Praia de Iracema
As obras do primeiro porto de Fortaleza foram iniciadas em dezembro de 1805 sendo concluída em 1807 no sítio chamado Prainha, em Fortaleza, com a construção de um trapiche.
Outros trapiches foram construídos mais tarde. Um deles pelo inglês Henry Ellery, o chamado trapiche do Ellery, a que se referem os historiadores e cronistas, e estava localizado na mesma área, construído provavelmente no ano de 1844. Existe documentação da construção de um terceiro trapiche concluído em 21 de junho de 1857, tendo como construtor Fernando Hitzshky, medindo 154m (cento e cinqüenta e quatro metros de comprimento) por 17,60m (dezessete metros e sessenta centímetros de largura), porém devido ao assoreamento por volta de 1870, já não havia mais condições de funcionamento em maré baixa, por isso devido as dragagens, o local foi batizado de Poço das Dragas.
Sir John Mawkshaw em 1875 propôs a construção de 670 m de extensão no antigo porto ligado ao litoral por um viaduto e, isto mobilizou também o Diretor em Chefe da Estrada de Ferro de Baturité (RVC – RFFSA), o engenheiro Carlos Alberto Morsing quando obteve aval do Imperador D. Pedro II e assim construir aos 17 de dezembro de 1878, um ramal ferroviário com o objetivo de comercialmente ligar o porto de Fortaleza (então Poço das Dragas) ao interior do provinciano Ceará, cuja finalidade era o escoamento das safras de café, algodão e o pastoreio.
Visando algumas vantagens, fora conseguida autorização do Ministério da Agricultura (à época), e o ramal prolongou-se até a alfândega sendo entregue ao tráfego no dia da pátria de 1879, quando passou a funcionar a Estação Ferroviária da Marítima. A extensão deste ramal era inicialmente 1,62 km numa tangente de 200 m, saindo da Estação Central pela Rua do Cemitério (Padre Mororó) cortando a propriedade da Família Torres, Arraial Moura Brasil, atual bairro dos Navegantes.
Em 1887 foi criado em Londres a companhia The Ceará Marbour Corpocition Limited que iniciou a construção do viaduto, conforme a proposta de 1875, mas aos 432 m as mesmas foram suspensas, pois datado o ano de 1897, o acúmulo de areias não permitia bom funcionamento.
Em dezembro de 1902 foram iniciadas as obras do Viaduto de Desembarque, a princípio com piso era de madeira. Havendo depois a substituição do piso por chapas de aço, a mesma recebera o apelido de Ponte Metálica, cuja inauguração oficial data de 26 de maio de 1906. As obras tiveram como responsáveis os engenheiros Hildebrando Pompeu (Cearense) e o escocês Robert Grow Bleasby. Os passageiros e cargas nesta ponte eram embarcados nos barcos e alvarengas até os navios que, ficavam ao largo.
Com sua estrutura comprometida, a ponte metálica em 1921 recebeu revestimento de concreto cobrindo toda a armação metálica. Depois o atual Dnocs que, na época era Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS resolveu reconstruir o Molhe de Desembarque, cuja responsabilidade foi do engenheiro Francisco Sabóia de Albuquerque. A reinauguração foi no dia 24 de fevereiro de 1929, com o nome de Viaduto Moreira da Rocha como uma homenagem ao ex-Presidente do Ceará. Os trilhos da RVC tiveram de sair da Rua da Praia (Pessoa Anta) e serem desviados por detrás do prédio da Secretaria da Fazenda (1927), e assim o trem passar a trafegar sobre a ponte metálica até um guincho que, existia na ponta do antigo porto. Os trilhos passavam defronte do Pavilhão Atlântico, restaurante situado na entrada da mesma.
Em 1908, a “Comissão Bandeira” realizou estudos com o objetivo de melhor localização do porto, onde teve como resultado a Ponta do Mucuripe.
O banho oceânico sempre favoreceu a atividade turística, por isso continua sendo cartão postal de Fortaleza a Boêmia Praia de Iracema, antiga Praia do Peixe, que no final do século XIX, os tradicionais chamavam Praia do Ceará. O nome Iracema só surgiu aos 07 de maio de 1925. O Restaurante Estoril havia sido construída em taipa no ano de 1920, como Vila Morena de propriedade do José Magalhães Porto. Na época da segunda grande guerra serviu de Point dos Norte Americanos e o Restaurante nesse período denominou-se USO United States Office. As mulheres frequentadores eram apelidadas de Coca – Colas.
