TRAVESSURAS BEIRA DE LINHA E AS NOSSAS CAVERNAS

 

 

Curva ferroviária por detras da Vila São José

 

 

Todo morador do Jacarecanga sabe que, até o fechamento em definitivo do tráfego ferroviário entre as estações Central e Otávio Bonfim ocorrida em 2010, a Vila São José oferecia seu solo para o trem fazer sua curva em 90º.

A estrada de ferro saindo do Centro transpassava três passagens de nível, no trajeto hoje inexistente: Marinha e as Avenidas Francisco Sá e Sgt. Hermínio no bairro Monte Castelo.

A gurizada tinha uma verdadeira aversão se manter dentro de casa, ocorrendo em idealizar e construir casinhas em locais atípicos, o que denominávamos de “Cavernas”. Tínhamos grupos rivais, ou seja, os da VSJ e os discípulos do Gutemberg, cuja Vila olhava para o Centro de Saúde Carlos Ribeiro, pela Rua Jacinto de Matos, principal via de acesso ao populoso bairro do Pirambú.

A localização dessa concentração era exatamente no raio da grande curva acentuada, por detrás das casas da Rua Coronel Philomeno (hoje Messias) olhando para a Vacaria da Família dos Paulinos de Acopiara, remanescente dos Carvalhos do antigo Quincoê do Lajes – Iguatu, Ceará.

Nós tínhamos líderes, o qual obedecíamos à risca sob pena de levar sabacu ou exclusão. Dos que ainda posso lembrar tínhamos “Toinho Cajuína”; “Flávio Feijão”; “Videlmom Bico de Papagaio”. Na rivalidade Gutemberg, João (filho do seu Mozart eletricista) que, juntamente com o Jorge usavam um cão adestrado, para nos atacar. O Antunes morava no entorno da linha ferroviária, mas era manso e não se misturava. Vez por outra nos dava Timbaúba, aquela madeira leve.

A segurança do caminho que nos conduzia da linha férrea até a caverna era que, tinha mato na altura do joelho, ai os quebra canelas que fazíamos dava-nos proteção. Cavávamos um buraco de meio metro de profundidade por dois palmos de abertura. O piso falso era com uma grelha de palitos de coqueiros, forrado com meia folha de jornal que o Glauco Cueca trazia de casa. Cobria-se de areia. Nós da caverna, sabíamos onde se localizava as armadilhas com pedras sinalizadoras, mas, quem não pertencia ao grupo VSJ, metia o pé e se feria com os cacos de vidros no fim do buraco.

Uma cabeça de gato era colocada na porta da entrada, e pasme o leitor, era para nós uma coisa “sagrada”. Isto foi o que aprendemos com a exibição pela TV Excelsior do seriado “A Deusa de Joba” em 1966. Fora uma ficção científica produzida trinta anos antes, pela “Repúblic Pictures” produzida em 1936.

Nossa cozinha sabor selvagem, era com um artesanal fogão de duas pedras de paralelepípedo. Colocávamos lenha, galhos, cascas de castanha, o que pegasse fogo. Arroz roubado de casa, macarrão 00 da Nebram, tripa de porco, carde de lata…. O “Paulo Piongue” com o “Flávio Feijão” era os barraqueiros.

O suco era de caju direto do sítio da Vovó Extra (Ester) com um agravante: não pedíamos ao seu caseiro para tirar. O “Zé Boneco” e o “Wilson Maluquinho” eram os responsáveis por essa parte. O preparo era em panelas no desuso, ou em latas de leite vazias. O “Carlos Fifi” trazia a água. Tudo era mexido com uma concha também fruto de nossa criatividade: Duas quengas de coco atravessada com galho de Goiabeira, retirado da beira da ponte, próximo a Vacaria do Velho Alves, de onde vinham também os palitos de coqueiros para as armadilhas. Na hora do rango todos participavam. Na hora do suco, bebíamos, assim como os gaúchos em suas rodadas de chimarrão.

Que fique consignado nesses escritos: tudo fazíamos por travessuras, e não por instinto de selvajaria, perversidade ou necessidade primária. Até um amortecedor de carro encontrado à beira da linha, nós guardamos como se fosse dinamite.

Então nós não queríamos era estar em casa nas folgas escolares. E como consolo levávamos jerimum para casa, produto local da terra que, cultivávamos e muitas vezes o “Vandir Filho da Mutuca” roubava de nós.

Em 1970 (12 anos o autor tinha) a RFFSA resolveu fazer uma carpina e reformar o local por nós ocupado.  (Vide fotos). Aí foi a destruição daquela peripécia dos meninos anos 60 da VSJ. Os trabalhadores da Rede Ferroviária até nos amedrontaram, dizendo que se nós continuássemos com aquele tipo de coisa na beira dos trilhos, o Juizado de Menores nos levava.

Terminado o serviço daqueles homens, ainda nos reunimos num gramado, na frente da casa do Seu Chicó pai do Zé boneco, vizinho a “Maria Pé de Bicho”, mas a coisa ficou sem expressão. Com a chegada da pubescência a vida dá outro rumo; a gente reconhece o que a travessura nos leva a fazer.

Os trens ainda continuariam a circular como já lemos, até 2010, mas sem os meninos para admirá-lo.

……O local foi abandonado.

 

ESTRADA DE BATURITÉ LAGOA DA MARAPONGA E O MONDUBIM

 

 

Entre 1630 e 1654, os holandeses dominaram o Nordeste brasileiro. A ocupação do Ceará pelos flamengos visava estabelecer um ponto de apoio para a conquista do Maranhão, já que Pernambuco estava dominado, sendo Maurício de Nassau o Governador do Brasil-Holandês. No Siará Grande foi designado pelos flamengos o estrategista, Gedeon Morris de Jonge, cujo objetivo era explorar a mão de obra indígena para abrirem estradas em rumo ao interior.

Antes da chegada dos colonizadores vindos da Europa, aqui no Brasil não existia nenhum meio de transporte terrestre, haja vista os animais tais como o burro, jumento, o boi, o cavalo terem sido trazidos por eles, juntamente com outros animais que se adaptaram ao nosso clima e hoje, anexados à nossa fauna. Ainda é desconhecida pelos historiadores, de que algum outro animal in natura da fauna brasileira, tivesse sido domesticado pelos nativos para o transporte de cargas, o que alimenta a crença de que todo transporte do indígena dava-se por meio braçal, e por via fluvial através de canoas.

A natureza, obra das dadivosas mãos de Deus nos presenteou uma bonita e fértil serra no local onde seria criada a Vila com o nome de “Monte-Mor o Novo da América”, passando depois a se chamar “Baturité” de onde etimologicamente provém Ybatyra + etê = Serra por excelência.

Seus primitivos habitantes chamados “índios Canindés e Jenipapos” se dispuseram a abrir caminho para pedestres, com o objetivo de migrações e conquista de novas terras.  A noticia da existência dessa serra com riqueza de café, cana de açúcar e pastoreio encantou os holandeses que já haviam construído a Estrada do Mondoig, que como corruptela se denominou Mondubim, palavra originária do Tupi-guarani que significa “Estar em Montão”, devido à fartura de madeiras e material para alvenaria.

