QUE EXISTIA DE ELEGANTE NAQUELE CAFÉ

 

Panorâmica do Café Elegante

 

Fortaleza na virada do século XX, estava sendo administrada pelo intendente Guilherme Rocha, embora uma gestão nocauteada por Antônio Pinto Nogueira Accioly, que já vinha liderando desde 1892.

 

Intendente Guilherme Rocha

 

Em julho de 1900 assume o Governo do Ceará Pedro Augusto Borges, mas a gestão municipal do intendente iria até 1912. Pedro Borges manteve sua administração subserviente à Oligarquia Acciolyna.

 

Jardim 7 de Setembro – 1902

 

Em 1902, concomitantemente com a segunda greve dos operários da Estrada de Ferro de Baturité, o Centro de Fortaleza estava recebendo nos festejos dos 80 anos de nossa independência, o Jardim “7 de setembro” aformoseando a Praça do Ferreira, onde houve um remodelação e, foi quando aumentou ainda mais os frequentadores daquele logradouro, aquecendo a venda de lanches e refeições completas nos quiosques existentes.

No “Café Java” (canto Nordeste) muito bate papo de intelectuais, e foi a bem da história, onde Antônio Sales fez o protocolo de intensões para fundar o grêmio literário que se denominaria “Padaria Espiritual”, que em 1902 já não mais existindo, tornou-se um point das conversas sobre literatura e política afora o anedotário.

Do “Café do Comércio” (Canto Noroeste) partia os bondes que na época ainda era “Ferro Carril”, cuja administração era vizinho do lado leste, olhando para o quarteirão que desapareceria em 1941.

O “Café Iracema” (Canto Sudoeste), olhava para a calçada da Rua Major Facundo, que se denominava Rua da Palma e onde seria construídos os três grandes Cines: Cine Theatro Polytheama (1911), Majestic (1917) e o Moderno (1922). O Café Iracema ficava olhando para a casa onde ficava a Botica de Antônio Ferreira, o filantropo. Os quiosques ainda alcançaram os frequentadores do Cine Theatro Polytheama e o Mejestic, porém o Moderno, primeiro a ser sonorizado, não fora possível. Em 1920 desapareceram, e o leitor saberá.

Cajueiro da Mentira e por detrás o Elegante – 1905

 

Porquê Café Elegante

Pela sua posição geográfica, respirava calma, apesar de ser o mais próximo do Cajueiro da Mentira, onde rolava potocas. Por sua frente era a Rua Floriano Peixoto (Pitombeira) e ao lado sul, transitava na Rua do Cajueiro (Pedro Borges) os bondes, mas sem parar. Lá no final da Rua Pedro Borges, descendo em rumo leste encontrava-se o Beco dos Pocinhos, onde para localização de hoje, em 1970 construíram o Edifício Palácio do Progresso. Naquele espaço já existia a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, que data de 1896.

Voltando.

No Elegante existia uma calmaria, e com ar mais puro, afinal, pela rua que ficava na esquina vinha o vento leste, trazendo a gostosa brisa do Riacho Pajeú e da lagoa do Garrote onde ainda existia águas bem límpidas.  A umidade relativa do ar era melhor.

No ângulo Sudeste, o quiosque ficava defronte à Funilaria São José, torrefação de Joaquim Sá e no American Kinema. Seus proprietário foi Arnaud Cavalcanti Rocha, e no seu início chamava Café Chic.  Já com o nome de Café Elegante foi passado para a firma Porto & Irmão. O Café Elegante, tinha a mesma estrutura do Café do Comércio: um segundo pavimento.

 

Vista Lateral do Café Elegante

 

Andar pelo Elegante, era fazer suas refeições com mais tranquilidade, e o público segundo eruditos, era mais seleto. Até os fiéis das Igrejas Presbiteriana e do Rosário, após as reuniões, ali paravam.

Em 1920 Godofredo Maciel estava Prefeito de Fortaleza, e foi quando ocorreu um nova reforma da Praça e os Quiosques foram retirados, e junto com eles foi derrubado o Cajueiro Botador e destruído o Jardim 7 de setembro. Adeus “Casas de Merendas”.

Com esta remodelação, a Praça do Ferreira perdeu atrativos, e os fregueses por amor à Praça, se dirigiram para os Cafés Emidgio e Riche, só para não abandonar o recinto.

Existia uma cacimba que servia para o trabalho dos jardineiros, mas que fora coberta com um Coreto, ao qual por sua vez em 1933 com a Primeira Coluna da Hora.

Comete injustiça com a história, quem proclama que a Praça do Ferreira a partir de 1991 ficou elegante. Uma geração que viu o Monstrengo na desastrosa “Gestão José Walter” pode até ter razão, mas muita coisa Elegante ficou pra trás.

 

 

Fontes:

 

A Praça do Ferreira, Juarez Leitão;

Fortaleza de Ontem e de Hoje, Miguel Ângelo de Azevedo, Nirez;

Fortaleza Velha, João Nogueira.

História Abreviada de Fortaleza, Mozart Soriano Aderaldo.

Fotos: Reproduzidas de Originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

 

PADARIA ESPIRITUAL PRECURSORA DAS ACADEMIAS

 

 

 

 Café Java, no canto Nordeste da Praça do Ferreira

Nasceu a Padaria Espiritual

 

Fortaleza, final do Século XIX.

Durante seis anos, uma sociedade de “rapazes de Letras e Artes” daria o que falar. Bem-humorados, ousados, sobretudo talentosos, os membros da PADARIA ESPIRITUAL protagonizaram, no antagônico recém criado Estado, um movimento literário modernista que antecedeu em muitos anos a Semana de Arte Moderna e seria um destaque histórico, fomentando os que estudam a Literatura Brasileira. Escasso são os relatos sobre o que foi a Padaria, como atuavam os padeiros, quais eram seus postulados e como os traduziam no O Pão, jornalzinho de oito páginas, que circularia até o nº 36, deixando um rastro de irreverência notória.

 

 

Os “padeiros” assinavam seus textos com pseudônimos, o que geralmente chocava as pessoas, pois muitos dos pseudônimos remetiam a elementos nacionais e/ou regionais, uma forma de criticar o academicismo presente nas associações literárias de até então.

 

Poeta Antonio Sales

 

 

Antônio Sales, considerado o idealizador da Padaria Espiritual, foi Moacir Jurema, Adolfo Caminha foi Félix Guanabarino, Jovino Guedes foi Venceslau Tupiniquim, Lívio Barreto foi Lucas Bizarro, entre outros “rapazes de letras e artes”, isto é, integrantes da Padaria Espiritual que adotaram pseudônimos considerados ousados, naquele contexto.

Um dos principais objetivos do grupo era promover o gosto pela literatura na sociedade, isto é, estabelecer uma sociedade literária (renovada, original) em seu tempo, considerando a apatia literária da sociedade cearense da época.

 

 

 

O escritor Antônio Sales, ao redigir o Programa de Instalação da Padaria Espiritual, espécie de estatuto, composto de 48 itens, acerca das premissas e propostas da padaria, foi responsável pela construção de uma estrutura para ”legitimar” o movimento.

O estatuto foi lido pela primeira vez na inauguração da agremiação literária, no dia 30 de maio de 1892, no Café Java, na Praça do Ferreira, em Fortaleza.

 

 

 

A Padaria Espiritual foi uma das mais singulares agremiações culturais tanto do Ceará como do Brasil. Por ela passaram escritores que ajudaram a compor parte significativa da atividade artística e da imprensa na província cearense. O intuito de seus idealizadores era despertar, na sociedade, o gosto pela arte.

Como já havia precedentes de sociedades artísticas, muitas delas de caráter formal e retórico, decidiram produzir algo original e até mesmo escandaloso, que repercutisse no gosto do povo. Antônio Sales redigiu seu programa de instalação e foi um dos principais responsáveis pela publicação do jornal da agremiação, O Pão. A Padaria Espiritual não era uma sociedade exclusivamente das Letras, mas das artes em geral, pois o grêmio contou tanto com prosadores e poetas, quanto com pintores, desenhistas e músicos.

