PRADO, CAMINHOS DO ONTEM

 

Aspecto primitivo da Avenida Visconde Cauhype

 

Exórdio

Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, naquele período teve início a evangelização das populações indígenas aonde, foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara, “O Senhor das Chuvas”.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa de Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois, o tratou por filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois, os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia, extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa: “Arronches”, porém, aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova Arronches, quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.

Com o advento da República, voltou ao nome da Sesmaria “Porangaba”.

 

Parangaba a antiga Vila Arronches

“(…) havia uma formosa lagoa no meio de verde campina. Para lá volvia a selvagem o ligeiro passo. Era a hora do banho da manhã; atirava-se à água e nadava com as garças brancas e as vermelhas jaçanãs. Os guerreiros pitiguaras que apareciam por aquelas paragens, chamavam essa lagoa Porangaba, ou lagoa da beleza, porque nela se banhava Iracema, a mais bela filha da raça Tupã. E desde esse tempo as mães vinham de longe mergulhar suas filhas nas águas da Porangaba, que tinha a virtude de dar formosura às virgens e fazê-las amadas pelos guerreiros (…) Só havia sol no bico da arara, quando os caçadores desceram de Pacatuba ao Tabuleiro. De longe viram Iracema, que viera esperá-los à margem de sua lagoa da Porangaba…”

(Do livro Iracema, José de Alencar, maio de 1865, Ediouro Publicações S/A pág. 51).

A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.

Visconde Cahuype no momento do cruzamento dos bondes Benfica e Prado

 

 

 O Boulevard do Cahuype 

O antigo Boulevard Visconde Cahuype, localizado no Sítio Benfica, foi o antigo, estreito e carroçável caminho do Arronches que se iniciava na Praça Pelotas e ia prosseguindo para a lagoa da Porangaba, antiga aldeia indígena, como já foi descrito. (Em 1945 trocaram o “o” pelo “a”, que descubram os entendidos em corruptela.

A abertura do caminho (restrita a animais de galope), remota ao Holandeses no Brasil Colônia objetivando chegar as serras e ao chegar em Mondoig (Mondubim), foram expulsos. Naquelas aventuras é que foram descobertas duas grandes riquezas hídricas, maravilhas da natureza: as lagoas da Parangaba e Maraponga.

Em 1836, o então Presidente da Província Cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada “Fortaleza – Baturité” com mão dupla e, depois relatórios deram conta de que em 1863, já existia tráfego comercial.

 

Ficaremos na Avenida Treze de maio

Os transportes eram de tração animal, mas, o primeiro transporte coletivo fora os Carris da Companhia Cearense.

A linha Prado, seguia a mesma do Benfica, iniciando-se no cruzamento da hoje Avenida 13 de maio, quando o bonde entrava a esquerda e fazia ponto final na esquina da Estrada da Pirocaia (Avenida dos Expedicionários). Na época o local era chamado de Cachorra Magra, aonde ficava o Prado, hoje IFCE.

Acredita-se que a linha fora criada para atender famílias importantes do entorno, como a “Gentil”, daí Gentilândia.  O cruzamento dos referidos bondes era no início da Avenida Visconde Cahuype (da Universidade). Ainda sem nomenclatura oficializada, a própria Gentilândia era servida pelos bondes elétricos da Ceará Light que faziam as linhas Prado e Benfica.

Casarão na esquina da Av. Treze de maio.

Separação dos bondes Benfica e Prado 

 

#A questão de nomes e demarcações de territórios na urbe, até hoje são temas argumentáveis, pois, existe linha de ônibus, praças, igrejas, ícones e demais referências que por sua importância ou força de tradição, demarca o nome do Bairro #. (Do livro Por onde o Bonde Passou, do autor).

Exemplos: São Gerardo é a Igreja, mas o nome do Bairro é alagadiço; Otávio Bonfim era a estação Ferroviária, mas o nome do Bairro é Farias Brito antigo Cercado Zé Padre; Soares Moreno era um bairro pequeno de três Ruas, Agapito dos Santos/Padre Mororó/Teresa Cristina/Cemitério sendo demarcado pelo Sul com a Avenida Francisco Sá. Hoje é Jacarecanga/Centro. Couto Fernandes é a estação ferroviária, mas o bairro é Damas.

Bem, o Benfica onde, a bem da geografia demarcatória, começa nas Caixas d’água ao lado do Instituto José Frota, hospital de atendimento emergencial de Fortaleza. Em rumo ao sertão pela Avenida da Universidade (antiga Visconde de Cahuype) vai até o canal do Jardim América, após ter penetrando na Avenida João Pessoa.

Não existe Bairro Prado e, a Gentilândia foi criado em 2009.

Antigamente, toda a área que hoje faz parte do bairro Gentilândia pertenceu ao bairro Benfica, mas, em 2009 como já descrevemos, foi desmembrada e virou um bairro independente

Toda aquela área do cruzamento da Avenida 13 de maio/Shopping era um grande sítio que pertencia ao abolicionista José Correia do Amaral, por isto a curva existente no percurso é chamada de “Curva do Amaral”, topografia esta sentida de quem vem pela Avenida Tristão Gonçalves, no sentido do sertão. Ao Prado houve favorecimento, a que fosse inaugurado em 1941 o Estádio Presidente Vargas, Praça, Escola Industrial e outros ginásios poliesportivos.

Matagal onde fora erigida a mansão da família Gentil.