Já no Brasil Império, em 1836 o Padre José Martiniano de Alencar (pai do Romancista), então Presidente da Província Cearense, alargou a via conseguindo atingir a Serra de Baturité, tornando acessível aos consumidores da provinciana Fortaleza os produtos de Baturité, e adjacências.

Assim o inicio da Estrada de Mondubim que em 1864 denominou-se Estrada de Baturité, era na Praça da Vila Nova Arronches em local onde em 1873, a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A, inauguraria a estação de Parangaba, hoje pertencente ao Metrô de Fortaleza.

 

Primeira parada do trem em Mondubim.

Era chamada de Parada Intermediária – 1875

 

Mondubim distrito próspero

Com movimentação nas Vias, são comuns as famílias se organizarem nas beiras das estradas e explorarem a área economicamente, quer seja para subsistência ou para atender os transeuntes, formado assim os distritos, tal como Mondubim que se organizou e tornou-se uma zona de exportação. As madeireiras e olarias levaram os Srs. diretores da então Estrada de Ferro de Baturité (que já foi RVC, RFFSA e hoje divida entre o Metrô e a Transnordestina Logística S/A), a construírem uma estação no km 13,2 cuja inauguração ocorrera aos 14 de janeiro de 1875 quando, lá chegou o primeiro comboio, sendo recebido pelo agente nº. 01 da estação, Sr. Nelson Brígido dos santos. Assim os homens de negócios da época desde então, passaram a exportar seus produtos por trem e, os passageiros comodamente iniciaram suas viagens, diminuindo o movimento da Estrada de Mondubim.

 

Pátio da Estação com Calcário

 

Como era Mondubim

Mondubim em 1940, ainda era uma réplica do refrescante vento praiano; a via ainda em pedras toscas, era uma das mais verdes da nossa Fortaleza, e o seu encanto devia-se ainda por conta da adornada lagoa da Maraponga. Eram muitos os sítios ali existentes, com prados e casas de varandas. Foi num sitio destes que o saudoso empresário José Pessoa de Araújo contratou técnicos para instalar a estação transmissora da Rádio Uirapuru de Fortaleza que, foi ao ar em 1956, e aí a rua recebeu o nome do pássaro.

O trem suburbano chegava junto com o pôr-do-sol, de onde se observava no pátio ferroviário o Sr. Valdemar Cabral Caracas (faleceu com 105 anos em 2012) que, mesmo sendo secretário de Hugo Rocha, então diretor da RVC, dava suas recomendações em campo. O seu Oscar Sá Benevides, agente da estação, se alegrava com a afluência dos passageiros e dos tradicionais visitantes.

 

Edificação com reforma inglesa – 1911.

 

As duas gerações para o mesmo ideal

Hoje nada

 

 

A mutilação pelas transformações sociais e urbanísticas

O bairro de Mondubim ainda é muito arborizado, mas o alargamento da principal via de acesso; a inauguração do Departamento Estadual de Trânsito aos 3 de março de 1978; churrascarias e a proliferação de empreendimentos os mais diversos por conta das exigências reais, tiraram parcialmente do local aquele naturismo.  A bonitinha estação ícone da zona, e que desafogara a roadway principal, desapareceu em 1981.

Hoje essa importante artéria de saída sul da Capital, recebeu o nome de Godofredo Maciel, homenageando aquele que era o prefeito de Fortaleza em 1920, e que quando deputado federal muito fez por nosso estado e principalmente por esta estrada que facilitou a vida de seus conterrâneos, daí a justa homenagem.

 

Quando a plataforma fora adaptada para o trem suburbano em 1979.

Muito dinheiro no ralo.

 

Fontes:

Arquivo Público do Estado;

Sinopse Histórica da EFB – 1892;

Fortaleza Ontem e hoje, Miguel ângelo de Azevedo, Nirez, Funcet 1991;

Créditos: A foto da lagoa de Maraponga fora reproduzida de original pertencente ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

As imagens das estações pertemcem ao Álbum de Mr. Hull, da Rede de Viação Cearense e do IPHAN.

 

 

 

A PADARIA DO PORTUGUÊS AUGUSTO PINHO

Vista Interna da Padaria

Da esquerda para a direita: Pau Branco, Risonho,

Bacana (ainda magro), Josué, Ribamar, Tarzan e seu Augusto de terno.

 

 

Numa calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles), no início da rua Dona Maroquinha, ficava uma montanha de lenhas. Era para alimentação térmica, dos fornos da Panificadora Popular, cujos serviços iam noite adentro.

No lado Sul do prédio com dois andares e de 40 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada no cimento armado. Designavam-se aquelas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes, que iriam ser carregados com pães novinhos e crocantes.

Naquela época o pão bengala era à semolina. Esse tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada.

Os clientes eram as mercearias como ainda posso lembrar: bodega do Edmilson, do Luís Carvalho (ambas na Avenida Tenente Lisboa); Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do mercadinho da Via Férrea e seu Hozanan Arruda; saíam também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo. (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai a gente querendo escrever outra coisa…….

O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué (vendedor ambulante) saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog. Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde.

As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961.

Rapazinho robusto, ainda carreguei caixotes na cabeça com até um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro da usina era o Pinheiro “Cabeça Branca”; o seu Nogueira “Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Os infanto-juvenis nunca saíam da fábrica São José, sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer a entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida.

Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de “Bacana”. Lá dentro literalmente com mãos na massa e, outras na lenha tínhamos: o Riba, o Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan.

Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Recebi dois batismos: “Pirulito Americano”, e “Pai da Mata” porque meu cabelo era crescido. Rotulou e pegou! Ê, molecagem!!

Intenso era o movimento na calçada da panificadora do português, e uma chaminé bufando fumaça preta, poluía a avenidinha Sul, e às vezes inquietava os animais ali amarrados, mas a espera era pouca.

À noite na calçada quando livre, a meninada aproveitava para lazer. Brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado. E a corrida de mijo, valha meu Deus! Não posso descrever….

Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia muitas vezes seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte do seu estabelecimento.

Aos sábados pela tardinha também na calçada da padaria, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para os que iam fazer primeira comunhão, cujo evento ocorria na Igreja dos Navegantes, quase defronte a Escola de Aprendizes Marinheiros, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor. O Frei Memória realizava o confessionário tudo com o aval do Monsenhor Hélio Campos.

Deste modo escrevemos com o sentimento renascente, cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos, e ainda somos.

Em 1972, seu augusto abandonou o lugar; entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão recife, de coco, bolachas, laticínios e afins.

O lugar degringolou.

O espanhol Raul Magno e Dona Madelú chegou a alugar o prédio para sua indústria de calçados, mas não vingou.

Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável passou a ser um fracionado monstrengo, com uma adaptação não planejada para residências.

Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde as brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do doutor Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu Pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. Eu já escrevi o episódio deste par[agrafo.

São lembranças que com a mutilação topográfica, ainda ficam para os que cultuam o passado.

