Assis Lima
Assis Lima

INTELECTUALIDADE FORTALEZENSE NA INFLUÊNCIA DO CAFÉ

Pelas Gôndulas da Estrada de ferro de Baturité

Fortaleza começou a receber café do maciço.

 

 Situado a uma distância de 80 km de Fortaleza, o Maciço de Baturité é definido como área de mata atlântica, onde dos 38.220 hectares é ocupado pelo Maciço, sendo em 1990 definidos como Área de Proteção Ambiental.

O Café foi introduzido no Ceará no século XVIII e, a partir de então, tem se constituído uma importante cultura, sobrevivente às instabilidades do mercado nacional, internacional e limitações locais.

Em todo empreendimento existe os fatores que influenciam e os que motivam. O café foi incentivador na construção da Estrada de Ferro de Baturité em 1870, seguindo do açúcar, calcário e pastoreio.

Café em Fortaleza

O café passou a ser transportado em grandes quantidades não só do interior para a Capital, bem como em sítio na periferia, trazidos em carroças, já que no último quartel do século XIX só existia o trem como transporte de massa.

O point ou reduto dos intelectuais, na Fortaleza Antiga era os café que existiam em cada esquina. A marca fazia a patente, ninguém chamava de lanchonete e/ou restaurante mas, como o café era o carro chefe, denominava-se aquele estabelecimento como “Café”.

Em face deste relato vou descrever os nomes dos cafés existentes naquela época, e contar um pouco dos quatros, que existiram na Praça coração da cidade, mas devido a expressividade deste ouro preto, o escritor destas linha vai pecar por omissões.

 

► O Café Java, que ficava no canto Nordeste da Praça do Ferreira era o mais antigo, datando de 1887; Foi no Café Java de Propriedade do Sr. Manuel Pereira dos Santos (Manuel Côco) que nasceu em 1892 o maior movimento literário de Fortaleza: A Padaria Espiritual. Todos os escritores e poetas eram chamados de Padeiro-mor, e tinham pseudônimo. Felix Ganabarino era o nome de Adolfo Caminha, aracatiense.

 

 

Café e Restaurante do Comércio, foi levantado no canto Noroeste. Foi erguido pelo negociante Pedro Ribeiro Filho. Obteve também licença da Câmara Municipal para em 10 de junho de 1891 construir mais um café: o Elegante. Estes eram os maiores tendo em vista, ter a parte superior;

 

 

O Café Elegante, que tinha parte superior como já foi dito, localizava-se olhando para a Torrefação de Joaquim Sá na Praça do Ferreira, vizinho ao que seria o Posto Mazine. Seu primeiro proprietário foi Arnaud Cavalcante Rocha, que o chamava de Café Chie. Já com o nome de café Elegante, o mesmo foi transferido para a firma Porto & Irmão.

 

O Café Iracema era um restaurante localizado no Sudoeste da Praça. Pertencia a Antônio Teles de Oliveira, a qual por sua vez foi transferido à firma Pereira & Silva. Com a inauguração do Cine Theatro Majestic (1917), o Café Iracema melhorou e muito seus frequentadores pelo privilégio de ser o mais próximo desta casa de diversão.

Fim dos Quiosques da Praça do Ferreira

Em 1920, estava prefeito de Fortaleza, Godofredo Maciel e decretou a derrubada destes quatros quiosques, o que evidentemente desfigurou a Praça, afinal com os cafés foram também o Cajueiro Botador e mutilou o Jardim 7 de Setembro feito por Guilherme Rocha em 1902. No meio da Praça do Ferreira construíram um Coreto, que lá perdurou até 1933, quando o Prefeito Raimundo Girão levantou a Coluna da Hora.

 

Mas…. O assunto é Café, portanto, continuemos;

 

 

Café Expresso, o prédio ainda existe, porém camuflado com faixas de lojas. Ficava baixos da Pensão Amélia Campos, nada familiar.

 

Café Fênix  localizado na Rua Pitombeira (Floriano Peixoto, esquina com a Travessa das Hortas (Senador Alencar) na Praça do Mercado de Ferro.  1906.

 

Café Havaí, parada obrigatória dos motoristas e fraquentadores do Abrigo central.

 

Café Presidente, no Abrigo Central vizinho ao “Pedão da Bananada”.

 

Riche e Emidgio estes cafés eram quase vizinhos. O Riche ficava na esquina do pecado, Major facundo com Guilherme Rocha. O Emygdio era na ponta do Sudoeste do “Quarteirão Desaparecido”, com uma parte na Major facundo e outra olhando para a Praça do Ferreira.

 

 

Café Rotissérie, era no antigo Clube Iracema, hoje agencia bancária.

 

 

► Café Belas Artes, era localizado no edifício do Palácio do Comércio na Rua São Paulo. Lá era reduto dos políticos, pois, era de localização privilegiada olhando para a Assembléia Legislativa e o Palácio da Luz na Praça dos Leões.

 

 

Café Pelotas, foi localizado no canto Sudeste da Praça Visconde Pelotas, da Bandeira e hoje Clovis Beviláqua. O Calçamento que vemos é a Rua Senador Pompeu que na época era Rua da Amélia. Foto de 1906.

Epílogo: O último café que eu conheci e na contemporaneidade frequentei foi o do “Waldo”, baixos do Edificio Jalcyr Metrópole na esquina das Ruas Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco. Os seus frequentadores eram os banqueiros de Praça, vindos das Praças José de Alencar e do Ferreira.

Em 1990 o Prefeito Juraci Magalhães  teve como primeiro projeto ao assumir a gestão municipal no lugar de Ciro Gomes,  devolver as Praças ao  povo de Fortaleza. O logradouro foi fechado e a empresa que havia ganhado a licitação começou as obras para varrer a mostrenga praça  que havia sido feita por  José Walter em 1967.

O povo ficou em casa  sem suas praças, Os que viam ao centro passavam despercebido, por tomar um gostoso cafezinho.

Em 1991, quando sob efusivos aplausos Juraci  Magalhães  devolveu a Praça do Povo, os frequentadores   procuraram o Café do Waldo e, o ponto já estava fechado.

Tomar café só em casa, ou na gentileza de algum amigo.

Além de ser uma fonte de energia, o café dá disposição, bota pra correr a moleza e serve como lenitivo cerebral fomentando inspiração.

Por causa dele escrevi isto.

 

Nota: As fotografias deste post, com exceção da Gôndula do Trem, foram reproduzidas de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

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