fechar o hospital depois de haver mandado lavar e desinfectar(sic) convenientemente”  Inspetoria de Higiene e Saúde Pública. Ofício N ° 286 de 15 de Novembro de 1877…Correspondência Expedida do médico encarregado do hospital João Moreira da Rocha ao Presidente da Província Caetano Estellita Cavalcante Pessôa 17 de Agosto de 1877.

Esta é uma síntese do início do serviço de saúde pública do Ceará, que se tem registro.

Fontes Primárias:

– Arquivo Público do Estado;

– Respostas Imunológicas ao Mycobacterium Leprae nas Formas Clínicas Tuberculóide e Virchowiana     Monografia do doutor Francisco Assis Silva de Lima Junior,

Biomédico – Patologista Clínico CRBM nº 8592.

– Lazaretos da Jacarecanga e da Lagoa Funda (1819 – 1891) Hévila de  Lima Martins,                 Mestranda – UFC.

Obra:

– Barbosa, José Policarpo de Araújo: A História da Saúde Pública do Ceará, Edições UFC,1994.

Adendo: Última Pandemia no Brasil

 

Observemos este Recorte de 1918 referente a Gripe Espanhola.

Da Inspetoria de Higiene

 

FORTALEZA DO TEMPO E CONTRA TEMPO

 

Louvação ao Mucuripe

 

 

Desta praia da ponta do Mucuripe

 Aportaram piratas loucos,

E das matas que ladearam o Maceió

Lamentaram nativos que hoje dá dó;

Deixaram lembranças à sombra do mirante

Barcos aventureiros no marulho das vagas;

Velas balançam ao sabor do vento

Das entranhas da fêmeas,

 Às entranhas do mar

Sempre ao sabor do amor e da dor;

E a jangada que ao relento se faz

Esta nova praia será o passeio público,

Ou será sempre anseio público.

Será que não existiu local dos boêmios,

 Pastores da madrugada?

Dos que se inspiravam sob a luz da lua cheia

Repousando sobre as ondas espumantes?

Na vila de pescadores,

 Idosos fitam seus olhos para a maré,

Da janela lamentam a vida que por ele passou

A vida requer pressa mas pra quem quiser;

;

Litoral de Fortaleza que beleza,

És um amor que horror!

O que tu foste fazer

Nem barba tens ainda

E já estás a envelhecer!!!

Transcrito/Reescrito/Compilado

 

 

 

AVENIDA FRANCISCO SÁ ANTIGA ESTRADA DO URUBU

 

Avenida em 1936

 Avenida Francisco Sá, no final do século XIX, era um estreito caminho que nascia ao Noroeste do campo onde seria construída a praça do liceu. Após a ponte de madeira que transpassava o navegável riacho Jacarecanga, existiam os Lazaretos (desativados em 1866) e aí a carroçável estrada prosseguia de Fortaleza até a fazenda do Coronel Antonio Joaquim Carvalho.

Ao norte da propriedade do Coronel que já se chamou Jardim Petrópolis, próximo ao atual Planalto das Goiabeiras, seria construído um aterro sanitário para ser popularmente conhecido como “Rampa”. Eu já falei sobre o exórdio no capítulo “Origem do Jacarecanga”.

Todos sabem que lixo atraem urubus, e assim para toda aquela região, surgiu a nomenclatura “Bairro do Urubu”. Exemplos da popularidade contagiante foram percebidos quando: A Rede de Viação Cearense – RVC /RFFSA/CFN atual Transnordestina Logística S/A –  inaugurou em 1930 seu parque de manutenção mecânica, e foi batizada como “Oficinas do Urubu”; igualmente, a Rádio Iracema de Fortaleza ZYR-7 1300 kHz, quando começou a irradiar em outubro de 1948, a estação transmissora foi instalada nas dunas do Urubu. Sendo assim, a Estrada do Urubu em 1928 passou a denominar-se Avenida Demósthenes Rochert, cujo empedramento foi inaugurado aos 28 de junho de 1931 e recebeu o nome de “5 de julho”. O povo de Fortaleza agora já podia transitar em duas mãos do Jacarecanga até a Barra do Ceará, onde na época pousavam os hidroaviões.

Em 1936 ocorrendo a morte do Engenheiro baiano mas que fora Ministro da Viação e Obras Públicas e Senador da República eleito pelo Estado do Ceará, Francisco Sá. Então, posteriormente essa importante via recebeu o seu nome.

Andar pela Avenida Francisco Sá é respirar um ar de aristocracia, afinal a Aldeota ainda era o Outeiro, e o bairro Dionísio Torres se resumia numa grande fazenda onde, os coqueirais dançavam na brisa da velha Estância Castelo.