Não é fácil passear pelo ontem, garimpando fatos.

Ai está o que restou do Prédio da Padaria.

Até nosso calçadão reduto de lazer noturno, desapareceu….

POINT DE JOGOS NOTURNOS NA VILA SÃO JOSE

 


 

Existia na Rua Coronel Philomeno, esquina com a Travessa São Francisco, um comércio que apesar de pequeno, era bem sortido. Lá comprávamos bombons e broas.

Tratava-se da venda do Sr Manuel Feliciano. Era um micro empreendimento com portas azuis construído aproveitando o quintal de sua casa. Já o conhecemos cadeirante mas mesmo assim, nos despachava.  Sabe aquela de que “ancião gostar de se mexer”.

Bem vizinho morava na casa nº 29, seu Zuza que era casado com Dona Dalva filha de seu Manoel. Ela era bastante conhecida por sua venda de deliciosas tapiocas com coco, molhadinhas na folha da bananeira.

 Tapiocas na folha de bananeira

Imagem ilustrativa

O que empolgava e impressionava era que, todas as noites, sob a luz amarelada e incandescente, religiosamente reunia-se amigos para jogarem Baralho, Dama e Dominó. Era uma assiduidade os Tios Afonso e Amadeu, além do velho Baiano, seu Soares, o Monteiro, Zé Coelho (vez por outra), seu Pinto, afora outros, e o próprio Zuza que era o anfitrião.

O diferencial era que não rolava dinheiro, diferentemente do Bodinho (pai do Evaristo) que, tinha na rua Maria Estela vizinho ao depósito de sucata do Rosimirio, sua banca do jogo do bicho, única na Vila São José.

Na casa do seu Francisco Zuza de Albuquerque (Chico Zuza), as partidas dos jogos eram o Buraco, Sueca, trinta e um; havia revezamento entre os presentes com o Dominó, Dama. Nada de monopólio ou apostas. A lampadazinha acesa e os quarentões na época se divertindo, e com direito a um cafezinho que Dona Dalva blindava aos jogadores/brincantes.

Em uma certa ocasião, alguns meninos encostaram para ver partidas, ao qual seu Zuza mandou se retirar. A priori julgávamos ignorância da parte dele, mas só depois compreenderíamos que jogo daquele modal, não era coisa para crianças, por isto nunca foi visto seus próprios filhos na sala.  Edvardo e Elias na calçada da Padaria e o Edson de modo antagônico, em seu estúdio de artes no fim do quintal.

O pai do autor nunca gostou de jogos, nem mesmo Porrinha. Ele ficava com seu rádio Semp portátil na calçada, ouvia a Voz do Brasil e em seguida “Quando a Saudade Apertar” com Themístócles de Castro e Silva, gesto aquele imitado por Pedro Rodrigues, pai do prego nu. Em seguida seu Valdemar ia dormir, pois, se levantava cedo.

Hoje tudo é no aplicativo, no virtual e as reuniões para lazer se acabaram, restando uma sociedade em que os interesses econômicos, sobrepôs aos encontros sociais despretensiosos. O filho não completa 3 anos, e já ganha de presente um aparelho com aplicativos, Rssss….

Uma vez o autor visitou a vila à noite; nada mais a contemplar; os moradores, estão nas novelas e/ou em redes sociais onde aproxima o distante e distancia o perto. A fábrica São José agora é um shopping, por isto o ser humano não é compreendido e nem compreende. Brecaram a engrenagem social.

Eu bem queria que minha cidadezinha dentro do Jacarecanga, fosse a mesma.

Nota: no entorno da rua Santana e Maria Estela tinha outra turma do baralho sob o comando do moco., mas não tinha tanta expressão. O autor precisou de mais subsídio e não apareceu.

 

Na Parede Azul lisa era o Comércio de Seu Manoel Feliciano

A via ao lado é a Travessa São Francisco e vizinho

Era o Point dos Jogadores na Casa do Chico Zuza.

 

Senhor Manuel Feliciano um dos pioneiros do Comercio na Vila São Jose.

Ao lado seu Francisco Zuza de Albuquerque

Com seu bisneto José Wagner Arrais Albuquerque Filho.

(Foto álbum de família)

 

Do Livro JACARECANGA QUE EU VIVI, página 176.

 

SAUDADE DA MINHA VILA

 

 

Foto colhida do único prédio que existia na Vila São José.

Vemos o inicio da Rua Maria Luiza.

 

Alguns me chamam de multifacetado, por ser apaixonado e escrever sobre o bairro que me viu nascer e, fui menino. As memórias de minha infância são aquelas doces lembranças, não sei se tem cheiro, mas tem sabor e cada lugar de modo indelével, ficou em mim do que fui e do que sou em dia. Suas ruas e a cada calçamento, tem o cheiro de minhas pisadas.

Meu saudoso pai, natural de Jucás, foi trazido numa das composições ferroviárias da Rede de Viação Cearense – RVC (Depois RFFSA e hoje Transnordestina Logística S/A), chegando em Fortaleza naquela seca de 1946 ainda observando, o flagelo na estação de Iguatu, onde havia embarcado. A locomotiva à vapor chegando na Estação Central depois de diversas horas de enfadonha viagem, ainda bufava fumaça branca sufocando o telhado de amianto da gare.

 Ao descer os degraus do terminal ferroviário, tudo diferente, trânsito agitado, trilhos de bondes elétricos, prédios como o Excelsior, Diogo, Majestic…..

Após uma acolhida por um conterrâneo que o esperava e que, morava no bairro Campo de Aviação (hoje Aerolândia), o mesmo o direcionou para as construções da segunda etapa da Vila do Coronel Philomeno. Talvez ele não fizesse ideia da importância daquele bairro, de como aquela singela Vila faria parte da sua vida, inclusive conjugal.

Minha mãe havia chegado um pouco antes, proveniente da Serra de Meruoca que, na época pertencia à Sobral. Coincidência: ambos vieram em busca de melhoras na Capital e vieram também de trem. Foi dali, daquele pedacinho de chão, que veio o sustento da família que iriam construir e eu fui o sexto dos dez filhos que lhe nasceram.

Interiorano já sabe, agarra a primeira oportunidade que surge e assim ajudou a construir as Ruas Maria Luiza, D. Bela e Coronel Philomeno (hoje Messias Philomeno), erguendo casas e alguns prédios de dois andares.

 

 

Casas de dois andares construídas em 1946.

 

No Jacarecanga, ele criou raízes!

Muitos moradores e ex-moradores, ou lembram da história do Jacarecanga ou ainda tentam salvar os resquícios dela, como é o caso dessa obra, um verdadeiro mergulho no passado do bairro e da sua gente. Quem está apenas de passagem, precisa tentar ver, ao invés de apenas olhar. Só assim, prestando atenção nos detalhes, é que a vista alcança traços do passado elegante, quando o lugar era ocupado pela aristocracia cearense.

