Assis Lima
Assis Lima

PARANGABA A ANTIGA VILA ARRONCHES

Aspecto Primitivo da Rua 7 de Setembro

“(…) havia uma formosa lagoa no meio de verde campina. Para lá volvia a selvagem o ligeiro passo. Era a hora do banho da manhã; atirava-se à água e nadava com as garças brancas e as vermelhas jaçanãs. Os guerreiros pitiguaras que apareciam por aquelas paragens, chamavam essa lagoa Porangaba, ou lagoa da beleza, porque nela se banhava Iracema, a mais bela filha da raça Tupã. E desde esse tempo as mães vinham de longe mergulhar suas filhas nas águas da Porangaba, que tinha a virtude de dar formosura às virgens e fazê-las amadas pelos guerreiros (…) Só havia sol no bico da arara, quando os caçadores desceram de Pacatuba ao Tabuleiro. De longe viram Iracema, que viera esperá-los à margem de sua lagoa da Porangaba…” (Do livro Iracema, José de Alencar , maio de  1865, Ediouro Publicações S/A pág. 51).

Cedo aprendi que, devemos falar do que se sabe e não de onde estamos, por isso me atrevo a falar sobre Parangaba.

A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.

Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, nesse período teve inicio a evangelização das populações indígenas onde, foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara, “O Senhor das Chuvas”.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa de Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois o tratou por filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois, os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa: “Arronches”. Aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova Arronches, quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.

Com uma distancia de légua e meia da capital, essa Vila tinha seis quilômetros em quadrado e era habitada por índios os quais, tinham a faculdade de plantarem na serra de Maranguape. Arronches era habitada por 1.080 índios, 693 extra-naturais e tinha cadeia e sua Casa de Câmara com intendente.

Uma separata da Revista do Instituto do Ceará publicada em 1898, diz que o Engº Português Antonio José da Silva Paulet (ajudante de obras do governador Inácio de Sampaio) chegando a Fortaleza em 1812, fez um levantamento, e constatou que a Vila estava quase em ruínas com apenas 13 índios, 12 extra-naturais e 25 casas dentre as quais só 13 em estado de habitação. O Dr. Paulet então sugeriu que a Vila Nova Arronches, se unisse à Fortaleza, coisa que, aconteceria em 1833 quando, o Conselho de Governo a extinguiu. Dois anos após, sua freguesia também veio para a Capital. (Fonte Arquivo Público do Estado).

Em 1836, o então Presidente da Província Cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada “Fortaleza – Baturité” e, depois relatórios deram conta de que em 1863, Arronches já era a feira do gado para consumo da Capital. (Daí o porquê da Avenida dos Expedicionários no antigo trecho Matadouro Modelo/Porangaba ter sido outrora chamada Estrada do gado). Arronches foi o primeiro distrito a constar no traçado da Estrada de Ferro de Baturité, cujo primeiro trem em caráter experimental chegou, pasmem a coincidência, também aos 14 de setembro de 1873, depois de 115 anos de emissão da ordem Régia de Portugal, criando sua Vila e Freguesia.

A circulação do primeiro trem oficialmente, data de 30 de novembro de 1873. Esse foi o primeiro transporte de massas que o interior do Ceará ganhou. Ainda sobre o projeto de o trem passar por Porangaba, João Brígido, enamorado de Fortaleza, publicou no jornal Unitário um artigo com o título Traçado da Estrada de onde extraí este pequeno trecho: “Muito em princípio a linha devia seguir um trajeto até Porangabuçu; daí noutra tangente até Arronches, mas o português Carneiro, muito influente na política do seu tempo, com terras por trás da lagoa de Arronches, obteve que se quebrasse a linha, para que esta inutilmente, chegando à extrema do seu sítio, fizesse a grande curva que apresenta cortando a Estrada empedrada para atingir a estação, com grande aumento de linha “(Edição 20.02.1908”).

Estação Ferroviária em 1911

O leitor agora pode compreender o porquê do trem que, partindo da Central ao sair da Estação de Couto Fernandes, faz uma grande curva à esquerda para depois compensar após a passagem do “bar avião” (marco inicial da Parangaba, cuja construção deveu-se a Antonio de Paula Lemos e inaugurado aos 23 de outubro de 1949). Referida Estrada Empedrada a que se refere João Brigido, é a hoje Avenida João Pessoa.

A grande reforma ocorrida no pátio ferroviário de Porangaba foi concluída em 28 de janeiro de 1941, quando o interventor Menezes Pimentel e o diretor da Rede de Viação Cearense, Dr. Hugo Rocha, inauguraram o ramal ferroviário Porangaba – Mucuripe, desativando assim o ramal da beira mar. O prédio da estação fora totalmente modificado, inclusive quanto à planta de situação e layout original.

Retroagindo.

Com o advento da República, havia sido cogitada a mudança da nomenclatura Vila Arronches, porém o nome lusitano permaneceu até 1944, quando o Decreto-lei nº. 1114 de 1 de janeiro de 1943, voltou ao antigo nome do aldeamento fundado pelo desaparecido padre Pai Pina: “Porangaba”, nome aliás que nunca deveria ter mudado, identificando sua lagoa. Os ingleses, por exemplo: proprietários da South American Railway Construction Company Limited, e que administraram a ferrovia cearense (1910-1915), tirou da estação o nome Arronches e colocou Porangaba. Coisas de europeus! Só em 1 de janeiro de 1945 era que, a RVC mudaria o nome de Porangaba, para Parangaba. Que descubram os entendidos o porquê da troca do “o” pelo “a”.

Retomemos, portanto. A ligação da Capital para Arronches, afora o trem, era por uma estrada, com cerca de 7.200 m de pedras toscas, de onde se fazia o percurso de carroças ou a pé.

Avenida João Pessoa em 1930

Em 1929 esta única artéria foi reconstruída e, coberta de concreto passando a se chamar “Washington Luiz” que era o então presidente do Brasil.

Ocorrendo a revolução de 1930, as placas da nova avenida foram arrancadas por populares, passando a partir de então a denominar-se “João Pessoa”, como uma homenagem ao Governador da Paraíba e que, como integrante da chapa perdedora de Getúlio Vargas, foi assassinado e o crime considerado de conotação política.

Até 1976 essa avenida era conhecida como “Avenida da Morte”, quando tinha duas mãos inclusive até para o tráfego de ônibus elétricos, já extintos. Então no governo do Cel. Adauto Bezerra, foi construída e inaugurada a atual Avenida José Bastos, e assim melhorou e muito, o acesso não só para parangaba, mas para bairros adjacentes, principalmente o Conjunto Ceará.

As provas de que Parangaba sempre fora privilegiada pelo progresso, constata-se pelas instalações de grandes complexos já desativados tais como: a Fábrica Santa Cecília, Usina Everest, Saronord…

Bar Avião 1941

Hoje esse populoso bairro é um cartão postal de Fortaleza. É uma mini-cidade com supermercados, indústrias, rede bancária, cartório, praças, hospitais, dois terminais de ônibus no sistema integrado.

Parangaba que, gentilmente cede passagem aos trens da Transnordestina logística S/A é assistida por suburbanos do Metrô com os TUEs – Trem Unidade Elétrica a cada 20 minutos.

E a lagoa? Continua bela, de onde se faz Cooper e observamos o desenho do lindo pôr-do-sol.

 

Nota: A lei nº. 1913 de 31 outubro de 1921, determina que o município de Parangaba seja anexada ao de Fortaleza, transformando-se em distrito, levando consigo o distrito de Barro vermelho.

 

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