A CAPELA DE ÁGUAS DAS MARACANÃS

 

 

Estrada carroçável que ligava a Estrada de Maranguape a Maracanaú

 

Documentos do século dezenove dão conta de que, existia o Pequeno Arraial da Pavuna na estrada de Pacatuba, vilarejo de Maranguape, e que pertencia a Antiga Missão de Paupina criada aos 6 de agosto de 1649, onde foram aldeados os índios Paupina e Parnamirim em Messejana. Os Pitaguarys ficavam na Sesmaria onde era habitada por estes índios do mesmo nome, hoje uma Fazenda na localidade de Santo Antônio.

Com a freguesia que havia sido criada em 15 de maio de 1759, o Conselho do Governo Provincial aos 13 de maio de 1833, transferiu sua sede para Maranguape e extinguiu a Vila de Messejana, anexando-a como distrito da Capital do Ceará.

A formação toponímica de Maracanaú provém do Tupi MARACANAHÚ de onde se extrai: Maracanãs (aves) + Hú (águas) = águas das maracanãs, ou lugar onde bebem as maracanãs. A grande lagoa das maracanãs era um dos importantes recursos hídricos, pois, o município de Maranguape foi banhado também pelos rios Gereraú, Pirapora e Gavião que descia a encosta oriental da serra de onde, formavam após passar pela cidade, os ricos canaviais. O rio Cocó foi formado pelos Pitaguarys e Genipabus.

 

Capela de Maracanaú em seu estado original. 1879.

 

Contextualizando

A Diocese do Ceará foi criada em 1853 por um decreto do Imperador Dom Pedro II. No ano seguinte, em 6 de junho de 1854, o Papa Pio IX expediu a Bula Pro animarum salute “Pela Salvação das Almas”, criando a Diocese nos trâmites da Igreja.

As dioceses só podiam ser criadas pelo Papa após o decreto imperial. A bula papal só foi oficializada em 1860, depois de sete anos de briga entre Vaticano e o Estado brasileiro. Desmembrada de Olinda, a Diocese era quase todo o território da Província do Ceará.

Civilmente, o Ceará já se havia emancipado da Província de Pernambuco desde 1799. Eclesiasticamente, até 1854, era apenas Vigararia Forânea da Diocese de Olinda.

O território da nova Diocese era quase o mesmo do atual Estado do Ceará. Faltavam na época apenas as paróquias de Crateús e Independência, que ainda eram ligadas a São Luís do Maranhão.

A população da Diocese do Ceará, era no tempo, calculada em 650.000 habitantes. A população era quase totalmente católica, pois o recenseamento de 1888 mostrava apenas cento e cinquenta protestantes e uma dúzia de judeus. A cidade de Fortaleza constava de cerca de 9.000 habitantes.

Nessa época havia na Diocese 34 paróquias e um curato. O número de igrejas era de 78 e o de capelas 11, em toda a província do Ceará.

Antes de ser diocese, o Bispo de Olinda, nomeava Visitadores Eclesiásticos para a Vigararia do Ceará. O primeiro desses visitadores foi Frei Félix Machado Freire (1735) e último foi Padre Antônio Pinto de Mendonça (1844 a 1881). O primeiro bispo da Diocese foi Dom Luis Antônio dos Santos.

 

Estação Ferroviária e a Capela. 1906.

Em 19 de março de 1874, foi solenemente inaugurada pelo bispo do Ceará, uma “Capela” no distrito de Maracanaú, aproveitando o período em que estava sendo catequizado os indígenas que lá viviam. Estiveram também presentes Tomaz Pompeu de Souza Brasil pela EFB, e Francisco Teixeira de Sá, paraibano que presidia a Província cearense.

 

Maracanaú em 1919.

 

“A propósito da subseção de Maracanaú, vem a pelo registrar a origem da capela dessa povoação obscura, mas de um bucolismo encantador e a que nos prende sentimentos de grata recordação. O pequenino templo foi construído por iniciativa dos engenheiros da Companhia Cearense, a cujos trabalhos consagravam suas horas de laser mediante subvenção do Governo da Província e auxílio da verba (socorros públicos) ”. (Transcrito sem SIC). Do livro “A Origem da Viação Férrea Cearense”, 1923, Octávio Memória Editora Minerva, página 27.

 

A edificação do pequeno templo teve projeto do Engenheiro Luiz Ribeiro responsável pela construção do trecho ferroviário Mondubim – Maracanaú, sob a coordenação do fluminense doutor José Privat que construiu a Capela. O mesmo era fiscal geral da Estrada de Ferro de Baturité. (O trem foi o responsável pelo incremento econômico/social daquela região).

 

Vista em dois sentidos da Capela

 

Maracanaú passou a ser distrito de Maranguape a partir de 1902, e a Capela passa a pertencer à jurisdição eclesiástica de Maranguape, até que, em 1952, ganha autonomia, sendo ligada à Fortaleza, quando era bispo de Fortaleza Dom Almeida Lustosa.

A Paróquia São José de Maracanaú (conhecida popularmente como Igreja Matriz de Maracanaú, ou apenas Matriz de Maracanaú) é um templo católico que coordena as atividades das demais igrejas e capelas do município. Localizada em frente à Praça Padre José Holanda do Vale (Praça da Estação), é a igreja mais antiga de Maracanaú.

 

Estação Ferroviária. 

Fontes:

– Arquivo Público do Estado Ceará;

– Arquidiocese de Fortaleza, entrevista com o diácono Ximenes Aragão, 2009;

– Memória, Octávio: A Origem da Viação Férrea do Ceará, Tipografia Minerva, 1923.

Fotografias: Domínio Público, Álbum do Justa, Álbum do Boris e Redes Sociais.

 

PADARIA ESPIRITUAL PRECURSORA DAS ACADEMIAS

 

 

 

 Café Java, no canto Nordeste da Praça do Ferreira

Nasceu a Padaria Espiritual

 

Fortaleza, final do Século XIX.

Durante seis anos, uma sociedade de “rapazes de Letras e Artes” daria o que falar. Bem-humorados, ousados, sobretudo talentosos, os membros da PADARIA ESPIRITUAL protagonizaram, no antagônico recém criado Estado, um movimento literário modernista que antecedeu em muitos anos a Semana de Arte Moderna e seria um destaque histórico, fomentando os que estudam a Literatura Brasileira. Escasso são os relatos sobre o que foi a Padaria, como atuavam os padeiros, quais eram seus postulados e como os traduziam no O Pão, jornalzinho de oito páginas, que circularia até o nº 36, deixando um rastro de irreverência notória.

 

 

Os “padeiros” assinavam seus textos com pseudônimos, o que geralmente chocava as pessoas, pois muitos dos pseudônimos remetiam a elementos nacionais e/ou regionais, uma forma de criticar o academicismo presente nas associações literárias de até então.

 

Poeta Antonio Sales

 

 

Antônio Sales, considerado o idealizador da Padaria Espiritual, foi Moacir Jurema, Adolfo Caminha foi Félix Guanabarino, Jovino Guedes foi Venceslau Tupiniquim, Lívio Barreto foi Lucas Bizarro, entre outros “rapazes de letras e artes”, isto é, integrantes da Padaria Espiritual que adotaram pseudônimos considerados ousados, naquele contexto.

Um dos principais objetivos do grupo era promover o gosto pela literatura na sociedade, isto é, estabelecer uma sociedade literária (renovada, original) em seu tempo, considerando a apatia literária da sociedade cearense da época.

 

 

 

O escritor Antônio Sales, ao redigir o Programa de Instalação da Padaria Espiritual, espécie de estatuto, composto de 48 itens, acerca das premissas e propostas da padaria, foi responsável pela construção de uma estrutura para ”legitimar” o movimento.

O estatuto foi lido pela primeira vez na inauguração da agremiação literária, no dia 30 de maio de 1892, no Café Java, na Praça do Ferreira, em Fortaleza.

 

 

 

A Padaria Espiritual foi uma das mais singulares agremiações culturais tanto do Ceará como do Brasil. Por ela passaram escritores que ajudaram a compor parte significativa da atividade artística e da imprensa na província cearense. O intuito de seus idealizadores era despertar, na sociedade, o gosto pela arte.