Saindo da Praça do Liceu em rumo Oeste, quem não se lembra da mansão do Coronel Pedro Philomeno? Da Vila Quinquinha residência do empresário Oscar pedreira com a garagem de seus ônibus?  Do riacho jacarecanga (ainda bem limpo), do SAPS; SAMDU; da Autoviária São Vicente de Paula e o mercadinho Público na beira da Via Férrea de Baturité? Após a passagem de nível tínhamos a José Pinto do Carmo, Casa Machado, Alumínio Ceará, Brasil Oiticica e etc. Depois Autoviária São Vicente de Paula criaria uma linha “Avenida Francisco Sá”, cujo final do percurso era onde foi construído o Hospital infantil. Isto tudo é saudade.

Francisco Sá

Senador e Ministro da Viação e Obras Públicas

A Avenida Francisco Sá que compreendia da Praça do Liceu até os Sete prédios na Barra do Ceará, era a única artéria de Fortaleza com três cruzamentos com a via férrea. A primeira era no Jacarecanga; a segunda no Carlito Pamplona; e a terceira no Urubu que seguia como Ramal Ferroviário da Barra, e que fora erradicado em 1954.

Hoje parece que enxergamos menos do que gente pequena; vez por outra trafego nesta avenida, e não vejo mais nada disso. Nem mesmo a casa da vovó Ester defronte ao desaparecido SAPS. Ninguém era neto daquela anciã, apenas a meninada da Vila São José, tirava do seu sitio caju sem sua permissão, levando vez por outra carreira do seu caseiro.

Inicio da Avenida Francisco Sá

 Casarão da Família José Pinto do Carmo

 Ônibus da Empresa São Cristóvão

A Avenida ainda tinha mão dupla

 Avenida Francisco Sá, vendo-se o inicio da José Bastos

 Brasil Oiticica

Administração das Oficinas dos Urubus

Inaugurada em 1930

INTELECTUALIDADE FORTALEZENSE NA INFLUÊNCIA DO CAFÉ

Pelas Gôndulas da Estrada de ferro de Baturité

Fortaleza começou a receber café do maciço.

 

 Situado a uma distância de 80 km de Fortaleza, o Maciço de Baturité é definido como área de mata atlântica, onde dos 38.220 hectares é ocupado pelo Maciço, sendo em 1990 definidos como Área de Proteção Ambiental.

O Café foi introduzido no Ceará no século XVIII e, a partir de então, tem se constituído uma importante cultura, sobrevivente às instabilidades do mercado nacional, internacional e limitações locais.

Em todo empreendimento existe os fatores que influenciam e os que motivam. O café foi incentivador na construção da Estrada de Ferro de Baturité em 1870, seguindo do açúcar, calcário e pastoreio.

Café em Fortaleza

O café passou a ser transportado em grandes quantidades não só do interior para a Capital, bem como em sítio na periferia, trazidos em carroças, já que no último quartel do século XIX só existia o trem como transporte de massa.

O point ou reduto dos intelectuais, na Fortaleza Antiga era os café que existiam em cada esquina. A marca fazia a patente, ninguém chamava de lanchonete e/ou restaurante mas, como o café era o carro chefe, denominava-se aquele estabelecimento como “Café”.

Em face deste relato vou descrever os nomes dos cafés existentes naquela época, e contar um pouco dos quatros, que existiram na Praça coração da cidade, mas devido a expressividade deste ouro preto, o escritor destas linha vai pecar por omissões.

 

► O Café Java, que ficava no canto Nordeste da Praça do Ferreira era o mais antigo, datando de 1887; Foi no Café Java de Propriedade do Sr. Manuel Pereira dos Santos (Manuel Côco) que nasceu em 1892 o maior movimento literário de Fortaleza: A Padaria Espiritual. Todos os escritores e poetas eram chamados de Padeiro-mor, e tinham pseudônimo. Felix Ganabarino era o nome de Adolfo Caminha, aracatiense.

 

 

Café e Restaurante do Comércio, foi levantado no canto Noroeste. Foi erguido pelo negociante Pedro Ribeiro Filho. Obteve também licença da Câmara Municipal para em 10 de junho de 1891 construir mais um café: o Elegante. Estes eram os maiores tendo em vista, ter a parte superior;

 

 

O Café Elegante, que tinha parte superior como já foi dito, localizava-se olhando para a Torrefação de Joaquim Sá na Praça do Ferreira, vizinho ao que seria o Posto Mazine. Seu primeiro proprietário foi Arnaud Cavalcante Rocha, que o chamava de Café Chie. Já com o nome de café Elegante, o mesmo foi transferido para a firma Porto & Irmão.

 

O Café Iracema era um restaurante localizado no Sudoeste da Praça. Pertencia a Antônio Teles de Oliveira, a qual por sua vez foi transferido à firma Pereira & Silva. Com a inauguração do Cine Theatro Majestic (1917), o Café Iracema melhorou e muito seus frequentadores pelo privilégio de ser o mais próximo desta casa de diversão.

