Assis Lima
Assis Lima

JULIUS PINKAS CONSTRUTOR DA ESTRADA DE FERRO DE BATURITÉ

 

Estação Monguba.  1892.

A Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S.A. em 1876, apesar da apoteose pela entrega ao público das estações de Monguba e Pacatuba, estava falida.  Ficou nas mãos de José Pompeu de Albuquerque Cavalcante, sendo auxiliado por uma junta composta por: Gonçalo Baptista Vieira (Barão de Aquiraz), Jerônimo Luiz Ribeiro, João Martins da Silva e José Privat. Este comando ficaria até a próxima eleição da diretoria, o que não chegou a acontecer.

Fundeado no Poço das Dragas (antigo porto de Fortaleza) o vapor “Pará” em que havia desembarcado Luís da Rocha Dias, no dia 14 de junho de 1876. O Eng.º Dias veio ser o encarregado de concluir as negociações do contrato entre a Estrada de Ferro de Baturité e o Governo Imperial, para o prolongamento da linha entre Pacatuba e Canoa (Aracoiaba). A Companhia não tinha mais condições de continuar com a iniciativa privada. O teor do contrato foi assinado juntamente com Sr. N. Hansem e levado ao Rio de janeiro para apreciação da Corte.

Estação de Bahú. 1892

O Governo Imperial protocolou o mencionado contrato, porém, algumas cláusulas foram contrárias ao interesse dos dois acionistas majoritários: Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba) e o Negociante Inglês Henry Brocklehurst, onde foram requeridas suas ações, deixando vaga uma boa parte do capital da Companhia.

Como se não bastasse, ainda em 1876 a Empresa ainda teve de pagar 10.400$000 (Dez contos e quatrocentos mil réis) de juros ao Banco do Brasil de empréstimos contraídos, com gastos na construção do trecho Parangaba – Pacatuba.

Dez dias após, chegou da Corte a resolução do Contrato celebrado através do Engenheiro Dias, e num clima constrangedor a Companhia aos 8 de março de 1877, foi assumida interinamente pelo Capitão Luiz de Seixas Correia ficando a fiscalização, a cargo do Major de Engenheiros Sr. Eduardo Sovinier.

Terraplanagem do Prolongamento 

trecho Guaiuba Acarape.  1879.

O Senador Pompeu idealizador da Via Férrea de Baturité, frustrado pela ausência de seus companheiros políticos e sócios; observando o funcionamento da Empresa que tanto amava com cofres vazios, e mais com um ano de seca, abdicou-se do convívio.  Ausentando-se do trem sua grande paixão, deprimido socialmente, morre em 1 de Setembro de 1877 aos 59 anos de idade.

O austríaco Julius Pinkas, que era chefe da comissão de engenheiros do Império, foi indicado pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas para o cargo de chefe do Setor de Construção e prolongamento da EFB.

Julius Pinkas 

Escritório Técnico do doutor Pinkas.

Prédio desapareceu com o surgimento da RVC em 1915

Rua dos Mercadores nº 42 (Atual Cond’eu)

Este registro aéreo mostra o terreno que era pertencente a Estada de ferro.

Olhando para a Rua castro e Silva era um armazém para distribuição de gêneros. A Casa do Inspetor da EFB era olhando para a Rua Conde D’eu,

Neste flagrante de 1937 não existia mais nada.

 

Foi através do “Jornal do Comércio” do ano 1877, que resgatamos o retrato falado da situação caótica em que o Ceará se encontrava Juntamente com a lentidão e descaso do Governo em empreender a retomada dos trabalhos de construção da Estrada de Ferro de Baturité, tornando as pequenas obras de construção meios de pouca eficácia, para que retirantes se ocupassem como medida de socorro público. O médico e primeiro diretor administrativo da empresa, o aracatiense Castro Carreira foi incansável, em seus apelos na imprensa da época contra a burocracia, e envio de ilustres técnicos para fazerem demorados estudos.

Montagem da Ponte Acarape

E que maior interesse público pode haver do que dar ao tão extenso território, como é o do Ceará, e sertões adjacentes, condições de prosperidade, garantindo a vida e o destino de uma população, que já ascende a mais de dois milhões de almas? Atenta-se para a configuração topográfica do Crato, e recolher-se-á esta verdade...” Trecho do editorial do Jornal do Comércio, 27.12.1877.

Ponte sobre o Rio Acarape

O Processo de Encampação

 Nova seca em 1878.

A Província do Ceará novamente sofrendo, tornou irreversível a falência da Empresa Ferroviária que há meses degringolava, concomitantemente com a situação caótica dos flagelados que se aglomeraram em Fortaleza na busca de sobrevivência.

Alistamento de trabalhadores

O Ministro e Secretário de Agricultura Comércio e Obras Públicas, João Lins Cansanção de Sinimbú que havia sido empossado em janeiro de 1878, objetivando amenizar o sofrimento e as dificuldades dos provincianos cearenses nestes anos de seca, indicou José Julio de Albuquerque Barros para o Governar a Província do Ceará e interviu junto ao Império com um programa de solução; um plano sistemático de transformação dos indigentes em trabalhadores.