Hoje Reitoria

 

 

 O primeiro concorrente do Bonde surgiu junto com o Estádio. A linha do coletivo rodoviário “Prado via Rio Branco” depois passaria para a Cialtra tinha o seguinte Trajeto: Praça do Ferreira, Guilherme Rocha, Rua Senador Pompeu e nela em tangente ia até a Treze de Maio. Circulava a Praça da Gentilândia e descia até o Riacho Tauape (canal do Jardim América) retornando pela Avenida dos Expedicionários; em seguido pegava a direita e descia em rumo ao Centro pela Rua Barão do Rio Branco até a Rua Liberato Barroso que, na época circulava carros. Retomava a Praça do Ferreira pela Rua Floriano Peixoto, ficando no ponto novamente na Praçinha, já que o abrigo Central ainda não tinha sido construído.

Prado, tudo começou no segundo quartel do século XIX, quando os senhores das terras começaram praticas esportivas com seus cavalos. Depois a modalidade fora exportada para um campo do Pici, vizinho da Parangaba bairro já tão descrito neste artigo.

.Mais ilustrações

Mansão da família Gentil

 

Inauguração do Campo do Prado – Estádio Presidente Vargas. 1941

Ônibus do Prado trafegando na Rua Senador Pompeu.1941.

 

Avenida Treze de maio após a retirada dos trilhos da Ceará Light Tramway

Atual IFCE

 

 

Vista aérea do Prado

 

Referências: Arquivo Público, Leocácio Ferreira, Arquivo Nirez, Marciano Lopes e Cepimar

PREDINHO QUE CONTA UMA GRANDE HISTÓRIA

Ensino mutuo – Pedagogia Lancaster

Canto Nordeste da Praça do Ferreira

No primeiro quartel do século XIX, Fortaleza estava obedecendo um plano diretor iniciado por Antônio José da Silva Paulet, sendo em 1814 Governador da Província, Ignácio Sampaio com total apoio dos arruadores, daí as ruas do Centro da Capital serem retas, planas e com simetria urbana.

O ano era 1827, quando o Imperador do Brasil D. Pedro I decretou a implantação do Ensino Mutuo, o que obrigava as Cidades e Vilas bem como locais mais populosos, a montarem as Escolas de Principais Letras, quantos fossem necessárias. Aos professores caberia ensinar, ler e escrever as quatro operações de aritmética, prática dos quebrados, decimais e proporções, noções de geometria, gramática da língua nacional, e os princípios da moral e de doutrina Católica Apostólica Romana. Tinha também na grade curricular aulas de economia doméstica.

O Ensino Mútuo representou um sistema de ensino em que os alunos comunicavam uns aos outros as lições recebidas dos mestres, obtendo-se um maior rendimento de aprendizado através do estímulo e da emulação, ou seja, concorrências.

Outrossim os alunos que obtinhas melhores notas (decurião), eram promovidos à monitores e/ou instrutores e deveriam ensinar a um grupo de dez alunos (decúria) ratificando que, o Ensino Mútuo representou naquela época, uma importação do método Pedagógico desenvolvido pelo inglês Joseph Lancaster (1778 – 1838) do final do século XVIII na Europa. Ficou conhecido também por método monitoral ou mútuo que diferiu da metodologia que fora introduzido, remontando ao ano de 1759.  

Em terreno arborizado que ficava por detrás de onde surgiria o Palácio da Luz, seria erguido a nossa EEM – Escola de Ensino Mutuo construída em Fortaleza na esquina das Ruas da Alegria (Coronel Bizerril) com a Travessa da Municipalidade (Guilherme Rocha), onde à posteriori fora estendido em 1863 alcançando a Rua Pitombeira (Floriano Peixoto). A única árvore que subsistiu ao desmatamento de toda aquela flora, foi um oitizeiro que seria derrubado em 1929 por ordem do Prefeito Álvaro Weyne.

Em Fortaleza no ano de 1828, a atual Praça do Ferreira era um Campo de Areia, onde eruditos acreditam ter sido campo de batalhas, razão pela qual de modo efêmero, o local fora chamado de Largo das Trincheiras.

A inauguração oficial da Escola data de 5 de fevereiro de 1829, sendo intendente José Pacheco de Medeiros que também construiu a edificação.

Com o advento da República o prédio fora entregue à Guarda Civil, e por conta das transformações urbanísticas, fora demolida dando lugar ao Palacete Ceará, Rotissérie e hoje está uma agência da Caixa Econômica Federal.  

 

Situação onde ficava a escola

 

Oitizeiro do Rosário sendo derrubado.

 

 

A COLUNA DA HORA O RELÓGIO DA CIDADE

 

Reclame da Clóvis Janja

administradora do serviço de construção

 

Coluna da hora, erguida fora na Praça do Ferreira, em estilo Art Déco, com projeto e construção da firma Byington Co. sob a reponsabilidade do engenheiro José Gonçalves da Justa, com supervisão da firma Clóvis Janja, já que no Ceará não existia ainda o CREA. Exatamente na passagem do ano de 1933, o prefeito Raimundo Girão inaugurou o relógio que iria orientar o horário do fortalezense.  Virou tradição na Capital cearense, acertar seu relógio com o da Praça.

Lamentavelmente em 1967, e sem nenhuma justificativa institucional, José Walter Barbosa Cavalcante mandou derrubar a “Coluna da Hora”, e fez uma reforma no logradouro ícone que, nunca foi aceita. Em 1991, Juraci Magalhães devolveu a Praça ao povo.

 

ONIBUS ELETRICOS EM FORTALEZA

 

 

 

Ônibus elétricos no Terminal da Praça do Carmo

Linha Parangaba

 

Uma opção inovadora de condução movida através da eletricidade por rede aérea fora disponibilizada, aos usuários do transporte coletivo de Fortaleza. O ônibus elétrico, ou trólebus, foi ambicionado pela Prefeitura de Fortaleza, graças aos bons resultados obtidos pelo sistema em Recife.

