Assis Lima
Assis Lima

VILA TELHA – IGUATU – O TREM E A SAUDADE

Praça da Estação em 1911.

         Os registro antigos do local que se denominaria Iguatu, remota ao ano de 1707, onde foi registrado a palmilhação do padre João de Matos Serra, catequizando os Quixelôs, nativos daquelas terras. O aldeamento, que era conhecido como Venda, passaria a ser identificado pelo nome de Telha (oriundo da sua produção ceramista), em virtude da configuração convexa de suas terras, que convergiam para o rio Trussu.

# O açude Trussú ainda existe e ao seu redor foi instalado um Balneário, para que o turista possa se divertir interagindo com as comunidades, Rio Jaguaribe, Riacho Antônio, as Lagoas de Águas Calmas, Baú e Barro Alto #

Foi neste local que ocorreu lutas, mas que prevaleceu um clima de paz, e os Quixelôs pacificados em convivência com os colonizadores, fixaram sítios às margens do Jaguaribe, grande e navegável rio que cortava a região. Os colonizadores sendo conhecedores da fertilidade das terras da Telha, transferiram seus ranchos para o novo povoado, que já estava tomando aspecto de pequena vila.

Com a denominação de Telha, o distrito foi criado pelo decreto Lei n° 2.035 de 11 de outubro de 1831, um dos primeiros decretos assinados por Facundo de Castro Menezes. Elevado à categoria de Vila, a denominação de Telha pela lei provincial nº 558 de 27-11-1851, foi desmembrada de Icó, que era sua Sede. Sua Instalação data de 23-01-1853.

Com a lei provincial nº 1429, de 14 de setembro de 1871 e por ato provincial de 01 de setembro de 1865; é criado o distrito de Bom Jesus do Quixelô e anexado à Telha, cuja a condição de cidade deveu-se pela lei provincial nº 1612, de 21 de agosto de 1874.

Telha – Iguatu

Pela lei provincial nº 2035, de 20 de outubro de 1883, o município de Telha passou a denominar-se Iguatu. Na Gestão do Presidente/Governador Nogueira Accioly saiu um decreto estadual de 17 de junho de 1908, onde foi criado o distrito de Lajes/Afonso Pena (Acopiara) e anexado ao município de Iguatu.

Iguatu, cuja formação toponímica: ig ou i = água+ catu = significa “água boa” ou “rio bom” lagoa. Provém da grande lagoa, a maior do Estado, situada na parte leste da cidade, ou seja o Rio Jaguaribe e seus afluentes.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município aparece constituído de 5 distritos: Afonso Pena, Lajes, Bom Jesus do Quixelô e Bom Sucesso. Depois Sussuarana seria também anexado.

Em 1920, o município já havia modificado sua divisão administrativa. É constituído de 06 distritos: José de Alencar, Bom Jesus, Afonso Pena, Lajes (Varzinha), Bom Sucesso e Sussuarana (Eng.º Barreto).

Pelo decreto estadual nº 193, de 20 de maio de 1931 foi desmembrado do município de Iguatu os distritos: Afonso Pena, Lages e Bom Sucesso. Para formar novo município de Afonso Pena (Acopiara).

Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município aparece constituído de 3 distritos: Bom Jesus do Quixelô, Quixoá e Sussurana.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937.

Pelo decreto estadual nº 448, de 20 de dezembro de 1938, o distrito de José de Alencar passou a denominar-se simplesmente Alencar (entrada do ramal de Orós).

 

Iguatu e o Trem

Iguatu estava no trajeto dos Trilhos da Estrada de Ferro de Baturité. Nossa ferrovia cearense  contemplaria esta Cidade que era riquíssima em algodão, Calcário, pecuária dentre outras exportações. O primeiro trem oficialmente chegou em 5 de novembro de 1910, sendo o km 416,298, e com 215,660 metros acima do nível do mar.

Estava presidente da República, Nilo Procópio Peçanha; Ministro da Viação e Obras Públicas: doutor Francisco Sá; Presidente do Ceará: Nogueira Accioly; Diretores da EFB: Eng.º Alfredo Novis e o Coronel Possidônio Porto, daí a razão social da arrendatária: Novis & Porto.

    O trem estava circulando até Miguel Calmon (Ibicuã). O restante estava todo em processo de acabamento. A cláusula de barreira era decorrente de processo de transferência. à empresa arrendatária que, deveria transferir a Estrada de Ferro para a firma inglesa South American Railway Construction Company Ltda.

Construção da Ponte Rio Jaguaribe

Por se tratar de uma concessão com empresa estrangeira, era necessário o aval do Governo Federal, daí nossa descrição do alto comando da Nação. O contrato já estava lavrado e levou cerca de dois anos para adequação. Nem a Novis & Porto tinha mais interesse em construir, nem a SARCCOL poderia fazer, daí o impasse.