Como já havia precedentes de sociedades artísticas, muitas delas de caráter formal e retórico, decidiram produzir algo original e até mesmo escandaloso, que repercutisse no gosto do povo. Antônio Sales redigiu seu programa de instalação e foi um dos principais responsáveis pela publicação do jornal da agremiação, O Pão. A Padaria Espiritual não era uma sociedade exclusivamente das Letras, mas das artes em geral, pois o grêmio contou tanto com prosadores e poetas, quanto com pintores, desenhistas e músicos.

 

 

Diferente mocidade Cearense comprometida com os interesses econômicos dos emergentes setores urbanos e de estreita ligação com as tradicionais oligarquias rurais, o grupo dos padeiros, oriundo dos Novos do Ceará diferente do arsenal teórico científico pautado nas ideias positivas e evolutivas iria propor um novo projeto literário baseado nos valores e hábitos do
“tipo” campestre, heroico e valente. O movimento literário e artístico dos artistas padeiros
seria uma “cousa nova”, fugindo, pois, das formalidades científicas e bacharelescas dos tantos
outros movimentos acontecidos anteriormente. De forte caráter boêmio e pilhérica o movimento dos padeiros causou “escândalo” numa pacata e provinciana Fortaleza de então, acostumada à seca, à pilheria e ao aluá.

Manuel Coco proprietário do Café Java, lamentou e muito vendo Fortaleza entrar no século XX, ficando para trás, dois anos a Padaria Espiritual.

Funcionamento da Padaria:

“Um Padeiro Mor”; “Dois Forneiros”; “Um Gaveta”; “Um Guarda Livros”; “Um Investigador”; e os demais eram “Amassadores”. A sede da Padaria era chamada de Forno e a cada reunião era chamada de “Fornada”.

 

 

 

ESTATUTO DA PADARIA ESPIRITUAL

            Eis os Estatuto da Padaria Espiritual, movimento pioneiro no Ceará — terra de José de Alencar — e precursor das academias de letras em terras brasileiras. Movimento modernista, ainda hoje atual, com 40 anos de antecedência à Semana de Arte de 1922.

1) Fica organizada, nesta cidade de Fortaleza, capital da “Terra da Luz”, antigo Siará Grande, uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral.

 

2) A Padaria Espiritual se comporá de um Padeiro-Mór (presidente), de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador das Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Providência, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão a denominação geral de Padeiros.

 

3) Fica limitado em vinte o número de sócios, inclusive a Diretoria, podendo-se, porém, admitir sócios honorários que se denominarão Padeiros-livres.

 

4) Depois da instalação da Padaria, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer outro trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.

 

5) Haverá um livro especial para registrar-se o nome comum e o nome de guerra da cada Padeiro, sua naturalidade, estado, filiação e profissão a fim de poupar-se à Posteridade o trabalho dessas indagações.

 

6) Todos os Padeiros terão um nome de guerra único, pelo qual serão tratados e do qual poderão usar no exercício de suas árduas e humanitárias funções.

 

7) O distintivo da Padaria Espiritual será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira, que terá as cores nacionais.

 

8) As fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à excepção das quintas-feiras, e aos domingos, ao meio-dia.

 

9) Durante as fornadas, os Padeiros farão a leitura de produções originais e inéditas, de quaisquer peças literárias que encontrarem na imprensa nacional ou estrangeira e falarão sobre as obras que lerem.

 

10) Far-se-ão dissertações biográficas acerca de sábios, poetas, artistas e literatos, a começar pelos nacionais, para o que se organizará uma lista, na qual serão designados, com a precisa antecedência, o dissertador e a vítima. Também se farão dissertações sobre datas nacionais ou estrangeiras.

 

11) Essas dissertações serão feitas em palestras, sendo proibido o tom oratório, sob pena de vaia.

 

12) Haverá um livro em que se registrará o resultado das fornadas com o maior laconismo possível, assinando todos os Padeiros presentes.

 

13) As despesas necessárias serão feitas mediante finta passada pelo Gaveta, que apresentará conta do dinheiro recebido e despendido.

 

14) E proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula, sendo, porém, permitido o emprego dos neologismos do Dr. Castro Lopes.

 

15) Os Padeiros serão obrigados a comparecer à fornada, de flor à lapela, qualquer que seja a flor, com excepção da de chichá.

 

16) Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar no sábado café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina, pode ser dispensado da multa da semana seguinte.

 

17) O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plagio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.

 

18) Todos os Padeiros serão obrigados a defender seus colegas da agressão de qualquer cidadão ignáro e a trabalhar, com todas as forças, pelo bem estar mútuo.

19) É proibido fazer qualquer referência à rosa de Maiherbe e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos álbuns.

 

20) Durante as fornadas, é permitido ter o chapéu na cabeça, exceto quando se falar em Homero, Shakespeare, Dante, Hugo, Goethe, Camões e José de Alencar porque, então, todos se descobrirão.

 

21) Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.

 

22) Será dada a alcunha de “medonho” a todo sujeito que atentar publicamente contra o bom senso e o bom gosto artísticos.

 

23) Será preferível que os poetas da “Padaria” externem suas idéias em versos.

 

24) Trabalhar-se-á por organizar uma biblioteca, empregando-se para isso todos os meios lícitos e ilícitos.

 

25) Dirigir-se-á um apelo a todos os jornais do mundo, solicitando a remessa dos mesmos à biblioteca da “Padaria”.

 

26) São considerados, desde já, inimigos naturais dos Padeiros – o Clero, os alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.

 

27) Será registrado o fato de aparecer algum Padeiro com colarinho de nitidez e alvura contestáveis.

  28) Será punido com expulsão imediata e sem apelo o Padeiro que recitar ao piano.

 

29) Organizar-se-á um calendário com os nomes de todos os grandes homens mortos, Haverá uma pedra para se escrever o nome do Santo do dia, nome que também será escrito na Ata, em seguida à data respectiva. 30) A “Avenida Caio Prado” é considerada a mais útil e a mais civilizada das instituições que felizmente nos regem, e, por isso, ficará sob o patrocínio da Padaria,

 

31) Encarregar-se-á um dos Padeiros de escrever uma monografia a respeito do incansável educador Professor Sobreira e suas obras.

 

32) A “Padaria” representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias.

 

33) Nomear-se-ão comissões para apresentarem relatórios sobre os estabelecimentos de instrução pública e particular da Capital relatórios que serão publicados,

 

34) A Padaria Espiritual obriga-se a organizar, dentro do mais breve prazo possível, um Cancioneiro Popular, genuinamente cearense.

 

35) Logo que estejam montados todos os maquinismos, a Padaria publicará um jornal que, naturalmente, se chamará O Pão.

 

36) A Padaria tratará de angariar documentos para um livro contendo as aventuras do célebre e extraordinário Padre Verdeixa.

 

37) Publicar-se-á , no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações uteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.

 

38) A Padaria terá correspondentes em todas as capitais dos países civilizados, escolhendo-se para isso literatos de primeira água.

 

39) As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio excetuadas: as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.

 

40) A Padaria desejaria muito criar aulas noturnas para a infância desvalida; mas, como não tem tempo para isso, trabalhará por tornar obrigatório a instrução pública primada.

 

41) A Padaria declara desde já guerra de morte ao bendegó do “Cassino”.

 

42) É expressamente proibido aos Padeiros receberem cartões de troco dos que atualmente se emitem nesta Capital.

 

43) No aniversário natalício dos Padeiros, ser-lhes-á oferecida uma refeição pelos colegas.

 

44) A Padaria declara embirrar solenemente com a secção “Para matar o tempo” do jornal “A Republica”, e, assim, se dirigirá à redação desse jornal, pedindo para acabar com a mesma secção.

 

45) Empregar-se-ão todos os meios de compelir Mané Coco a terminar o serviço da “Avenida Ferreira”.

 

46) O Padeiro que, por infelicidade, tiver um vizinho que aprenda clarineta, pistom ou qualquer outro instrumento irritante, dará parte à Padaria que trabalhará para pôr termo a semelhante suplício.

 

47) Pugnar-se-á pelo aformoseamento do Parque da Liberdade, e pela boa conservação da cidade, em geral.

 

48) Independente das disposições contidas nos artigos precedentes, a Padaria tomará a iniciativa de qualquer questão emergente que entenda com a Arte, com o bom Gosto, com o Progresso e com a Dignidade Humana.

 

Amassado e assado na “Padaria Espiritual”, aos 30 de Maio de 1892.