A gestão do Prefeito Murilo Borges Moreira decidiu trazer a tecnologia para a Capital cearense, e assim transformar Fortaleza na segunda cidade no Norte Nordeste a possuir um sistema de ônibus elétricos.

Como a decisão de trazer os trólebus para Fortaleza já estava tomada, houve a necessidade de criar companhia para se responsabilizar pelas operações do novo sistema.  Assim, em 30 de setembro de 1964, a Companhia de Transporte Coletivo foi criada por força de lei municipal nº 2.729/64.

Em 1966, portanto, dois anos após e no mesmo mês de setembro, a CTC foi instalada, em solenidade que contou com diversas autoridades. Na data, a garagem na Avenida Jovita Feitosa foi inaugurada, onde abrigava a parte administrativa, operacional e manutenção.

Até o início das operações dos trólebus, em 1967, houve todo o processo de organização da CTC, com a compra do terreno na Avenida Jovita Feitosa e posterior construção da garagem. O período 1964-1967 também foi marcado por discussões sobre o futuro do sistema, licitações de compra dos equipamentos, e muita burocracia.

A Segunda linha era São Gerardo mas o Bairro é Alagadiço

 

O sistema previa a construção de seis “radiais”, que ligavam o Centro aos bairros Parangaba, Antônio Bezerra, Barra do Ceará, Mucuripe, Aldeota e Aerolândia, porém, durante as operações dos ônibus, apenas as duas primeiras linhas foram concretizadas.

Os três primeiros trólebus, da marca paulista Massari, desembarcaram em Fortaleza em janeiro de 1966, prontos para rodar, necessitando apenas da implantação da rede de eletricidade, que seria importada da Suíça.

Eles ficaram expostos por alguns dias “à curiosidade pública” na Praça da Sé, no Centro de Fortaleza (Abrigo Central) e fui levado por meu pai. Tinha 7 anos.

Pois bem, quando em operação os trólebus, deveriam seguir o itinerário da linha de Parangaba, descrito pelo Jornal O Povo em novembro de 1965: “Sairão da Praça do Carmo, onde será instalada a estação, percorrendo a Duque de Caxias, Tristão Gonçalves, Carapinima, 13 de maio, Visconde do Cauipe e avenida João Pessoa. De volta, percorrerão a avenida João Pessoa, Visconde do Cauipe, General Sampaio e Duque de Caxias, até a Praça do Carmo.” Cabe frisar que atualmente a citada Rua Visconde do Cauipe é chamada Avenida da Universidade.

Projeto e maquete do trólebus carroceria Massari

Apenas no ano de 1967, os ônibus elétricos de Fortaleza foram inaugurados. O grande atraso da inauguração foi causado principalmente por causa de alguns equipamentos das subestações, que eram trazidas de navio. A operação da nova tecnologia era cuidadosa, tanto que a CTC selecionava motoristas que atestavam que não possuíam nenhum vício, talvez por acreditar que os mesmos teriam mais responsabilidade na condução dos veículos.

Segundo os jornais da época, sete ônibus Massari foram testados e aprovados na linha Parangaba – Centro em janeiro de 1967. Era informado também que os referidos ônibus possuíam capacidade para 113 passageiros e carroceria de 12 metros de comprimento.

A inauguração oficial dos ônibus elétricos de Fortaleza ocorreu em Fevereiro de 1967, na Praça do Carmo e contou com autoridades civis, militares e eclesiásticas. O prefeito Murilo Borges viajou em um dos ônibus em direção à Parangaba.

Apesar do grande sucesso na inauguração e da aprovação da população, poucos meses depois já se especulava a possível venda dos elétricos para Recife, e em 1968, a prefeitura começou a manifestar oficialmente seu interesse na venda dos trólebus. As razões para o fim das atividades dos ônibus estavam no alto custo de manutenção e na baixa rentabilidade, já que os veículos só dispunham na época de apenas duas linhas e que tinham ponto final na Praça do Carmo, afinal a maior parte da população preferia descer na Praça José de Alencar.

As tentativas foram as mais diversas para salvar os ônibus, mas, como no projeto piloto a circulação das linhas Parangaba e São Gerardo na Praça José de Alencar estava inviável devido à forte concorrência, a ocorrência dos prejuízos continuavam. Foi cogitado até a conversão do propulsor para Diesel, mas não saiu dos planos.

Os ônibus elétricos resistiram até 1971, em condições um tanto precárias por causa da fragilidade do sistema de manutenção do equipamento, realizado pela CTC. Ficou decidido então, que eles seriam vendidos e substituídos por novos ônibus diesel, o que ocorreu em 1972.

Os trólebus foram enviados para a CMTC de São Paulo, sendo que os cinco primeiros, viajaram em 1971 e os outros quatro, em 1972, fechando o ciclo de um dos mais emblemáticos períodos do transporte coletivo de Fortaleza. O prefeito de Fortaleza já era Vicente Fialho.

O adeus aos ônibus elétricos. 

 

Fontes: Cepimar e MOB – Movimento Busológico do Ceará.

A fotografia do terminal da Praça do Carmo foi reproduzida de original pertencente ao Arquivo Nirez, gentilmente cedida.

 

QUE EXISTIA DE ELEGANTE NAQUELE CAFÉ

 

Panorâmica do Café Elegante

 

Fortaleza na virada do século XX, estava sendo administrada pelo intendente Guilherme Rocha, embora uma gestão nocauteada por Antônio Pinto Nogueira Accioly, que já vinha liderando desde 1892.