# Com o decreto nº 7.669 de 18 de novembro de 1909, deveria os contratos de arrendamentos ser rescindidos e, tanto a Estrada de Ferro de Baturité como a de Estrada de Ferro de Sobral sofresse uma fusão administrativa, denominando-se “Rede de Viação Férrea Cearense” depois “Rede de Viação Cearense – RVC”.

A Companhia arrendatária não tinha o direito de transferir o presente contrato no todo ou em parte, sem o consentimento do Governo, porém, por conta do contrato anterior (Maio 1910) havia sido criada em Londres a “Brazil North Eastern Railway Limited” (Estrada de Ferro Nordeste do Brasil – EFNB), para fins de exploração da Rede e que com a revisão contratual, serviria de representação perante o Governo brasileiro em tudo o que estivesse relacionado aos transportes. Essa Empresa foi subsidiária da “SARCCOL”, ou seja, enquanto a South American Railway executava as construções, a Brazil North explorava os serviços de transportes. #

 Capitulo 5 do Livro O Ceará que Entrou nos Trilhos, Do autor, 2015..

Construção da Ponte metálica de Iguatu

 

O doutor Francisco Sá, segundo relatório de 1909 da Estrada de Ferro de Baturité ao Ministério da Viação, com assinatura de Bernardo Piquet Carneiro, relata-nos que o “Governo da União tocou as obras para que a Estação de Iguatu fosse inaugurada”. Transcrito sem Sic.

O agente de estação José Augusto Benevides, licenciou o primeiro trem, e nos mais efusivos aplausos a estação de Iguatu foi entregue ao povo. Por se tratar de um evento executado pelo Governo federal, foi dado ao veterano José da Rocha e Silva, a oportunidade de conduzir o trem inaugural, para esta estação que ficaria por cinco anos sendo terminal ferroviário. (1910 – 1915).

 

O primeiro desafio para os ingleses era a construção da ponte sobre o rio Jaguaribe, mas isto era café pequeno, para a equipe bem treinada que o Mr Hull trouxe da Inglaterra. Agora a primeira tarefa da administração britânica era fazer a Brazil North Eastern Railway Limited operar no trecho existente e a South American Railway Construction Company Ltda dá prolongamento, construir e reformar as estações.

Por Iguatu ser filha de Icó foi cogitado, um ramal para lá, mas não saiu do papel.

Fachada da Estação de Iguatu de 1976.

 

Corria o ano de 1915.

O Ceará ainda de ressaca das turbulências da Sedição de Juazeiro e, traumatizado com os rumores da primeira grande guerra, agora amarga uma assoladora seca. Em toda extensão do território cearense campea a miséria infrene, e o abutre da fome que assalta os lares com garras afiadas, produz miséria, meche na autoestima dos infelizes retirantes, que emerge dos mais diversos pontos da cidade de Iguatu. Nas praças, ruas e em cercados, cerca de 15.000 indigentes amontoados, formam um verdadeiro mar de cabeças humanas; A caridade particular se esgota; a varíola em virtude da aglomeração de imigrantes, na falta absoluta de higiene não espera, porém, graças às medidas enérgicas que se tomam, isolam-se os pestosos e aplica-se a vacina com a valiosa cooperação do Benemérito Farmacêutico Rodolpho Theóphilo que, trabalhou gratuitamente na intenção de ser útil aos cearenses.

 

Pois bem, agora o sertanejo aspira veemente e vê o término do seu sofrimento ao saber que, aos 23 de novembro do mesmo quinze, inicia-se o primeiro alistamento para uma frente de serviços. É chegado o momento do início dos trabalhos de prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité, cuja estação terminal ainda estava na cidade de Iguatu, de onde narro estes lamentáveis acontecimentos. Os trilhos rumam agora para o município de Lavras da Mangabeira, via Cedro.

Iguatu, terra de meus ancestrais lugar este que impressiona todos os visitantes, por ser banhado pelo Rio Jaguaribe, um dos principais rios do Estado do Ceará. O mesmo guarda para você um banho de beleza natural.

Um tio avô do autor destas linhas, Adil Mendonça é homenageado com nome de Praça na antiga Vila Telha, agora como não só os descendentes de Iguatu, mas os nativos sentem saudade do trem.

A miséria campeava em Iguatu em 1915

 

Posfácio

Iguatu devotou tanto amor ao trem que em 1962 recebeu todos os ferroviários vindo do Cedro por a desativação do depósito PLT. Iguatu agasalhou tripulação de maquinistas e abastecia locomotivas, tudo pro trem não parar.

Agora o trem já foi embora, os meus ancestrais estão indo também.

Sou saudosista, mas não nostálgico.

Ver o que ainda lá!!!!!

A fumaça do tempo levou tudo

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