 

Seguem-se as assinaturas dos padeiros presentes, em número de dezoito, faltando, portanto, duas assinaturas.

Fontes:

A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará – Sânzio de Azevedo, 1983;

Os Padeiros e Seu Periódico, edição fac-similar do O Pão, publicada em coedição pelas Edições UFC e ACL.

O OPERÁRIO, 1892 Dr. Castro Lopes

Presença da Padaria Espiritual na História da Imprensa e das Artes no Ceará – Luciana Brito

Fotos: Os registros iconográficos foram reproduzidos de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidos.

A CASA MAL ASSOMBRADA HISTÓRIA DO JACARECANGA

HISTÓRIAS DO JACARECANGA

A Casa Mal Assombrada

            Prédio do Vacinogênio

            Avenida Philomeno Gomes

O Ceará no início do século XX, já havia recebido um grande aliado no combate as doenças tropicais quando em 1901,foi grande a luta dos sanitarista contra a Varíola, que ceifou muitas vidas.

Rodolpho Marcos Theófilo chegou ao Ceará ainda bem jovem no último quartel do século XIX, na época em que o mesmo já era governado pela Oligarquia Acciolyna, tendo como intendente (Prefeito) Guilherme Rocha, e depois assumiria a Presidência do Estado, Pedro Augusto Borges.

Rodolpho era muito sensível às secas que assolou o Nordeste, afinal até 1970 a Bahia e Sergipe pertencia a região Leste Setentrional, mas em 1890 ele já havia escrito o livro “A Fome”, descrevendo lamentáveis acontecimentos e a desolação das secas, tal qual a de 1877/78. A Bahia ainda não era Nordeste.

Pois bem, a Sesmaria do Jacarecanga se transformaria num bairro que nunca mudou de nome, Juntamente com o riacho que corta o mesmo. Em Fortaleza o sanitarista Baiano escolheu este local devido à gravidade epidemiológica: Morro do Moinho, que na época acompanhava a mesma topografia do Morro Croatá, onde fora instalada a Estação ferroviária.

Rodolpho Teófilo em Atendimento

O atendimento de início era feito em visitas domiciliares, e ao que parece não existia subvenção pública, pois, o atendimento era numa casa em taipa dentro de uma vila, onde é notório o estado de pobreza.

                  A Casa da Ponta era o Isolamento dos afetados

 

Vacinogênio, Necrotério, depois Casa de Material de Construção

 

Rodolfo Theófilo, médico sanitarista, de espirito humanitário iniciou seu trabalho no Morro do Moinho, no último quartel do século XIX, e ao raiar do século XX, em 1 de janeiro de 1901, com donativos ocorrera a inauguração do Vacinogênio fruto do próprio trabalho de Rodolfo Theófilo, coisa que na época não agradou ao Presidente do Estado Pedro Borges, pois, tinha que obedecer as diretrizes da oligarquia Acciolyna.

O Jacarecanga teve o privilégio de receber o Vacinogênio atendendo sem apoio governamental, aos pobres dos bairros periféricos da zona Oeste.

               Vista aérea do Local onde vemos a casa o Vacinogênio

Referido posto de saúde fora erguido na Estrada do Jacarecanga, depois Avenida Tomaz Pompeu e hoje, Avenida Philomeno Gomes.

Com a morte do Rodolfo Theófilo em 1932, Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, então interventor federal, transformou o Vacinogênio em necrotério, devido sua estrutura sanitária e a proximidade do maior cemitério da cidade; o de São João Batista que remota ao ano de 1866.

Aproveitando essa reforma, a irmandade da Santa Casa de Misericórdia que (não sei se ainda) era a administradora do Cemitério S.J. Batista, solicitou ao Interventor a desapropriação de algumas casas, para que o “Campo Sagrado” se estendesse até o muro do Vacinogênio, beirando uma via já movimentada.

Aos que desconhecem quando inaugurado, o cemitério S, J. Batista seu terreno só ia até aonde existe um portão de Ferro, pela Rua Francisco Lorda (antiga Travessa Camocim, mas que foi conhecida por anos como Rua Tijubana). Depois o necrotério foi para a Rua Nestor Barbosa nº 315, no Bairro que homenageou o próprio Rodolfo Theófilo.

Quando foi implantado o Curso de Medicina no Ceará em 12 de maio de 1948, o Necrotério passou a se chamar Instituto Médico Legal – IML.

Por ironia em novembro de 1986, talvez uma das últimas inaugurações do Governador Gonzaga Mota, o IML voltou para o Jacarecanga, sendo localizado na Avenida Leste Oeste esquina com a Rua Padre Mororó, e com aparato da Policia Forense.

A casa do Vacinogênio, depois necrotério, quando abandonada posteriormente foi transformada, em depósito para guarda de material de construção dos novos jazigos, devido ao Cemitério São João Batista ter se expandido, como já lemos.

Cemitério São João Batista em Construção

O autor destas linhas ainda chegou a entrar por uma única vez nesta casa, que a gurizada do seu tempo dizia: “Tem alma neste local”. Nenhum menino da época entrava só, e os que entravam eram de mãos dadas. Eram formado um trem de meninos de mãos dadas.

Finalmente, em 1969 ergueram um cruzeiro construindo uma meia lua de penetração no cemitério na Avenida Philomeno Gomes. Junto com esse reparo no muro ocidental desapareceu a casa do Vacinogênio / Necrotério e no embalo destruíram a casinha de força dos bondes elétricos da Ceará Tramway, desativada em 1947.

Alcançamos velhos cabos de cobre vencidos pela corrosão dependurados no canto Noroeste do muro beirando a Via férrea, e na sudoeste entrada da Tijubana, um velho cajueiro, cujos frutos faziam lama no calçamento, tendo em vista está plantado em areias do cemitério.

Interação:

Rodolpho Teófilo nasceu em Salvador em 1863 – BA e faleceu em Fortaleza – CE em 2 de julho de 1932. Foi escritor, Médico, poeta e documentarista.

Fontes:

– Anais do Arquivo Público do Estado do Ceará, Oficinas Gráficas da Cadeia Pública, 1933;

– Azevedo, Miguel Ângelo de Nirez, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Editora BNB, 2001;

– Barbosa, José Policarpo; História da Saúde Pública do Ceará, UFC, 1994;

– Data das Sesmarias, Typografia Gadelha, 1926;

– Jornal O Povo Edição 08-10-1994;

 

 

 

 

NA VIDA SOCIAL ARACATIENSE UMA ASSEMBLEIA DE DEUS

 

 

   Assembleia de Deus. ( 1942). Rua Tereza Cristina nº 673

 

                                                             Pastor Adriano Nobre

O movimento pentecostal no Ceará foi fundado em 1914 na Fazenda Alagoinha, Município de Itapajé, por o Pastor Adriano Nobre. A Assembleia de Deus chegando em Fortaleza, esteve no Arraia Moura Brasil, e em salão alugado no Benfica; embora funcionasse num galpão na Rua Teresa Cristina nº 673, Centro de Fortaleza, a inauguração do primeiro templo da Assembleia de Deus, Ministério único, verificou-se em 1 de maio de 1942.

 

Na comitiva vinda do Sul do País para este monumental evento, estava a Missionária paulista Suliedade Celeste, vinda à convite do Pastor José Teixeira Rego. Em meio à apoteose na Capital cearense, e numa das reuniões em meio à Convenção que fora antecipada (era todo de 7 de setembro), o Pastor João Alves Viana a convidou junto com outros irmãos a missionária, para realizar um culto e reuniões de oração, em casa da família Barbosa na localidade chamada Boca do Forno, na época Município de Aracati.

Este foi o primeiro contato que o povo aracatiense teve com a Mensagem Evangélica Pentecostal, pois, a Assembleia de Deus em Aracati, nasceu assim, num ambiente de hostilidade.

Em face da receptividade, o Pastor Luiz Benedito vindo de Fortaleza passou a dirigir cultos na residência do senhor Abdom Paulo em Varzinha, porém, segundo o irmão Fernando Barbosa: “O trabalho foi oficializado em 1944, com a chegada do Pastor João Alves Viana”.