 

Intendente Guilherme Rocha

 

Em julho de 1900 assume o Governo do Ceará Pedro Augusto Borges, mas a gestão municipal do intendente iria até 1912. Pedro Borges manteve sua administração subserviente à Oligarquia Acciolyna.

 

Jardim 7 de Setembro – 1902

 

Em 1902, concomitantemente com a segunda greve dos operários da Estrada de Ferro de Baturité, o Centro de Fortaleza estava recebendo nos festejos dos 80 anos de nossa independência, o Jardim “7 de setembro” aformoseando a Praça do Ferreira, onde houve um remodelação e, foi quando aumentou ainda mais os frequentadores daquele logradouro, aquecendo a venda de lanches e refeições completas nos quiosques existentes.

No “Café Java” (canto Nordeste) muito bate papo de intelectuais, e foi a bem da história, onde Antônio Sales fez o protocolo de intensões para fundar o grêmio literário que se denominaria “Padaria Espiritual”, que em 1902 já não mais existindo, tornou-se um point das conversas sobre literatura e política afora o anedotário.

Do “Café do Comércio” (Canto Noroeste) partia os bondes que na época ainda era “Ferro Carril”, cuja administração era vizinho do lado leste, olhando para o quarteirão que desapareceria em 1941.

O “Café Iracema” (Canto Sudoeste), olhava para a calçada da Rua Major Facundo, que se denominava Rua da Palma e onde seria construídos os três grandes Cines: Cine Theatro Polytheama (1911), Majestic (1917) e o Moderno (1922). O Café Iracema ficava olhando para a casa onde ficava a Botica de Antônio Ferreira, o filantropo. Os quiosques ainda alcançaram os frequentadores do Cine Theatro Polytheama e o Mejestic, porém o Moderno, primeiro a ser sonorizado, não fora possível. Em 1920 desapareceram, e o leitor saberá.

Cajueiro da Mentira e por detrás o Elegante – 1905

 

Porquê Café Elegante

Pela sua posição geográfica, respirava calma, apesar de ser o mais próximo do Cajueiro da Mentira, onde rolava potocas. Por sua frente era a Rua Floriano Peixoto (Pitombeira) e ao lado sul, transitava na Rua do Cajueiro (Pedro Borges) os bondes, mas sem parar. Lá no final da Rua Pedro Borges, descendo em rumo leste encontrava-se o Beco dos Pocinhos, onde para localização de hoje, em 1970 construíram o Edifício Palácio do Progresso. Naquele espaço já existia a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, que data de 1896.

Voltando.

No Elegante existia uma calmaria, e com ar mais puro, afinal, pela rua que ficava na esquina vinha o vento leste, trazendo a gostosa brisa do Riacho Pajeú e da lagoa do Garrote onde ainda existia águas bem límpidas.  A umidade relativa do ar era melhor.

No ângulo Sudeste, o quiosque ficava defronte à Funilaria São José, torrefação de Joaquim Sá e no American Kinema. Seus proprietário foi Arnaud Cavalcanti Rocha, e no seu início chamava Café Chic.  Já com o nome de Café Elegante foi passado para a firma Porto & Irmão. O Café Elegante, tinha a mesma estrutura do Café do Comércio: um segundo pavimento.

 

Vista Lateral do Café Elegante

 

Andar pelo Elegante, era fazer suas refeições com mais tranquilidade, e o público segundo eruditos, era mais seleto. Até os fiéis das Igrejas Presbiteriana e do Rosário, após as reuniões, ali paravam.

Em 1920 Godofredo Maciel estava Prefeito de Fortaleza, e foi quando ocorreu um nova reforma da Praça e os Quiosques foram retirados, e junto com eles foi derrubado o Cajueiro Botador e destruído o Jardim 7 de setembro. Adeus “Casas de Merendas”.

Com esta remodelação, a Praça do Ferreira perdeu atrativos, e os fregueses por amor à Praça, se dirigiram para os Cafés Emidgio e Riche, só para não abandonar o recinto.

Existia uma cacimba que servia para o trabalho dos jardineiros, mas que fora coberta com um Coreto, ao qual por sua vez em 1933 com a Primeira Coluna da Hora.

Comete injustiça com a história, quem proclama que a Praça do Ferreira a partir de 1991 ficou elegante. Uma geração que viu o Monstrengo na desastrosa “Gestão José Walter” pode até ter razão, mas muita coisa Elegante ficou pra trás.

 

 

Fontes:

 

A Praça do Ferreira, Juarez Leitão;

Fortaleza de Ontem e de Hoje, Miguel Ângelo de Azevedo, Nirez;

Fortaleza Velha, João Nogueira.

História Abreviada de Fortaleza, Mozart Soriano Aderaldo.

Fotos: Reproduzidas de Originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

 

DO CHICO LAMPIÃO À UMA CIDADE QUE SE ILUMINOU

 

 

O homem tem a tarefa de acender o lampião de noite e apagá-lo de dia, mas o planeta gira muito rápido e o Sol se põe a cada minuto, o que faz com que o seu trabalho seja cansativo. O Acendedor de Lampiões simboliza as pessoas que cumprem determinadas tarefas sem pensamento crítico, muitas vezes fazendo coisas sem sentido ou sem entender porquê. Elas ligam o piloto automático, estão tão acostumadas com o que fazem, que não se dão conta da importância do que faz”.          José Augusto Wanderley, Publicitário. RJ.