 

 

Diferente mocidade Cearense comprometida com os interesses econômicos dos emergentes setores urbanos e de estreita ligação com as tradicionais oligarquias rurais, o grupo dos padeiros, oriundo dos Novos do Ceará diferente do arsenal teórico científico pautado nas ideias positivas e evolutivas iria propor um novo projeto literário baseado nos valores e hábitos do
“tipo” campestre, heroico e valente. O movimento literário e artístico dos artistas padeiros
seria uma “cousa nova”, fugindo, pois, das formalidades científicas e bacharelescas dos tantos
outros movimentos acontecidos anteriormente. De forte caráter boêmio e pilhérica o movimento dos padeiros causou “escândalo” numa pacata e provinciana Fortaleza de então, acostumada à seca, à pilheria e ao aluá.

Manuel Coco proprietário do Café Java, lamentou e muito vendo Fortaleza entrar no século XX, ficando para trás, dois anos a Padaria Espiritual.

Funcionamento da Padaria:

“Um Padeiro Mor”; “Dois Forneiros”; “Um Gaveta”; “Um Guarda Livros”; “Um Investigador”; e os demais eram “Amassadores”. A sede da Padaria era chamada de Forno e a cada reunião era chamada de “Fornada”.

 

 

 

ESTATUTO DA PADARIA ESPIRITUAL

            Eis os Estatuto da Padaria Espiritual, movimento pioneiro no Ceará — terra de José de Alencar — e precursor das academias de letras em terras brasileiras. Movimento modernista, ainda hoje atual, com 40 anos de antecedência à Semana de Arte de 1922.

1) Fica organizada, nesta cidade de Fortaleza, capital da “Terra da Luz”, antigo Siará Grande, uma sociedade de rapazes de Letras e Artes, denominada Padaria Espiritual, cujo fim é fornecer pão de espírito aos sócios em particular, e aos povos, em geral.

 

2) A Padaria Espiritual se comporá de um Padeiro-Mór (presidente), de dois Forneiros (secretários), de um Gaveta (tesoureiro), de um Guarda-livros na acepção intrínseca da palavra (bibliotecário), de um Investigador das Coisas e das Gentes, que se chamará Olho da Providência, e demais Amassadores (sócios). Todos os sócios terão a denominação geral de Padeiros.

 

3) Fica limitado em vinte o número de sócios, inclusive a Diretoria, podendo-se, porém, admitir sócios honorários que se denominarão Padeiros-livres.

 

4) Depois da instalação da Padaria, só será admitido quem exibir uma peça literária ou qualquer outro trabalho artístico que for julgado decente pela maioria.

 

5) Haverá um livro especial para registrar-se o nome comum e o nome de guerra da cada Padeiro, sua naturalidade, estado, filiação e profissão a fim de poupar-se à Posteridade o trabalho dessas indagações.

 

6) Todos os Padeiros terão um nome de guerra único, pelo qual serão tratados e do qual poderão usar no exercício de suas árduas e humanitárias funções.

 

7) O distintivo da Padaria Espiritual será uma haste de trigo cruzada de uma pena, distintivo que será gravado na respectiva bandeira, que terá as cores nacionais.

 

8) As fornadas (sessões) se realizarão diariamente, à noite, à excepção das quintas-feiras, e aos domingos, ao meio-dia.

 

9) Durante as fornadas, os Padeiros farão a leitura de produções originais e inéditas, de quaisquer peças literárias que encontrarem na imprensa nacional ou estrangeira e falarão sobre as obras que lerem.

 

10) Far-se-ão dissertações biográficas acerca de sábios, poetas, artistas e literatos, a começar pelos nacionais, para o que se organizará uma lista, na qual serão designados, com a precisa antecedência, o dissertador e a vítima. Também se farão dissertações sobre datas nacionais ou estrangeiras.

 

11) Essas dissertações serão feitas em palestras, sendo proibido o tom oratório, sob pena de vaia.

 

12) Haverá um livro em que se registrará o resultado das fornadas com o maior laconismo possível, assinando todos os Padeiros presentes.

 

13) As despesas necessárias serão feitas mediante finta passada pelo Gaveta, que apresentará conta do dinheiro recebido e despendido.

 

14) E proibido o uso de palavras estranhas à língua vernácula, sendo, porém, permitido o emprego dos neologismos do Dr. Castro Lopes.

 

15) Os Padeiros serão obrigados a comparecer à fornada, de flor à lapela, qualquer que seja a flor, com excepção da de chichá.

 

16) Aquele que durante uma sessão não disser uma pilhéria de espírito, pelo menos, fica obrigado a pagar no sábado café para todos os colegas. Quem disser uma pilhéria superiormente fina, pode ser dispensado da multa da semana seguinte.

 

17) O Padeiro que for pegado em flagrante delito de plagio, falado ou escrito, pagará café e charutos para todos os colegas.

 

18) Todos os Padeiros serão obrigados a defender seus colegas da agressão de qualquer cidadão ignáro e a trabalhar, com todas as forças, pelo bem estar mútuo.

19) É proibido fazer qualquer referência à rosa de Maiherbe e escrever nas folhas mais ou menos perfumadas dos álbuns.

 

20) Durante as fornadas, é permitido ter o chapéu na cabeça, exceto quando se falar em Homero, Shakespeare, Dante, Hugo, Goethe, Camões e José de Alencar porque, então, todos se descobrirão.

 

21) Será julgada indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhos à Fauna e à Flora brasileiras, como: cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho etc.

 

22) Será dada a alcunha de “medonho” a todo sujeito que atentar publicamente contra o bom senso e o bom gosto artísticos.

 

23) Será preferível que os poetas da “Padaria” externem suas idéias em versos.

 

24) Trabalhar-se-á por organizar uma biblioteca, empregando-se para isso todos os meios lícitos e ilícitos.

 

25) Dirigir-se-á um apelo a todos os jornais do mundo, solicitando a remessa dos mesmos à biblioteca da “Padaria”.

 

26) São considerados, desde já, inimigos naturais dos Padeiros – o Clero, os alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve perder ocasião de patentear seu desagrado a essa gente.

 

27) Será registrado o fato de aparecer algum Padeiro com colarinho de nitidez e alvura contestáveis.

  28) Será punido com expulsão imediata e sem apelo o Padeiro que recitar ao piano.

 

29) Organizar-se-á um calendário com os nomes de todos os grandes homens mortos, Haverá uma pedra para se escrever o nome do Santo do dia, nome que também será escrito na Ata, em seguida à data respectiva. 30) A “Avenida Caio Prado” é considerada a mais útil e a mais civilizada das instituições que felizmente nos regem, e, por isso, ficará sob o patrocínio da Padaria,

 

31) Encarregar-se-á um dos Padeiros de escrever uma monografia a respeito do incansável educador Professor Sobreira e suas obras.

 

32) A “Padaria” representará ao Governo do Estado contra o atual horário da Biblioteca Pública e indicará um outro mais consoante às necessidades dos famintos de idéias.

 

33) Nomear-se-ão comissões para apresentarem relatórios sobre os estabelecimentos de instrução pública e particular da Capital relatórios que serão publicados,

 

34) A Padaria Espiritual obriga-se a organizar, dentro do mais breve prazo possível, um Cancioneiro Popular, genuinamente cearense.

 

35) Logo que estejam montados todos os maquinismos, a Padaria publicará um jornal que, naturalmente, se chamará O Pão.

 

36) A Padaria tratará de angariar documentos para um livro contendo as aventuras do célebre e extraordinário Padre Verdeixa.

 

37) Publicar-se-á , no começo de cada ano, um almanaque ilustrado do Ceará contendo indicações uteis e inúteis, primores literários e anúncios de bacalhau.

 

38) A Padaria terá correspondentes em todas as capitais dos países civilizados, escolhendo-se para isso literatos de primeira água.

 

39) As mulheres, como entes frágeis que são, merecerão todo o nosso apoio excetuadas: as fumistas, as freiras e as professoras ignorantes.

