PARANGABA A ANTIGA VILA ARRONCHES

Aspecto Primitivo da Rua 7 de Setembro

“(…) havia uma formosa lagoa no meio de verde campina. Para lá volvia a selvagem o ligeiro passo. Era a hora do banho da manhã; atirava-se à água e nadava com as garças brancas e as vermelhas jaçanãs. Os guerreiros pitiguaras que apareciam por aquelas paragens, chamavam essa lagoa Porangaba, ou lagoa da beleza, porque nela se banhava Iracema, a mais bela filha da raça Tupã. E desde esse tempo as mães vinham de longe mergulhar suas filhas nas águas da Porangaba, que tinha a virtude de dar formosura às virgens e fazê-las amadas pelos guerreiros (…) Só havia sol no bico da arara, quando os caçadores desceram de Pacatuba ao Tabuleiro. De longe viram Iracema, que viera esperá-los à margem de sua lagoa da Porangaba…” (Do livro Iracema, José de Alencar , maio de  1865, Ediouro Publicações S/A pág. 51).

Cedo aprendi que, devemos falar do que se sabe e não de onde estamos, por isso me atrevo a falar sobre Parangaba.

A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.

Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, nesse período teve inicio a evangelização das populações indígenas onde, foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara, “O Senhor das Chuvas”.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa de Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois o tratou por filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois, os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa: “Arronches”. Aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova Arronches, quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.

Com uma distancia de légua e meia da capital, essa Vila tinha seis quilômetros em quadrado e era habitada por índios os quais, tinham a faculdade de plantarem na serra de Maranguape. Arronches era habitada por 1.080 índios, 693 extra-naturais e tinha cadeia e sua Casa de Câmara com intendente.

Uma separata da Revista do Instituto do Ceará publicada em 1898, diz que o Engº Português Antonio José da Silva Paulet (ajudante de obras do governador Inácio de Sampaio) chegando a Fortaleza em 1812, fez um levantamento, e constatou que a Vila estava quase em ruínas com apenas 13 índios, 12 extra-naturais e 25 casas dentre as quais só 13 em estado de habitação. O Dr. Paulet então sugeriu que a Vila Nova Arronches, se unisse à Fortaleza, coisa que, aconteceria em 1833 quando, o Conselho de Governo a extinguiu. Dois anos após, sua freguesia também veio para a Capital. (Fonte Arquivo Público do Estado).

Em 1836, o então Presidente da Província Cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada “Fortaleza – Baturité” e, depois relatórios deram conta de que em 1863, Arronches já era a feira do gado para consumo da Capital. (Daí o porquê da Avenida dos Expedicionários no antigo trecho Matadouro Modelo/Porangaba ter sido outrora chamada Estrada do gado). Arronches foi o primeiro distrito a constar no traçado da Estrada de Ferro de Baturité, cujo primeiro trem em caráter experimental chegou, pasmem a coincidência, também aos 14 de setembro de 1873, depois de 115 anos de emissão da ordem Régia de Portugal, criando sua Vila e Freguesia.

A circulação do primeiro trem oficialmente, data de 30 de novembro de 1873. Esse foi o primeiro transporte de massas que o interior do Ceará ganhou. Ainda sobre o projeto de o trem passar por Porangaba, João Brígido, enamorado de Fortaleza, publicou no jornal Unitário um artigo com o título Traçado da Estrada de onde extraí este pequeno trecho: “Muito em princípio a linha devia seguir um trajeto até Porangabuçu; daí noutra tangente até Arronches, mas o português Carneiro, muito influente na política do seu tempo, com terras por trás da lagoa de Arronches, obteve que se quebrasse a linha, para que esta inutilmente, chegando à extrema do seu sítio, fizesse a grande curva que apresenta cortando a Estrada empedrada para atingir a estação, com grande aumento de linha “(Edição 20.02.1908”).

Estação Ferroviária em 1911

O leitor agora pode compreender o porquê do trem que, partindo da Central ao sair da Estação de Couto Fernandes, faz uma grande curva à esquerda para depois compensar após a passagem do “bar avião” (marco inicial da Parangaba, cuja construção deveu-se a Antonio de Paula Lemos e inaugurado aos 23 de outubro de 1949). Referida Estrada Empedrada a que se refere João Brigido, é a hoje Avenida João Pessoa.

A grande reforma ocorrida no pátio ferroviário de Porangaba foi concluída em 28 de janeiro de 1941, quando o interventor Menezes Pimentel e o diretor da Rede de Viação Cearense, Dr. Hugo Rocha, inauguraram o ramal ferroviário Porangaba – Mucuripe, desativando assim o ramal da beira mar. O prédio da estação fora totalmente modificado, inclusive quanto à planta de situação e layout original.

Retroagindo.

Com o advento da República, havia sido cogitada a mudança da nomenclatura Vila Arronches, porém o nome lusitano permaneceu até 1944, quando o Decreto-lei nº. 1114 de 1 de janeiro de 1943, voltou ao antigo nome do aldeamento fundado pelo desaparecido padre Pai Pina: “Porangaba”, nome aliás que nunca deveria ter mudado, identificando sua lagoa. Os ingleses, por exemplo: proprietários da South American Railway Construction Company Limited, e que administraram a ferrovia cearense (1910-1915), tirou da estação o nome Arronches e colocou Porangaba. Coisas de europeus! Só em 1 de janeiro de 1945 era que, a RVC mudaria o nome de Porangaba, para Parangaba. Que descubram os entendidos o porquê da troca do “o” pelo “a”.

Retomemos, portanto. A ligação da Capital para Arronches, afora o trem, era por uma estrada, com cerca de 7.200 m de pedras toscas, de onde se fazia o percurso de carroças ou a pé.

Avenida João Pessoa em 1930

Em 1929 esta única artéria foi reconstruída e, coberta de concreto passando a se chamar “Washington Luiz” que era o então presidente do Brasil.

Ocorrendo a revolução de 1930, as placas da nova avenida foram arrancadas por populares, passando a partir de então a denominar-se “João Pessoa”, como uma homenagem ao Governador da Paraíba e que, como integrante da chapa perdedora de Getúlio Vargas, foi assassinado e o crime considerado de conotação política.