Em outros tempos, o Jacarecanga abrigou palacetes e chácaras das famílias abastadas de Fortaleza. Os casarões eram erguidos em imitação às tendências arquitetônicas da França. Alguns imóveis foram restaurados, mas a maior parte deles, no entanto, encontram-se abandonados ou sobrevivendo à míngua. Isso sem se esquecer dos inúmeros bangalôs que foram demolidos, verdadeiras joias que não tiveram seu valor reconhecido e ficaram apenas na memória de alguns, como uma foto esquecida dentro de um livro, ou que vai amarelando num álbum no fundo de um baú.

Jacarecanga Que Eu Vivi, Histórias de Vila São José é o que eu vou tentar descortinar para o leitor e, espero ter muita leveza e cativar envolvendo minhas memórias de menino, como se cada um estivesse debruçado na janela da saudade.

Chego a sentir o frescor das abundantes e límpidas águas do rio que banha o bairro e logo mais à frente, observamos assustados a chegada avassaladora da urbanização, que modificou toda a paisagem, mas que também trouxe o progresso.

Aspecto de casas primitivas algumas já mutiladas

Rua Messias Philomeno, antes Coronel Philomeno. 

 

A casa em que nasci na Rua Coronel Philomeno (hoje Messias Philomeno), não existe mais, porém, furtivamente era patrimônio do Jacarecanga!

O JACARECANGA E O TREM

 

Entrada da Vila São José.

Via estreita entre os Trilhos e o Muro da Fábrica.

 

A cogitação do Jacarecanga ser contemplado pela ferrovia, se deu ao fato da já existente Companhia da Via Férrea de Baturité, empresa que havia sido criada em 1870. O trem que já circulava por o Centro da cidade pela Rua Trilho de Ferro (Tristão Gonçalves) rumo ao Sul do Estado, desde 30 de novembro de 1873 deveria ser estendido seu trajeto, para região Norte do Ceará.

Houve vários estudos sobre o ponto inicial para a construção de um novo trajeto da ferrovia cearense, agora no sentido Oeste. Relatórios que a empresa ferroviária enviava para o Ministério da Viação e Obras Públicas dão conta de que, no primeiro quartel do século XX a saída Oeste em rumo ao Norte do Estado, seriam Parangaba, Mondubim ou a própria Estação Central.

Prevaleceu a Central, quando foram retirados milhões de metros cúbicos de areia, o que mutilou o Morro do Moinho e o do Croatá, sendo assentado os primeiros trilhos em janeiro de 1916. Foi construída uma ponte metálica para que fosse transpassado o Riacho Jacarecanga, e o trem seguiria em rumo ao Bairro Floresta. Nas construções e prolongamentos, as estações de Antônio Bezerra e Caucaia foram inauguradas em 1917; e posteriormente em 1926 a da Floresta, hoje Álvaro Wayne. Vide no Livro “O Ceará que Entrou nos Trilhos” de nossa a autoria.

                              Álbum da RVC

Ponte Ferroviária do Jacarecanga em 1918

O trem trazendo cargas de Caucaia e Antônio Bezerra

 

 A ponte ferroviária passou pela primeira reforma em 1919. Obedecendo a um plano de mobilidade urbana e precavendo erradicação de acidentes no Centro de Fortaleza, o engenheiro Henrique Eduardo Couto Fernandes conseguiu aprovação e o Ministério da Viação e Obras Públicas autorizou para que, os trilhos seguissem em sentido Oeste, e passassem numa curva à 90º por detrás da propriedade dos Philomeno Gomes.   O Aparelho de Mudança de Via – AMV fora colocado a 150 metros após a transpassagem sobre a ponte do riacho Jacarecanga, devendo os maquinistas fazerem parada obrigatória no local do aparelho. A partir de 1920 a RVC começou a construção e prolongamento da linha que ligaria, o Jacarecanga ao Matadouro (Otávio Bonfim).

A Rede de Viação Cearense – RVC construiu uma casa na beira da linha, onde um Mestre de Linha era responsável por estas manobras, destinando os trens das linhas Norte e Sul. Não conseguimos o nome desse trabalhador da ferrovia, mas chegamos a conhecer a Sra. Isaura (velha Isaura) viúva do ferroviário. Agora espero ter desvendados para os amigos as Vila São José, o porquê daquela casa no meio, como divisória para as avenidinhas das castanholas.

A estação de Otávio Bonfim fora inaugurada em 31 dezembro de 1922, mas devido o nome do Bairro, ainda fora chamada de Matadouro até 1926.

                                  Álbum da RVC

Ponte Ferroviária sobre o Riacho Jacarecanga. 1917.

Ela fora alterada em 1920 como leremos. 

 

                   Reprodução

Casa da Velha Isaura.

 

 Observemos do alto este registro de 1928.

 

Então começou o movimento ferroviário no Jacarecanga, e a Rede de Viação Cearense construiu uma Vila Operária sob a responsabilidade de Jacinto de Matos, em terreno hoje localizado defronte ao Centro de Saúde Carlos Ribeiro. Esse exemplo fora seguido por a firma José Pinto do Carmo, que em 1928 era Fábrica Baturité. Nascia a Vila São Pedro. Entendem meninada do meu tempo, por que o trem no triângulo passava cheirando as portas da casa do Gutemberg?

 

Reprodução do Álbum de Fortaleza – 1931.

Em seu lugar fora construída a José Pinto do Carmo

Foi assim que começou o movimento sobre trilhos no meu Jacarecanga. Com toda essa efervescência do trem como um potencial na economia, surgiu a Casa Machado, Usina São Judas Thadeu (óleo Paturi); lá mais adiante em rumo a Floresta o trem passou a atender a Brasil Oiticica e a Cia Ceará Têxtil; pela linha Sul a Siqueira Gurgel.

Ah! Jacarecanga fora contemplado pelo trem suburbano de Maracanaú, fazendo paradas na Avenida Francisco Sá, pois, até 1980 os moradores iam de trem para o Centro às 6.15 h e 13.15 h, retornando as 11.15 e às 18.30. À noite o trem prosseguia até ao hoje Município de Acarape.

 Pois bem, as linhas Norte e Sul faziam convergência na Estação Central e, no Jacarecanga como linha divisória, formou-se um triângulo, aonde trens cargueiros vindos de Otávio Bonfim para Álvaro Weyne entravam, no mesmo; serviu esse triângulo para as reversões de locomotivas e composições de passageiros. Eu cheguei a ser Buchecheiros junto com a meninada, como se diz: Pegávamos Bigus.

Mas, tudo o que é bom passa. As fábricas inexistem, e com a chegada do Metrô de Fortaleza, desde 2010 que o trem fora arrancado do Jacarecanga.

A Vila São José fica só a contemplar de modo amistoso, a passagem do Veiculo Leve Sobre Trilhos – VLT na linha Oeste, que nem se quer olha para minha Vila. Possa ser à posteriori.

O trem chorando por força do Metrô, abandonou a área e nunca mais passou….

 

                               José Augusto

Local da Parada do Trem Suburbano.

 

                           

                            Do autor

Trilhos pela Rua Jacinto de Matos.