 

40) A Padaria desejaria muito criar aulas noturnas para a infância desvalida; mas, como não tem tempo para isso, trabalhará por tornar obrigatório a instrução pública primada.

 

41) A Padaria declara desde já guerra de morte ao bendegó do “Cassino”.

 

42) É expressamente proibido aos Padeiros receberem cartões de troco dos que atualmente se emitem nesta Capital.

 

43) No aniversário natalício dos Padeiros, ser-lhes-á oferecida uma refeição pelos colegas.

 

44) A Padaria declara embirrar solenemente com a secção “Para matar o tempo” do jornal “A Republica”, e, assim, se dirigirá à redação desse jornal, pedindo para acabar com a mesma secção.

 

45) Empregar-se-ão todos os meios de compelir Mané Coco a terminar o serviço da “Avenida Ferreira”.

 

46) O Padeiro que, por infelicidade, tiver um vizinho que aprenda clarineta, pistom ou qualquer outro instrumento irritante, dará parte à Padaria que trabalhará para pôr termo a semelhante suplício.

 

47) Pugnar-se-á pelo aformoseamento do Parque da Liberdade, e pela boa conservação da cidade, em geral.

 

48) Independente das disposições contidas nos artigos precedentes, a Padaria tomará a iniciativa de qualquer questão emergente que entenda com a Arte, com o bom Gosto, com o Progresso e com a Dignidade Humana.

 

Amassado e assado na “Padaria Espiritual”, aos 30 de Maio de 1892.

 

Seguem-se as assinaturas dos padeiros presentes, em número de dezoito, faltando, portanto, duas assinaturas.

Fontes:

A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará – Sânzio de Azevedo, 1983;

Os Padeiros e Seu Periódico, edição fac-similar do O Pão, publicada em coedição pelas Edições UFC e ACL.

O OPERÁRIO, 1892 Dr. Castro Lopes

Presença da Padaria Espiritual na História da Imprensa e das Artes no Ceará – Luciana Brito

Fotos: Os registros iconográficos foram reproduzidos de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidos.

DO CHICO LAMPIÃO À UMA CIDADE QUE SE ILUMINOU

 

 

O homem tem a tarefa de acender o lampião de noite e apagá-lo de dia, mas o planeta gira muito rápido e o Sol se põe a cada minuto, o que faz com que o seu trabalho seja cansativo. O Acendedor de Lampiões simboliza as pessoas que cumprem determinadas tarefas sem pensamento crítico, muitas vezes fazendo coisas sem sentido ou sem entender porquê. Elas ligam o piloto automático, estão tão acostumadas com o que fazem, que não se dão conta da importância do que faz”.          José Augusto Wanderley, Publicitário. RJ.

Tudo o que é relacionado ao desenvolvimento, obedece a etapas ou estágios. Ao retornarmos historicamente ao passado, não implica em se sofrer atrasos, mas estamos resgatando merecimentos, afinal o moderno hoje é o antigo amanhã. O moderno carro de injeção eletrônica não chegou antes daqueles, cuja partida era à manivela com carburação falha; o compacto celular em que localizamos as pessoas apenas no tempo, não podia chegar primeiro do que os aparelhos de telefonia ao magneto, com sua extensão entre emissor e receptor não superior a 1000 metros; as aeronaves, os super-sônicos dar uma volta ao mundo em questão de horas, porém, Alberto santos Dumont penou bastante para fazer subir o 14 BIS em 1906 na França, com um metro de altitude e descer com apenas cem metros percorridos.

Será que a iluminação e energia elétrica foram diferentes? Claro que não! Fortaleza foi saindo da escuridão a custa do sacrifício de animais marinho, hoje na lista de extinção. (Vide Praia dos Arpoadores). No caso Refiro-me as baleias que desapareceram da Costa Norte. Sim, pois a iluminação pública de nossa cidade, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, Casimiro José de Moraes Sarmento.

 

 

Luminária do Café Caio Prado

Passeio Público

 

A exploração do serviço de iluminação de Fortaleza teve inicio, com a assinatura de um contrato com o Sr. Vitoriano Augusto Borges que tinha como atribuição, instalar 44 lampiões. Os lampiões tinham quatro faces, sendo mais estreitas em baixo do que em cima, com fundo e tampa de metal. Eram suspensos com armações de ferro como se fosse uma forca, afixados nas esquinas e na posição que pudessem iluminar ruas e travessas. Eram limpos constantemente, e para acendê-los deveriam descer, por isso eles pendiam de uma corda, que passava em duas roldanas. Tinha uma caixinha cheia de azeite de peixe com torcida de algodão. Era parecido com pequenos tachos de que trabalham os ourives para soldas ao maçarico. Foi assim que surgiu o primeiro personagem popular de Fortaleza: “Chico Lampião”, embora seu nome conste em algumas obras, mas nada se sabe acerca do mesmo, assim como os carregadores de Quimoas.

 Fortaleza bonitinha ficou sendo iluminada com azeite de Peixe até 1866 quando, o português Vitorino Borges encerrou suas atividades nesta prestação de serviço. Surgiu a era do Gás Carbônico sob a responsabilidade da “The Ceará Gaz Company Limited”.

 

Gasômetro ao lado da Santa da Casa.

 

Com o gás carbônico, as ruas de nossa cidade tiveram melhor qualidade na iluminação, pois as luminárias foram colocadas em ziguezague sendo a distância de um para o outro de apenas 30 metros, e com um atura de 2,40 cm. Ficava uma chama brilhante em forma de leque queimando o bem preparado gás, salientando que o gasômetro ficava na rua Senador Jaguaribe, ao lado da Santa Casa de Misericórdia olhando para a Praça do Passeio Público. Daí o antigo nome daquela denominar-se “Rua do Gasômetro”.

Experimentalmente, em 1933 foram colocadas quatro lâmpadas elétricas de 100 Watts na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), entre as Ruas da Municipalidade (Guilherme Rocha) e a das Hortas (Senador Alencar).

Em 1934, fora rescindido o contrato da “Companhia Ceará Gás” e o Governo do Estado do Ceará, naquele mesmo ano oficialmente, inaugurou-se na praça do Ferreira a energia elétrica, aos 8 de dezembro, o que fora uma apoteose.

Um ano após, fora retirado o último lampião à gás encerrando assim, o segundo período da iluminação de Fortaleza, a era do Gás Carbônico.

Novo Privilégio para a The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd

 Descida da Rua Formosa (Barão do Rio Branco)

Cabos da Light

 

A firma inglesa “The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd” que já explorava o transporte de bondes elétricos desde de 1913, ganhou agora privilégio para o serviço de iluminação. A localização dos geradores da Light eram na Rua Adolfo Caminha (Baixos do Passeio Público) e as suas caldeiras eram alimentadas com lenhas vindas do Horto Florestal de Canafístula, trazidas em vagões gôndolas pertencentes a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité.

 

Bonde Elétrico do Outeiro na Rua Floriano Peixoto

 

Aos 19 de maio de 1947 circulou o último bonde elétrico em Fortaleza e, apesar da sobra de demanda, a energia da Light ainda era muito precária. A “The Ceará Tramway”, por força do decreto federal nº 25.232 de 15 de julho de 1948 transferida a concessão para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo o Prefeito Acrisio Moreira da Rocha. Na época tinha que o General Dutra assinar, por ter sido o serviço explorado por uma firma estrangeira.

Carregamento de Lenhas

Vindas de Canafistula hoje Antônio Diogo

 

Aos 20 de maio de 1954, saiu o decreto nº 803 criando o “Serviço de Luz e Força do Município de Fortaleza – SERVILUZ” quando ainda estava prefeito, o radialista e advogado Paulo Cabral de Araújo. As novas instalações foram inauguradas em 8 de novembro do mesmo 54, ocupando o local onde funcionava o Escritório da extinta empresa de Bondes no Passeio Público, pela Rua João Moreira.

Usina Serviluz no Mucuripe

Fachada, Localização e Maquinas geradoras.

