Assis Lima
Assis Lima

A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO

 ESTRADA DE FERRO E A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO

Embarque na Estação Central

 

O Presidente da República do Brasil era o Marechal Hermes da Fonseca. Setores Civis e militares desenvolveram a chamada “Política das Salvações”, onde com a substituição das Oligarquias estaduais por grupos políticos (também Oligárquicos) ocorre a queda de Nogueira Accioly e a chegada de Franco Rabelo ao Governo do Ceará.

Com a Política de combate as oligarquias, e com bastante indecisão, Hermes da Fonseca prejudicava os planos de Pinheiro Machado, seu aliado, pois este tinha a pretensão de se eleger Presidente da república em 1914, com apoio das oligarquias tradicionais. Pinheiro começou a pressionar pelo afastamento dos militares e dos governadores salvacionistas. O quadro político era este, quando no Ceará, surgiu um movimento golpista em 1913-14, que se denominou Sedição de Juazeiro. Coronéis ligados a Pinheiro Machado depuseram, como iremos ler, o Governo Salvacionista de Franco Rabelo.

Antonio Pinto Nogueira Accioly dominava o Ceará, havia 16 anos. Os segmentos da burguesia comercial, classe média e populares de Fortaleza, derrubaram a poderosa Oligarquia Acciolyna. O Governador eleito foi o Coronel Marcos Franco Rabelo, com uma votação folgada dos Deputados da Assembleia Legislativa, então controlada pelo partido de Accioly. Rabelo via-se obrigado a negociar com o ex-oligarca, prometendo-lhe participação no Governo através de alguns cargos públicos, e de duas das três Vice-governadorias (uma seria de padre Cícero).

Estação Central

Aí começou a crise institucional e contextual do Governo Rabelo. Apesar do apoio do povo, não tinha base de sustentação. Com o objetivo de dar fim ao Governo salvacionista, Floro Bartolomeu, Nogueira Accioly, Thomaz Cavalcante e outros, em agosto de 1913 se reuniram no Rio de Janeiro com Pinheiro Machado, com aval do Presidente Hermes da Fonseca.

A Sedição de Juazeiro iniciou-se aos 9 de dezembro de 1913, quando jagunços de Floro e do Padre Cícero depuseram as autoridades juazeirenses Pró-Rabelo e com bacamartes armaram a população. Floro Bartolomeu foi eleito Presidente “legal” do Ceará. Por decreto do “novo” Governador, foi transferida a Capital do Estado para Juazeiro do Norte. Ao ser informado dos acontecimentos, Franco Rabelo enviou um trem com uma tropa de 500 homens da força policial do Estado para a Cidade de Iguatú que, era a estação terminal da Estrada de Ferro de Baturité.

Trem em Sussuarana (Engenheiro Barreto

De Iguatú as tropas seguiram para o Município de Crato. Juazeiro preparou-se para a defesa. Homens, mulheres, jovens, ex-combatentes de Canudos transformaram-se num verdadeiro exército improvisado com cerca de 5.000 pessoas. Foi cavada uma trincheira de 9 Km em torno da Cidade. Aos 20 de dezembro (11 dias após) ocorreu o primeiro ataque.

Após 15 horas de combate, os rabelistas debandaram derrotados. Os sediciosos conquistaram Barbalha aos 27 de janeiro de 1914.  O Governo Cearense ficou sem reforço para enviar ao Cariri. Hermes da Fonseca transferiu de Fortaleza os oficiais do Exército pró-Rabelo, proibindo o desembarque de munições na Ponte Metálica (então Porto de Fortaleza) e numa verdadeira demonstração de apoio aos golpistas, proibiu também o transporte de armas e tropas pela Brazil North Eastern Railway-(EFNB), firma inglesa que era subsidiária da South American Railway Construction Company LimitedSARCCOL que na época administrava os serviços da Estrada de Ferro de Baturité (que depois se chamou RVC, RFFSA, Companhia ferroviária do Nordeste-CFN, e hoje Transnordestina Logística S/A ).

Padre Cícero

Pois bem, os sediciosos conquistaram o terminal ferroviário de Iguatu. A maioria dos caboclos via pela primeira vez um trem e nele ia viajar. No distrito de Ibicuã encontraram o último foco de resistência Governista de 300 homens capitaneada por J. da Penha Alves que morreu no combate. A partir de então, cenas de covardia, saques e de assassinatos ocorreram em Cidades servidas pela Estrada de Ferro, quando maquinista, foguista, guarda freios, ficaram as disposições desse povo mais como reféns, do que como no desempenho de suas funções. O trem parava onde eles queriam.

O abalado Governador Franco Rabelo, a população de Fortaleza e a Associação Comercial do Ceará fizeram um desesperado apelo ao General setembrino de Carvalho, que era o comandante das tropas do Exército no Ceará para deter e desarmar os jagunços. Setembrino por sua fidelidade a Pinheiro Machado deixou tudo como estava.

Pinheiro Machado

Hermes da Fonseca pressionou Rabelo a renunciar e, finalmente aos 10 de março de 1914 decretou Estado de Sítio e logo em seguida intervenção Federal, levando 4 dias depois a Franco Rabelo renunciar a Presidência do Ceará. Sob os efusivos aplausos de uma multidão, o ex-Governador embarcou para o Rio der Janeiro. Setembrino de Carvalho assumiu como interventor o Estado do Ceará e, em meio às dificuldades, desarmou os jagunços enviando-lhes de volta ao Cariri, por uma composição ferroviária.

A Sedição de juazeiro foi um confronto armado, onde oligarcas  e coronéis derrubaram um Governador eleito pelo povo, que não agüentava mais Nogueira Accioly. Para desarticular Franco Rabelo, as oposições arquitetaram um plano cujas figuras foram: Padre Cícero e Floro Bartolomeu.

Franco Rabelo e os Sediciosos na época devem ter dito. Hoje impõe a história, e a justiça manda que os pesquisadores tornem a público, a significativa participação da Estrada de Ferro de Baturité neste capítulo.

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