Fim dos Quiosques da Praça do Ferreira

Em 1920, estava prefeito de Fortaleza, Godofredo Maciel e decretou a derrubada destes quatros quiosques, o que evidentemente desfigurou a Praça, afinal com os cafés foram também o Cajueiro Botador e mutilou o Jardim 7 de Setembro feito por Guilherme Rocha em 1902. No meio da Praça do Ferreira construíram um Coreto, que lá perdurou até 1933, quando o Prefeito Raimundo Girão levantou a Coluna da Hora.

 

Mas…. O assunto é Café, portanto, continuemos;

 

 

Café Expresso, o prédio ainda existe, porém camuflado com faixas de lojas. Ficava baixos da Pensão Amélia Campos, nada familiar.

 

Café Fênix  localizado na Rua Pitombeira (Floriano Peixoto, esquina com a Travessa das Hortas (Senador Alencar) na Praça do Mercado de Ferro.  1906.

 

Café Havaí, parada obrigatória dos motoristas e fraquentadores do Abrigo central.

 

Café Presidente, no Abrigo Central vizinho ao “Pedão da Bananada”.

 

Riche e Emidgio estes cafés eram quase vizinhos. O Riche ficava na esquina do pecado, Major facundo com Guilherme Rocha. O Emygdio era na ponta do Sudoeste do “Quarteirão Desaparecido”, com uma parte na Major facundo e outra olhando para a Praça do Ferreira.

 

 

Café Rotissérie, era no antigo Clube Iracema, hoje agencia bancária.

 

 

► Café Belas Artes, era localizado no edifício do Palácio do Comércio na Rua São Paulo. Lá era reduto dos políticos, pois, era de localização privilegiada olhando para a Assembléia Legislativa e o Palácio da Luz na Praça dos Leões.

 

 

Café Pelotas, foi localizado no canto Sudeste da Praça Visconde Pelotas, da Bandeira e hoje Clovis Beviláqua. O Calçamento que vemos é a Rua Senador Pompeu que na época era Rua da Amélia. Foto de 1906.

Epílogo: O último café que eu conheci e na contemporaneidade frequentei foi o do “Waldo”, baixos do Edificio Jalcyr Metrópole na esquina das Ruas Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco. Os seus frequentadores eram os banqueiros de Praça, vindos das Praças José de Alencar e do Ferreira.

Em 1990 o Prefeito Juraci Magalhães  teve como primeiro projeto ao assumir a gestão municipal no lugar de Ciro Gomes,  devolver as Praças ao  povo de Fortaleza. O logradouro foi fechado e a empresa que havia ganhado a licitação começou as obras para varrer a mostrenga praça  que havia sido feita por  José Walter em 1967.

O povo ficou em casa  sem suas praças, Os que viam ao centro passavam despercebido, por tomar um gostoso cafezinho.

Em 1991, quando sob efusivos aplausos Juraci  Magalhães  devolveu a Praça do Povo, os frequentadores   procuraram o Café do Waldo e, o ponto já estava fechado.

Tomar café só em casa, ou na gentileza de algum amigo.

Além de ser uma fonte de energia, o café dá disposição, bota pra correr a moleza e serve como lenitivo cerebral fomentando inspiração.

Por causa dele escrevi isto.

 

Nota: As fotografias deste post, com exceção da Gôndula do Trem, foram reproduzidas de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

AVENIDA DA UNIVERSIDADE, ANTIGA ESTRADA DO ARRONCHES

Registro mais antigo da Estrada do Arronches

Hoje Avenida da Universidade

 A avenida da universidade no Siará Grande era uma artéria aberta pelos holandeses que queriam no olho, chegar a bonita serra azul: Maranguape. Só que quando chegou à Porangaba se toparam com uma linda lagoa e surgiu a primeira bifurcação em Y que a cidade registra. Os exploradores holandeses encontraram próximo outra lagoa: a de Maraponga. E as abertura foram dos dois lados. Por uma estrada chegaram na serra de Maranguape e por a outra ficou em Mondoig = Mondubim. A aventura de chegarem à Pacatuba não concretizou.

Inicio da Avenida da Universidade. 1937

Em revista ao percurso encontrado, o Senador Alencar pai do romancista José de Alencar, achou interessante o potencial econômico dos locais descoberto pelos flamengos, bem como os recursos hídricos que eram as belas lagoas (Porangaba e Maraponga).

O Presidente Alencar não hesitou e assinou em 1836, decreto autorizando à Província um alargamento no canto sudoeste de um largo que se denominaria Praça da Bandeira. Esta foi a primeira rua aberta para o interior na época, ou seja como foi dito: Estrada do Arronches, já que os holandeses haviam dado início nesta primitiva estrada carroçável.

Inicio da Avenida João Pessoa.

Com este serviço de abertura a coisa foi sendo urbanizada e assim nasceu o nome Benfica, pois, se tinha uma visão privilegiada. Como parece que tudo que é bonito é efêmero, a imposição política nocauteia o que é de interesse e satisfação do povo. Os nomes de ruas eram mais bonitos, românticos. Na posteriori e com pedras toscas, colocaram o nome de Avenida Visconde de Cauhípe homenageando Severiano Ribeiro da Cunha (1831-1876). Natural de Caucaia ele era comerciante e Filantropo. Havia exercido vários cargos políticos sem filiação partidária.