O Muro era a Entrada do Ramal da Casa Machado.

Está hoje tudo diferente.

 

 Inteiração: O TREM DOS OPERÁRIOS

 

Quem foi morador da Vila São José no bairro Jacarecanga no início da década dos anos de 1960, contemplou a passagem de uma locomotiva á vapor, a chamada “Maria Fumaça”, que correndo e bufando pelas válvulas, despertava a curiosidade de todos.

Na minha meninice se existia algo que amedrontava os guris do meu tempo, era aquela coisa preta correndo e cantando o poema de Manuel Bandeira “Café com Pão”. Pobres crianças! Não puderam alcançar emocionante viagem de trem com máquinas à lenha, afinal a última locomotiva desse tipo circulou no Ceará em 1 de janeiro de 1963.

Mas, que trem era aquele? Respondeu-me um ferroviário: “É o trem dos operários das oficinas do Urubu”. A Vila onde nasci acompanhava todo o movimento ferroviário, pois, é lá onde havia a separação das linhas de Baturité e Sobral formando o triângulo aonde, ainda se faziam as reversões.

Em 1972 ingressei no Colégio ginasial José Waldo Ribeiro Ramos (ex-Centro Educacional Ferroviário), tornando-me passageiro do trem dos operários. Para orgulho nosso, nesse trem tinha um carro exclusivo para os estudantes. Passei então do lado de fora, para o de dentro. A composição tinha cinco carros e era assistida pelo condutor de nome Daniel, que revezava com o Sr. Antônio.

A Partida do trem dos operários da estação Prof. João Felipe, era às 6.30 h e tinha 12 minutos de percurso obedecendo as seguintes paradas: Padre Mororó, Marinha, Vila Assis, Francisco Sá, Av. Pasteur e a estação de Álvaro Weyne que, na época era depois da passagem de nível da Av. Dr. Themberg.

Quando aluno/ passageiro desse trem, o mesmo era puxado pelas locomotivas   Brockville (pequenina) e a Whitcomb nº 623 que tinha motor de caterpillar (era um barulhão!).

Em 1981 ingressei no quadro de funcionários da RFFSA (extinta). Então com muita responsabilidade, passei a ter acesso a documentos, oportunidades para entrevistas, reprodução de fotografias e assim resgatar a história daquele trem de minha infância.

Portanto, recuemos no tempo.

# As oficinas da então Estrada de Ferro de Baturité foram inauguradas aos 9 de junho de 1880, sendo diretor da Companhia o Engº Amarílio Olinda de Vasconcelos, que nomeou José da Rocha e Silva para ser seu mestre geral. Devido ao crescimento da Empresa, expansão no pátio de manobras, a construção de armazéns e uma grande reforma por que passou a RVC em 1917, a Estação Central não podia mais comportar os trabalhos de manutenção mecânica. Então foram iniciados os estudos quanto ao local da futura instalação das oficinas.

Em 1922 o Sr. Antônio Joaquim Carvalho Junior (Cel. Carvalho), havia doado para a União um terreno no bairro do Urubu, bem na beira da estrada da Barra do Ceará. A Rede de Viação Cearense nesse tempo estava sob o comando da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS, atual DNOCS.

O Inspetor Arrojado Lisboa conseguiu junto ao Governo federal que, o referido terreno fosse destinado para a RVC e assim, construir o tão almejado complexo arquitetônico. Com o terreno à disposição da RVC e já sob o comando de Demósthenes Rockert, o engenheiro Otávio Bonfim ficou como encarregado para consolidar o projeto junto a Firma “Alfredo Dolabela Portela & Cia”. Assim em 1929 com os galpões já prontos, começaram o translado das máquinas e o material pesado.

Enfim na gestão de Abraão Leite, aos 4 de outubro de 1930 ocorreu a apoteótica inauguração das Oficinas. Por portaria, é criado o “Trem dos Operários” que passaria a ser tracionado por uma locomotiva “The Baldwin Locomotive Work” tipo 0-4-0, cuja fabricação é de abril de 1922. Essa é a máquina que depois assombraria as crianças, da minha bucólica Vila da Usina São José.

Pois bem, em 1977 o Eng. José Walter Barbosa Cavalcante (Prefeito José walter) que era o Superintendente Adjunto de Operações – SOP, determinou sua erradicação

É como disse Raquel de Queiroz: “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”.

                    Álbum da RVC

 Trem dos Operários tracionado pela Locomotiva Baldwin nº 30.

 

                            Foto do autor

 Locomotiva 30 ainda preservada

 

 

 HIDRÁULICA DA VILA SÃO JOSE

 

   Desenho da Rua Messias Philomeno entre ruas Júlio César e Leda.

 

Água é Vida”, e por ser um termo tão usado, parece ficar redundante. Estudos revelam que a doença hídrica não é pela água em si, mas devido o mau uso ou conservação. Existe o institucional que é voltado para recursos hídricos: Funceme, Cogerh, Cagece, os Institutos de análises além de setores de pesquisas de Universidades e/ou Faculdades.

Às vezes por faltar estudo técnico, certos projetos de edifícios, bem como conjuntos habitacionais sacrificam a Companhia fornecedora de água, porque se faz necessário a mesma atender as novas demandas.

Na Vila São José, o recurso hídrico só foi importado a partir de 1963, quando o Coronel Philomeno autorizou as vias de pedras toscas serem escavadas pelo Saagec (Serviço de Água e Esgoto do Estado do Ceará). Era chegada a famosa Água do Acarape. Chafarizes com cacimbões ao lado ou abaixo da base forneciam primitivamente, água para a Vila Operária.

O primeiro construído foi na Rua Maria Estela, primeira rua também construída em 1926. Recebia o líquido precioso da Fábrica São José, proveniente de um poço profundo defronte a estamparia de acabamento das toalhas. A tubulação de 100 mm, transpassava o riacho Jacarecanga. Era sustentado por duas bases de cimento armado.

                       

Vista do Primeiro Chafariz da Vila  Rua Maria Estela.

Depois na entrada da Vila, pelo lado Sul início da rua Dona Maroquinha, esquina com a rua Maria Isabel, a segunda caixa d’água. Era um reservatório de 20 mil litros, com altura de 15 metros. Tinha um espaço retangular onde tinha duas casas arredondadas parecendo duas ocas, de cor cinza, erguida com tijolos batidos e cobertas com telhas do Maracanaú.

Uma das casas era acompanhando a base do reservatório que deveria abastecer as residências por gravidade. A outra era conhecida como Casinha da Bomba. Tinha a bomba hidráulica impulsionada por um motor de 10 cavalos, alimentado com 380 Volts, puxados por uma correia de 1,5 metros. A chave elétrica era do tipo faca com fusíveis de cartucho ambos fabricados pela Westinghouse – USA. O bombeiro hidráulico era o Antônio e o eletricista seu Mozart. O Telles que herdaria aquele pedaço para fazer um bar, era o fiscal do Coronel proprietário. A cacimba era no meio da que seria avenidinha Sul, onde moraria o Chico sete cão.