Tudo o que é relacionado ao desenvolvimento, obedece a etapas ou estágios. Ao retornarmos historicamente ao passado, não implica em se sofrer atrasos, mas estamos resgatando merecimentos, afinal o moderno hoje é o antigo amanhã. O moderno carro de injeção eletrônica não chegou antes daqueles, cuja partida era à manivela com carburação falha; o compacto celular em que localizamos as pessoas apenas no tempo, não podia chegar primeiro do que os aparelhos de telefonia ao magneto, com sua extensão entre emissor e receptor não superior a 1000 metros; as aeronaves, os super-sônicos dar uma volta ao mundo em questão de horas, porém, Alberto santos Dumont penou bastante para fazer subir o 14 BIS em 1906 na França, com um metro de altitude e descer com apenas cem metros percorridos.

Será que a iluminação e energia elétrica foram diferentes? Claro que não! Fortaleza foi saindo da escuridão a custa do sacrifício de animais marinho, hoje na lista de extinção. (Vide Praia dos Arpoadores). No caso Refiro-me as baleias que desapareceram da Costa Norte. Sim, pois a iluminação pública de nossa cidade, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, Casimiro José de Moraes Sarmento.

 

 

Luminária do Café Caio Prado

Passeio Público

 

A exploração do serviço de iluminação de Fortaleza teve inicio, com a assinatura de um contrato com o Sr. Vitoriano Augusto Borges que tinha como atribuição, instalar 44 lampiões. Os lampiões tinham quatro faces, sendo mais estreitas em baixo do que em cima, com fundo e tampa de metal. Eram suspensos com armações de ferro como se fosse uma forca, afixados nas esquinas e na posição que pudessem iluminar ruas e travessas. Eram limpos constantemente, e para acendê-los deveriam descer, por isso eles pendiam de uma corda, que passava em duas roldanas. Tinha uma caixinha cheia de azeite de peixe com torcida de algodão. Era parecido com pequenos tachos de que trabalham os ourives para soldas ao maçarico. Foi assim que surgiu o primeiro personagem popular de Fortaleza: “Chico Lampião”, embora seu nome conste em algumas obras, mas nada se sabe acerca do mesmo, assim como os carregadores de Quimoas.

 Fortaleza bonitinha ficou sendo iluminada com azeite de Peixe até 1866 quando, o português Vitorino Borges encerrou suas atividades nesta prestação de serviço. Surgiu a era do Gás Carbônico sob a responsabilidade da “The Ceará Gaz Company Limited”.

 

Gasômetro ao lado da Santa da Casa.

 

Com o gás carbônico, as ruas de nossa cidade tiveram melhor qualidade na iluminação, pois as luminárias foram colocadas em ziguezague sendo a distância de um para o outro de apenas 30 metros, e com um atura de 2,40 cm. Ficava uma chama brilhante em forma de leque queimando o bem preparado gás, salientando que o gasômetro ficava na rua Senador Jaguaribe, ao lado da Santa Casa de Misericórdia olhando para a Praça do Passeio Público. Daí o antigo nome daquela denominar-se “Rua do Gasômetro”.

Experimentalmente, em 1933 foram colocadas quatro lâmpadas elétricas de 100 Watts na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), entre as Ruas da Municipalidade (Guilherme Rocha) e a das Hortas (Senador Alencar).

Em 1934, fora rescindido o contrato da “Companhia Ceará Gás” e o Governo do Estado do Ceará, naquele mesmo ano oficialmente, inaugurou-se na praça do Ferreira a energia elétrica, aos 8 de dezembro, o que fora uma apoteose.

Um ano após, fora retirado o último lampião à gás encerrando assim, o segundo período da iluminação de Fortaleza, a era do Gás Carbônico.

Novo Privilégio para a The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd

 Descida da Rua Formosa (Barão do Rio Branco)

Cabos da Light

 

A firma inglesa “The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd” que já explorava o transporte de bondes elétricos desde de 1913, ganhou agora privilégio para o serviço de iluminação. A localização dos geradores da Light eram na Rua Adolfo Caminha (Baixos do Passeio Público) e as suas caldeiras eram alimentadas com lenhas vindas do Horto Florestal de Canafístula, trazidas em vagões gôndolas pertencentes a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité.

 

Bonde Elétrico do Outeiro na Rua Floriano Peixoto

 

Aos 19 de maio de 1947 circulou o último bonde elétrico em Fortaleza e, apesar da sobra de demanda, a energia da Light ainda era muito precária. A “The Ceará Tramway”, por força do decreto federal nº 25.232 de 15 de julho de 1948 transferida a concessão para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo o Prefeito Acrisio Moreira da Rocha. Na época tinha que o General Dutra assinar, por ter sido o serviço explorado por uma firma estrangeira.

Carregamento de Lenhas

Vindas de Canafistula hoje Antônio Diogo

 

Aos 20 de maio de 1954, saiu o decreto nº 803 criando o “Serviço de Luz e Força do Município de Fortaleza – SERVILUZ” quando ainda estava prefeito, o radialista e advogado Paulo Cabral de Araújo. As novas instalações foram inauguradas em 8 de novembro do mesmo 54, ocupando o local onde funcionava o Escritório da extinta empresa de Bondes no Passeio Público, pela Rua João Moreira.

Usina Serviluz no Mucuripe

Fachada, Localização e Maquinas geradoras.

 

A Usina Termoelétrica fora instalada em maio de 1955 na Ponta do Mucuripe, inicio da Praia Mansa. Com modernos geradores Westinghouse, o Serviluz fora criado para resolver o problema da precária energia elétrica de Fortaleza.