 

A Usina Termoelétrica fora instalada em maio de 1955 na Ponta do Mucuripe, inicio da Praia Mansa. Com modernos geradores Westinghouse, o Serviluz fora criado para resolver o problema da precária energia elétrica de Fortaleza.

As razões técnicas para a usina ficar distante do centro da cidade, segundo analistas da época, deveram-se a estratégica zona portuária com o surgimento de empreendimentos, tais como os já existentes: Shell Mexi, Atlantic, Texaco, Esso Standard do Brasil e Moinhos de trigo. Além do mais, o equipamento roncava e aquecia demais e a ventilação praiana, favorecia a regulagem térmica.

O Serviluz foi administrativamente transferido em 1 de maio de 1960 para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF (Estado da Bahia), a qual por sua vez, em 1 de abril de 1962 instala a Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza – CONEFOR que substituiu o Serviluz. Dois anos após, a rede elétrica proveniente da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso chegou em Fortaleza, com uma subestação no Bairro Mondubim.

 Aí com as presenças do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do Governador do Ceará Virgílio Távora, do Prefeito de Fortaleza Murilo Borges e várias autoridades, em 1 de fevereiro de 1965 precisamente às 18.30 h, na Praça Libertadores (Depois Farias Brito) no popular Bairro Otávio Bonfim, era acessa a primeira lâmpada de iluminação pública com energia elétrica da CHESF.

Em 5 de julho de 1971, o Governo César Cal’s cria a Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE e encampa a Conefor, que após três anos em assembleia geral, a extingue.

Como não era de se esperar, a história se repetiu. O comando do serviço de energia elétrica do Ceará saiu das mãos do Governo Estadual. A Coelce foi vendida, e aos 13 de maio de 1998, passou a pertencer a “Distriluz Energia Elétrica S.A.”, “Companhias Enersis S.A.”, “Chilectra S.A.”, “Endesa de España S.A.” e a “Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – CERJ”.

Então quem quiser deixar seu dinheiro no Brasil, consuma produtos da Terra e economize energia. Seja racional, pois, não existe mais Coelce e sim Enel.

 

Fontes:

– Fortaleza Belle Époque, Sebastião Rogério Ponte;

– Fortaleza de Ontem e de Hoje, Miguel Ângelo de Azevedo – Nirez.

– Fortaleza Velha, João Nogueira;

– Instituto do Ceará, Revista de 1934;

– História da Energia Elétrica do Ceará, Ary Leite.

Fotos: Ofipro e uma reprodução de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas. .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PRAIA DE MEIRELES DO AREAL AO LUXO

 

 

A existência dos remanescente moradores do Campo do América é a prova cabal de que aquele pedaço era uma Vila de pescadores que viviam de modo simples, isolados até do Centro urbano da Capital. Não estão ali por invasão ou apropriação indébita. São os nativos que não se curvam ante a velocidade do aformoseamento e do progresso, tendo em vista o hoje Bairro Meireles ser e ter o metro quadrado mais caro da cidade. O berço daquela gente é ali, e creio que ali vão permanecer, resistindo a especulação imobiliária.

 

De acordo com a história do nome, Meireles seria um morador de Meira, nome de uma região espanhola. Sendo assim, acredita-se que a família Meireles teve início por meio da família Meira, a qual origina “o velho” Pedro de Novaes, homem rico de El-rei D. Sancho II.

Um ramo familiar Meireles veio para Fortaleza à época do Siará Grande, observar o Cabo de Santa Maria de Consolacion, o Rosto Hermoso – ponta do Mucuripe, que por lá havia passado Vicente Ianez de Pinzón. Existe esta história ou estória de que, lá em Tordesilhas (Espanha) alguém teria que fazer “justiça” ao navegador Vicente Ianez de Pizon, que chegou ao Brasil antes de Cabral. A família Meireles fixou residência, e existiu este espaço, afinal, tínhamos a Praia do Ceará (Iracema) e a do Mucuripe. Por isso surgiu a nomenclatura Praia do Meireles.

 

A Praia do Meireles é o coração da Avenida Beira Mar, via aberta pela Rede de Viação Cearense, quando ocorrera assentamento de trilhos, para fazer convergência entre a Ponte Metálica (Porto de Fortaleza) ao Mucuripe, devido aos aprovados e avançados estudos do novo Porto de Fortaleza na enseada do Mucuripe.

 

 

O espigão de retenção, da hoje Praia Mansa foi construído com pedras transportadas em vagões gôndolas da Rede de Viação Cearense, oriundas da pedreira de São Bento, na localidade de Monguba, Município de Pacatuba – RMF – CE. A inauguração desse ramal ferroviário ocorreu em 25 de dezembro de 1933. Na ocasião contou-se com as presenças do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça, do Prefeito Raimundo Girão e do diretor da RVC engenheiro Ulpiano Barros. Uma composição especial saiu da Estação Central conduzindo autoridades e convidados especiais. Dom Manuel da Silva Gomes arcebispo da cidade, acompanhou para proceder a benção.

 No local próximo a que seria as Avenidas Barão de Studart e Desembargador Moreira, existia uma Tamarindeira em cuja sombra tinha um chafariz. Era lá abastecimento das locomotivas, pois na época eram todas à Vapor.

 

Ferir à memória é denominar aquele espaço geográfico de Praia do Náutico, um clube social que surgiria depois. Quando definitivamente foi erradicado o ramal do Mucuripe em 1948, embora o trem já trafegasse via Parangaba desde 1941, o trecho recebeu pedras toscas e a partir de 1961 virou Avenida. Com a pavimentação asfáltica, tornou-se um local chamativo e caro.

A Gestão Pública investiu em peso e a Praia do Meireles, que inicialmente era assistida com transporte coletivo pela Empresa Iracema, hoje é Cartão Postal e os edifícios construídos aformosearam nossa Fortaleza.

Meireles sempre vai ser sempre Meireles.

O bairro possui uma excelente cobertura infraestrutura. Inicialmente era um loteamento receptor dos que fugiam do Centro e fizeram do Meireles (e da Aldeota) sua nova morada. Existe um mapa de autoria do Governador Manuel Ignácio de Sampaio confeccionado junto com seu braço direito Antônio José da Silva Paulet, que se observa o traçado e dá conta de que em 1818, já existia o nome Meireles naquela orla marítima.

Porquê Beira-Mar

Segundo a Wikipédia enciclopédia livre, “a Via fora construída há pouco mais de 50 anos, a Avenida Beira-Mar é um dos principais cartões-postais de Fortaleza é o local de diversão e trabalho mais valorizado na capital devido à sua orla cheia de luxuosos edifícios e hotéis e pelo calçadão movimentado por turistas e praticantes de atividades físicas. Também é local de trabalho para muita gente e encontros com um visual surpreendente. Antes, a presença maior na região era de pescadores e algumas casas de veraneio. A Avenida Beira-Mar começou a ser construída em 1961, com uma grande calçada, no governo de Manoel Cordeiro Neto, que transferiu as casas de pescadores para outros bairros, como a Varjota.

A nova avenida recebeu o nome de presidente Getúlio Vargas mas em 1964 passou a se chamar Presidente Kennedy para futuramente receber o nome que tem hoje de Avenida Beira-Mar, nome bem mais condizente com o lugar que é a cara da cidade que reflete seu povo, seus costumes, sua cultura. É no calçadão que a estátua de Iracema, uma escultura do pernambucano Corbiniano Lins homenagem aos 100 anos do maior escritor cearense, José de Alencar. Ela está lá desde 1965, ano do centenário do romance, sendo um dos principais pontos turísticos da capital. Um pouco a frente, no Mucuripe, o movimento das jangadas é outro atrativo e fonte de inspiração para muitos artistas. Parada obrigatória também é a Feirinha da Beira-Mar, que existe lá desde 1980 e disponibiliza uma grande a variedade de produtos para os visitantes”.

Fontes:

Arquivo Público do Estado do Ceará;

Raimundo Girão, Geografia Estética de Fortaleza, BNB, 2ª Ediução 1979;

Relatório da RVC, Ulpiano Barros, 1933;

Tordesilhas, muito mais que um Tratado, Adilson Candorin, Editora Tubarão, 2004

Wikipédia, Enciclopédia Livre.