Até 1976 essa avenida era conhecida como “Avenida da Morte”, quando tinha duas mãos inclusive até para o tráfego de ônibus elétricos, já extintos. Então no governo do Cel. Adauto Bezerra, foi construída e inaugurada a atual Avenida José Bastos, e assim melhorou e muito, o acesso não só para parangaba, mas para bairros adjacentes, principalmente o Conjunto Ceará.

As provas de que Parangaba sempre fora privilegiada pelo progresso, constata-se pelas instalações de grandes complexos já desativados tais como: a Fábrica Santa Cecília, Usina Everest, Saronord…

Bar Avião 1941

Hoje esse populoso bairro é um cartão postal de Fortaleza. É uma mini-cidade com supermercados, indústrias, rede bancária, cartório, praças, hospitais, dois terminais de ônibus no sistema integrado.

Parangaba que, gentilmente cede passagem aos trens da Transnordestina logística S/A é assistida por suburbanos do Metrô com os TUEs – Trem Unidade Elétrica a cada 20 minutos.

E a lagoa? Continua bela, de onde se faz Cooper e observamos o desenho do lindo pôr-do-sol.

 

Nota: A lei nº. 1913 de 31 outubro de 1921, determina que o município de Parangaba seja anexada ao de Fortaleza, transformando-se em distrito, levando consigo o distrito de Barro vermelho.

 

MESSEJANA E SUA ESTRADA

 

# Aldeia de índios sob o nome de Paupina foi ereta em Vila Nova Real de Mecejana em 4 de janeiro de 1760. Messejana pelas cartilhas de Portugal já se chamou Vila e Freguesia de Beija; depois Freguesia Maxial no Distrito de Lisboa. Em local próximo a uma lagoa fora erigida uma Capela que dedicaram a N.S. da Conceição. O romantismo da lagoa nos é blindado por José de Alencar, romancista que deve ter tomando muitos banhos lá, pois ele fez essa conferência In-Loco, haja vista o local ter sido seu berço. #

Texto Compilado

Vamos lá.

A via que se transformaria em Rua Visconde do Rio Branco nasceu na lagoa do Garrote, quando o Senador Martiniano de Alencar, pai do romancista em 1836 havia construído a segunda artéria carroçável para o Sul da então Província, já que a primeira foi aproveitando a Estrada do Mondoig (Mondubim) construída pelos Holandeses. Depois esta estrada denominou-se Caminho do Arronches (Porangaba), Visconde Cahuype, e hoje Avenida da Universidade,

Lagoa do Garrote 1937

Aos que desconhecem a história desta Rua Visconde do Rio Branco ela de início saía do Boulevard do |Livramento, ia em tangente até a Vila Cazumba, atual Conjunto Tancredo Neves, beirando o Rio Cocó.

Como o movimento era menos e com carros pequenos, inclusive o transporte coletivo, cujo terminal era na Cidade da Criança, existia mão dupla. As vezes as coisas se intensificava, quando alguém ia para as compras no Centro da Cidade e de lá resolvia ir para o Cine Atapú, que ficava na esquina da hoje Avenida Pontes Vieira no lado Sudeste do cruzamento.

Busquemos recuar no tempo.

O lançamento da pedra fundamental, da usina e casa das máquinas para bondes (Tramway) elétricos de Fortaleza, da The Ceará Tramway Light & Co.  no Passeio Público (Usina) ocorreu no dia 9 de maio de 1912. A Central era localizada no chamado calçamento de Messejana, depois Boulevard Visconde do Rio Branco, entre as ruas Padre Valdevino e a Rua da Bomba (hoje Rua João Brígido).

A The Ceará Light & Power  Cº Ltd para incrementar seus serviços ainda fez uma extensão para  Messejana, utilizando tecnologia com tratores do tipo “Simplex” uma espécie de Bizarra de Tramway. A linha era de Fortaleza para Cajazeiras, mas com a implantação dos ônibus em Fortaleza houve o enfraquecimento desse tipo de transporte. Surgiram as Empresas “Dois Irmãos” depois Oscar Pedreira em 1928 e a Viação Iracema. Daí a Ligth com a evasão de passageiros entrou para o déficit.

Havia sido criada uma parada oficial no trecho Capital/Messejana que distava em 2 léguas e criou a Vila Cazumba (hoje Conjunto Tancredo Neves), quando passou a ser pousada obrigatória de viajantes e tropeiros que viviam em andanças pelos sertões. Era uma coisa extraordinária as carnaubeiras e mandacarus verdadeira flora, ornamentada pelo rio Cocó.

O bonde com essa concorrência ficou indo somente até o Cine Atapú, quando finalmente em 1947 desapareceram.

Ponte que Separava Alto da Balança e Vila Cazumba

Os fortalezenses saiam para Messejana por esse via em que sofrera modificações: em 1973 o Prefeito Vicente Fialho cortou a Estrada de Messejana com a Avenida Aguanambi, juntamente com a construção da Borges de Melo que era apenas uma via quase privada, pois só existia pavimentação até a Base Aérea de Fortaleza, fazendo bifurcação com a Estrada supra mencionada. Existia a Vila Militar e o Colégio Geny Gomes com a Capela ao lado da Base.

Hospital de Messejana

Circularam por o trajeto original da Rua Visconde do Rio Branco as linhas mantidas pela Autoviária Fortaleza: Djalma Petit, Aerolândia, Alto da Balança, Dias Macedo; para  Messejana só os da Viação Cruzeiro que atendia Vila Cazumba (Cajazeira), Sanatório fazendo ponto final na Praça do Distrito, após apreciação da ainda bela lagoa, onde Alencar tomou banho.

      Ônibus que faziam Linhas na Estrada.

Hoje Messejana é uma cidade, tal qual Parangaba até na aparência geográfica. Atualmente o Trecho a partir do Final da Avenida Aguanambi virou BR 116. Com o alargamento de 1981, tornou-se uma via de trânsito rápido por conta da realidade.