Segundo o pai do escritor Valdemar de Lima, aquela primeira etapa funcionaria até 1966, porém, houve um aditivo para atender as construções da segunda etapa da Vila São José em 1946. O primeiro reservatório da segunda fase, foi na Avenidinha pelo Norte, ao lado da Via Férrea de Baturité, da RVC. O cacimbão localizava-se à sombra de uma das castanholeiras, que eram em número de duas. Dessas octogenárias árvores só uma existe, e a caixa d’água e a cacimba que era forma de disco voador, desapareceram.

                                                      Caixa D’água do Seu Telles

                                 Do autor

Caixa d’água da Rua Leda

Do seu Telles na frente. De lado as Castanholeiras.

Foto colhida do Edifício único existente na Vila.

Na construção já mencionada e lá se foram 76 anos, tinha na rua Leda dois reservatórios. O autor não alcançou seu funcionamento, mas chegou a ver as instalações com canos vencidos pela corrosão e válvulas brecadas pelo desuso. Os motores já haviam sido retirados restando a base abandonada com parafusos ereto e ranhuras avariadas. Os poços para alimentar as caixas d’água da rua Leda era aonde posteriormente, se estabeleceu para comércio dona Francisca, a qual transferiu o comercio mercearia bar para o Olavo bigodão. Ainda lembro de um porte da Conefor que ficava ao lado pela rua Maria Estela, onde um caixa de madeira protegia a chave geral da iluminação pública da Vila. Ao escurecer vinha um funcionário da fábrica e ligava, se responsabilizando o mesmo a desligar com o clarear do dia. Eram várias arandelas com lâmpadas incandescentes que pastoravam as ruas para nós. Ainda era a Conefor, extinta em 1971. Depois a Vila fora beneficiada com lâmpadas fluorescentes, mas com manutenção já da Coelce e na tecnologia do Foto sensor.

Continuemos:

O poço na casa em que moraria o Chico Sete Cão na outra Avenidinha sentido Sul, (já foi escrito) era para auxiliar na demanda oferecida pela caixa d’água já mencionada na Rua Dona Maroquinha. Lá tinha um portão para a Rua Maria Isabel. (Vide contracapa onde vemos a caixa d’agua e o Poço mencionado).

Pessoas inteligentes criam oportunidades. Tomando conhecimento dessa demanda reprimida, um empresário cujo nome não me ocorre, começou a vender água em carros pipa vindas de um poço profundo do bairro Floresta. Os baldes de zinco com capacidade para dez litros e custavam Cr$n 0,50 (cinquenta centavos do cruzeiro novo), moeda que circulou tão logo fora criado o Banco Central do Brasil, no Governo Castelo Branco.  Os caminhões GMC funcionavam à base de manivela, e as carrocerias eram tanques de madeira calafetada.

Ah! já ia me esquecendo! As carroças do Mestre Carlos, que por apelidar seus animais, tornou-se tipo popular na Vila São José. A carroça Pombo Roxo era tracionada pela margarida (burra branca); a Pombo Cardo era com a rosinha (burra avermelhada) e tinha o cavalo Gaspar que morreu. Os travessos Garotos ajudavam o Mestre Carlos naquelas entregas. O poço de abastecimento daquelas carroças ficava ao fim da Avenida Duque de Caxias, Morro do Ouro, olhando para o Cercado Zé Padre.

 

Essa é a atual Avenidinha lado Sul. O Poço da casa do Chico sete cão,

 É hoje o sobrado com Portão de alumínio. Posando Jadiael filho do autor.

 

Sob a forma de Empresa de Economia Mista, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece foi criada através da Lei 9.499, de 20 de julho de 1971, e absorveu o Saagec, bem como todas essas peripécias com água. O contingenciamento passou ao compasso de Estatal. Por pouco não se destruiu deste capítulo sua história.

Cesar Cal’s e Vicente Fialho modernizaram o sistema em todo o Jacarecanga, ao qual por sua vez, Adauto Bezerra fez a parte de esgoto. Na Vila o homem dos esgotos era o Pedro velho, um protagonista comparado aos carregadores de Quimoas, na Fortaleza antiga. Vide foto na página seguinte.

Retroagindo um pouco. Quanto ao tratamento e atendimento de águas das fontes da VSJ, nunca se ouviu falar em conta. Era uma cortesia do Coronel Philomeno aos seus operários.

A light/Conefor estas tinham, e com péssimo atendimento em um prédio histórico no Passeio Público. O Coronel tinha consciência da utilidade do líquido precioso, e dispensava de seus empregados.

Água era o que não faltava. A vila só não foi mais ornamentada, culpa dos moradores que pisavam na grama. A placa estava lá, mas servia de alvo para os travessos, com estilingue.

A Vila do Jacarecanga pobre, é rica em histórias.

É um anoitecer da história. Vejam o estado atual.

Esse é o monstrengo da que foi a caixa d’água Ícone da Vila.

Parada obrigatória para quem quer se usufruir do bar do Telles,

Mas para quem foi morador antigo; se parar vira o Muro das Lamentações.

 

      Interação Histórica:          

                                   Álbum do Boris

Aspecto da Rua Pitombeira, atual Floriano Peixoto em 1906.

As caixas que vemos de madeira, eram os depósitos do material fétido das residências, pois, não havia saneamento.  Os homens que trabalhavam naquilo eram chamados de quimoeiros. Eles levavam a caixa para a praia Formosa para descarregar e lavar os depósitos.

Na passagem pelas ruas, tiravam o povo das calçadas.

 

 

 

RELEMBRANDO AS TERTÚLIAS NO JACARECANGA

 

Turma da Boca de Sino

A dança caracteriza-se pelo uso do corpo, seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos ritmados ao som e compasso de música, envolve a expressão de sentimentos potenciados por ela.

A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. No antigo Egito já se realizava as chamadas danças astro-teológicas em homenagem a Osíris. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos.

No curso de nossa vida duas coisas são indeléveis. Essas gravações devem-se as energias sensitivas da audição e o olfato. Traduzindo são coisas marcantes: Perfume e música, em que evocamos uma combinação feliz do maior brega/chique do Brasil Waldick Soriano, quando gravou a música “Perfume de Gardênia”.

Mas vamos lá. O bom é que na época das tertúlias, as moças e os rapazes se afinavam e dançavam até por todo o tempo, pela combinação de essências. Muitos se queixavam de rejeição ao convidar uma menina para dançar; mas tinha lógica. O cabra usava perfume feminino e a pessoa se sentia como se estivesse com alguém do mesmo sexo. Mulher também não deve usar fragrância masculina. Sabiam que isso funciona no psicológico? Agora, não existia naqueles bons tempos, nada de marcas famosas tais como hoje, com fragrâncias passando da casa dos R$ 100 (Cem reais).