Foi construída uma casa no interior de um sítio que, distava 2 quilômetros de Boca do Forno, onde um pequeno templo em taipa era a Casa de oração. O afastamento era devido à perseguição que imperava contra os evangélicos, que até mesmo sofreram apedrejamento. O Evangelho Pentecostal não havia ainda penetrado na sede da Cidade do Município de Aracati. A boa semente era propagada somente pelo interior, afinal a religiosidade católica imperava, sob a administração eclesiástica do Padre Manuel  Antonio Pacheco, que  recebia diretrizes rígidas da Diocese de Limoeiro do Norte pois, tinha que ser imposta, não permitindo outra “Religião” chegar na cidade dos Bons Ventos.

Procedente de Areia branca – RN, Pedro Celestino, de família cristã, casou-se com a filha de Antônio Severiano que morava em Barreira de Icapuí, e assim ocorreram as primeiras conversões. Deus começou a mover as águas, fazendo com que o evangelho chegasse nas praias de Aracati.

Num avanço extraordinário, as boas novas chegaram na Praia de Redonda, atingindo famílias tradicionais do distrito, como as famílias Crispim e Braga (o evangelho veio para Redonda através de Francisco Crispim, pois, os cultos eram dirigidos em sua residência). Os obreiros de Areia Branca preocupados com o gradativo crescimento da obra de Deus, relataram ao então Pastor regional no Ceará José Teixeira Rego, a necessidade de um obreiro para apascentar os irmãos, que já haviam se convertido.

O Pastor José Teixeira Rego, designou João Alves Viana, que estava na área para estudar de perto a situação e pediu reforço.

Em 1950, proveniente da cidade de Morada Nova, Pedro Freitas de Brito (Pedro Ivo) assumiu o trabalho na Praia de Redonda sob forte oposição. Ai sim a Igreja foi consolidada, passando a pertencer a Junta Executiva das deliberações das Assembleias de Deus do Ceará em 1956.

João Alves Viana auxiliado por Pedro Ivo, começou pastorear o Campo de Aracati que era Boca do Forno, Varzinha, Cabreiro, Barreiras e a Praia de Redonda até 1950, quando o pastor Viana foi designado para a cidade de Jaguaribe.

Pedro Ivo assumindo o trabalho dedicou-se a expandir o evangelho pelas praias, e foi quando abriu trabalho em Ponta Grossa e Retiro Grande. Estas congregações foram pertencentes à jurisdição eclesiástica aracatiense até 1980, quando na gestão de Ademar Alves Bezerra a Convenção Estadual desmembraria, fazendo de Redonda a Sede e os trabalhos destas localidades seriam subordinados à mesma.

Pedro Ivo teve profícuo ministério nesses locais e, a sua gestão ficou ainda mais marcada pelo surgimento das congregações em Fortim, Maceió, Santa Tereza, tudo sendo auxiliado por José Ferreira que chegou ao município de Aracati em 1957. Pedro Ivo solicitou ao Pastor Presidente Armando Chaves Cohen que havia substituído José Teixeira, mais um cooperador.

 

O ano de 1961 for marcante.

Procedente de Chorozinho no ano supra citado, chegava à Cidade de Aracati o pastor João Gouveia Martins, que com espírito desbravador e destemido foi impulsionado pelo Espirito Santo e aceitou da parte de Deus, o desafio de quebrar o paradigma religioso.

A hegemonia católica que na época imperava e, a cidade emitindo certificado de Persona Non Grata a quem não fosse Católico Apostólico Romano, a penetração deveria ser uma manobra divina.

As perseguições foram amenizadas, quando no distrito de Icapuí hoje Cidade, numa procissão a cabeça de uma imagem não podia passar, tendo em vista um fio de energia elétrica não permitir pela altura necessária. O Pastor João Gouveia Martins, munido de uma vara, suspendeu o cabo de energia que ficava em frente à delegacia. A partir do dia 20 de janeiro de 1962, foram os evangélicos considerados como cristãos.  O padre José Ramalho Alercon Santiago fez esta declaração em público.

João Gouveia, vindo para Aracati, não conseguindo casa na cidade, foi morar no Porto Monteiro, pousando na residência do Sr. José Anselmo, que repartiu sua casa na beira do rio. Assim o homem de Deus fixou residência dentro da cidade de Aracati, em 1964.

Obreiro responsável pela aquisição do terreno.

 

Primeira Evangélica Pentecostal da Cidade de Aracati

Filha na fé de Pedro Ivo, Francisca Gondim, conhecida como Chiquinha de Rubens, era a única crente pentecostal da cidade. Pedro Ivo ainda ficou trabalhando no interior até 1970, mas a Convenção o transferiu tendo em vista a igreja, mesmo de modo precário, se organizar dentro as cidade. Ivo mesmo de longe, ainda dava suporte ao iniciante Raimundo Caetano, após a saída de João Gouveia como leremos.

Em Aracati a igreja se organizou com quatro crentes: Pastor João Gouveia, Leônia sua esposa, Chiquinha de Rubens e Antônio Mariano.

Quando chegavam pessoas estranhas na cidade, o povo logo se certificavam se eram “protestantes” e consultavam o vigário para saber como proceder com os visitantes. O clero não permitia que se alugasse casa aos protestantes, e quem assim fizesse seria descomungado da Igreja Católica.

 Um exemplo histórico desta descriminação foi quando, um médico estrangeiro doutor Cristóvão Mállet que foi acometido de Febre-amarela em 1856 e por não ser católico, foi sepultado fora do cemitério. Em protesto o jazigo ainda está ao lado da Igreja Matriz, e ficou para a posteriori, como argumento e prova históricas. O legado deste médico ainda surte efeito, afinal, a memória do justo é abençoada.  Por que o Largo da Matriz é tão procurado para realizações de eventos religiosos, os mais diversos?

Realização dos Primeiros Cultos

Os primeiros cultos foram realizados no Porto Monteiro na casa do Pr. João Gouveia Martins, e os primeiros bancos foram as laterais das camas.
A primeira congregação filha da cidade foi no Gurgurí, onde creram Raimundo Batista e Maria Batista.

O trabalho do Porto Monteiro foi para a travessa 13 de Maio, prosseguindo para a Infunca, no bairro de Fátima, onde funcionou por cinco meses.
Lá Joana Borges foi a segunda a receber o Batismo com o Espírito Santo, já que a Francisca Gondim havia sido a primeira.

Em 1967 o senhor José Rocha, alugou para a Igreja uma casa na Rua Coronel Alexanzito (Rua grande), casa esta onde nasceu o escritor Adolfo Caminha, por a quantia de Cr$ 11,00 (onze cruzeiros).

Primeiro Templo de Aracati. 1978

A Igreja Ganha Terreno Próprio

João Gouveia e seu auxiliar na época, Zacarias de Melo Barreto, conseguiram um vasto terreno, localizado na Rua 02 de novembro com Ricardo Nunes de Deus. O Prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima gestor da cidade em 1969, doou este terreno para a Igreja numa reunião da criação do Clube de Mães, no Bairro Campo verde*.

  • Segundo a historiadora Socorro Matos: “Clube de Mães foi um movimento criado em Aracati, que destinava a qualificar as mães, preparando-as para o mercado de trabalho.  Foi um convênio entre o Sesi, a Paróquia do Rosário e o Município. tinha curso de culinário, Corte e Costura, Bordado e flores. Foram criados três clube de mães: Campo Verde, Gruta e B. de Fátima“.

Com o alicerce pronto, ocorreu o lançamento da pedra fundamental e assim consolidar a construção do Primeiro Templo da Assembleia de Deus em Aracati. O projeto era construir o templo e o restante do terreno deveria ser para asilar idosos, em uma casa de amparo.

João Gouveia, depois de abençoada labuta em 1969, sob lágrimas se despede como pastor, sentindo que combateu o bom combate, mas não acabando a carreira.

Segundo Templo. 1998

Transferido, em 1969 por determinação do Pastor Emiliano Ferreira da Costa, assumiu o Pastorado Raimundo Caetano de Vasconcelos, que continuou com os cultos na casa da Rua Grande.

Na convenção de 1970 e com o aval de Pedro Ivo, chegou em Aracati Francisco Alves Pinheiro, vindo de Orós. Pinheiro seria o responsável pelo erguimento do primeiro Templo, cujos primeiros cultos passaram a ser realizados a partir de 13 de novembro de 1974, com as paredes ainda sem reboco, quando sete pessoas aceitaram Jesus Cristo, se convertendo ao Evangelho Santo.