Lagoa de Messejana em 1919.

A Prefeita Maria Luiza Fontenelle deu nome ao Conjunto que fora Construído em local onde existia a Vila Cazumba, e homenageou o Presidente eleito Tancredo de Almeida Neves em 1986. Esses são fragmentos históricos que são levados pela poeira do tempo

Hoje Messejana ficou bem ali!

Messejana Antiga

  .

 

 

ORDENAMENTOS URBANOS E A SAUDADE

 

A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da Administração do Senador Alencar (1834-1837).

O Presidente da Câmara na gestão Provincial de Alencar era o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira, a quem a cidade deve imensamente. Com uma fiscalização ostensiva, o mesmo colocava a Filantropia em primeiro lugar e a política em segundo. Quando ele chegou em Fortaleza foi morar em um casarão de três portas, no logradouro ícone que leva seu nome.

A demanda de pessoas enfermas era tanta, que sua casa não dava para atender; com esse mérito foi que o mesmo conseguiu espontaneamente cair na graça do povo.

A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A Rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai em tangente até as primeiras serras, como Pacatuba e Guaiuba na hoje Região Metropolitana.

Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas, quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos. Chamada de coração da cidade (Praça do Ferreira), de lá observamos as quadras de Ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster.

As pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade. Muito se reclamou, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que por anos ficou sem sossego.

Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento destes locais, senão o Centro vai morrer.

Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dá como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em número de duas. Havia duas castanholas.

O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios. (Ainda assisti partidas entre Usina São José x Usina CearáMessejana x José de Alencar dentre outros. Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil –  Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1965.

Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia, à Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele.

Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar.

A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho.

Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as últimas palavra de José de Alencar no romance Iracema:

“Tudo passa sobre a terra”.

CASA VILAR

A Casa Vilar em Fortaleza nasceu por iniciativa do comerciante João da Silva Villar, aos 15 de agosto de 1854. Devido sua extensão, ocupava todo o quarteirão da Rua da Palma (Major Facundo) até a Rua Formosa, (Barão do Rio Branco).

Incidente Político na Casa Vilar

Antes de ser Casa Vilar era a residência do Major João Facundo de Castro Menezes, que sendo aracatiense aqui chegou em 1818, onde fez carreira militar e política..

Modificações na Política Cearense

Era o Vice-presidente da província na chapa do Brigadeiro José Joaquim Coelho, quando em 1841 foi assassinado na calçada de sua residência à tiros com arma de fogo, execução esta por pistoleiros de encomenda. A mansão passou tempos desocupada.

Registro de 1906

Na Casa Villar se encontrava tudo o que se precisasse em matéria de ferragens, peças de bondes, e até mesmo posteriormente peças de locomotivas da Estrada de Ferro de Baturité, que vinham da Inglaterra e Estados Unidos. Era bastante intensa as encomendas que chegavam no Poço das Dragas, importadas para esse comércio que ficou de 1854 até 1959.

Reclame de 1909

MINHA FORTALEZA BELEZA

MINHA FORTALEZA BELEZA

 

#Parabéns Fortaleza minha

Tua memória não morrerá

O pesquisador te abraçará

Nunca ficarás sozinha#

 

  Objetivando criar uma feitoria na Índia (Ásia) e garantir domínio português, foi organizada por Portugal uma respeitável esquadra com 13 navios e 1.500 homens, sob o comando de Pedro Álvares Cabral e que, deveria respeitar o TRATADO DE TORDESILHAS assinado entre Portugal e a Espanha. Havia limites aos territórios que a partir de então fossem descobertos pelos dois países, onde fora estabelecido uma linha imaginária em que, 370 léguas ao Oeste do arquipélago de Cabo Verde ficariam com a Espanha e, a Leste seria de Portugal.

A Europa tomou conhecimento da existência do Brasil, quando em 2 de janeiro de 1500, o olhar pioneiro do navegador espanhol Vicente Ianez de Pinzon captou as dunas do que seria o Siará Grande, porém, devido ao tratado de 1494, a descoberta oficial deveria ser dos portugueses, coisa que só aconteceria na Bahia aos 22 de abril de 1500.  Pedro Álvares Cabral que, não era bom navegador, mas, era Cavaleiro da Ordem de Cristo comandava a esquadra portuguesa, que além da missão de estabelecer uma rota comercial com a Índia, ele deveria no caminho desviar-se para a direita no oceano atlântico, e foi quando chegou ao litoral do Novo Mundo.

À princípio as novas terras não despertaram muito interesse, porém, para garantir aos portugueses a posse da terra diante da ameaça representada pela presença dos navios estrangeiros, a partir de 1530 foi resolvida a colonização do Novo Mundo, através de um Governador Geral e a criação das Capitanias Hereditárias, cuja do Ceará, foi entregue ao donatário Antônio Cardoso de Barros que, nem chegou a tomar posse.

Naquele momento, a Coroa Portuguesa estava concentrada nas riquezas asiáticas e africanas, porém, no litoral descoberto, a presença do Pau-brasil da qual se extraia tintura para tecidos, oferecia uma das poucas possibilidades de exploração econômica para os comerciantes portugueses. Portugal logo estabeleceria o monopólio real sobre essa riqueza e, arrendou o direito de exploração a um grupo de comerciantes portugueses, liderado por Fernando de Noronha. Nasceu assim o bonito nome BRASIL, a terra mais rica do mundo.

Como pesquisador curioso, quero através deste opúsculo revelar um erro que é cometido com a nossa história. Cristóvão Colombo (italiano de Gênova) saiu e no caminho com um maremoto não sabia mais para onde ia; quando chegou não sabia onde estava e, quando voltou não soube onde esteve. Estando na América em outubro de 1492 pensou estar na Índia. Assim os verdadeiros nativos americanos, erroneamente foram chamados de índios.