As razões técnicas para a usina ficar distante do centro da cidade, segundo analistas da época, deveram-se a estratégica zona portuária com o surgimento de empreendimentos, tais como os já existentes: Shell Mexi, Atlantic, Texaco, Esso Standard do Brasil e Moinhos de trigo. Além do mais, o equipamento roncava e aquecia demais e a ventilação praiana, favorecia a regulagem térmica.

O Serviluz foi administrativamente transferido em 1 de maio de 1960 para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF (Estado da Bahia), a qual por sua vez, em 1 de abril de 1962 instala a Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza – CONEFOR que substituiu o Serviluz. Dois anos após, a rede elétrica proveniente da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso chegou em Fortaleza, com uma subestação no Bairro Mondubim.

 Aí com as presenças do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do Governador do Ceará Virgílio Távora, do Prefeito de Fortaleza Murilo Borges e várias autoridades, em 1 de fevereiro de 1965 precisamente às 18.30 h, na Praça Libertadores (Depois Farias Brito) no popular Bairro Otávio Bonfim, era acessa a primeira lâmpada de iluminação pública com energia elétrica da CHESF.

Em 5 de julho de 1971, o Governo César Cal’s cria a Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE e encampa a Conefor, que após três anos em assembleia geral, a extingue.

Como não era de se esperar, a história se repetiu. O comando do serviço de energia elétrica do Ceará saiu das mãos do Governo Estadual. A Coelce foi vendida, e aos 13 de maio de 1998, passou a pertencer a “Distriluz Energia Elétrica S.A.”, “Companhias Enersis S.A.”, “Chilectra S.A.”, “Endesa de España S.A.” e a “Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – CERJ”.

Então quem quiser deixar seu dinheiro no Brasil, consuma produtos da Terra e economize energia. Seja racional, pois, não existe mais Coelce e sim Enel.

 

Fontes:

– Fortaleza Belle Époque, Sebastião Rogério Ponte;

– Fortaleza de Ontem e de Hoje, Miguel Ângelo de Azevedo – Nirez.

– Fortaleza Velha, João Nogueira;

– Instituto do Ceará, Revista de 1934;

– História da Energia Elétrica do Ceará, Ary Leite.

Fotos: Ofipro e uma reprodução de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas. .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PRAIA DE MEIRELES DO AREAL AO LUXO

 

 

A existência dos remanescente moradores do Campo do América é a prova cabal de que aquele pedaço era uma Vila de pescadores que viviam de modo simples, isolados até do Centro urbano da Capital. Não estão ali por invasão ou apropriação indébita. São os nativos que não se curvam ante a velocidade do aformoseamento e do progresso, tendo em vista o hoje Bairro Meireles ser e ter o metro quadrado mais caro da cidade. O berço daquela gente é ali, e creio que ali vão permanecer, resistindo a especulação imobiliária.

 

De acordo com a história do nome, Meireles seria um morador de Meira, nome de uma região espanhola. Sendo assim, acredita-se que a família Meireles teve início por meio da família Meira, a qual origina “o velho” Pedro de Novaes, homem rico de El-rei D. Sancho II.

Um ramo familiar Meireles veio para Fortaleza à época do Siará Grande, observar o Cabo de Santa Maria de Consolacion, o Rosto Hermoso – ponta do Mucuripe, que por lá havia passado Vicente Ianez de Pinzón. Existe esta história ou estória de que, lá em Tordesilhas (Espanha) alguém teria que fazer “justiça” ao navegador Vicente Ianez de Pizon, que chegou ao Brasil antes de Cabral. A família Meireles fixou residência, e existiu este espaço, afinal, tínhamos a Praia do Ceará (Iracema) e a do Mucuripe. Por isso surgiu a nomenclatura Praia do Meireles.

 

A Praia do Meireles é o coração da Avenida Beira Mar, via aberta pela Rede de Viação Cearense, quando ocorrera assentamento de trilhos, para fazer convergência entre a Ponte Metálica (Porto de Fortaleza) ao Mucuripe, devido aos aprovados e avançados estudos do novo Porto de Fortaleza na enseada do Mucuripe.

 

 

O espigão de retenção, da hoje Praia Mansa foi construído com pedras transportadas em vagões gôndolas da Rede de Viação Cearense, oriundas da pedreira de São Bento, na localidade de Monguba, Município de Pacatuba – RMF – CE. A inauguração desse ramal ferroviário ocorreu em 25 de dezembro de 1933. Na ocasião contou-se com as presenças do Interventor Federal Roberto Carneiro de Mendonça, do Prefeito Raimundo Girão e do diretor da RVC engenheiro Ulpiano Barros. Uma composição especial saiu da Estação Central conduzindo autoridades e convidados especiais. Dom Manuel da Silva Gomes arcebispo da cidade, acompanhou para proceder a benção.

 No local próximo a que seria as Avenidas Barão de Studart e Desembargador Moreira, existia uma Tamarindeira em cuja sombra tinha um chafariz. Era lá abastecimento das locomotivas, pois na época eram todas à Vapor.

 

Ferir à memória é denominar aquele espaço geográfico de Praia do Náutico, um clube social que surgiria depois. Quando definitivamente foi erradicado o ramal do Mucuripe em 1948, embora o trem já trafegasse via Parangaba desde 1941, o trecho recebeu pedras toscas e a partir de 1961 virou Avenida. Com a pavimentação asfáltica, tornou-se um local chamativo e caro.

A Gestão Pública investiu em peso e a Praia do Meireles, que inicialmente era assistida com transporte coletivo pela Empresa Iracema, hoje é Cartão Postal e os edifícios construídos aformosearam nossa Fortaleza.