Como Praia Passeio Público, existia o Restaurante Ramon e diversos empreendimentos, como por exemplo Estação Telegráfica.
A Ponte dos Ingleses
Com a finalidade de desafogar a Ponte Metálica, convém salientar de que, outro estudo sobre o porto havia sucedido como aconteceu em 1920, quando o Decreto n: ° 14.555, de 17 de dezembro do mesmo ano, aprovou o famoso projeto de Lucas Bicalho então Inspetor Federal de Portos, Rios e Canais. As obras portuárias foram contratadas com a sociedade inglesa Norton Griffith & Company Limited, e recebeu o nome Viaduto Lucas Bicalho. Os trabalhos de construção do que viria a ser chamada a Ponte dos Ingleses, ficaram a cargo do engenheiro J. H. Kirwood, assessorado por George Ivan Copo, Robert Grow Bleasby e Sebastião Flageli.
O início da construção ocorreu em março de 1923, contando a cerimônia com as presenças do Dr. Justiniano de Serpa, Presidente do Estado, Secretários, autoridades e convidados especiais.
Governava o país o Presidente Artur Bernardes da Silva que, posteriormente mandou suspender as obras, quando a mesma já estava com trezentas estacas de mar adentro, na alegativa da falta de crédito no orçamento e assim, a mesma fora entregue às intempéries. Portanto vamos este corrigir o segundo erro cometido com a história. A Ponte Metálica foi o antigo porto, e a Ponte dos Ingleses nunca funcionou.
Aos 4 de outubro de 1994 aí sim, foi inaugurada a Ponte dos Ingleses como um ponto de turismo e lazer. A abertura do evento contou com show dos músicos Elismário, Lucide e da Orquestra Tabajara que, fora regida pelo maestro Severino Araújo. Era governador tampão o Desembargador Francisco de Oliveira de Barros Leal (Presidente do Tribunal de Justiça do Ceará), que tinha assumido o cargo após a efêmera administração de Francisco de Paula Rocha Aguiar (Chico Aguiar).
Hoje a Praia de Iracema com seu aterro, é um atrativo turístico de Fortaleza, onde anualmente Fortaleza vem comemorar seu réveillon, com no mínimo dez minutos de queima de fogos nas balsas que, ficam isoladas do povo em festa como medida de segurança.
Adendo: O Porto do Mucuripe
Em 1929, ao hábil engenheiro Augusto Hor Meyll foi dada pelo Departamento de Portos, Rios e Canais a tarefa de fazer o projeto do novo porto de Fortaleza. Após seis meses realizando novos estudos, ficou mais uma vez constatado ser imprestável o local em frente à cidade e que, a melhor localização do porto teve como resultado a Ponta do Mucuripe, afinal a enseada de Mucuripe oferecia vantagens extraordinárias, conforme os preliminares estudos da “Comissão Bandeira” grupo este que, havia sido enviado pelo Governo da União em 1908. Sendo assim o Dr. Hor Meyll apresentou, aos 21 de janeiro de 1930, o seu projeto de construção do porto do Ceará, em Mucuripe, dizendo a certa altura. “Ou temos o porto na enseada de Mucuripe, ou nunca teremos um porto em Fortaleza.”.
Em 20 de dezembro de 1933, através do Decreto nº. 23.606, foi outorgada ao Governo do Estado do Ceará a concessão para construção, aparelhamento e exploração do Porto de Fortaleza pelo prazo de 60 anos.
A Revista do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro lançou uma separata em março de 1936 com o titulo: O Porto do Ceará. Nela está registrada a conferencia do professor Mauricio Joppert (membro do Conselho Diretor) onde é revelado um estudo oceanográfico do novo porto de Fortaleza, bem como algumas fotos dentre as quais a dos trilhos da Rede de Viação Cearense – RVC, que lá chegaram no natal de 1933, e pasme o leitor: a via férrea era beirando o mar.
Finalmente o Presidente Getúlio Vargas com o Decreto-Lei nº. 544 de 7 de julho de 1938, decide sobre a localização do novo porto de Fortaleza, definindo a enseada do Mucuripe.
Assim os navios começaram a abandonar a Praia de Iracema a partir de 1948, ficando suas instalações entregue as intempéries. Quanto a ferrovia em 1941 a linha do mar fora desativada, passando os trens a circularem pela Parangaba.
Em 1995 a RFFSA desativou a linha da Ponte Metálica e Alfândega, mas a Praia de Iracema continua linda.
Enfim a beleza do litoral cearense favoreceu a atividade turística, por isso cada praia, continua sendo cartão postal.