Voltemos ao Vicente Pinzon. Tomás Pompeu Sobrinho e outros historiadores renomados afirmaram ser: “O Cabo de Santa Maria de La consolacion, o Rostro Hermoso como a Ponta Grossa ou, Jabarana no Município de Aracati”. Já o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem defende que, o local visitado pelos espanhóis era a ponta do Macorie, nome este encontrado no mapa das Capitanias Hereditárias em 1574. Posteriormente a nomenclatura Macorie sofreu corruptela terminando em Mocoripe – Mucuripe.  José de Alencar, o romancista diz que, essa palavra vem de Corib “Alegrar” e Mo vem do verbo Monhang, tornando o ativo passivo. Talvez Alencar referiu-se aos morros, por ter causado alegria aos navegantes. Alencar concordou com os estudos, ratificando as conclusões de Adolfo Varnhagem.

Em 1603, Pero Coelho de Souza, português natural de Açores, munido da bandeira de Capitão-Mor, chegando ao Ceará, não conseguiu se instalar no Rostro Hermoso tendo em vista, os nativos oferecerem resistência. Os habitantes primitivos da provável Ponta do Mucuripe, aos poucos foram sendo dominado pelos invasores e, com a imposição da cultura lusa, esse povoado foi se adaptando à civilização, porém, por amor aos morros, ao navegável Riacho Maceió e a calma oferecida pelo iodado vento leste, preferiram viver isoladamente, tendo a Caça e Pesca (nome de bairro) como produtos de consumo e exportação.

Aos 20 de janeiro de 1612, Martins Soares Moreno nas margens do Rio Siará (Barra do Ceará), fundou o Forte São Sebastião mas, a cidade só se expandiu com o estabelecimento da ocupação holandesa, que levou Matias Beck em 1649 construir na margem esquerda do Rio Pajeú, no monte Marajaituba (próximo a onde seria a Santa Casa e Passeio Público) um Forte que, recebeu o nome de Schoonemborch, como homenagem ao holandês Governador de Pernambuco. Talvez por falta de chamativo, ninguém nessa época se interessou pelo Riacho Jacarecanga já existente.

Aos 13 de abril de 1726, por ordem Régia foi instalada pelo Capitão-Mor Manuel Francês a “Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção” do Siará Grande e, assim começou a crescer a “Loura de Sol e Branca dos Luares”, embora concordemos com o historiador Raimundo Girão que, a data seja 10 de abril de 1649, com o erguimento do Forte. Esse mais de meio século excluído, já foi motivo de polêmicas política e religiosa, pois, a Coroa portuguesa não admitia Fortaleza ser fundada por Matias Beck, que era holandês e Protestante (Calvinista). Com a expulsão dos holandeses em 1654, no local do Forte Schoonemborch, foi construído a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que dá nome a Cidade.

Seja como for, é notório o engano de se comemorar a festa de Fortaleza, por um ato da Corte, e não porque a cidade nasceu.

Hoje quando se fala na história de nossa querida Cidade, todos correm para o Forte ao lado da 10ª Região militar, para o Passeio Público, Praça do Ferreira. Falam da existência da primeira Coluna da Hora, Velha Intendência, Abrigo Central, os Coretos, Jardins, e bancos que até eram nomeados. Tinham na Praça do Boticário quatro cafés: Do Comércio, Elegante, Iracema e o Java.

É sempre lembrado no começo de cada mês de abril, o Cajueiro da Mentira. Os cines Polytheama, Júlio Pinto, Majestic, Moderno, Diogo, São Luiz, o Rex, Jangada, Art. No Bairro Farias Brito (Octávio Bonfim) tinha na Rua Teófilo Gurgel o Cine Nazaré; quando foi fechado, aumentou a frequência do Cine familiar já na Praça do Bairro ao lado da Igreja Matriz, na Rua Dom Jerônimo. Em Parangaba Tinha o Cine Tupinambá, sem esquecer o Atapu, São Gerardo, dentre outros.

Os saudosistas recordam com tristeza, ao contemplar as transformações paisagísticas por conta da realidade, abominando os crimes contra a memória, que se opõem à sua geografia sentimental. Cadê os bondes da Tramway? Os ônibus do Oscar Pedreira instalados em 1928 desapareceram juntamente com a “Vila Quinquinha” e a Casa do Pedro Philomeno, mansões que se situavam no inicio da Avenida Francisco Sá. Onde foram parar os ônibus elétricos da CTC que, com nove carros atendiam a demanda das Avenidas Bezerra de Menezes e João Pessoa? Por que derrubaram a Vila Itapuca na Rua Guilherme Rocha, a Fênix Caixeiral e o Edifício Guarany (Rádio Iracema) na Praça José de Alencar?!

Fortaleza já foi palco de diversos acontecimentos cívicos e políticos, classificado como anarquia. Até já vaiou o sol na Praça do Ferreira, no dia 30 de janeiro de 1942. É uma cidade que deixou para trás a presença de personagens populares. Ao paginarmos esta história encontramos o “Bembém da Garapeira”, “Chagas dos Carneiros”, “Manezinho do Bispo”, “José Levi”, “Pilombeta”, “Maria Rosa, a velha Escrava”, “Pedro da Jumenta” e até mesmo o carisma que foi dispensado ao adestrado “Bode Iôiô”. Em um passado próximo tínhamos o “Pedão da Bananada”, “Feijão Sem Banha”, o “Burra Preta”, “Zé TáTá”, o “De Menor”, o “Deixa que eu Empurro” , “Bodinho Jornaleiro”, “José do Buzo”, “Coronel dos Bodes”, “O Waldo do Café”, “ O homem do facão”, “Casaca de Urubu, o cobrador”, “José de Sales, bandolinista”, “A Ferrugem”, “Maria Pavão”, “O furacão preto”, “Chico Tripa”, Zé Batata”, “O Cheiroso da Pipoca”, “O Fedorento do Picolé”, “Chapéu de Ferro”, “O Xaveta”, “O Boi sem Osso”, e tantos que os anos carregaram. Fortaleza era o Xen-iem-iem do saudoso radialista Wilson Machado.