Meireles sempre vai ser sempre Meireles.

O bairro possui uma excelente cobertura infraestrutura. Inicialmente era um loteamento receptor dos que fugiam do Centro e fizeram do Meireles (e da Aldeota) sua nova morada. Existe um mapa de autoria do Governador Manuel Ignácio de Sampaio confeccionado junto com seu braço direito Antônio José da Silva Paulet, que se observa o traçado e dá conta de que em 1818, já existia o nome Meireles naquela orla marítima.

Porquê Beira-Mar

Segundo a Wikipédia enciclopédia livre, “a Via fora construída há pouco mais de 50 anos, a Avenida Beira-Mar é um dos principais cartões-postais de Fortaleza é o local de diversão e trabalho mais valorizado na capital devido à sua orla cheia de luxuosos edifícios e hotéis e pelo calçadão movimentado por turistas e praticantes de atividades físicas. Também é local de trabalho para muita gente e encontros com um visual surpreendente. Antes, a presença maior na região era de pescadores e algumas casas de veraneio. A Avenida Beira-Mar começou a ser construída em 1961, com uma grande calçada, no governo de Manoel Cordeiro Neto, que transferiu as casas de pescadores para outros bairros, como a Varjota.

A nova avenida recebeu o nome de presidente Getúlio Vargas mas em 1964 passou a se chamar Presidente Kennedy para futuramente receber o nome que tem hoje de Avenida Beira-Mar, nome bem mais condizente com o lugar que é a cara da cidade que reflete seu povo, seus costumes, sua cultura. É no calçadão que a estátua de Iracema, uma escultura do pernambucano Corbiniano Lins homenagem aos 100 anos do maior escritor cearense, José de Alencar. Ela está lá desde 1965, ano do centenário do romance, sendo um dos principais pontos turísticos da capital. Um pouco a frente, no Mucuripe, o movimento das jangadas é outro atrativo e fonte de inspiração para muitos artistas. Parada obrigatória também é a Feirinha da Beira-Mar, que existe lá desde 1980 e disponibiliza uma grande a variedade de produtos para os visitantes”.

Fontes:

Arquivo Público do Estado do Ceará;

Raimundo Girão, Geografia Estética de Fortaleza, BNB, 2ª Ediução 1979;

Relatório da RVC, Ulpiano Barros, 1933;

Tordesilhas, muito mais que um Tratado, Adilson Candorin, Editora Tubarão, 2004

Wikipédia, Enciclopédia Livre.

http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart529227/cart529227.jpg

Fotos: Ofipro e Arquivo Nirez.

CINETEATRO MAJESTIC E O QUEIMA RAPARIGAL

 

O Cearense já nasceu para a cultura da molecagem, quando da inauguração do Cine Theatro Majestic com o cartaz da italiana Fátima Miris, no dia 14 de julho de 1917, coisa que a sociedade daquele tempo não tolerava, bem como atualmente quando os conservadores ainda são antagônicos.

Foi um impacto esta atração negociada por Plácido Carvalho, que na Europa esteve. Ele queria inovar algo e amadurecer nossa Fortaleza nos seus anos de Bélle Époque.

 

Transformista Italiana Fátima Miris

 

A edificação era de propriedade de Plácido Carvalho, cuja exploração fora da Firma Ribeiro & Cia, que mantinha um pacto firmado entre Luis Severiano Ribeiro com o Capitalista Alfredo Salgado.

O colossal Cineteatro Majestic-Palace tinha o piso de madeira com uma riqueza arquitetônico e, por tabela, instrumento de sonoplastia, afinal os cavalos dos filmes de faroeste pareciam ter invadido a sala de projeção, quando o público empolgado batia os pés no piso de madeira de lei e encerada. Ele imitava o som dos galopes.

 

 

Depois dos filmes e das peças teatrais – diversões – refúgio mais cobiçadas na ausência de shoppings -, era comum que a praça ficasse ocupada por famílias tomando sorvete, olhando as vitrines das boutiques e irrigando as veias de um Centro da cidade já repleto de diferenças sociais, dentro e fora das salas de projeção.

 

 

O Majestic foi o primeiro a ter o espaço dividido nos setores de plateia, camarote e geral. O pessoal da geral, lugar mais barato, ficava jogando coisas nos camarotes e na plateia. Esses eram chamados de moleques. Só pela estrutura, o Cine já permitia esse tipo de manifestação de repúdio às classes superiores. A vaia ao sol naquele 30 de janeiro de 1942 na praça do Ferreira, é prova cabal do comportamento irreverente dos que havia nascidos, e dos que  ainda iriam nascer, como o caso do autor destas linhas que chegou ao mundo em 1958, sendo privilegiado por Deus por oferecer seu berço na Terra da Luz.

 

Em destaque a mutilada casa do Boticário Ferreira

 

Assim como várias construções que se perderam entre prédios e comércios modernos, o Majestic hoje resiste apenas na lembrança de quem viveu em uma Capital ainda inspirada nos hábitos europeus. Majestic era um edifício imponente, de vários andares, e a sala de projeção era também um teatro.

 

 

O Majestic não teve felicidade, mas a construção teria sido essencial e deveria ter sido preservada, porque revelaria não só a arquitetura, mas as práticas, a indumentária, os usos dos espaços e os valores sociais da época que existiu. As residências que não foram alicerçadas pelas elites fortalezenses também são destacadas, como parte importante do DNA da cidade.

Ainda existe muitas construções populares que deveriam ser preservadas, pois, resgatam o modo de como moraram as camadas mais populares

 

Incêndio de 1955

 

Dois Incêndios e o Fim

Foram dois devastadores incêndios que sofreu este majestoso cineteatro.