A inauguração do primeiro templo foi no sábado de 20 de julho de 1978.

Que Deus nos abençoe.

Adendo:

 

No Canto Direito doutor Ademir Siqueira Gonçalves (1951-1981). Foi  professor de nosso Seminário e meu primeiro Presidente de Mocidade (1974).. Meu eterno reconhecimento.

 

 

 

 

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ELAS VOARAM NO CÉU DO BRASIL

Panair do Brasil

Fundada em 1929 como Nyrba, a empresa foi comprada em 1930 pela gigante americana Pan American Airlines e se tornou sua subsidiária brasileira. A companhia marcou época no País entre as décadas de 1930 e 1950. Sofreu pressões para ser nacionalizada ao final dos anos de 1950, mas resistiu até 1965, quando um decreto do governo militar suspendeu suas linhas.

Varig

Ela já foi considerada uma das maiores companhias aéreas do mundo e por quase 80 anos teve participação vital para o desenvolvimento aéreo brasileiro.

Responsável por grande aumento de rotas internacionais partindo do Brasil, entre as décadas de 1950 e 1970, sendo comparada com gigantes da Europa e Estados Unidos. Em 2001 foi a primeira a receber o Boeing 777-200ER, que vinha com um então inédito sistema de entretenimento individual.

Apesar do nome e tamanho, a Varig sofreu com má administração. O cenário da concorrência também não era favorável com a criação da gigante Latam, e o endurecimento de regras de aviação Após o 11 de setembro DE 2001.

Em julho de 2006, a empresa pediu recuperação judicial e tentou dar a volta por cima como Flex Linhas Aéreas, porém, o plano não foi colocado em prática,  e em novembro de 2009 a Varig operou seu último voo comercial.

Vasp

Se você andar ao redor do aeroporto de Congonhas em São Paulo, é possível ver alguns aviões com a pintura branca e azul bebê caindo aos pedações, e na lateral ler o nome da Viação Aérea São Paulo.

Fundada em novembro de 1933,  a empresa pediu ajuda do governo do Estado de São Paulo em 1935 e foi estatizada. Ela voltou a ser privada em 1990, quando deixou de ser apenas uma companhia regional para começar a expansão internacional. A decisão foi atabalhoada e foi o início do fim da empresa, que acabou oficialmente em janeiro de 2005, após operar apenas 18% de seus voos programados para 2004.

Cruzeiro

Nascida em 1927 com o nome Syndicato Condor, foi fundada por herdeiros de uma companhia aérea alemã que viria a se fundir com a Lufthansa, porém, com o alinhamento do Brasil com o aliados na segunda guerra mundial, a empresa escolheu por mudar seu nome para cortar os laços germânicos. Começa a operar internacionalmente em 1947, mas a partir da década de 1970 se viu em dificuldades para competir com Varig e Vasp, que disputavam controle acionário da companhia aérea. Na queda de braço, foi melhor para a Varig.

Transbrasil

Foi fundada em 1955 sob o nome de Sadia S.A. Transportes Aéreos por Omar Fontana, filho de Atílio Fontana fundador da Sadia. Mudou de nome em 1970, quando abriu o capital da empresa. Ao final daquela década, a empresa figurava entre as três maiores companhias aéreas do Brasil.

Omar chegou a processar o governo por conta dos impactos negativos dos planos econômicos para sua empresa, ação que resultou em seu afastamento em 1988. Pouco mais de um ano depois, ele voltou a empresa cujo interventor havia vendido diversos ativos.

Armou uma expansão internacional na década de 1990, porém, sua morte em 2000 tirou a empresa do rumo e em 2002 a empresa declarou falência.

Lóide Aéreo Nacional

Fundada em 1938 como Navegação Aérea Brasileira, assumiu o nome Lóide Aéreo Nacional em 1948 e operou até 1968, quando foi incorporada pela Vasp. Entre 1956 e 1958, a empresa realizou um acordo com o Panair do Brasil para evitar competição predatório, dividindo suas linhas de acordo com territórios de influência.

Transportes Aéreos da Bacia Amazônica (TABA)

Com o dinheiro da venda da Lóide para a Vasp, o coronel Marcílio Gibson Jacques comprou a Nota, uma pequena empresa de táxi aéreo e a transformou na Taba em 1976. Porém, o empreendimento nunca virou, e em 1999 a companhia acabou.

Real Aerovias

De ascensão meteórica, a empresa foi fundada em 1945 operando a rota Rio de Janeiro – Brasília, mas logo começou a adquirir diversas companhias aéreas menores para expandir para a América do Sul, mas acabou sendo comprada pela Varig em 1961. Essa companhia foi uma grande parceira da Rádio Iracema de Fortaleza, e da TV Ceará Canal 2.

Nordeste Aviação Regional Linhas Aéreas (Noar)

A Noar nasceu em 2009 com boas intenções de ligar os municípios do interior com os grandes centros do Nordeste, porém, ela é mais lembrada por seus acidentes. Em 13 de julho de 2011 uma aeronave que partia de Recife em direção a Mossoró teve problema após a aterrissagem e tentou pousar na Praia de Boa Viagem, o que causou a explosão do avião e a morte dos dois pilotos e 14 passageiros. Após o caso, a ANAC suspendeu seus voos e em 2014 retirou sua licença de operação.

Primeira aeronave da Paraense no Alto da Balança

Paraense

A Paraense Comercial LTDA foi fundada em 22 de fevereiro de 1952, por Antônio Alves Ramos Junior, com sede em Belém/Pará. Realizou seu primeiro voo aos 30 de março com um anfíbio PBY-5ª Catalina que pertencia a Aero Geral.

Assim foi inaugurada a linha Belém – Pedro Afonso em Goiás, mas a meta era o grande eixo Rio – São Paulo. Essa extensão ocorreu em 1955.

Com a mudança da Razão Social para, Paraense Transporte Aéreos em 1957, foi iniciado o transporte de passageiros com a aquisição de aeronaves para tal. No início só existia autorização para transporte de cargas.

Apesar de alguns acidentes, a companhia entrou para a era das turbinas, comercialmente batizadas na época de Hirondelle.

Devido as operações ficarem deficitária, e com problemas de manutenção e escassez de peças de reposição, sua licença operacional foi cancelada e no dia 29 de maio de 1970, a empresa foi extinta.

Fontes: Revistas O Cruzeiro, Jornais Correio do Ceará, ANAC e Leocácio Ferreira.

 

 

 

QUANDO GETÚLIO VARGAS VISITOU O CEARÁ EM 1933

Getúlio Dorneles Vargas

Getúlio Vargas, visitou o Ceará no mês de setembro de 1933. Na ocasião, o chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil (como era chamado o País, na época) viajava por diversos estados do Nordeste, passando, além do Ceará, por Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba.

No Ceará Getúlio visitou, juntamente com uma comitiva composta pelos Ministros da Viação e Obras Públicas Dr. José Américo, Major Juarez Távora, além do Inspetor das Regiões Militares do Norte, General Góes Monteiro. Foram visitadas as cidades de Orós, Iguatu, Senador Pompeu, Quixeramobim, Quixadá, Caio Prado (Cangaty na época), Baturité, Acarape, Maracanaú e Fortaleza.

Getúlio visitando obras

Havendo feito este percurso de trem por ter embarcado em Iguatu, passou por alguns açudes, como o de Orós e Cedro no Município de Quixadá. Ao passar pelo então distrito de Maracanaú visitou o Instituto Carneiro de Mendonça, o Santo Antônio do Buraco na terra dos Pitaguary.

No dia 18 de setembro de 1933, Getúlio chegando na Estação Central, dirigiu-se aos altos da Casa de Carlos Misiano na Rua Major Facundo nº 136, onde autorizou a Concessão do PRAT, Ceará Rádio Clube, que passou a partir do dia 21 de setembro a fazer transmissões, sendo um dos receptores instalado no coreto existente na Praça do Ferreira.

Folha 041 do Álbum de Fortaleza 

Em seus discursos Getúlio falou sobre liberação de ajuda para a assolação da seca pois, foi levantado questões sobre o assunto: “O problema da seca, se racionalmente tivesse sido atacado com programa de solução técnica, pratica e inteligente, já estaria resolvido ou, pelo menos, atenuado os seus dolorosos efeitos”.