Fortaleza tinha de tudo, e não foi por conta do advento dos planos urbanísticos e projetos de remodelação e aformoseamento.  Mesmo recebendo novas técnicas e mudanças de uso do solo, não consegue esconder a segregação, revelando-se uma cidade real com situação desigual. É luxo, é lixo. Com esse crescimento desordenado, vão surgindo áreas de risco. Em locais que outrora fora ocupado por residências estão transformados em comércio, onde, diga-se de passagem, não oferece o menor conforto. O Shopping do Camelô que, por ocupar uma área não urbanizada, recebeu como herança o nome da própria vilela: Beco da Poeira. (Hoje é ocupado por uma Praça sem vida e no subsolo, passagem do Metrô).

Todo fortalezense se orgulha pelo que ainda resta no Centro, pelas belas praias, a ponte dos Ingleses e Estoril. Cantam com orgulho seu hino, e participam civicamente dos festejos alusivos a todo 13 de abril desde 1726.

Bem que podíamos fazer um bolo maior e aumentar o numero velinhas….

Diassis Lima

 

 

 

 

MONDUBIM TEM OUTRAS HISTÓRIAS

Mondubim tem outras Histórias

 

 

A antiga e carroçável estrada que ligava Fortaleza à Cidade de pacatuba, partia do bairro Benfica e chegando no distrito de Arronches (atual Parangaba), contornava a Lagoa de Maraponga tomando rumo ao Sertão.

Com movimentação nas Vias é comum as famílias se organizarem nas beiras das estradas e explorarem a área economicamente, quer seja para subsistência ou para atender os transeuntes, formado assim os distritos. Foi assim que os nativos na zona de Mondoig (nome dado pelos holandeses) cresceram e fundaram o Mondubim. (Mondubim, Mundubim, do Guarany, corruptela de Mendobi, Mandubi=Está em montão).

Mondubim ao se organizar como distrito, tornou-se uma zona de exportação de madeiras e tijolos de alvenaria, levando então os Srs. diretores da então Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité (que já foi RVC, RFFSA e hoje Metrô) a construírem uma estação no Km 13,2 com altitude de 23,46 m, cuja inauguração ocorrera aos 14 de janeiro de 1875 quando, lá chegou o primeiro comboio sendo recebido pelo Chefe nº 1 da estação, Sr. Nelson Brígido dos santos. Assim os madeireiros e proprietários de olarias desde então, passaram a exportar seus produtos por trem e, os passageiros comodamente iniciaram suas viagens.

Mondubim em 1940, ainda era uma réplica do refrescante vento praiano; O trem suburbano chegava junto com o pôr-do-sol, de onde se observava no pátio ferroviário o Valdemar Caracas (nos deixou em 2012) que, mesmo sendo secretário do diretor da RVC, dava suas recomendações em campo. O seu Oscar Sá benevides, agente da estação, se alegrava com a afluência dos passageiros e dos tradicionais visitantes.

Hoje, o bairro ainda é muito arborizado, mas o alargamento das ruas, o trânsito agitado e a proliferação de empreendimentos por conta da realidade, tiraram do local aquele naturismo.

A bonitinha estação ícone da zona desapareceu em 1981.

 

 

 

 

 

 

 

CONJUNTO CEARÁ ANTIGO CARNAUBAL DA VENEZA

                                                            SINTESE HISTÓRICA DO CONJUNTO CEARÁ

 

 

O ANTIGO CARNAUBAL DA VENEZA

Não para de crescer o Conjunto Ceará

Que se transformou em mini-cidade,

Que traz tanta felicidade

E só construir, conservar, amar…

Do autor

 

Era 1970.

Enquanto o mundo científico discutia com otimismo, a conquista do homem na lua, o Brasil era destaque na dimensão esportiva, com o primeiro título de Tri-campeão mundial de futebol, com o Jairzinho camisa sete. Ele foi o furacão, tendo em vista ter sido o artilheiro, daquela inesquecível copa que foi a copa da minha meninice e, diga-se de passagem, a primeira transmitida ao vivo pela televisão brasileira, ainda que em preto e branco.

Em Fortaleza, apesar dos chamados pichadores ocuparem os muros com a trivialidade “Abaixo a Ditadura”; o clima era de antagonismo a tudo o que se passava. Apesar de ter sido um ano eleitoral, ainda hoje o Nordeste não tem peso político para as grandes decisões nacionais. O título Terra da Luz foi uma bravura que, a história anexou aos grandes feitos, mas foi no passado, passou…

Foi no governo chamado por muitos “Os Anos Negros da Ditadura”, que se iniciou uma política habitacional, através de recursos, do já extinto Banco Nacional de Habitação. O presidente Emilio Garrastazu Médici que havia assumido a Suprema Magistratura da Nação em 30 de outubro de 1969, foi um homem que, mesmo com o Congresso Nacional mutilado, conseguiu assistir ao homem do campo, hoje o inverso. Não estou para defender regime autoritário.

O presidente Médici criou o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Pró-Rural). Pergunta-se: Quem criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL? Quem criou o FUNRURAL, hoje o maior distribuidor de renda para o homem do campo? A história está ai para fazer justiça aos seus criadores.

A história do pomposo Conjunto Ceará nasceu neste contexto. Os cearenses sempre foram vitimas de constantes secas, e não é novidade migrações. O êxodo rural incha as cidades grandes, e os flagelados começam a se refugiarem em áreas isoladas formando favelas, e consequentemente com a instalação de casebres em locais indevidos, surgem as chamadas áreas de risco, ou indústria da miséria.

O problema é que, com o retorno da estação chuvosa, os refugiados já estão adaptados ou se adaptando com a vida urbana através do mercado de trabalho, até mesmo com a mão de obra não qualificada e permanecendo no mesmo local. Quando um homem entra no mercado de trabalho, aí sua família entra no mercado de consumo. O interior fica esquecido.