Severiano Ribeiro da Cunha

A Universidade Federal do Ceará foi criada oficialmente pela Lei N° 2 373, de 16 de dezembro de 1954, e instalada em sessão no dia 16 de junho de 1955. Aí pela localização denominou-se devido ao complexo de prédios com salas de ensino superior, Avenida da Universidade. Aliás, não gosto de chamar Avenida, ruas de mão única.

Estão cogitando para que a Avenida da Universidade seja chamada de Antônio Martins, magnificência exordial na reitoria do Ceará. Bons nomes nunca devem ser esquecidos, bem como a Rua Baturité (antiga Escadinha) deveria se chamar  Christiano Câmara, homenagem mais que merecida, ao grande pesquisador e musicólogo. Filho do Jornalista Gilberto Câmara, nasceu na casa e nela morreu aos 80 anos em 2015. Nada mais sugestivos.

Agora tomemos cuidado para que esses nomes, não tirem da Avenida e/ou Rua a sua essência.

Lagoa da Maraponga

Inicio da estrada de Mondubim

 

Fotos reproduzidas do Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

VILAS OPERÁRIAS, UM EMBLEMA DE JUSTIÇA SOCIAL

 

Vila Operária da Estrada de Ferro de Baturité

Avenida da Universidade, Estrada do Arronches Ontem

Que não seja pensado na casa popular como uma coisa do Governo Federal, através dos programas dos Conjuntos habitacionais, Proafa, Cohab no início dos anos de 1970.

. Proafa, para quem nunca soube era a Fundacao Programa de Assistência as Favelas da Região Metropolitana de Fortaleza.

Em um tempo mais recente passou a existir “Minha Casa Minha Vida”, tudo isto objetivando uma casa para o necessitado.

Agora pergunta-se: por que ainda existe o déficit habitacional? A resposta é “ninguém está preocupado com essa necessidade primária da população”; com êxodo rural, processo migratório tudo isto incha as chamadas Zonas de Risco com famílias morando na beira de rios, ou em terrenos marginais. Com construções desordenada e promíscuas, aqueles agora são chamados de Comunidades, tendo em vista chamar “Favela” é preconceito hoje.

Os empresários da indústria de ontem já se preocupava com a moradia de seus empregados. AÍ NASCEU AS VILAS OPERÁRIAS que estrategicamente eram construídas próximo do complexo industrial. Quem primeiro construiu Vila Operária no Ceará, foi a Estrada de Ferro de Baturité, construindo uma na Avenida da Universidade (Estrada do Arronches na época) e outra na entrada do Pirambú.

Os observadores da cidade de Fortaleza, antes da criação do

Mutilada mais ainda existe a segunda Vila Operária da Ferrovia Cearense.

Avenida Jacinto de matos entrada do Pirambu

 Parque Industrial, notadamente decifrava aquelas moradas como “Vila Operária da Fábrica tal”.

► Tomaz Pompeu Têxtil tinha sua vila no Bairro Olavo Bilac;

► Fábrica Santa Cecília da Unitêxtil ficava no seu entorno na Parangaba;

► Gasparian Têxtil, era a Vila São Pedro próximo à Avenida Duque de Caxias;

► Casa Machado com manufatura do caroço de algodão também tinha uma Vila Chamado São Pedro também na beira da via férrea de Baturité;

► José Pinto do Carmo tinha sua vila por detrás do Posto Clipper no início da rua José Bastos.

► Clemente Sanches e Alumínio Ceará tinha a Vila Assis, Inicio da Rua Monsenhor Dantas, no Jacarecanga;

►A Siqueira Gurgel (Usina Ceará) sua vila operária era no Cercado José Padre, olhando para a Igreja N.S. das dores. Depois com a urbanização da Avenida Bezerra de Menezes sendo alargada em 1959, as casas foram mutiladas;

► A Katu do Brasil tinha sua vila próximo do Paiol da Pólvora;

► a Fábrica São José, apesar de não mais existir, e embora mutilada, a Vila do mesmo nome ainda sobrevive, e lá foi meu berço, no ex-aristocrático Jacarecanga.

Vila Operária da Siqueira Gurgel, desaparecida em 1959.

Vila São Pedro para os operários da Casa Machado no Jacarecanga

 

Por fim, havia sido criado bem no coração da hoje grande parquelândia, a “Vila dos Industriários”, o que levou empresários a criar uma linha de ônibus com este nome.

As diferenças sociais e econômicas contribuem para as disparidades, antagonismo e até mesmo rivalidades. A desigualdade faz isto pois, esta é uma sociopatia em nossa Nação. Um Brasil rico, mas onde o pobre fica mais pobre e o rico mais rico.