Também nem tanto como “Leite de Rosa” e creme “Trim”. Ahahaha…

As calças eram boca de sino, blusão por dentro, e o medalhão só perdia para o de Erasmo Carlos. Não se fumava dentro do recinto, onde a luz negra tornava a sala um escurinho de cinema. Quem quisesse acender seu hollywood, Minister, Albany, Charm, Marlboro, Consul, Camel Filters (o mais caro) ou até mesmo o Continental, deveria sair para a calçada e após o uso, chupava Piper ou azedinho para mudar o hálito. Caramelo do Zorro e o Negrito eram chocolates e pregavam nos dentes. Chicletes Adams, Ping Pong, Ploc, idem. O Manuel Pé Cagado levou um spray bocal para se amostrar, e a válvula estourou quase cegando uma menina, e tome vaia.

As casas mais tradicionais em cederem espaço para as tertúlias na Vila São José eram as residências do Tutuca (Elenilson), da amiga Ilná Sousa e a Tayse que já ficava na Avenida Francisco Sá no entorno do SAPS. Tayse era namorada do Magão que na época morava na casa do Artur, grande zagueiro do Ceará Sporting Clube. Agora vez por outra a Núbia, filha do seu Zuza fazia também. Era na Coronel Philomeno nº 29.

A publicidade da tertúlia era notória, pois, o anfitrião saía nas casas solicitando por empréstimo, discos de vinil. Portanto era nossa parceria, bem como ficar próximo da vitrola virando e sequenciando as músicas. Como a dança era de cerca de três horas, nunca uma música era repetida. Na rua já ouvíamos com Roberto Carlos “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “A Distância”, “Maior que meu Amor” “Amanda Amante”; Os Pholhas “I Never Did Before” (Nunca Fiz Antes); Roberta Flack “Killing Me Softly” (Matando-se Suavemente); Stevie Wonder “You Are Sunshine Of My Life” (Você é forte luz em Minha Vida); Demis Roussos “Forever and Ever” (Sempre pra sempre); The Fevers “Mar de Rosa”, “Vivo a Sonhar com Você”, “Ninguém Vive sem amor”. Tinha também músicas eróticas como “Theme Love Airport” (Tema romântico do Aeroporto) com Vicente Bell; “Nuvens, Amar Sonhar Sofrer”, JET´AILME… mol non Plus Erótico (Eu Te Amo em francês) e por ai ia………

 

O Disco de Vinil foi uma marca nas Tertúlias.

Todos os bailes da Vila São José eram na própria vila, com exceção do Carnaval e Natal que era no Clubinho Marcílio Dias, na Avenida Philomeno Gomes, por detrás do Cemitério São João Batista, depois do muro da fábrica de tecidos.

Quem é que queria saber e, também não podíamos!!!! Náutico Atlético Cearense, Maguary, Diários, AABB, Clube de Regatas nem mesmo os clubes suburbanos que desapareceram, como podemos citar: O Uberlândia no Padre Andrade, Secai no Pirambú, Carlito Pamplona na Avenida Pasteur, Grêmio Recreativo dos Ferroviários na Francisco Sá, Internacional no Monte Castelo, Romeu Martins no Montese e o de Antônio Bezerra. Não, todos ficavam na Vila São José, porque aquele pedacinho tinha tudo de bom.

No escurinho, a gente combinava para chocar um casal com outro. Se a jovem esboçasse desconforto, ficava como estava, mas do contrário a quentura do corpo (pinar mesmo) tornava mais gostosa a dança.

Eram assim as tertúlias. A única despesa que tínhamos era quando o calor se intensificava nos dirigíamos, ao Bar do Chico Lima e/ou do Seu Telles para comprar refrigerantes como Blimp (sabor Limão), Crusch (Laranja de verdade) e Grapette (Quem bebe repete, uva).

 

 

 

 

 

Marcas de refrigerantes da época

Os dois incidentes de que recordo: o primeiro foi na casa de um em que a Conefor (atual Enel), no dia da festa cortou a luz pela parte da tarde. Nada se podia fazer porque era num sábado. No outro incidente que também não irei mencionar a casa, ao fazerem a festa nos deixaram de lado, trazendo gente estranha, querendo ser os Reis da Cocada Preta. Naquela ocasião o jardim do Seu Panchico foi visitado quando lhe subtraímos pimentas malaguetas de seu jardim/hortaliça.

À noite ao chegarmos à festa sem convite, discretamente soltamos pimenta ao chão. Daí começou a espirradeira e coceiras nos olhos e a festa acabou.

Então veio a colheita desta travessura de mal gosto. Seu Panchico foi ao Padre Mirton Lavor, pároco da Igreja dos Navegantes e cabuetou (à brasileira) aquela travessura. No sermão de sábado à tarde, ele baixou o Pau dizendo que “quem entrasse nos jardins alheios sem permissão, era ladrão e salteador”. Todos baixaram as cabeças.

Aí os tertulianos ficaram bonzinhos. Quem achou ruim foram algumas meninas sapequinhas, mas nós que levamos o arregaço do sacerdote, passamos a obedecer ao para-choque de caminhão: dançando “mantendo a distancia”. Voltou-se as danças soltas tal qual o Twist, e I iê iê iê.

Em tese tudo o que é fora do seu tempo, não presta. Mas as tertúlias marcou a juventude de seu tempo.

 

Marcas de Cigarros e refrigerantes

 

 

Fonte: Histórias do Jacarecanga (A vila São José que eu vivi), Visual art 2019.  Francisco de Assis Silva de Lima.

NO MORRO DO CROATÁ A COMISSÃO BORBULETA

 

Registro raríssimo da comissão no Croatá

No terreno onde seria estabelecida a Cidade de Fortaleza, no século XVI ainda existia domínio indígena até que os holandeses conseguiram em meio a massacres se estabelecerem. Matias Beck (comandante Flamengo) ergueu o Forte de Schoonemborch, com a finalidade de se defender dos nativos aliados aos portugueses, às margens do Riacho Pajeú no monte Marajaituba (hoje 10ª Região Militar).

Pois bem, ao Oeste do Forte no mesmo nível, estava “O Morro Croatá” que serviu de base militar no século XVII, e que posteriormente em 1859 por ordem da Corte fora construído um observatório astronômico.

 

 

Nas escavações na Estação Central,

provas arqueológicas da Base Militar

 

Estudos humanísticos buscavam a “Origem” do Brasil por sua história, enquanto cientistas ocupavam-se na análise dos recursos naturais por todo o Brasil. O imperador criou em 1856 a comissão científica.

Em 1859 fora instalada em Fortaleza a comissão que, fora denominada; Expedição das Borboletas.

O Ceará como uma província inexplorada em seus recursos de jazidas, flora e fauna, fora a motivação para a instalação dos instrumentos científicos da época, pois estava na pauta estudo climatérico, visando amenizar o sofrimento do povo, vítima de constantes estiagem.

A expedição tinha na equipe botânicos, etnólogos, geólogos, zoólogos dentre outros, todos vindos da Corte no Rio de Janeiro, cujo desembarque ocorreu no Poço das Dragas, antigo trapiche Ellery.

Foi no solo deste registro raro, que que fora inaugurado o Campo da Amélia, e que fora escolhido para ser erguido a partir de 1870 o complexo que se denominaria “Companhia Cearense da Estrada de Ferro de Baturité” como leremos.