Foi a hiper-população da Capital cearense que fomentou e tornou urgente, a aprovação do projeto do Governo Federal para a construção de casas populares, e o Conjunto Ceará fora inserido neste programa. A área escolhida, para melhor compreensão do leitor, foi de uma baixada após o Campo da Granja (hoje Praça da granja Portugal) até a beira da Via Férrea de Sobral, onde abrigaria as suas 4 etapas. O terreno onde foram construídas as primeira, segunda, e terceira etapas denominava-se Estivas, e após o canal, que um dia foi braço do rio Maranguapinho e uma verdadeira riqueza em carnaúbas, havia tomado a nomenclatura de Veneza, pois eram terras que na época das sesmarias foram herdadas pela a família de Manuel Francisco da Silva Albano, dentre os quais um fora agraciado como Barão de Aratanha (nome de rua no centro da cidade de Fortaleza).

O local já pertencente ao Município de Caucaia, denominou-se Parque Albano. Ali o trem da antiga Rede de Viação Cearense – RVC (depois RFFSA, hoje Metrô / Transnordestina) de 1917 até 1931, fazia parada no km 11, tanto para recebimento de gado, exportações e o envio de pequenas encomendas. O prestígio da família era grande perante a administração da Companhia Ferroviária. O trem suburbano do distrito de Barro Vermelho (Antonio Bezerra) ia direto para Soure (Caucaia). Foi aí que a população ribeirinha do Genibaú e da Jurema reivindicaram paradas para o trem suburbano.  O trem ficou parando no km 10 (hoje São Miguel) e Jurema a partir de 1945. A quarta etapa do Conjunto Ceará apesar de ter sido a última, parece que pela etnologia topográfica tem uma história mais rica.

Situada essa zona Oeste para o Conjunto Ceará, a área havia sido demarcada ainda na gestão de Plácido Castelo, que em cumprimento ao programa estabelecido pelo governo Federal, as obras de infra-estrutura só foram iniciadas no final do “Governo da Confiança”, ou seja, em 1974 quando o governador César Cal’s estava prestes a passar o governo para o Cel. Adauto Bezerra.

Cognominado a Capital da Periferia, o Conjunto Ceará começou a receber as famílias em sua primeira etapa com 966 casas, cuja solenidade de inauguração ocorrera aos 10 de novembro de 1977. Referido evento contou com as presenças de várias autoridades, dentre as quais o Governador Adauto Bezerra, que estrategicamente construiu a Avenida José Bastos para o devido escoamento de veículos que, para o Conjunto viria. A Avenida João pessoa não comportaria a demanda.

A segunda etapa ficou pronta em 1978, com 2.516 unidades, a terceira em 1979, e a quarta em 1981. A RFFSA (Metrô e antiga RVC) desde a inauguração do Conjunto já havia começado a parar o seu trem no km 12, mas a inauguração oficial da estação data de 19 de fevereiro de 1982. A estação Parque Albano só iria ser inaugurada em 1995.

Pois bem, assim como bola de neve, os moradores de um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, foram triplicando, e lógico, cada um com seus empreendimentos libertando-se parcialmente assim do comércio do Centro e os Shoping. Acompanhada pela equipe de Assistentes Social da extinta Cohab, os moradores foram se adaptando.

Hoje o bairro cuja oficialização foi por conta da lei nº. 6.504 de 11 de novembro de 1989, conta com mais de 130 mil habitantes, que vivem em torno de 15 mil residências. Conta o CC com 11 Unidades de Vizinhança (UV’s), 12 avenidas, um hospital maternidade, um Posto de Saúde da Família (Maciel de Brito), duas Vilas Olímpicas, um terminal rodoviário do sistema de integração, três linhas de transportes alternativos, Várias autoescolas, posto da ABCR, Um Liceu, Creches, mais de 50 escolas públicas e particulares, uma delegacia distrital, um contingente militar que forma a 4ª Cia. do 6º BPM, Bombeiros, um juizado de Pequenas Causas, o Centro da Cidadania Lúcio Alcântara (antigo CSU), três agencias bancárias, serviço de Correios, escritórios da Enel e Cagece, Centro Cultural Patativa do Assaré, além do Pólo de Lazer Luiz Gonzaga. Na área religiosa as igrejas são as mais diversas: Católicas, Evangélicas dentre, as afro-brasileiras.

Aqui termino com duas reivindicações de todos os moradores: a Instalação de um Cartório Legal, e uma linha de ônibus Conjunto Ceará-Parangaba.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FORTALEZA E SEU TAPETE DO ASSENTAMENTO

                          FORTALEZA E SEU TAPETE DO ASSENTAMENTO

 Fortaleza, loura do Sol e branca dos luares é um verdadeiro arquivo topográfico que, por mais que se pesquise, sempre fica algo para ser descoberto, o que não esgota a mão de obra de futuros pesquisadores. Ninguém na íntegra conhece a história de nossa linda, porém, inquieta Fortaleza. Toda cidade fica em seu padrão, mas a Capital alencarina nunca falta o que fazer. A exemplo temos, a Praça José de Alencar, era um arborizado terminal de ônibus, e na gestão Maria Luíza, derrubaram todo quarteirão da Família Mamede, e com ele foi embora o Edifício Guarani (Rádio Iracema), permanecendo o Beco da Poeira, depois Shopping do Camelô e, já se vão trinta e cinco anos e a Praça agora é que se aquietou em 2020.

Isso é só um exemplo que tem pessoas que nasceram em 1986, e até hoje não usufruíram da praça, nem como transeunte. Possa ser agora.

Voltemos à nossa temática. Quem está em Fortaleza ver tudo plano, mas quando nos dirigimos para a Orla Marítima, aí nos deparamos com os declives, muitos acentuados como o da Santa Casa de Misericórdia, primeiro hospital de Fortaleza.

A resposta está nos escritos do inglês Henry Koster, que por aqui passou e do alto mar só viu muitos morros, e uma Vila bastante desenvolvida com cerca de 2.000 habitantes. O arruamento e ordenação urbanista tiveram inicio no quartel Militar, daí surgindo a Rua do Quartel que hoje tem o nome de General Bizerril. Esse processo começou com Luís Barba Alardo de Menezes, mas a concretização foi com Manuel Ignácio de Sampaio, auxiliado por Antonio José da Silva Paulet por volta de 1815.