Recepção ao Presidente Getúlio Vargas

Estação Central de Fortaleza.  Setembro de 1933.

O Presidente havia assinado decreto

Aos 20 de fevereiro de 1931, o presidente havia assinado o decreto nº 19.726 que aprovou o regulamento da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, com os seguintes objetivos: Construção de açudes e canais de irrigação; perfuração de poços; construção das estradas de rodagem que, constituam as linhas-tronco do Nordeste e a execução de quaisquer serviços que tinham por fim atenuar os efeitos do regime irregular dos cursos da água.

Ainda no discurso, Getúlio ressaltou que “a solução do problema, consiste no aproveitamento dos excessos pluviométricos, reservando-os para as épocas de estiagem. Semelhante solução estará ultimada quando se houver construído, nas zonas atingidas pelo flagelo, barragens e açudes com tal capacidade que possam armazenar, nos anos chuvosos, água bastante para atender, nos tempos de escassez, as necessidades das populações sertanejas e manter a fertilidade do solo, pela irrigação das terras adjacentes”. (Transcrição sem Sic).

A visita de Vargas ao Ceará foi histórica, tendo a seguinte manchete no jornal A Ordem: A Estada do chefe do Governo Provisório e a sua comitiva no Ceará.

Adendo: Depois o Getúlio voltaria ao Ceará e já como ditador, desfilou por Fortaleza em carro aberto com o Interventor Menezes Pimentel e inauguraria o serviço de Piscicultura da IFOCS.

Jornal A Ordem, circulou em Sobral

 

Fontes:

– Álbum de Fortaleza, Paulo Bezerra, 1931

– O jornal A Ordem, do Município de Sobral;

– Arquivo Nirez.

SANTO ANTONIO DO BURACO TERROR DOS DESOBEDIENTES DE ONTEM

 

 

Estrada de Ligação para a Terra dos Pitaguary

Estrada de Santo Antonio. 1919

Na Terra dos Pitaguary

De origem Tupi, o termo Pitaguary sempre aparece, nos documentos oficiais dos séculos XVII, XVIII e XIX, designando um lugar: uma serra, um sítio ou um terreno. Possivelmente, é um termo derivado de variáveis do nome Potiguara, etnia que teria ocupado extensas terras, já em 1603, na costa cearense. Para o termo “Potiguara” há diversas interpretações e é nelas que se pode perceber a semelhança existente para com a denominação Pitaguary.

O Ceará foi a primeira província a negar a existência da presença indígena em seu território, ainda no século XIX. Como resultado dessa medida, extensas faixas de terra tornaram-se disponíveis, o que beneficiou de forma direta a pecuária extensiva.

Nesse contexto, povoados originados pela expansão dessa atividade foram transformados em vilas e o Estado passou a exercer controle crescente sobre a mão-de-obra local, uma mão-de-obra que era basicamente formada por índios submetidos ao regime de trabalho forçado.

O Estado conquistou hegemonia que sobre os índios após a expulsão dos jesuítas; foi dado lugar a um processo de perda de visibilidade indígena que só começou a ser revertido na segunda metade do século XX, quando, a partir da década dos anos de 1980, dada à mobilização do povo Tapeba (Caucaia), voltou-se a falar sobre a presença indígena no Ceará.

Logo em seguida dez anos após, foi a vez dos Pitaguary, que começaram a se organizar politicamente para pressionar pela demarcação de sua terra.

Pitaguary é a autodenominação do povo indígena cuja remanescente ainda vive ao pé da serra entre os municípios cearenses de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. Distando aproximadamente 26 Km de Fortaleza, a Terra Indígena Pitaguary está situada na região metropolitana da Capital cearense, tendo em seus arredores uma área caracterizada pela concentração de indústrias e urbanização crescente.

 

Assentamento dos Pitaguary.  Registro de 1933.

Habitada pelos Pitaguary desde há muito, essa terra é socialmente marcada por uma série de acontecimentos que fundam a memória coletiva de seu povo. Foi nela que os “troncos velhos” pereceram, deixando suas “raízes antigas”, assim como é dela que sobrevivem os Pitaguary de hoje.

A Era Vargas foi o período em que a república brasileira foi presidida por Getúlio Vargas, estendendo-se de 1930 a 1945. Politicamente falando, uma das grandes características da Era Vargas foi o autoritarismo sob o qual o Brasil foi governado.

Por ter ido Vargas ao poder via Revolução (1930), o mesmo ficou rotulado como o Governo revolucionário, até porque a revolução constitucionalista foi em 1932.

A Educação Correcional na Escola Santo Antônio do Buraco

Em outra mão, os “desvalidos” e “perigosos” para a sociedade eram arrancados das ruas e internados em instituições “corretivas”; também muitas famílias abastadas requeriam a internação de seus filhos “trabalhosos”.

É nesse contexto, que o capitão Roberto Carneiro de Mendonça, segundo interventor do Ceará (1931-34), politicamente neutro e vindo de outro Estado, cria por meio do Decreto n. 1.163, de 11 de dezembro de 1933, o Instituto Carneiro de Mendonça, popularmente conhecida por Escola Santo Antônio do Buraco.

A escola fora criada em meio aos efeitos da catastrófica seca de 1932, momento em que milhares de pessoas morreram de fome, de sede e de doenças, tendo em vista à pouca assistência do governo. A instituição foi instalada na Fazenda Santo Antônio do Pitaguary, de propriedade do Estado e se destinava a preservação e correção de menores de 8 a 18 anos de idade. A construção da escola foi feita com o auxílio de uma turma de sentenciados de bom comportamento.

Consta no relatório do Interventor Carneiro de Mendonça (1931-1934), que o Governo Federal deliberou através do decreto nº 20.348, de 29 de agosto de 1931, para que os municípios se obrigasse a recolher aos cofres do Estado, 10% de sua renda para auxiliar o custeio das escolas de ensino primário, além disso, este decreto determinasse que todas as escolas municipais fossem transferidas para o Estado. Nessa perspectiva, em 1931, por lei o Estado passou a assumir os encargos referentes ao ensino primário, com a colaboração financeira dos Municípios.

O Estado gradativamente deveria passar a se preocupar mais com a educação, de modo que a Constituição Estadual de 1935 em seu Art. 156 determinaria a que o Estado e os Municípios aplicassem entre 20% e 10%, no mínimo, da renda dos impostos, respectivamente, na manutenção e desenvolvimento do sistema educativo que se organizaria pelo Conselho de Educação.

Assim, os governos cearenses em meados dos anos 1930 e início da década de quarenta desenvolveram várias campanhas de recolhimento de mendigos e falsos mendigos. Começou a recolher os pedintes no Centro de Fortaleza.

As crianças, de até 12 anos e as de idade superior a essa faixa, deveriam ser recolhidas ao Instituto Carneiro de Mendonça, em Santo Antônio do Pitaguary, popularmente conhecido como Santo Antônio do Buraco.

Desde este período, a Escola Santo Antônio do Buraco começa a fazer parte do imaginário popular cearense como sendo um lugar tenebroso onde se imaginava: existir um grande buraco escuro no qual seriam jogadas as crianças que não tivessem um comportamento compatível com o que era exigido na época na perspectiva dos moldes atuais.

Esta é a conhecida Madalena transporte de detentos.

As crianças na época ouviam histórias de que, iam pra lá pra ficar enterrada no buraco, onde passaria o dia inteiro; temendo o Santo Antônio do buraco os meninos se ajeitava ligeirinho. Quando a caminhoneta Madalena chegava na esquina, pronto, ela abria aquela sirene, corria o que era de menor, corria tudo

A Escola Santo Antônio do Buraco, como era mais conhecida, acabou sendo uma opção para muitas famílias que não sabiam como lidar com seus filhos que davam muito trabalho para se educar. Assim, algumas famílias mais abastadas entregavam seus filhos aos cuidados,  de modo que pudessem ser corrigidos e aprendessem alguma profissão como, por exemplo, carpintaria, alfaiataria, tecelagem e sapataria.

O Santo Antônio do Buraco foi um colégio que ficou na história como um exemplo excelente. Ele não era só aquele colégio que tirava das ruas crianças marginais, mas também aquelas que as mães não tinham condições de sustentá-los e educá-las. Não foi só um colégio do ensino fundamental, mas de ensino profissionalizante, quase todos os aluno da época foram recuperados e ressocializados a viver na sociedade.