Ao lado desse observatório ficava o “Campo da Amélia”, que inaugurado em 29 de junho de 1830 onde homenageou a II Imperatriz do Brasil, D. Amélia Leuchtthemberg. Foram plantados neste campo vários juazeiros e, um bonito gramado divido em quadras. Conta-se que foi de onde surgiu a redundante frase: “Não pise na grama”.

Localização do Campo da Amélia.

 

O assentamento da pedra fundamental para o início da construção da Estação Central, ocorreu no final da tarde de 20 de janeiro de 1872, estando presente o Comendador João Wilkens de Matos, Presidente da Província , e  seu antecessor, Conselheiro Barão de Taquari; estiveram também, Corpo Legislativo, autoridades civis e militares, funcionários públicos, Clero, Nobreza e Populares.

Neste Registro observamos as duas fachadas: 1873 e 1880

 

A colocação da Empresa em terreno no Morro do Croatá, foi como mandou a tradição “Num ponto que também fosse vista para o mar, como era o forte, o hospital da misericórdia e a cadeia pública. Assim a estação obrigaria o navegante bem de longe aproximar-se com respeito”. João Nogueira

Arquiteto austríaco Henrique Folgare

Projetou a Estação Central de 1880.

 

Fontes:

Fortaleza Velha, João Nogueira, 1954, Edição UFC, 1979;

Instituto do Ceará

Registro Fotográfico de domínio Público.

GRITANTES VENDEDORES NA VILA SÃO JOSÉ – JACARECANGA

Rua Dona Bela era a Rua dos Comércios

 

 Era gostoso o amanhecer do dia na Vila São José nos dias de verão; a estrela D’alva ainda não tinha sida ofuscada pelo alaranjado raio do astro-rei; dava-se para ouvir o suar das ondas em dias de mar bravio no Pirambú; uma delicia o refrescante vento assobiando no encontro da instalação elétrica dos fios da Conefor (hoje Enel) e, fazendo deitar galhos finos das árvores mais altas.

O barulho só começava às 6 h quando a fábrica São José iniciava suas atividades, nos teares (tecelagem) e quando os trens suburbanos da RFFSA apitavam. Assim começava a poluição sonora, mandando paulatinamente ir embora o sossego noturno.

Os pássaros rolinhas (caldo de feijão e cascavel), com seu melancólico e redundante cântico de modo uníssono, se alegravam pousados na linha telegráfica do trem, nos impondo responsabilidade.

Agora, tinha algo atípico que, culminou em típico na cultura peculiar de nossa Vila Operária? Tinha sim: eram os Gritantes vendedores de porta!

O primeiro era o homem da tapioca: “Tapiiooooca”. Por muitos anos ouvia-se essa voz, mas isso não agoniava quem estudava no Grupo Escolas Sales Campos no turno da tarde; não se via os donos de casa sair.

Um dia por curiosidade alguns meninos saíram pra calçada: de calções e cabelos assanhados, declinaram olhares para a Rua Coronel Philomeno, e o homem ainda ia passar. vindo da Rua Dona Bela. De súbito, entrou um cidadão alto, moreno, chapéu de palha e um caixote todo forrado com palhas de bananeira. Era o tapioqueiro.

O homem da verdura passava perto das 7 horas. Aquele verdureiro era o mais conhecido, pois, era o pai de uma mocinha que era secretária do lar (seu nome agora me escapa). Trabalhava na casa do Wilson “Bucho Branco” que era gerente da desaparecida Lanchonete Miscelânea na Praça do Ferreira, vizinho ao Posto Mazine na Fortaleza antiga.

Sem hora prevista vinha o homem do “Meeeeeeeel”. Equilibrava com uma rodilha um vasilhame tipo leiteira e vendia seu produto natural: “Hoje é de jandaíra, é das Italianas” e por aí ia. Hoje a nutrição policia-nos devido doenças tipo diabete.

 

Vendedor de Chegadinho

 

Já ao meio dia com alunos fardados para irem ao Grupo Escolar Sales Campos, chegava o “Fedorento” do Picolé. Tomou esse apelido, devido o causticante sol que o fazia transpirar sem a assepsia nas auxilia. Era um quarentão de pele morena, e que estacionava a carroça debaixo de nosso Fícus-benjamim e que, sem nenhuma justificativa fora derrubado em 1975, na Rua Coronel Philomeno defronte ao nº 43, minha residência.

Convém registrar que, próximo ao meio dia a colossal chaminé da Usina São José expelia fumaça da descarga, quando a caldeira que ficava na estamparia, bufava. No céu da Vila ficava uma nuvem de fumaça branca não poluente que, devido a altura do cano não atingia as casas, mas que se vivenciava uma espécie de eclipse, pois, o dia mudava de cor.

A noite tinha mais dois vendedores de picolé. Um que dizia” Mel, mé Mel” e era distribuidor dos gelados da Sorveteria Gury; O “Ceará” era o outro que, largava a carroça e começa a se estrebuchar no chão, quando alguém dizia que ele era torcedor pelo Fortaleza, rivalidade no futebol cearense.

Antes de passar as novelas, vinha o “vendedor de chegadinho” e a sua chamada era com o triângulo. Eram folhas crocantes de trigo e outros produtos que pareciam folhas de pé de castanhola assadas.

 

Apareceram também uns pipoqueiros vindos do Bairro Carlito Pamplona que ficavam na esquina da casa do Dédé banbulê na Rua Dona Bela.

 

Aos fins de semana vinha o pipoqueiro que morava na Rua Padre Mororó, quase defronte ao Santa Cruz Sport Club por o lado do Sol. Sua chamada era: “Pipoqueirooooo, chegou o cheiroso!”. A noite era o vendedor de algodão doce. Como ele pouco falava, levou pela corriola o nome de “Caladinho”. Eram demais as opções de vendas e a Vila São José era movimentada. Os nossos pais que se aguentasse.

Naquele tempo se dizia: “Trabalhar por Conta Própria”, hoje é “Integrante do Mercado Informal”. Todo trabalho é digno, e não fazia vergonha gritar para vender, diferentemente de hoje, que para vender é preciso ter público alvo, logística e custo benefício.

O trabalho hoje exige uma formatação, uma didática. Milhares de brasileiros se contentam com empregos mesquinhos, parcos salários e condições de vida inferiores, porque se levam uma existência por hábitos de negligência, inexatidão, impontualidade, tudo pela falta de vontade.

Mas…. Foram bons aqueles anos para os infanto-juvenis que nasceram, cresceram e moraram no Jacarecanga, na inesquecível Vila São José. Quem hoje chega lá, se lembra do último parágrafo do romance Iracema de José de Alencar:

 TUDO PASSA SOBRE A TERRA.

Vendedor de Algodão Doce

 

 

Casa do Wilson “Baixin”, que era ponto de venda de Algodão Doce.

Era vizinho ao Chico Lima que ficava na Rua Dona Bela.

Observa-se nessa casa um circulo na parede.

Era uma coisa original nas casas antigas na Vila. (1926)