Os mais antigos conservam a nomenclatura de Morros, e a ratificação é Morro de Santa Terezinha (Mucuripe); Morro Meireles (Palácio da Abolição); Marajaituba (Passeio Público); Croatá (Estação Ferroviária); Moinho (Padre Mororó); Japão (Noroeste do Pirambú).

Adentrando na cidade ao sul, ainda restam Alto da Balança na saída pela hoje BR 116 vizinho ao Bairro Aerolândia e, entre as Avenidas Bezerra de Menezes e Sargento Hermínio, topograficamente nota-se a diferença de Nível por detrás do North Shopping: é o bucólico Monte picú, nome pouco conhecido, e eu muito andava lá, pois, tinha o meu Tio José Porfírio que, lá se estabeleceu nos anos da década de 1950. Hoje é o Bairro Presidente Kennedy.

Quando estamos no Palácio da Abolição (Governadoria do Estado), e queremos ir para a praia é como se estivéssemos em queda livre. Quem está na Estação Ferroviária e/ou Igreja dos Navegantes defronte ao Hall da Escola de Aprendizes Marinheiros, contemplamos os verdes mares com 15 metros de altitude.

Nesse tapete/solo existem cortes hídricos que outrora navegáveis, hoje são capilares inexpressíveis, “Graças” a especulação imobiliária e o desordenamento promíscuo, as chamadas Áreas de Risco. Três são os que desaguam no mar: Maceió no Mucuripe; Pajeú no Centro e o Jacarecanga do mesmo nome do Bairro. Podemos citar outros rios como o Cocó, Riacho Parreão e o Aguanambí. A expressão Aguanambí Agua+Nambí vem do hibrido Português e Tupy que quer dizer “Só tem um braço”. Traduzindo um rio que só tem um curso.

a gestão Vicente Fialho, que mesmo sendo filho de Tauá, aqui em Fortaleza por pertencer ao partido dominante, Arena, foi nomeado pelo Governador Cesar Cal’s como Prefeito da Capital. Pense leitor amigo, numa Fortaleza sem saída Sul, e foi nessa visão de mobilidade urbana que, em 1973 essa importante Avenida Chamada Aguanambí foi inaugurada, concomitantemente com o Terminal Rodoviário Eng.º João Thomé.

Para quem queria ir para Messejana, numa via sem pavimentação asfáltica nos obsoletos ônibus da extinta Viação Cruzeiro, agora ver o quanto esses homens (Cesar e Fialho) tinham visão de futuro. Lamentamos a especulação ter que desviar e afunilar curso de importantes rios, mas com um pouco de educação, não é possível que Fortaleza um dia não tenha sossego!

É impossível Fortaleza voltar a ser descalça, mas por que não transformá-la numa metrópole modelo? Quase que conseguíamos no ano 2000, mas no meu entender, impensadas obras do Metrô desassossegaram moradores e transeuntes motorizados, afora transtornos no comércio.

Muito fácil: a Avenida Tristão Gonçalves poderia ter recebido pilares, o que tornava a viagem do novo trem panorâmica, as obras eram barateadas, teria ficado mais lindo. São boas as coisas modernas e estéticas, mas devemos construir para usufruir e não para posteriori. Custo hoje, Benefício só Deus Sabe?

Na Avenida Aguanambí o encontro de gerações: o Rio e a Mobilidade Urbana.

Quanto ao tapete/solo, gerações vêm e passam e por cima. É vencedor da idade. É imutável. Desde Vicente Pizzon (Janeiro de 1500) ao José Sarto tem que ficar como a natureza criou.

ANTONIO BEZERRA ERA BARRO VERMELHO

  DISTRITO DE BARRO VERMELHO

 Localizado na Estrada do Soure, hoje Avenida Mr. Hull, Barro Vermelho era uma verdadeira Floresta, onde ficava o Sítio do escritor e historiador Antonio Bezerra, verdadeiro enamorado de nossa Fortaleza Antiga, a Belle Époque.

Findando-se o Bairro Alagadiço (São Gerardo é o nome da Igreja), iniciava o então distrito de Barro Vermelho. Com o crescimento populacional, o espaço geográfico fora inchado e, assim deixaram de existir nas grandes cidades os chamados distritos, tais como de Parangaba (que já teve casa de Câmara e Intendência), Messejana etc.

A Rede de Viação Cearense – RVC ao fazer o traçado de construção da Estrada de Ferro Fortaleza – Itapipoca – EFFI incluiu a localidade Barro Vermelho, cuja estação fora inaugurada aos 12 de outubro de 1917, no km 7,506 com 17,099 metros acima do nível do mar. Essa foi uma estação destinada a atender o povoado, para o movimento de encomendas e gado bovino.

Devido o aumento da demanda de transportes e falta de espaço no pátio da Estação Central, a partir de 1922, as locomotivas e vagões imprestáveis passaram a serem colocadas num desvio na Estação Barro Vermelho que, passou a funcionar como um Cemitério de ferro velho.

Em 1 de janeiro de 1945, a direção da RVC mandou que a estação Barro Vermelho passasse a se chamar Antonio Bezerra. (Vide cronologia). Observemos o quanto as estações influenciam e são influenciadas pelos bairros e lugares onde são construídas. Os exemplos vêm do Bairro Farias Brito que devido à estação ficou sendo Chamado de Octávio Bonfim (Hoje desaparecida); O Bairro das Damas é conhecido como Couto Fernandes; a Estação Floresta, que já foi “mestre Rocha” foi influenciada pelo nome do bairro e agora é Álvaro Weyne; e a de Barro Vermelho, Antonio Bezerra.

Com o aparecimento do Frigorífico Industrial de Fortaleza – Frifort aos 24 de julho de 1959 foi construído um desvio no km 10 da Via Férrea de Sobral (Atual Conjunto São Miguel), com objetivo de receber os animais para o abate. Existia também na curva acentuada da linha quase na passagem de nível da Estrada de Soure, (o viaduto só foi construído em 1977), outro desvio destinado a uma empresa que manufaturava o Calcário, que também construía portes utilizados para rede elétrica. Toda a arrecadação, e supervisão do tráfego ferroviário eram sob, a responsabilidade da Estação de Antonio Bezerra.