Meu saudoso pai, quando sentia que estava perdendo as estribeiras com os demais de minha casa, ameaçava para lá nos levar. Ficávamos bem “santinhos”.

Quando o Presidente Emílio Garrastazu Médici, com seu Ministro de Estado da Educação Sr. Jarbas Passarinho, promoveu a grande reforma no ensino do Brasil, exemplo extinção de quatro séries do Ginasial (1972), o Santo Antônio do Buraco já estava desativado.

Escola Santo Antônio do Buraco

Instalada na reserva Pitaguary

 

Relatório de Carneiro de Mendonça 

Arquivo Público do Estado

Referências

Fontes:

– Relatório Administração Carneiro de Mendonça

22 de setembro de 1931 a 5 de setembro de 1934

Site: índios.org.br

 

ÁLBUNS DE FIGURINHAS NA VILA SÃO JOSÉ

 

Anos da década de 1960. A rural Willys cor verde com branco de propriedade do Sr. Queiroz da Publicitária Maracanã, adentrava as estreitas e organizadas ruas da Vila Operária dos trabalhadores da Usina São José, no ex-aristocrático Jacarecanga, meu bairro berço.

Modelo da Rural da Publicitária Maracanã

Na vila São José não Tem Menino”, era assim que o locutor dizia, e em seguida bradava: “Figurinhas, olha aí na bodega do seu Dioclécio”.

         Rua Dona Bela onde ficava a desaparecida Bodega do Seu Dioclécio

A vila do Coronel Pedro Philomeno, só tinha três mercearias. A do Seu João Lima Passos (com a calçada interrompida com um tonel de 100 litros de querosene), seu Dioclécio (com três portas verdes), e a do seu Assis do Gás  (avô do catita). Todos os moradores, eram unânimes, e nada de orgulho, pois era uma agregação proletária. A mercearia que recebia as figurinhas, era a do meio (Dioclécio), comércio esse que, em 1970 seria vendido para o Manuel Coreaú, marido da Judite, a mulher barriguda. Batizaram-na de “Bodega Nova”.

Voltemos às figurinhas ou cromos.

É o seguinte: educadamente o carro distribuidor, parava e aquelas pessoas de responsabilidade, ou que eles observavam, se economicamente eram ativos, ganhavam álbuns; os pacotes promocionais, a gurizada saia correndo atrás do carro. Faziam o rebolado de pacotes no ar, burburinho, que na brasileira era “Burbulinga”. Os pais olhavam o conteúdo dos álbuns.

Quando a criançada após correr, chegava os pacotes um tanto amassados, colheita que caía do carro. Assim começávamos a colecionar as figuras, e depois estava formado o clube de colecionadores, que se confraternizavam, com a troca de cromos repetidos. “Tenho, não Tenho”. E quando a figura era por demais conhecida, era batizada de “Figura Buga”. Colecionava-se, educava- se, e que lazer brincar o ganha, com bola de gude, e o bafo-bafo, com a mão na calçada, vendo quem virava as figuras.

As coleções eram: REIS DO RINGO, A NATUREZA E SUAS MARAVILHAS, OLÉ 69, MÉXICO 70, IDOLOS DO POVO, COISAS NOSSAS, IDOLOS DA TV, A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO, FAVORITOS DA JUVENTUDE, ARMAS E BANDEIRAS, RIM TIN TN, DEZ MANDAMENTOS, HEROIS DA TV, PERDIDOS NO ESPAÇO, OS MAIORAIS DO MUNDO, e por aí ia.

Saudade dos tempos que existia coisa boa pra se colecionar. Hoje, está mudado, nada mais a guardar. Álbum de quem?! Eu não teria coragem de guardar fotografias de gabolas, de quem só quer saber de seus próprios interesses. Civismo de quem? Ex – jogadores com declarações infelizes, que se diz que o dinheiro da saúde é para estádios, pois, não se faz partidas de jogo em hospitais. E ainda recebe o nome de fenômeno. Cantores que estão fazendo de nossos ouvidos pinico! Eu não me arrependi de ter colecionado, e nem de preservar minhas coleções, mas não tenho mais coragem intelectiva de gastar com imagens, que merecem serem deletadas.

Figurinhas, bons costumes não existem mais para um povo, que está sem memória, mesmo sabendo que ainda é tempo de não matar o passado, afinal, passado não é o que passa e sim o que fica do que passou. Meus álbuns merecem serem preservados.

Vez por outra encontro pessoas saudosas, como o professor Olavo de Lima com suas histórias, o Radialista Djair Nogueira que simplesmente tem um fantástico acervo musical (800.000 títulos). Em época mais remota tínhamos o Christiano Câmara e agora o Nirez. Os livros antigos é com o Cid carvalho.

A COLUNA PRESTES NO CEARÁ

                       A COLUNA PRESTES E REDE DE VIAÇÃO CEARENSE

 

Governador Moreira da Rocha e autoridades em Missão Velha

 

O Tenentismo foi um movimento político militar que, em 1922 pela luta armada pretendia conquistar o poder e, fazer reformas na República Velha. Os tenentes queriam a moralização da administração pública e o fim da corrupção eleitoral. Pregavam a instituição do voto secreto e a criação de uma justiça eleitoral honesta. Defendiam o nacionalismo econômico: a defesa do Brasil contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro. Desejavam uma reforma na educação pública para que o ensino fosse gratuito e obrigatório para todos os brasileiros.

A primeira revolta foi no Forte de Copacabana, e dois anos após surgiram novas rebeliões no Rio Grande do Sul e São Paulo. Foi formada a Coluna Paulista que, seguiu em direção ao sul do País. A União do tenentismo formou com outros grupos, a Coluna Prestes, cujo chefe era o incontestável Luis Carlos Prestes.

Esse grupo de ex-oficiais do exército brasileiro, idealistas e corajosos, realizou uma grande marcha percorrendo mais de vinte mil quilômetros, atravessando quatorze Estados brasileiros, pregando sustos aos donos do poder.

Rebelados contra a Velha República marcada pelo poder dos “Coronéis”, o numero dos efetivos da coluna variava de setecentos a setecentos e cinqüenta mil homens mal armados, fazendo à pé a maioria das marchas pelos rios, pântanos e nas regiões semi-áridas do Nordeste, entre julho de 1924 até março de 1927. Os membros da Coluna muitas vezes eram hostilizados pelo povo, devido o mesmo ser manipulado pelos coronéis interioranos.  Os homens enfrentavam tropas do Exército, milícias estaduais e até mesmo jagunços assalariados.

 

Trem com a Comitiva

Quando esse lendário “Movimento Popular’ se aproximava do Ceará, o Presidente da República, Artur Bernardes convocou ao Palácio do Catete (Rio de Janeiro), o deputado federal Floro Bartolomeu, delegando-lhes poder para organizar a “Defesa do Território Cearense”. Floro recebeu vasta quantidade de material bélico e recursos financeiros.

Por que o Presidente Bernardes convocou Floro e não o Governador Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) para combater a Coluna no Ceará? Era porque Sua Excelência obteve conhecimento do convívio de Bartolomeu com jagunços e Coronéis do Estado que lutaram a favor do Governo, desde a Sedição de Juazeiro em 1913, e que o mesmo era um político com forte influencia perante os bandoleiros.

Regressando ao Ceará, Floro Bartolomeu organizou um “Batalhão patriótico”, cujos membros eram todos jagunços enviados pelos latifundiários da zona sul cearense. O deputado teve ainda a idéia de procurar o grupo cangaceiro de Vigulino Ferreira da Silva, “Lampião”, para lutar ao seu lado na “defesa da liberdade”.

 

Tropa da Coluna Prestes

A Rede de Viação Cearense – RVC, por conta da incursão dos rebeldes, foi focalizada nesses aspectos: A construção e desempenho, afinal a Estrada de Ferro era de propriedade do Governo da União. As linhas estavam no sul do Estado (região do Cariri) e foram paralisadas por cerca de um mês, acarretando quase uma desorganização por completa. Quanto ao desempenho da RVC, não foi bom na época, ocorrendo um desequilíbrio na vida comercial, pois o itinerário do trem justamente na zona mais produtiva, estava impedido.  Essa queda de receita se deu também, porque as composições ferroviárias passaram a trafegar conduzindo tropas legais, prontidão de pessoal e material. Os trens da linha de Baturité foram prejudicados inclusive, os que circulavam no ramal de Poço dos Paus (Cariús), pois, integrantes da Coluna estavam também estacionados próximos.