Vila São José

Rua Dona Bela

Atentemos a belíssima justiça social deixada como legado dos nossos industriais: “Fazer casa para seu trabalhador”.  Só podia existir empatia, afinal, todos tinha a mesma posição, salário e ambiente igualitário. O local do trabalho prazeroso para o sustento das famílias, era a segunda casa de todos.

Vilas existem as mais diversas, e tem sua origem histórica no Brasil colônia. Na grande Fortaleza ainda temos: Vila Betânia, Vila Simone, Vila Sarita, Vila Santo Antonio, Vila Manuel Sátiro etc….

Agora, Vila Operária é muito melhor, pois foi um emblema que marcou capitulo da história social de Fortaleza.

 

MUCURIPE BAIRRO INICIADO POR PESCADORES

O Ramal da Marítima nasceu no Bairro Moura Brasil

A expressão “história de pescador” para quem desconhece é milenar, pois, segundo as “Escrituras Sagradas”, o Profeta Jonas recebeu uma ordem de Deus para evangelizar a cidade de Nínive. O mesmo em desobediência ao recado do Céu, tomou um navio com destino a Társis, quando um juízo divino provocou uma tempestade.

Jonas a pedido foi jogado pelos marinheiros no mar revolto e, ao ser tragado por um grande peixe fez-se bonança. Após três dias o peixe gigante vomitou o profeta em terra próximo a Nínive. Aí os pescadores ao contemplarem essa cena começaram a espalhar na cidade e, todas as vezes que Jonas era visto, o povo dizia: “Esse é o homem que veio até nós chegando de peixe”. Foi um grande milagre da parte de Deus, o peixe levar o mensageiro ao seu destino e também o mesmo não ter sofrido o menor arranhão, porém ninguém acreditava nesta história por ser contada por pescadores.

Como era Fortaleza em 1810.

Pois bem, o Brasil foi descoberto no Ceará quando em 2 de janeiro de 1500 o olhar pioneiro do navegador espanhol Vicente Ianez de Pinzon captou as dunas do Siará grande, porém, em 1494 havia sido assinado em Tordesilha na Espanha um tratado entre Portugal e o mesmo e por conta desse pacto a descoberta oficial devia ser dos portugueses, coisa que só aconteceria na Bahia aos 22 de abril de 1500. Com todo respeito que tenho pela nossa história, quer os baianos queiram ou não, o Brasil foi descoberto no Ceará.

Embora o historiador Tomás Pompeu Sobrinho e outros tenham afirmado ser o Cabo de Santa Maria de La consolacion, o Rostro Hermoso a Ponta Grossa ou Jabarana no Município de Aracati, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem defende que, o local visitado pelos espanhóis era a ponta do Macorie, nome este encontrado no mapa das capitanias hereditárias em 1574. Posteriormente essa nomenclatura sofreu modificações terminando em Mocoripe – Mucuripe.  José de Alencar, o romancista diz que essa palavra vem de Corib “Alegrar” e Mo vem do verbo Monhang, tornando o ativo passivo. Talvez Alencar quisesse referir-se aos morros, por ter causado alegria aos navegantes.

Rua da Cadeia – General Sampaio

 

Em 1603 Pero Coelho de Souza chegando ao Ceará, não conseguiu se instalar no Rostro Hermoso tendo em vista os nativos oferecerem resistência. Os habitantes primitivos da ponta do Mucuripe aos poucos foram sendo dominados pelos invasores e com a imposição da cultura lusa, o remanescente foi se adaptando à civilização, porém por amor aos morros, ao navegável riacho Maceió e a calma oferecida pelo iodado vento leste, isoladamente preferiram viver em comunidade tendo a “Caça e Pesca” como produtos de consumo e exportação.

No início do século XX, toda a população do Mucuripe era agasalhada em vilas com casas de taipa sem planejamento.

Em 1929, começou a ser discutido o projeto de um novo porto para Fortaleza, quando foi enviada para a Capital uma comitiva de engenheiros do Ministério da Viação e Obras públicas. O resultado foi que, realmente o novo porto deveria ser localizado na ponta do Mucuripe como já tinha sugestões. O espigão para a retenção das ondas do mar seria construído defronte ao velho farol e aí se fez necessário que, os trilhos da Rede de Viação Cearense que se encontravam na ponte metálica se prolongassem para o Mucuripe pela beira mar.

O ramal ferroviário que ligou a ponte metálica ao Mucuripe, segundo o pesquisador Nirez, foi um presente de Natal do ano 1933.