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart529227/cart529227.jpg

Fotos: Ofipro e Arquivo Nirez.

CINETEATRO MAJESTIC E O QUEIMA RAPARIGAL

 

O Cearense já nasceu para a cultura da molecagem, quando da inauguração do Cine Theatro Majestic com o cartaz da italiana Fátima Miris, no dia 14 de julho de 1917, coisa que a sociedade daquele tempo não tolerava, bem como atualmente quando os conservadores ainda são antagônicos.

Foi um impacto esta atração negociada por Plácido Carvalho, que na Europa esteve. Ele queria inovar algo e amadurecer nossa Fortaleza nos seus anos de Bélle Époque.

 

Transformista Italiana Fátima Miris

 

A edificação era de propriedade de Plácido Carvalho, cuja exploração fora da Firma Ribeiro & Cia, que mantinha um pacto firmado entre Luis Severiano Ribeiro com o Capitalista Alfredo Salgado.

O colossal Cineteatro Majestic-Palace tinha o piso de madeira com uma riqueza arquitetônico e, por tabela, instrumento de sonoplastia, afinal os cavalos dos filmes de faroeste pareciam ter invadido a sala de projeção, quando o público empolgado batia os pés no piso de madeira de lei e encerada. Ele imitava o som dos galopes.

 

 

Depois dos filmes e das peças teatrais – diversões – refúgio mais cobiçadas na ausência de shoppings -, era comum que a praça ficasse ocupada por famílias tomando sorvete, olhando as vitrines das boutiques e irrigando as veias de um Centro da cidade já repleto de diferenças sociais, dentro e fora das salas de projeção.

 

 

O Majestic foi o primeiro a ter o espaço dividido nos setores de plateia, camarote e geral. O pessoal da geral, lugar mais barato, ficava jogando coisas nos camarotes e na plateia. Esses eram chamados de moleques. Só pela estrutura, o Cine já permitia esse tipo de manifestação de repúdio às classes superiores. A vaia ao sol naquele 30 de janeiro de 1942 na praça do Ferreira, é prova cabal do comportamento irreverente dos que havia nascidos, e dos que  ainda iriam nascer, como o caso do autor destas linhas que chegou ao mundo em 1958, sendo privilegiado por Deus por oferecer seu berço na Terra da Luz.

 

Em destaque a mutilada casa do Boticário Ferreira

 

Assim como várias construções que se perderam entre prédios e comércios modernos, o Majestic hoje resiste apenas na lembrança de quem viveu em uma Capital ainda inspirada nos hábitos europeus. Majestic era um edifício imponente, de vários andares, e a sala de projeção era também um teatro.

 

 

O Majestic não teve felicidade, mas a construção teria sido essencial e deveria ter sido preservada, porque revelaria não só a arquitetura, mas as práticas, a indumentária, os usos dos espaços e os valores sociais da época que existiu. As residências que não foram alicerçadas pelas elites fortalezenses também são destacadas, como parte importante do DNA da cidade.

Ainda existe muitas construções populares que deveriam ser preservadas, pois, resgatam o modo de como moraram as camadas mais populares

 

Incêndio de 1955

 

Dois Incêndios e o Fim

Foram dois devastadores incêndios que sofreu este majestoso cineteatro.

O primeiro foi em 4 de abril de 1955, onde parcialmente foi perdido sua entrada e a ampla sala de espera com seus espelhos e cartazes que ficavam no andar térreo. A catástrofe consumiu as Lojas Brasileiras 4400 e assim atraiu a atenção de toda cidade. Sobreviveu a estrutura metálica e a entrada ficou pelos fundos do prédio pela Rua Barão do Rio Branco nº 1171. Passou uma temporada na reparação de danos, mas voltou a funcionar, por ter seus proprietários condições para tal.

 

Fotos colhidas do Edifício Diogo 1968

 

O segundo incêndio ocorreu na madrugada do dia 1 de janeiro de 1968, aí o fogo devorou por completo. Assim foi o fim do primeiro prédio da cidade que mal tinha completado cinquenta anos de existência.

Para a operação dos bombeiros fora utilizados oito carros, setenta homens sob o comando do Tenente Moacir Sousa. O incêndio havia começado por volta das 2 h e daquela vez os bombeiros tiveram de ter a habilidade para o isolamento, para não serem atingidos os empreendimentos do entorno tipo Farmácia Pasteur, Lojas Ocapana, Flama, dentre as pela rua Barão do Rio Branco.

Por volta das 7.30 h, o sinalizador com a corneta recebia ordem para o toque de recolher dos heróis, para retornarem para a Praça do Liceu, onde ainda fica o quartel.

Segundo populares, em algum lugar escondido algum moleque Gritou: “Queima Raparigal”.

Dizem que este segundo incêndio fora criminoso, mas nada foi provado e nem eu estou afirmando. Ficou no lendário da Praça do Ferreira, recém mostrengado.

Queima Raparigal!

O fato dos cabarés ficarem nos altos dos prédios (o andar térreo era ocupado por lojas e pontos comerciais) atendia à questão do isolamento das profissionais do sexo da chamada sociedade regular. Uma ocorrência do final dos anos 30, explica a origem de famosa expressão ainda hoje corrente em Fortaleza. Uma das lojas da Rua Floriano Peixoto sofreu um incêndio em plena manhã de sábado. Nos altos do sobrado havia uma pensão de mulheres. As inquilinas, que tinham trabalhado até de madrugada, ainda dormiam quando começou o alvoroço na rua. Populares tentavam apagar o fogo com baldes d’água, enquanto as chamas subiam perigosamente, já ameaçando o sobrado. As mulheres, despertadas pelos gritos da multidão, do alto das janelas, pediam socorro, braços erguidos, descabeladas, ainda em seus trajes de dormir, imploravam por ajuda no maior desespero: salvem a gente pelo amor de Deus!!! . Foi quando um gaiato, numa explosão de sadismo, gritou da rua: “Queima Raparigal !!”. Juarez Leitão, escritor.

 

Tudo o que restou

Fontes:

História do Corpo de Bombeiros Sapadores do Ceará. IOCE. 1973.

Jornal O povo 1 de fevereiro de 1942

Juarez Leitão. Sábado, Estação de Viver

Miguel Ângelo de Azevedo: Cronologia Ilustrada de Fortaleza; BNB , 2001

Sebastião Rogério Ponte, pesquisador das reformas urbanas e sociais da cidade.

 

 

 

PALACETE CEARÁ ANTIGA ROTISSÉRIE

 

Foto Colhida do Excelsior Hotel

No canto Nordeste da Praça do Ferreira esquina, Ruas Floriano Peixoto com Guilherme Rocha onde antes existia o prédio que, havia funcionado a Escola de Ensino Mutuo de Fortaleza, em 1914, o banqueiro José Gentil Alves de Carvalho contratou, a Firma Rodolfo F. Silva & Silva, para construir no local o Palacete Ceará, com projeto do engenheiro João Sabóia Barbosa. Era encarregado de obras Eduardo Pastor da referida empreiteira. Suas linhas revelam elementos indiscutíveis ao que é eclético, e com aspectos neobarroco.

 

Foto de 1959

O Palacete Ceará por muitos anos abrigou em seu andar térreo o Rotissérie Sportman, restaurante, sorveteira, Café Rotissérie e casa de Chá Efrem Gondim. No andar superior O Clube Iracema que ocupou o local de 1922 até 1936.

A Academia Cearense de letras em 1922 fora instalada numa das dependências, sendo Salão de Honra, quando o Palacete fora ampliado em dois blocos, olhando para a Praça do Ferreira.

Instalação da Academia Cearense de Letras

Salão Nobre no Palacete Ceará

Nos anos de 1930 o referido prédio sediou a Secretaria do Interior e de Justiça do Estado. Aos 10 de maio de 1946 a Caixa Econômica Federal adquiriu o Prédio vizinho, pela Rua General Bizerril ou seja o Palacete Fortaleza que ficava olhando para o Palácio da Luz, e foi quando nove anos após o Banco comprou o Palacete Ceará, e foi quando a CEF ganhou sua Agência do Centro, com posição privilegiada, olhando para o coração da Cidade.

