Assis Lima
Assis Lima

A COLUNA PRESTES NO CEARÁ

                       A COLUNA PRESTES E REDE DE VIAÇÃO CEARENSE

 

Governador Moreira da Rocha e autoridades em Missão Velha

 

O Tenentismo foi um movimento político militar que, em 1922 pela luta armada pretendia conquistar o poder e, fazer reformas na República Velha. Os tenentes queriam a moralização da administração pública e o fim da corrupção eleitoral. Pregavam a instituição do voto secreto e a criação de uma justiça eleitoral honesta. Defendiam o nacionalismo econômico: a defesa do Brasil contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro. Desejavam uma reforma na educação pública para que o ensino fosse gratuito e obrigatório para todos os brasileiros.

A primeira revolta foi no Forte de Copacabana, e dois anos após surgiram novas rebeliões no Rio Grande do Sul e São Paulo. Foi formada a Coluna Paulista que, seguiu em direção ao sul do País. A União do tenentismo formou com outros grupos, a Coluna Prestes, cujo chefe era o incontestável Luis Carlos Prestes.

Esse grupo de ex-oficiais do exército brasileiro, idealistas e corajosos, realizou uma grande marcha percorrendo mais de vinte mil quilômetros, atravessando quatorze Estados brasileiros, pregando sustos aos donos do poder.

Rebelados contra a Velha República marcada pelo poder dos “Coronéis”, o numero dos efetivos da coluna variava de setecentos a setecentos e cinqüenta mil homens mal armados, fazendo à pé a maioria das marchas pelos rios, pântanos e nas regiões semi-áridas do Nordeste, entre julho de 1924 até março de 1927. Os membros da Coluna muitas vezes eram hostilizados pelo povo, devido o mesmo ser manipulado pelos coronéis interioranos.  Os homens enfrentavam tropas do Exército, milícias estaduais e até mesmo jagunços assalariados.

 

Trem com a Comitiva

Quando esse lendário “Movimento Popular’ se aproximava do Ceará, o Presidente da República, Artur Bernardes convocou ao Palácio do Catete (Rio de Janeiro), o deputado federal Floro Bartolomeu, delegando-lhes poder para organizar a “Defesa do Território Cearense”. Floro recebeu vasta quantidade de material bélico e recursos financeiros.

Por que o Presidente Bernardes convocou Floro e não o Governador Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) para combater a Coluna no Ceará? Era porque Sua Excelência obteve conhecimento do convívio de Bartolomeu com jagunços e Coronéis do Estado que lutaram a favor do Governo, desde a Sedição de Juazeiro em 1913, e que o mesmo era um político com forte influencia perante os bandoleiros.

Regressando ao Ceará, Floro Bartolomeu organizou um “Batalhão patriótico”, cujos membros eram todos jagunços enviados pelos latifundiários da zona sul cearense. O deputado teve ainda a idéia de procurar o grupo cangaceiro de Vigulino Ferreira da Silva, “Lampião”, para lutar ao seu lado na “defesa da liberdade”.

 

Tropa da Coluna Prestes

A Rede de Viação Cearense – RVC, por conta da incursão dos rebeldes, foi focalizada nesses aspectos: A construção e desempenho, afinal a Estrada de Ferro era de propriedade do Governo da União. As linhas estavam no sul do Estado (região do Cariri) e foram paralisadas por cerca de um mês, acarretando quase uma desorganização por completa. Quanto ao desempenho da RVC, não foi bom na época, ocorrendo um desequilíbrio na vida comercial, pois o itinerário do trem justamente na zona mais produtiva, estava impedido.  Essa queda de receita se deu também, porque as composições ferroviárias passaram a trafegar conduzindo tropas legais, prontidão de pessoal e material. Os trens da linha de Baturité foram prejudicados inclusive, os que circulavam no ramal de Poço dos Paus (Cariús), pois, integrantes da Coluna estavam também estacionados próximos.

Provenientes do vizinho Estado do Piauí e comandados pelo Capitão João Alberto, 132 homens pertencentes a Coluna Prestes, ocupou o trecho Ipú – Crateús de 13 a 26 de janeiro de 1926, e em ato de vandalismo destruiu os aparelhos telegráficos das estações de Ipú, Ipueiras, Charito (João Tomé), Nova Russas e Pinheiro (Sucesso) na Via Férrea de Sobral, ficando por cerca de dois dias a comunicação ferroviária interrompida, pois houve até um quebra-quebra de isoladores e derrubada de portes.

A Coluna Prestes no Ceará foi despeça e a Rede de Viação Cearense, a pedido da Governadoria do Estado, no total organizou 237 trens especiais tendo transportado forças militares, animais e o material bélico que o Presidente Bernardes havia colocado à disposição do deputado federal Floro Bartolomeu. Não teve condições de tal movimento prosperar no Ceará, pois a força militar e a dos “Coronéis”  extirparam as pretensões desse grupo.

Endereçados à diretoria da RVC, o Presidente do Ceará, José Moreira da Rocha “O Moreirinha” aos 4 de março de 1926, enviou oficio no qual expressa: “calorosos agradecimentos pelos relevantes serviços prestados ao Estado na defesa da ordem constitucional durante a permanência das hordes revolucionárias nos sertões cearense” . Acrescenta o oficio em apreço, que a diretoria da RVC e seus dedicados auxiliares, deram “as mais inequívocas demonstrações de amor às instituições democráticas, nos calamitosos dias por que passou este Estado”.

A ferrovia cearense na época como propriedade do Governo, apenas fez o seu papel e nada fez contra o povo, senão em dezembro 1988 quando o povo passou a chorar com saudade do seu trem, para as cidades do interior.

“Não acredito em partido político, e sim na ideologia. O anelo dos partidos é o poder. Todo movimento legítimo é a reivindicação do povo, mas a liberdade de idéias não dá direito à pratica do vandalismo”. (Do autor).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota: Foto da capa Governador Moreira da Rocha, Floro Bartolomeu, e autoridades civis e militares na Estação de Missão Velha. Estratégias para a debelar a Coluna no Sertão.

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