Provenientes do vizinho Estado do Piauí e comandados pelo Capitão João Alberto, 132 homens pertencentes a Coluna Prestes, ocupou o trecho Ipú – Crateús de 13 a 26 de janeiro de 1926, e em ato de vandalismo destruiu os aparelhos telegráficos das estações de Ipú, Ipueiras, Charito (João Tomé), Nova Russas e Pinheiro (Sucesso) na Via Férrea de Sobral, ficando por cerca de dois dias a comunicação ferroviária interrompida, pois houve até um quebra-quebra de isoladores e derrubada de portes.

A Coluna Prestes no Ceará foi despeça e a Rede de Viação Cearense, a pedido da Governadoria do Estado, no total organizou 237 trens especiais tendo transportado forças militares, animais e o material bélico que o Presidente Bernardes havia colocado à disposição do deputado federal Floro Bartolomeu. Não teve condições de tal movimento prosperar no Ceará, pois a força militar e a dos “Coronéis”  extirparam as pretensões desse grupo.

Endereçados à diretoria da RVC, o Presidente do Ceará, José Moreira da Rocha “O Moreirinha” aos 4 de março de 1926, enviou oficio no qual expressa: “calorosos agradecimentos pelos relevantes serviços prestados ao Estado na defesa da ordem constitucional durante a permanência das hordes revolucionárias nos sertões cearense” . Acrescenta o oficio em apreço, que a diretoria da RVC e seus dedicados auxiliares, deram “as mais inequívocas demonstrações de amor às instituições democráticas, nos calamitosos dias por que passou este Estado”.

A ferrovia cearense na época como propriedade do Governo, apenas fez o seu papel e nada fez contra o povo, senão em dezembro 1988 quando o povo passou a chorar com saudade do seu trem, para as cidades do interior.

“Não acredito em partido político, e sim na ideologia. O anelo dos partidos é o poder. Todo movimento legítimo é a reivindicação do povo, mas a liberdade de idéias não dá direito à pratica do vandalismo”. (Do autor).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota: Foto da capa Governador Moreira da Rocha, Floro Bartolomeu, e autoridades civis e militares na Estação de Missão Velha. Estratégias para a debelar a Coluna no Sertão.

A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO

 ESTRADA DE FERRO E A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO

Embarque na Estação Central

 

O Presidente da República do Brasil era o Marechal Hermes da Fonseca. Setores Civis e militares desenvolveram a chamada “Política das Salvações”, onde com a substituição das Oligarquias estaduais por grupos políticos (também Oligárquicos) ocorre a queda de Nogueira Accioly e a chegada de Franco Rabelo ao Governo do Ceará.

Com a Política de combate as oligarquias, e com bastante indecisão, Hermes da Fonseca prejudicava os planos de Pinheiro Machado, seu aliado, pois este tinha a pretensão de se eleger Presidente da república em 1914, com apoio das oligarquias tradicionais. Pinheiro começou a pressionar pelo afastamento dos militares e dos governadores salvacionistas. O quadro político era este, quando no Ceará, surgiu um movimento golpista em 1913-14, que se denominou Sedição de Juazeiro. Coronéis ligados a Pinheiro Machado depuseram, como iremos ler, o Governo Salvacionista de Franco Rabelo.

Antonio Pinto Nogueira Accioly dominava o Ceará, havia 16 anos. Os segmentos da burguesia comercial, classe média e populares de Fortaleza, derrubaram a poderosa Oligarquia Acciolyna. O Governador eleito foi o Coronel Marcos Franco Rabelo, com uma votação folgada dos Deputados da Assembleia Legislativa, então controlada pelo partido de Accioly. Rabelo via-se obrigado a negociar com o ex-oligarca, prometendo-lhe participação no Governo através de alguns cargos públicos, e de duas das três Vice-governadorias (uma seria de padre Cícero).

Estação Central

Aí começou a crise institucional e contextual do Governo Rabelo. Apesar do apoio do povo, não tinha base de sustentação. Com o objetivo de dar fim ao Governo salvacionista, Floro Bartolomeu, Nogueira Accioly, Thomaz Cavalcante e outros, em agosto de 1913 se reuniram no Rio de Janeiro com Pinheiro Machado, com aval do Presidente Hermes da Fonseca.

A Sedição de Juazeiro iniciou-se aos 9 de dezembro de 1913, quando jagunços de Floro e do Padre Cícero depuseram as autoridades juazeirenses Pró-Rabelo e com bacamartes armaram a população. Floro Bartolomeu foi eleito Presidente “legal” do Ceará. Por decreto do “novo” Governador, foi transferida a Capital do Estado para Juazeiro do Norte. Ao ser informado dos acontecimentos, Franco Rabelo enviou um trem com uma tropa de 500 homens da força policial do Estado para a Cidade de Iguatú que, era a estação terminal da Estrada de Ferro de Baturité.

Trem em Sussuarana (Engenheiro Barreto

De Iguatú as tropas seguiram para o Município de Crato. Juazeiro preparou-se para a defesa. Homens, mulheres, jovens, ex-combatentes de Canudos transformaram-se num verdadeiro exército improvisado com cerca de 5.000 pessoas. Foi cavada uma trincheira de 9 Km em torno da Cidade. Aos 20 de dezembro (11 dias após) ocorreu o primeiro ataque.

Após 15 horas de combate, os rabelistas debandaram derrotados. Os sediciosos conquistaram Barbalha aos 27 de janeiro de 1914.  O Governo Cearense ficou sem reforço para enviar ao Cariri. Hermes da Fonseca transferiu de Fortaleza os oficiais do Exército pró-Rabelo, proibindo o desembarque de munições na Ponte Metálica (então Porto de Fortaleza) e numa verdadeira demonstração de apoio aos golpistas, proibiu também o transporte de armas e tropas pela Brazil North Eastern Railway-(EFNB), firma inglesa que era subsidiária da South American Railway Construction Company LimitedSARCCOL que na época administrava os serviços da Estrada de Ferro de Baturité (que depois se chamou RVC, RFFSA, Companhia ferroviária do Nordeste-CFN, e hoje Transnordestina Logística S/A ).

Padre Cícero

Pois bem, os sediciosos conquistaram o terminal ferroviário de Iguatu. A maioria dos caboclos via pela primeira vez um trem e nele ia viajar. No distrito de Ibicuã encontraram o último foco de resistência Governista de 300 homens capitaneada por J. da Penha Alves que morreu no combate. A partir de então, cenas de covardia, saques e de assassinatos ocorreram em Cidades servidas pela Estrada de Ferro, quando maquinista, foguista, guarda freios, ficaram as disposições desse povo mais como reféns, do que como no desempenho de suas funções. O trem parava onde eles queriam.

O abalado Governador Franco Rabelo, a população de Fortaleza e a Associação Comercial do Ceará fizeram um desesperado apelo ao General setembrino de Carvalho, que era o comandante das tropas do Exército no Ceará para deter e desarmar os jagunços. Setembrino por sua fidelidade a Pinheiro Machado deixou tudo como estava.

Pinheiro Machado

Hermes da Fonseca pressionou Rabelo a renunciar e, finalmente aos 10 de março de 1914 decretou Estado de Sítio e logo em seguida intervenção Federal, levando 4 dias depois a Franco Rabelo renunciar a Presidência do Ceará. Sob os efusivos aplausos de uma multidão, o ex-Governador embarcou para o Rio der Janeiro. Setembrino de Carvalho assumiu como interventor o Estado do Ceará e, em meio às dificuldades, desarmou os jagunços enviando-lhes de volta ao Cariri, por uma composição ferroviária.

A Sedição de juazeiro foi um confronto armado, onde oligarcas  e coronéis derrubaram um Governador eleito pelo povo, que não agüentava mais Nogueira Accioly. Para desarticular Franco Rabelo, as oposições arquitetaram um plano cujas figuras foram: Padre Cícero e Floro Bartolomeu.

Franco Rabelo e os Sediciosos na época devem ter dito. Hoje impõe a história, e a justiça manda que os pesquisadores tornem a público, a significativa participação da Estrada de Ferro de Baturité neste capítulo.