 

 

Palacete Fortaleza

Em 1982 o prédio sofreu um incêndio que se alastrou, o que por pouco não se perdeu a beleza arquitetônica, que ainda está lá.

Registro após o Incêndio

Nota Institucional Secult: Decreto no 16.237, data 30/11/83 Palacete Ceará Hoje Caixa Econômica Federal Endereço: Rua Guilherme Rocha, n° 48 Proprietário: Caixa Econômica Federal Características do bem tombado e justificativa do tombamento O Palacete Ceará é uma das obras mais representativas das primeiras décadas do nosso século (1920), período em que ocorre grande transformação na aparência arquitetônica da […]

 Panorâmica com a Praça do Ferreira

CRATO, CRATINHO DE AÇUCAR

O terreno do pátio fora adquirido pela Rede de Viação Cearense ainda quando subordinada ao IFOCS (1921), aos descendentes de Lobato Lira, de quem receberam em 1743 as sesmaria Missão dos Mirandas (nome primitivo do Crato) por o Capitão–Mor Alvares de matos.
A estação do Crato cuja pedra fundamental fora lançada aos 31 de maio de 1925, seria terminal, por isso deveria ter um armazém anexo que, também serviria de dormitório para tripulações que ali pernoitavam.
Participaram da construção do Prédio as construtoras “Alfredo Dolabela Portela & Cia e a Jacinto de Mattos Cia Construtores e Empreiteiras”, que ficava em Fortaleza na Rua Senador Alencar nº 9.


Pela Via Férrea trabalhou na Sexta Divisão “Construção e Prolongamentos” os engenheiros José Augusto Lopes Filho e Antônio Deodolindo de Anário Braga.
Era Diretor da RVC O Engenheiro Demósthenes Rokert, que saindo do cargo em 30 de outubro de 1926, que deixou tudo quase pronto para o seu sucessor Adelmar de Melo Franco.
Chefe da Linha: Álvaro Agostino Durand; Chefe do Escritório da Divisão: Arthur de Moura Ramos e com desenho de Cornélio Diógenes, que replicou uma planta trazida por Demósthenes Rockert que trouxe o Rio de janeiro.


Aos 13 de novembro 1926, km 600,003 com altitude der 421,900, com as presenças do Governador João Moreira da Rocha, Prefeito Joaquim Fernandes, Aldemar Franco então diretor da RVC e com as bênçãos do Padre Cícero a Estação de Crato foi inaugurada
O primeiro agente de Estação foi o Sr. Francisco Inácio Ramos, que era o agente de Guayuba.
. .
Aqui abro um parêntese, decifrando o enigma para os estudiosos da história do Rádio Cearense, o porquê de João de Medeiros Ramos, sendo natural de Guayuba, o que ele estava fazendo na Cidade de Crato, quando inauguraram em novembro de 1937 a Amplificadora Cratense e, lá foi trabalhar em 1941. Seu pai o levou.

Estação em 1941

Notoriedade da Estação:
Terminal do Ramal Linha Sul que nasceu em Arrojado; Recebeu trens de passageiros com dormitório para maquinistas e pessoal de trem; Distribuía petróleo vindo do Mucuripe em Fortaleza, cujo descarregamento era no distrito de Muriti. Orlandino foi arrendatário por muito tempo.
Todo abastecimento petrolífero no Sul do Estado era por ferrovia, com base em Crato. Petrobrás, Esso, Shell (Sabá) e Texaco alugavam vagões tanque. Somente a Atlantic era que apenas pagava o frete.
O gesso era outro produto calcário da região além de produtos como açúcar e algodão justificou a grande movimentação.
A estação tinha esta apoteose, até que o princípio do fim começou. Dezembro de 1988, o trem de passageiros deu adeus. Depois as gôngulas de gesso ficaram vazias e finalmente o trem foi vencido por carretas e demais transportes rodoviários.
A estação mesmo com uma nova política implantada pela Transnordestina que substituiu a CFN, não resistiu. Hoje é história…..

A CASA MAL ASSOMBRADA HISTÓRIA DO JACARECANGA

HISTÓRIAS DO JACARECANGA

A Casa Mal Assombrada

            Prédio do Vacinogênio

            Avenida Philomeno Gomes

O Ceará no início do século XX, já havia recebido um grande aliado no combate as doenças tropicais quando em 1901,foi grande a luta dos sanitarista contra a Varíola, que ceifou muitas vidas.

Rodolpho Marcos Theófilo chegou ao Ceará ainda bem jovem no último quartel do século XIX, na época em que o mesmo já era governado pela Oligarquia Acciolyna, tendo como intendente (Prefeito) Guilherme Rocha, e depois assumiria a Presidência do Estado, Pedro Augusto Borges.

Rodolpho era muito sensível às secas que assolou o Nordeste, afinal até 1970 a Bahia e Sergipe pertencia a região Leste Setentrional, mas em 1890 ele já havia escrito o livro “A Fome”, descrevendo lamentáveis acontecimentos e a desolação das secas, tal qual a de 1877/78. A Bahia ainda não era Nordeste.

Pois bem, a Sesmaria do Jacarecanga se transformaria num bairro que nunca mudou de nome, Juntamente com o riacho que corta o mesmo. Em Fortaleza o sanitarista Baiano escolheu este local devido à gravidade epidemiológica: Morro do Moinho, que na época acompanhava a mesma topografia do Morro Croatá, onde fora instalada a Estação ferroviária.

Rodolpho Teófilo em Atendimento

O atendimento de início era feito em visitas domiciliares, e ao que parece não existia subvenção pública, pois, o atendimento era numa casa em taipa dentro de uma vila, onde é notório o estado de pobreza.

                  A Casa da Ponta era o Isolamento dos afetados

 

Vacinogênio, Necrotério, depois Casa de Material de Construção

 

Rodolfo Theófilo, médico sanitarista, de espirito humanitário iniciou seu trabalho no Morro do Moinho, no último quartel do século XIX, e ao raiar do século XX, em 1 de janeiro de 1901, com donativos ocorrera a inauguração do Vacinogênio fruto do próprio trabalho de Rodolfo Theófilo, coisa que na época não agradou ao Presidente do Estado Pedro Borges, pois, tinha que obedecer as diretrizes da oligarquia Acciolyna.

O Jacarecanga teve o privilégio de receber o Vacinogênio atendendo sem apoio governamental, aos pobres dos bairros periféricos da zona Oeste.

               Vista aérea do Local onde vemos a casa o Vacinogênio

Referido posto de saúde fora erguido na Estrada do Jacarecanga, depois Avenida Tomaz Pompeu e hoje, Avenida Philomeno Gomes.

Com a morte do Rodolfo Theófilo em 1932, Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, então interventor federal, transformou o Vacinogênio em necrotério, devido sua estrutura sanitária e a proximidade do maior cemitério da cidade; o de São João Batista que remota ao ano de 1866.

Aproveitando essa reforma, a irmandade da Santa Casa de Misericórdia que (não sei se ainda) era a administradora do Cemitério S.J. Batista, solicitou ao Interventor a desapropriação de algumas casas, para que o “Campo Sagrado” se estendesse até o muro do Vacinogênio, beirando uma via já movimentada.

Aos que desconhecem quando inaugurado, o cemitério S, J. Batista seu terreno só ia até aonde existe um portão de Ferro, pela Rua Francisco Lorda (antiga Travessa Camocim, mas que foi conhecida por anos como Rua Tijubana). Depois o necrotério foi para a Rua Nestor Barbosa nº 315, no Bairro que homenageou o próprio Rodolfo Theófilo.

Quando foi implantado o Curso de Medicina no Ceará em 12 de maio de 1948, o Necrotério passou a se chamar Instituto Médico Legal – IML.