Trilhos atravessando a Avenida Atlântica 

Agora o leitor está convidado a fazer uma viagem no tempo por o trem da praia por este antigo ramal:

# O inicio dessa viagem é na pedreira da Monguba distrito de Pacatuba, porém vamos embarcar na Estação central. Estamos na Rua Padre Mororó no Morro do Moinho, avistando em baixo o terreno da família Torres e o mar ao largo com as ondas espumantes. Contemplamos no local hoje ocupado pelo Hotel Marina, as estreitas ruas Santa Terezinha, São Pedro, São José e São Francisco. O ramal da marítima desce em busca da praia formosa. Passando pela rua da cadeia (General Sampaio), começamos a captar ao lado do Passeio Público o movimento das caldeiras pertencentes a “The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd” usina fornecedora de energia elétrica e concessionária dos serviços de bondes de Fortaleza. Em nossa frente agora o prédio da Recebedoria do Estado (Secretaria da fazenda) e aí nos emparelhamos com a Avenida Pessoa Anta, por uma linha que nos leva ao mar, deixando como ramal, a linha morta da Alfândega.

Avenida Beira Mar

                 A jornada agora é pela Orla Marítima. Por detrás do majestoso edifício de pedra outro Aparelho de Mudança de Via (agulha). Seguimos em reta ficando do lado esquerdo a linha da Ponte Metálica. Agora sim entramos na linha do mar. A viagem segue cortando a Avenida Almirante Tamandaré e por um portão chegamos ao pátio do Departamento de Viação e Obras; Saímos ao lado da igreja de São Pedro palmilhando pela Avenida Aquidabã. Fazemos uma diagonal em solo de areia e o Ideal Clube vai ficando para trás. A linha em tangente deu condição para a locomotiva à vapor aumentar sua velocidade.

Chegando na Volta da Jurema, vemos a Avenida dos Jangadeiros, os coqueiros a dançarem e lá está o tamarindeiro com uma caixa d’água. É hora de parar a locomotiva Baldwin tipo 0-4-0 nº 25 “A mariquita”, para que a mesma tome água. Após essa pausa a máquina arquejando, prossegue viagem passando por detrás da Rua da Frente (engraçado!).

Trem trafegava no pé do morro.

        A Vila de pescadores recebendo o refrescante vento da maresia, o veemente som do marulho das vagas, de longe percebe a passagem do trem. O comboio levantando a poeira do pé do morro presta continência ao velho Farol chegando ao canteiro das obras do porto.

Com motor de Caterpillar o Titan (pode

 Trem e Farol  –  Registro de 1937

roso guindaste proveniente do Rio de Janeiro e montado em 1939) começa a descarregar as pedras das gôndolas, sob os olhares dos engenheiros Rodolfo Lange e Aristides Barcelos responsáveis pelo setor de obras da construção do Cais.

Assim foi construído o espigão como retentor da fúria do mar e, com o posterior assoreamento se criaria a hoje Praia Mansa ou Praia do Titanzinho. #

Ramal do Mucuripe – 1942

Todo bairro sofre transformações sociais e paisagísticas, o que ofende ao geógrafo sentimental. O Mucuripe assim como outros bairros de nossa Fortaleza passaria por profundas transformações. Senão vejamos:

► Em 28 de janeiro de 1941 foi inaugurado pelo interventor Menezes Pimentel o ramal ferroviário Parangaba-Mucuripe e aí com as pedras sendo transportadas pela nova linha, os trilhos da beira mar foram entregues às intempéries.

► O Acrísio Moreira da Rocha construiu a Avenida da Abolição;

► Cordeiro Neto urbanizou a Avenida Beira Mar que, depois homenagearia político não brasileiro.

Obras e o Titan

A memória do humilde Mucuripe só não foi ainda apagada pela especulação imobiliária, devido à resistência do seu povo que defende sua cultura. Pense num Mucuripe sem constar nomes como o do jornalista Blanchard Girão, do Padre José Nilson e a Vera Miranda (Verinha) com seus memoriais? Lamentamos todos nos deixarem, mas temos o Memorial do Mucuripe!

► Por fim aos 25 de dezembro de 1947, o serviço portuário de Fortaleza passou a ser feito no Mucuripe ainda em botes e Alvarenga. A ponte metálica nesse mesmo dia foi desativada.

► O primeiro navio de grande porte a fundear no novo porto foi o “Mormacred” vindo dos Estados Unidos e aqui chegando aos 28 de junho de 1949.

► A Rede de Viação Cearense recebeu aos 2 de outubro de 1949, suas três primeiras locomotivas Diesel-elétricas, fabricadas pela Whitcomb nos USA.

►A companhia de petróleo Shell Mex surgiu em 27 de março de 1950.

Trem no Mucuripe com o porto em obras

O porto depois passou a ser a Companhia Docas do ceará e a Rede Ferroviária Federal S/A, antiga RVC, inaugurou seu majestoso pátio de manobras aos 10 de setembro de 1982. (O autor estava manobrador nesta ocasião).

Complementando, o último trem que circulou pela Avenida Beira Mar foi aos 13 de novembro de 1946. Segundo o velho funcionário do Lóide brasileiro, Sr. João Dantas Neto, a composição tinha 8 vagões e pasmem: Referido trem devido a vários descarrilamentos e com a queda da grelha da máquina, levou mais de dois dias para trafegar da Ponte Metálica ao Porto do Mucuripe.