Abarracamentos no trecho em rumo ao Itapaí

Referido programa ganhou expressão quando José Julio assumira a Província aos 8 de março de 1878. Ficou patente a necessidade de uma política empreendedora mais ostensiva, afinal, o notável estudo de Sinimbú levou o Governo a tomar uma série de medidas.

Foi celebrado na Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas no dia 3 de junho de 1878, o contrato de Encampação quando a Empresa passou a se chamar: “Companhia da Via Férrea de Baturité S.A.”. Com portaria assinada pelo Imperador D. Pedro II aos 7 de julho de 1878, assumiu a direção da Baturité, o Engenheiro norte americano Carlos Alberto Morsing com a nomenclatura “Engenheiro em Chefe”; Julius Pinkas continuou com as construções e prolongamentos.  Assim em setembro próximo, foram reiniciados os trabalhos de tráfego e por outro lado, aos 31 de dezembro (três meses após) houve a conclusão dos trabalhos de liquidação das contas.

Com estudos do engenheiro Julius Pinkas, no dia 2 de janeiro de 1879, ocorreu o assentamento dos primeiros trilhos na terraplanagem preparada entre Pacatuba e Guaiuba, cuja responsabilidade estava a cargo de Walter Rietmann, engenheiro da primeira seção da construção até Acarape.

Os abarracamentos eram assim distribuídos:

 Primeira Residência:  Alto do Bode: 300 homens;

                                    Floresta: 400 famílias;

                                    Guaiúba: 700 famílias.

 Segunda residência:   Mata fresca:  650 famílias;

                                    Bahú: 700 famílias.

Terceira residência:        Água Verde que com dois abarracamentos, asilavam 100 famílias e uma centena de homens solteiros.

Em cada residência havia oficinas, ferreiros, criação de víveres, materiais para carpina. O jornal “O Cearense” relata-nos que também havia engenheiros, que tanto supervisionavam a mão de obra, bem como projetavam os bueiros, a alvenaria da base das pontes que ora estavam em construção.

  Assim a estação de Guaiuba foi inaugurada aos 16 de junho deste 79. A locomotiva “Sinimbú” conduziu as Autoridades e a EFB se fez representar pelos engenheiros Carlos Morsing e Amarílio Olinda.

Inesquecível também foi o dia 28 de setembro de 1879, quando a locomotiva “José Júlio” fora recebida com aplausos os mais efusivos, em meio a um mar de cabeças humana. Era inaugurada a estação de Água Verde, e mais… No vizinho 26 de outubro estava sendo a vez da de Acarape ser entregue ao tráfego.

Estação de Acarape em seu aspecto original

O difícil Corte da Serra de Itapahy

Nas obras de prolongamento de Acarape para Aracoiaba, foram empregados 9.515 operários que beneficiavam 28.545 pessoas em famílias. O Governo tinha pressa, e o Eng.º Julius Pinkas enfrentou desde pressões políticas até ameaças de ataques pessoais.

 Decidido sobre a rampa e o acentuado corte na Serra de Itapahy, as estações de Canafístula (Antônio Diogo) e Canoa (Aracoiaba) foram inauguradas em 14 de março de 1880, juntamente com a parada de Bahú (localizada entre Guaiuba – Água Verde) que passou a ser nesta data, estação.

Corte do Itapahy

 A parada estratégica do Itapahy, só seria inaugurada como estação aos 20 de setembro de 1896.

Segundo relatórios e alguns escritos de Octávio Memória em seu A Origem da Viação Férrea Cearense, os trilhos ao chegarem ao Km 98 os trilhos deveriam seguir em rumo ao Açudinho e Capistrano, e daí um ramal para a fértil Cidade de Baturité.

Tem coisa que só funciona com política e aí ocorrera a intervenção do Senador João Cordeiro, que atendendo ao pedido das autoridades locais, e do Cafeicultor Alfredo Dutra (que seria Deputado Estadual em 1918), a via férrea então passou pela cidade de Baturité.

Construção do pátio de Canoa – Aracoiaba

Aracoiaba Pronta

A concretização do tão esperado projeto, inspiração dos idealizadores da Companhia e da encampação, aconteceu somente em 2 de fevereiro de 1882.

Assim foi graças a bravura do Austríaco Julius Pinkas que o trem chegou em Baturité, no Km 102,890 com 122,970 metros acima do nível do Mar.

Julius Pinkas está na lista de heróis anônimos, mas está aí a imposição

histórica para lhe fazer justiça.

Estação de Baturité

Realizado o sonho, concretizada a nomenclatura

Referências:

Arquivo Público do Estado (Fontes Primárias);

Memória, Octávio: A Origem da Viação Férrea Cearense, Tip. Minerva, 1923;

Lima, Francisco de Assis Silva: O Ceará que Entrou nos Trilhos, 2015.

Iconografia: Arquivo do Autor, IPHAN e domínio Público.

 

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