Por ironia em novembro de 1986, talvez uma das últimas inaugurações do Governador Gonzaga Mota, o IML voltou para o Jacarecanga, sendo localizado na Avenida Leste Oeste esquina com a Rua Padre Mororó, e com aparato da Policia Forense.

A casa do Vacinogênio, depois necrotério, quando abandonada posteriormente foi transformada, em depósito para guarda de material de construção dos novos jazigos, devido ao Cemitério São João Batista ter se expandido, como já lemos.

Cemitério São João Batista em Construção

O autor destas linhas ainda chegou a entrar por uma única vez nesta casa, que a gurizada do seu tempo dizia: “Tem alma neste local”. Nenhum menino da época entrava só, e os que entravam eram de mãos dadas. Eram formado um trem de meninos de mãos dadas.

Finalmente, em 1969 ergueram um cruzeiro construindo uma meia lua de penetração no cemitério na Avenida Philomeno Gomes. Junto com esse reparo no muro ocidental desapareceu a casa do Vacinogênio / Necrotério e no embalo destruíram a casinha de força dos bondes elétricos da Ceará Tramway, desativada em 1947.

Alcançamos velhos cabos de cobre vencidos pela corrosão dependurados no canto Noroeste do muro beirando a Via férrea, e na sudoeste entrada da Tijubana, um velho cajueiro, cujos frutos faziam lama no calçamento, tendo em vista está plantado em areias do cemitério.

Interação:

Rodolpho Teófilo nasceu em Salvador em 1863 – BA e faleceu em Fortaleza – CE em 2 de julho de 1932. Foi escritor, Médico, poeta e documentarista.

Fontes:

– Anais do Arquivo Público do Estado do Ceará, Oficinas Gráficas da Cadeia Pública, 1933;

– Azevedo, Miguel Ângelo de Nirez, Cronologia Ilustrada de Fortaleza, Editora BNB, 2001;

– Barbosa, José Policarpo; História da Saúde Pública do Ceará, UFC, 1994;

– Data das Sesmarias, Typografia Gadelha, 1926;

– Jornal O Povo Edição 08-10-1994;

 

 

 

 

CONJUNTO CEARÁ ANTIGO CARNAUBAL DE VENEZA

Reprodução

Carnaúbas da Veneza

Vendo-se o riacho braço do Maranguapinho. 1966.

 

 

       Obras de Infra-estrutura do Conjunto Ceará. 1974.

 

Posto da Companhia Brasileira de Alimentação. 1978.

Hoje é o Centro cultural Patativa do Assaré

 

Não para de crescer o Conjunto Ceará

Que se transformou em mini-cidade,

Que traz tanta felicidade

E só construir, conservar, amar…

Do autor

 

Contexto Histórico

Era 1970.

Enquanto o mundo científico discutia com otimismo, a conquista do homem na lua, o Brasil era destaque na dimensão esportiva, com o primeiro título de Tri-campeão mundial de futebol, com o Jairzinho camisa sete. Ele foi o furacão, tendo em vista ter sido o artilheiro, daquela inesquecível copa que foi a copa da minha meninice e, diga-se de passagem, a primeira transmitida ao vivo pela televisão brasileira, ainda que em preto no branco.

Em Fortaleza, apesar dos chamados pichadores ocuparem os muros com a trivialidade “Abaixo a Ditadura”; o clima era de antagonismo a tudo o que se passava. Apesar de ter sido um ano eleitoral, ainda hoje o Nordeste não tem peso político para as grandes decisões nacionais. O título Terra da Luz foi uma bravura que, a história anexou aos grandes feitos, mas foi no passado, passou…

Foi no governo chamado por muitos “Os Anos Negros da Ditadura”, que se iniciou uma política habitacional, através de recursos, do já extinto Banco Nacional de Habitação. O presidente General Emilio Garrastazu Médici que, havia assumido a Suprema Magistratura da Nação em 30 de outubro de 1969, foi um homem mesmo com um Congresso Nacional mutilado, conseguiu assistir ao homem do campo, hoje o inverso. Não estou para defender “Regime Autoritário”, pois a melhor ditadura é pior do que a pior democracia.

O presidente Médici criou o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Pró-Rural). Pergunta-se: Quem criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL? Quem criou o FUNRURAL, o maior distribuidor de renda para o homem do campo? A história está ai para fazer justiça aos seus criadores.

Topografia no Alto da Avenida H

Já Próximo a Jurema – Caucaia.

 

Assim Nasceu o Conjunto Ceará

A história do pomposo Conjunto Ceará nasceu neste contexto. Os cearenses sempre foram vitimas de constantes secas, e não é novidade migrações. O êxodo rural incha as cidades grandes, e os flagelados começam a se refugiarem em áreas isoladas formando comunidades, e consequentemente com a instalação de casebres em locais indevidos, surgem as chamadas áreas de risco, ou indústria da miséria.

O problema é que, com o retorno da estação chuvosa, os refugiados já estão adaptados ou se adaptando com a vida urbana através do mercado de trabalho, até mesmo com a mão de obra não qualificada, permanecem no mesmo local. Quando um homem entra no mercado de trabalho, aí sua família entra no mercado de consumo. O interior fica esquecido.

Foi a hiper-população da Capital cearense que fomentou e tornou urgente, a aprovação do projeto do Governo Federal para a construção de casas populares, e o Conjunto Ceará fora inserido neste programa. A área escolhida, para melhor compreensão do leitor, foi de uma baixada após o Campo da Granja (hoje Praça da granja Portugal) até a beira da Via Férrea de Sobral, onde abrigaria as suas 4 etapas.

O terreno onde foram construídas as primeira, segunda, e terceira etapas denominava-se Estivas, e após o canal, que um dia foi braço do rio Maranguapinho e uma verdadeira riqueza em carnaúbas, havia tomado a nomenclatura de Veneza, pois eram terras que na época das sesmarias foram herdadas pela a família de Manuel Francisco da Silva Albano, dentre os quais um fora agraciado como Barão de Aratanha (nome de rua no centro da cidade de Fortaleza).

O local já pertencente ao Município de Caucaia, denominou-se Parque Albano. Ali o trem da antiga Rede de Viação Cearense – RVC (depois RFFSA, hoje Metrô de Fortaleza/Transnordestina Logística S/A) de 1917 até 1931, fazia parada no km 11, tanto para recebimento de gado, exportações e o envio de pequenas encomendas. O prestígio da família era grande perante a administração da Companhia Ferroviária. O trem suburbano do distrito de Barro Vermelho (Antonio Bezerra) ia direto para Soure (Caucaia). Foi aí que a população ribeirinha do Genibaú e da Jurema reivindicaram paradas para o trem suburbano.  O trem ficou parando no km 10 (hoje São Miguel) e Jurema a partir de 1945. A quarta etapa do Conjunto Ceará apesar de ter sido a última, parece que pela etnologia topográfica tem uma história mais rica.

Situada aquela zona Oeste para o Conjunto Ceará, a área havia sido demarcada ainda na gestão de Plácido Castelo, em cumprimento ao programa estabelecido pelo governo Federal, mas as obras de infra-estrutura só foram iniciadas no final do “Governo da Confiança”, ou seja, em 1974 quando o governador César Cal’s estava prestes a passar o governo para o Cel. Adauto Bezerra.

Cognominado a Capital da Periferia, o Conjunto Ceará começou a receber as famílias em sua primeira etapa com 966 casas, cuja solenidade de inauguração ocorrera aos 10 de novembro de 1977. Referido evento contou com as presenças de várias autoridades, dentre as quais o Governador Adauto Bezerra, que estrategicamente construiu a Avenida José Bastos para o devido escoamento de veículos que, para o Conjunto viria. A Avenida João pessoa não comportaria a demanda.

A segunda etapa ficou pronta em 1978, com 2.516 unidades, a terceira em 1979, e a quarta em 1981. A então RFFSA desde a inauguração do Conjunto já havia começado a parar o seu trem no km 12, mas a inauguração oficial da estação data de 19 de fevereiro de 1982. A estação Parque Albano só iria ser inaugurada em 1995.