Bem, vou parar por aqui senão a história desse trem pode virar conto de pescador…

Nota: Neste post, o autor recorreu a notável obra do Jornalista Miguel Ângelo de Azevedo – Nirez: “Cronologia Ilustrada de Fortaleza” BNB 2001.

Vila de Pescadores na Volta da Jurema. 

 

PRAÇA DA ESTAÇÃO UM CAMPO HISTÓRICO

Praça em 1937

 

No terreno onde seria estabelecida a Cidade de Fortaleza, no século XVI ainda existia domínio indígena até que, os holandeses conseguiram em meio a massacres se estabelecerem. Matias Beck (comandante Flamengo) ergueu o Forte de Shoonemboorch, com a finalidade de se defender dos nativos aliados aos portugueses, às margens do Riacho Pajeú no monte Marajaituba (hoje 10ª Região Militar).

Pois bem, ao Oeste do Forte no mesmo nível, estava “O Morro Croatá” que serviu de base militar no século XVII, e que posteriormente em 1859 por ordem da Corte, fora construído um observatório astronômico.  Com o apelido de “Comissão borboletas. Estes cientistas enviados pelo Imperador D. Pedro II, tinham como missão estudar a causa das constantes secas.

Inicio da Rua 24 de Maio. Foto de 1911

Ao lado desse observatório ficava o “Campo da Amélia”, que inaugurado em 29 de junho de 1830, homenageou a II Imperatriz do Brasil, D. Amélia Leuchtthemberg. Foram plantados neste campo vários juazeiros e, um bonito gramado divido em quadras. Conta-se que foi de onde surgiu a redundante frase: “Não pise na grama”.

Ilustração atribuída a Comissão Borboleta

O assentamento da pedra fundamental para o início da construção da Estação Central, ocorreu no final da tarde de  20 de janeiro de 1872, estando presente  o Comendador João Wilkens de Matos, Presidente da Província, e também o seu antecessor, Conselheiro Barão de Taquari, Corpo Legislativo, autoridades civis e militares, funcionários públicos, Clero, Nobreza e Populares.

O engenheiro Jerônimo Luís Ribeiro, nomeado pela diretoria da Estrada de Ferro de Baturité, foi contratado por empreitada para os serviços do trecho Fortaleza a Pacatuba, incluindo um ramal que, saindo da Estação iria para o Porto e a Alfândega (hoje Praia de Iracema). Como reforço o Dr. Luis Ribeiro indicou o também engenheiro inglês Edmund Compton, que estava trabalhando no Maranhão para também tecnicamente assistir o início das obras.

O terreno total da Empresa era de 2.238 m² e desta área 91 m² destinou-se para a edificação do vasto salão para atendimento aos passageiros.

No beco onde seria a atual Avenida Tristão Gonçalves (Centro de Fortaleza) a Câmara de Vereadores, tinha autorizado as obras de alargamento em 40 palmos, destinando tal serviço à passagem da Via Férrea, cuja estaca havia sido batida em 1871. Com a abertura da estrada foram aparecendo casebres e consequentemente passou na época a chamar-se: “Rua Trilho de Ferro”.

A colocação da Empresa em terreno no Morro do Croatá, foi como mandou a tradição “Num ponto que também fosse vista para o mar, como era o forte, o hospital da misericórdia e a cadeia pública. Assim a estação obrigaria o navegante bem de longe aproximar-se com respeito”. (Compilado de João Nogueira, do livro Fortaleza Velha, 1954).

O Campo da Amélia que ficava defronte da Estação Central teve uma parte transformada em uma praça conhecida como “Praça da Estação”.

Em 1882 chamaram-na de “Senador Carreira”;

Aos 24 de maio de 1900 foi erguida a estátua do General Sampaio, e o local foi batizado de “Praça da Via Férrea”, pois a Rua da Cadeia teve o seu nome trocado para homenagear o General Sampaio, assim como a Rua do Patrocínio pelo dia 24 de maio.

Na gestão do Prefeito Raimundo Girão, aos 31 de dezembro de 1932, fora assinado a lei nº. 075 e a Praça da Estação ou Via Férrea, oficialmente passou a se chamar “Praça Castro Carreira”.

Em 1966 quando o prefeito era Murilo Borges, a estátua do General Sampaio, fora doada para o quartel do CPOR na Avenida Bezerra de Menezes. Referida praça fora cortada e calçamentada para ser terminal de ônibus. Os fícus benjamins plantados na primeira administração Álvaro Weyne (1928-1930), foram quase todos derrubados.

Neste local em que nasceu a conhecida “Feira dos Pássaros”, hoje extinta pelo IBAMA, o governador Gonzaga Mota por ocasião do centenário da libertação dos escravos no Ceará (25/03/1984), erigiu um monumento no mesmo local da estátua do General Sampaio. Com a implantação do Metrô de Fortaleza, muita coisa mudou.