Antonio Bezerra e Sua Estação

Foram os conjuntos construídos pelo programa habitacional do Governo na cidade Oeste, e o povoamento nas adjacências da hoje Avenida Mr. Hull, que transformaram o bairro Antonio Bezerra num dos Bairros mais populosos de Fortaleza, o que também viabilizou o projeto da já extinta RFFSA com a implantação da Coordenadoria de Transporte Metropolitano – CTM, que fez desaparecer a bucólica Estação de Antonio Bezerra em fevereiro de 1982. Referido projeto em 1988 fora entregue a Companhia Brasileira de Transporte urbanos – CBTU, e desde de 2002 está sob a administração da Companhia Cearense de Transporte Metropolitano- Metrô de Fortaleza.

 

Pequena Cronologia do Bairro Antonio Bezerra

A lei nº. 1913 de 31 outubro de 1921 determina que o município de Parangaba seja anexada ao de Fortaleza, transformando-se em distrito, levando consigo o distrito de Barro vermelho;

A Cavalaria do Quartel da Força pública foi inaugurado em 1 de janeiro de 1927;

A capela e Cemitério de Barro Vermelho foram inaugurados aos 5 de abril de 1936 com a presença do prefeito Álvaro Nunes Weyne e do Interventor Francisco Menezes Pimentel;

Em 28 de junho de 1937, saiu a lei nº. 79, que manda se chamar Antonio Bezerra o Bairro até então designado de Barro Vermelho;

Em 14 de julho de 1940, o Bairro Barro Vermelho é referendado pela Câmara Municipal de Fortaleza e oficialmente denominou-se Antonio Bezerra.

Aos 25 de março de 1942, a Policia militar mudou-se para Antonio Bezerra ficando até 1946, com o objetivo de alojar em seu prédio sede (no Bairro José Bonifácio) o 29º Batalhão criado por conta da Segunda Guerra;

Aos 11 de agosto de 1945, foi instalado o primeiro posto médico de Antonio Bezerra, mantido pela Arquidiocese de Fortaleza;

Em 27 de janeiro de 1946, foi inaugurada pelo lazarista Geraldo Godinho a paróquia de Antonio Bezerra;

Aos 18 de abril de 1948 ocorreu a inauguração do Grupo Escolar de Antonio Bezerra;

Em 27 de setembro de 1951 instala-se a subprefeitura de Antonio Bezerra, à frente o Bacharel Raimundo Delmino Evangelista;

Aos 5 de dezembro de 1951, é inaugurada a Praça José Acioli na qual fica a estação ferroviária, entre as rua Cândido Maia e José Aurélio;

Em 4 de janeiro de 1974, é fundada a Associação Desportiva Estação Antonio Bezerra, localizada defronte a estação do trem;

Em 1977 inicia-se em Fortaleza a circulação de ônibus inter-bairros, quando foi inaugurada a linha Parangaba – Antonio bezerra;

O Prefeito Evandro Aires de Moura inaugurou em 9 de março de 1978 a Unidade periférica Hospitalar, Evandro Aires de Moura, (Frotinha);

Em 1992 Antônio Bezerra e Messejana receberam os primeiros terminais de integração dos ônibus. Um ano após é que surgiria para complementar o serviço os terminais de Papicu, da lagoa, Parangaba e Conjunto ceará. O de Siqueira fora o último em 1995.

Aos 11 de dezembro de 2000, inaugura-se o terminal rodoviário de Antonio Bezerra que substitui a popular Rodoviária dos Pobres;

Antonio Bezerra tem Cartório Legal, uma rede bancária, Shopping, Terminal de ônibus do sistema integrado, complexo industrial, igrejas católicas e evangélicas, hospitais e templo de cultos afros.

É uma Fortalezinha.

 

MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

                                   MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

 

É impossível desassociar o movimento de mercado e/ou feira livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias ao que está defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante.  O negócio é vender.

O primeiro mercado livre de que há registro no Centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas, o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que apesar de ter sediado uma das agências do extinto Banco do Estado do Ceará – BEC, hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.

O segundo Mercado livre, com planta do Engenheiro português Antônio José da Silva Paulet (nome de Rua) teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o Mercado Central na Rua Cond’eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.

A Fortaleza ainda Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a Rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado Norte desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês!

Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Piões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.

No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do mercado São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da Praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu saudoso pai, fiscal Valdemar Alves de Lima na época à serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatórios enfatizando promiscuidade e irregularidades, mas, parece que a resistência do popular neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela Rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no conhecido Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “sobral” e “Iguatú”.

Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos da CTC do bairro Alagadiço, mas que a placa de destino era “São Gerardo”. Os que hoje, não trafegam pelo inicio da Avenida Bezerra de Menezes são integrados, ao terminal de Antonio Bezerra.

Mercado São Sebastião (1937 – 1965)

A construção do novo mercado São Sebastião na Gestão Antônio Cambraia (1993-1997), resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a Rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a Rua Padre Mororó, esta que antigamente chamava-se Rua São Cosmo (1888), Rua 16 (1890) e ligava no sentido Norte Sul ao Morro do Croatá, ou seja, beirando a Praia do Jacarecanga e o Curral do Pecuarista Francisco Lorda; ia até ao inicio da Rua Flor do Prado atual Av.13 de Maio. A Estrada de Ferro em 1922 fez a primeira interrupção, e a segunda foi em passado recente, como já relatei.

No mais é só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio – SESC, que divergência foi aquela.

 Mercado São Sebastião (1965 – 1993)

Este pedacinho de Fortaleza foi assassinado esteticamente, para atender reclames dos que já haviam sido prejudicados com o desaparecimento da Sociedade de Investimentos e Empreendimentos LTDA – Siel, ou Mercado da Avenida Duque de Caxias, que funcionou de 1968 a 1973.

E o que os residentes têm a ver com isso, para perderem seu espaço, sua Praça e de modo compulsório conviver com mostrengagem? Ainda bem que mesmo particionado, o antigo Mercado de Ferro, está sobrevivendo, mostrando a posteriori que Fortaleza tinha Rosto.