 Pois bem, assim como bola de neve, os moradores de um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, foram triplicando, e lógico, cada um com seus empreendimentos libertando-se parcialmente assim do comércio do Centro e os Shoping. Acompanhada pela equipe de Assistentes Social da já extinta Cohab, os moradores foram se adaptando.

Hoje, o bairro cuja oficialização foi por conta da lei nº. 6.504 de 11 de novembro de 1989, conta com mais de 120 mil habitantes, que vivem em torno de 12 mil residências. Conta o CC com 11 Unidades de Vizinhança (UV’s), 12 avenidas, um hospital maternidade, um Posto de Saúde da Família (Maciel de Brito), duas Vilas Olímpicas, um terminal rodoviário do sistema de integração, três linhas de transportes alternativos, Várias auto-escolas, posto da ABCR, Um Liceu, Creches, mais de 50 escolas públicas e particulares, uma delegacia distrital, um contingente militar que forma a 4ª Cia. do 6º BPM, Bombeiros, um juizado de Pequenas Causas, o Centro da Cidadania Lúcio Alcântara (antigo CSU), três agencias bancárias, serviço de Correios, escritórios da Coelce e Cagece, e já possuiu Centro Cultural Patativa do Assaré e um  Pólo de Lazer que era destinado a apresentações artísticas porém, devido à má utilização, fora entregue às intempéries.

Na área religiosa as igrejas são as mais diversas: Católicas, Evangélicas dentre, as afro-brasileiras.

Aqui termino as duas reivindicações de todos os moradores: a Instalação de um Cartório Legal, e uma linha de ônibus Conjunto Ceará – Parangaba.

 

Parada do Trem no Conjunto Ceará – Fevereiro de 1982.

 

Avenida B no Centro do Conjunto.

JOÃO FELIPE PEREIRA E O CONTEXTO HISTÓRICO

João Felipe – 1893

Intróito

# As Companhias Ferroviária do Nordeste (hoje Transnordestina) e, a de Trens Metropolitanos – Metrô de Fortaleza são empresas oriundas de uma só organização: Rede Ferroviária Federal S/A-RFFSA, que já se denominou Rede de Viação cearense – RVC e que originalmente em 1870 surgiu com a nomenclatura: Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A (Estrada de Ferro de Baturité).

Quando o Brasil se tornou República (1889), o Governo da União fez a necessária reforma na máquina pública, para que as províncias passassem a funcionar como Estado Federativo. Assim o Governo cortou muitos recursos no orçamento das pastas ministeriais, e o Ministério da Viação que era embutido no de Obras Públicas e atrelado ao da Agricultura, sofreu esse efeito.

As ferrovias começaram a mergulhar em déficits. No Ceará com a queda do império, os que iam chegando ao poder encontraram dificuldades na missão de reorganizar a Terra da Luz, nos postulados da República. Havia uma divisão de grupos com correntes opostas. Os civis que exigiam de imediato, uma Assembleia Nacional Constituinte optando pela figura do primeiro ministro (Sistema parlamentarista) e, por outro lado havia os militares que reivindicavam uma ditadura e a substituição das juntas governativas estaduais, por governadores.

O beato Antonio Conselheiro, protagonista de Canudos, estava em choque com setores conservadores da igreja, e isto tornava repugnante a separação entre a Igreja e o Estado, o Casamento Civil, a Liberdade de Culto e outras medidas do novo governo que, apareciam como sacrilégio a ser combatido, o que gerou conflito direto com a nova ordem do País.

Fortaleza apresentava população de 50 mil habitantes e já contava com equipamentos e serviços que já condizia com o urbanismo de uma cidade qualificada à médio porte, a exemplo do bonde de tração animal, iluminação à gás carbônico, fábricas têxteis, ruas do centro com calçamento e as redes telegráfica e telefônica, sendo gestor municipal o Capitão Teófilo Gaspar de Oliveira. #

Foi neste contexto que ingressou no quadro de funcionários da Via Férrea Cearense, João Felipe Pereira, engenheiro civil formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, porém cearense de Tauá, nascido aos 23 de março de 1861. Como encarregado do setor de obras da EFB, em 1890 juntamente com os também engenheiros Julius Pinkas e Carlos Morsing teve participação significativa na construção e prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité, no trecho Baturité – Quixadá.

Não era fácil fazer traçado naquela época, afinal a engenharia ainda não tinha ao dispor, silhuetas por foto aérea. Eram coisas complexas fazer desapropriações em terrenos que, tiveram de ser ocupados pelo leito de prolongamento de trilhos e suas dependências, bem como indenizar proprietários das benfeitorias existentes.

Todo cearense de pé na estrada, conhece a bonita ponte metálica na cidade de Quixeramobim, porém, muitos desconhecem o trabalho que houve do recebimento das estruturas no trapiche do Poço das Dragas (primitivo Porto de Fortaleza), limite das Praias Formosa e a do Peixe (Iracema). Foi o professor João Felipe quem esteve no porto e acompanhou desde o descarregamento do vapor, da partida do trem sob à tração da Locomotiva Amarílio, da circulação das gôndolas de sertão adentro, até que os duzentos metros de estrutura metálica para serem divididas em quatro vãos, chegassem às margens do rio Quixeramobim, no município de mesmo nome.

Em fevereiro de 1893, João Felipe se desligou da EFB e foi assumir à convite, o Ministério das Relações Exteriores no governo Floriano Peixoto. O País estava em crise, pois havia estourada a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, quase ao mesmo tempo com a revolta Armada (Marinha) que, era controlada por partidários da extinta monarquia. A dupla rebelião foi esmagada pelo presidente da República (Marechal de ferro) que o contou com a confiança do seu recém-nomeado Ministro João Felipe Pereira, no caso de crises diplomáticas.  Depois assumiria a pasta da Industria, Viação e Obras públicas.

 Em 1897 devido a sua significativa intervenção junto ao Ministério da Indústria Viação e Obras Publicas já na pessoa do Ministro Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda (Sebastião Lacerda), JF conseguiu recursos o que permitiu livrar a Via Férrea do Ceará de um iminente colapso, viabilizando assim transferir em 1898, a abalada Estrada de Ferro de Baturité para a iniciativa privada, em regime de arrendamento.

Pois bem, o terminal ferroviário de Fortaleza desde sua inauguração aos 30 de novembro de 1873, sempre fora chamada de Estação central até que, o Decreto Lei n° 3.599 de 6 de setembro de 1941 assinado pelo Presidente Getúlio Vargas, mandou que a mesma se denominasse “Estação Fortaleza”. Com a saída de Vargas em 1945, e como o Brasil estava sob a ditadura do “Estado Novo”, assumiu a presidência da República, o presidente do Supremo Tribunal Federal, o cearense de Baturité, Dr. José Linhares. Aí com um novo DL sob o nº. 8.836 de 26 de janeiro de 1946, o Chefe da Nação atendeu a uma reivindicação do Dr. Hugo Rocha (Grande diretor da RVC) e a Estação Fortaleza, passou ao nome de Estação Professor João Felipe.

Essa foi uma das mais belas homenagens, afinal, o engº João Felipe em Fortaleza foi o autor do projeto de abastecimento de água em Fortaleza, depois de Ministro de Estado, presidiu no Rio de Janeiro o Clube de Engenharia; dirigiu a Repartição dos Telégrafos, além de assumir a Prefeitura.

Faleceu em 15 de maio de 1950.

Este é um dia não lembrado, assim como os comandantes da Ferrovia Cearense nunca lembraram o nome de Hugo Rocha a quem a Via Férrea deve tanto, pois para quem conhece a história da ferrovia cearense, deve deixar consignado como imperativo de justiça a gratidão de ter Hugo Rocha como patrono de uma estação.

Hoje com a implantação do Metrô de Fortaleza, os nomes “Otávio Bonfim” e “João Felipe” foram para o esquecimento, bem como o do Mestre Manuel Pinheiro e do dedicado maquinista Severiano Celestino que nunca será lembrado. Ficam na ternura da família.

Ponte de Quixeramobim Montada Sob a Supervisão de João Felipe

Álbum do Mister Francis Reginald Hull – 1911