Como sempre a popularidade prevalece: “Vamos à Praça da Estação!!!”.

Foto colhida por Luciano Carneiro. Década dos anos de 1930. 

 

 

FRUTAS E HORTALIÇAS NA FORTALEZA ANTIGA

 

 Vista Aérea da Avenida Alberto Nepomuceno 1937

Observa-se a arborização da Rua do Chafariz

Nossa Fortaleza sempre foi bucólica e sendo assim, não seria de estranhar os nomes antigos das avenidas e ruas que expressaram à posteriori os sentimentos existentes dos que viveram na época.

Todas as nomenclaturas tinham a ver com a natureza e/ou pontos de referência das ruas ainda descalças.

As ruas próximas aos rios caudalosos e aqui referindo-me ao Riacho Pajeú, tendem a sofrer infiltrações enriquecendo seu lençol freático. Esta abundância do liquido precioso favoreceu a lavoura, arborização e o ajardinamento.

Lagoa do Garrote em 1892.

A frente da Igreja do Coração de Jesus era virada para a Lagoa.

Toda água que abastecia a Fortaleza Antiga saía em carroças da Lagoa do Garrote (Parque das Crianças),da Rua dos Quarteis, da Lagoinha (Praça Capistrano de Abreu) e da Rua do Chafariz, atualmente José Avelino.

A Rua dos Chafarizes começava na Rua da Ponte (Alberto Nepomuceno) e terminava por detrás da casa de Mr Hull na ladeira da Prainha, onde o Bonde da Praia tinha seu terminal. Depois a Marinha do Brasil instalaria sua Agencia da Capitania dos Portos no logradouro existente em 1923.

Remotando o texto,

Até 1827, Fortaleza não tinha noção do que fosse abastecimento de água. O comerciante Abel Pinto vendia águas em carroças com entrega em domicílio, retiradas de fontes das nascentes localizada na Rua dos Quartéis, defronte a Igreja da Sé. (Rua General Bizerril).

Aspecto primitivo da Rua dos Quarteis.

Com autorização da Câmara Municipal, foram iniciados estudos do projeto de Abastecimento pelo Engenheiro Berthot em 1861. Um ano após foi concedido privilégio ao José Paulino Hoonholtz, a fim de fazer o encanamento de seu sítio no Benfica, para espalhar a rede hidráulica pela cidade.

Apesar de em 27 de maio de 1863, ter sido celebrado o contrato, e o início das obras verificado na tarde de 27 de março de 1867,  as Caixas de água da Praça da Bandeira, atual Praça Clóvis Bevilacqua, só foram concluídos no ano de 1924 e inauguradas em 1927, pela The Ceará North Brazil Company Limited..

Praça da Bandeira e as Caixas D’águas

A atividade de entrega de água em residências cessou: A Lagoa do Garrote ainda existe bem no Centro do Parque da Liberdade (Cidade da Criança); A Lagoinha fora aterrada, e a Estrada de Ferro de Baturité – RVC construiu no local, uma caixa d’água movida a cata-vento para abastecimento de suas locomotivas, que à época eram à Vapor. Depois da Praça ir se urbanizando em 1929 o Prefeito Álvaro Weyne trouxe da Alemanha a Fonte dos Cavalos, sabe-se lá se não foi uma homenagem para aquele solo em riqueza hídrica?

Outro ponto de água potável era como o próprio nome diz: Travessa das Hortas (Rua Senador Alencar), em local ao lado Sul onde o Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba) residia, casarão este demolido por não suportar o tempo. Em seu local é erguido uma agência bancária. Diz os historiadores que, existia lavouras de onde juntamente com as existentes na Rua José Avelino, abastecia Fortaleza com frutas e hortaliças.

Atendendo aos reclames, aos 18 de abril de 1897 foi inaugurado na Rua Pitombeira (Floriano Peixoto), o Mercado de Ferro por o Intendente Guilherme Rocha e o Governador Nogueira Accioly. No mesmo período foi inaugurado o Matadouro Público no que seria Bairro Otávio Bonfim. Nesta fase acabou também a matança clandestina de animais para consumo humano. Os animais eram sacrificados em terrenos marginais, com altos e baixos e daí até hoje, quando a carne é improcedente dizemos: “Carne da Moita”..

Aspectos do Mercado de Ferro

As residências da Rua José Avelino (Do Chafariz), passaram a usar a abundância de suas águas para o ajardinamento e arborização.

Hoje são vários mercados públicos, Supermercados e mercantis de esquina que vendem frutas e hortaliças, só que através da Central de Abastecimento – CEASA, mancha negra que ficou na história da gestão de Cesar Cal’s em 1973. Tudo ficou caro, para o Estado arrecadar mais.

Frutas e hortaliças já foram mais baratas, mas tudo começou como já foi descrito.

        Chafariz Antigo