O primeiro foi em 4 de abril de 1955, onde parcialmente foi perdido sua entrada e a ampla sala de espera com seus espelhos e cartazes que ficavam no andar térreo. A catástrofe consumiu as Lojas Brasileiras 4400 e assim atraiu a atenção de toda cidade. Sobreviveu a estrutura metálica e a entrada ficou pelos fundos do prédio pela Rua Barão do Rio Branco nº 1171. Passou uma temporada na reparação de danos, mas voltou a funcionar, por ter seus proprietários condições para tal.

 

Fotos colhidas do Edifício Diogo 1968

 

O segundo incêndio ocorreu na madrugada do dia 1 de janeiro de 1968, aí o fogo devorou por completo. Assim foi o fim do primeiro prédio da cidade que mal tinha completado cinquenta anos de existência.

Para a operação dos bombeiros fora utilizados oito carros, setenta homens sob o comando do Tenente Moacir Sousa. O incêndio havia começado por volta das 2 h e daquela vez os bombeiros tiveram de ter a habilidade para o isolamento, para não serem atingidos os empreendimentos do entorno tipo Farmácia Pasteur, Lojas Ocapana, Flama, dentre as pela rua Barão do Rio Branco.

Por volta das 7.30 h, o sinalizador com a corneta recebia ordem para o toque de recolher dos heróis, para retornarem para a Praça do Liceu, onde ainda fica o quartel.

Segundo populares, em algum lugar escondido algum moleque Gritou: “Queima Raparigal”.

Dizem que este segundo incêndio fora criminoso, mas nada foi provado e nem eu estou afirmando. Ficou no lendário da Praça do Ferreira, recém mostrengado.

Queima Raparigal!

O fato dos cabarés ficarem nos altos dos prédios (o andar térreo era ocupado por lojas e pontos comerciais) atendia à questão do isolamento das profissionais do sexo da chamada sociedade regular. Uma ocorrência do final dos anos 30, explica a origem de famosa expressão ainda hoje corrente em Fortaleza. Uma das lojas da Rua Floriano Peixoto sofreu um incêndio em plena manhã de sábado. Nos altos do sobrado havia uma pensão de mulheres. As inquilinas, que tinham trabalhado até de madrugada, ainda dormiam quando começou o alvoroço na rua. Populares tentavam apagar o fogo com baldes d’água, enquanto as chamas subiam perigosamente, já ameaçando o sobrado. As mulheres, despertadas pelos gritos da multidão, do alto das janelas, pediam socorro, braços erguidos, descabeladas, ainda em seus trajes de dormir, imploravam por ajuda no maior desespero: salvem a gente pelo amor de Deus!!! . Foi quando um gaiato, numa explosão de sadismo, gritou da rua: “Queima Raparigal !!”. Juarez Leitão, escritor.

 

Tudo o que restou

Fontes:

História do Corpo de Bombeiros Sapadores do Ceará. IOCE. 1973.

Jornal O povo 1 de fevereiro de 1942

Juarez Leitão. Sábado, Estação de Viver

Miguel Ângelo de Azevedo: Cronologia Ilustrada de Fortaleza; BNB , 2001

Sebastião Rogério Ponte, pesquisador das reformas urbanas e sociais da cidade.

 

 

 

PALACETE CEARÁ ANTIGA ROTISSÉRIE

 

Foto Colhida do Excelsior Hotel

No canto Nordeste da Praça do Ferreira esquina, Ruas Floriano Peixoto com Guilherme Rocha onde antes existia o prédio que, havia funcionado a Escola de Ensino Mutuo de Fortaleza, em 1914, o banqueiro José Gentil Alves de Carvalho contratou, a Firma Rodolfo F. Silva & Silva, para construir no local o Palacete Ceará, com projeto do engenheiro João Sabóia Barbosa. Era encarregado de obras Eduardo Pastor da referida empreiteira. Suas linhas revelam elementos indiscutíveis ao que é eclético, e com aspectos neobarroco.

 

Foto de 1959

O Palacete Ceará por muitos anos abrigou em seu andar térreo o Rotissérie Sportman, restaurante, sorveteira, Café Rotissérie e casa de Chá Efrem Gondim. No andar superior O Clube Iracema que ocupou o local de 1922 até 1936.

A Academia Cearense de letras em 1922 fora instalada numa das dependências, sendo Salão de Honra, quando o Palacete fora ampliado em dois blocos, olhando para a Praça do Ferreira.

Instalação da Academia Cearense de Letras

Salão Nobre no Palacete Ceará

Nos anos de 1930 o referido prédio sediou a Secretaria do Interior e de Justiça do Estado. Aos 10 de maio de 1946 a Caixa Econômica Federal adquiriu o Prédio vizinho, pela Rua General Bizerril ou seja o Palacete Fortaleza que ficava olhando para o Palácio da Luz, e foi quando nove anos após o Banco comprou o Palacete Ceará, e foi quando a CEF ganhou sua Agência do Centro, com posição privilegiada, olhando para o coração da Cidade.

 

 

Palacete Fortaleza

Em 1982 o prédio sofreu um incêndio que se alastrou, o que por pouco não se perdeu a beleza arquitetônica, que ainda está lá.

Registro após o Incêndio

Nota Institucional Secult: Decreto no 16.237, data 30/11/83 Palacete Ceará Hoje Caixa Econômica Federal Endereço: Rua Guilherme Rocha, n° 48 Proprietário: Caixa Econômica Federal Características do bem tombado e justificativa do tombamento O Palacete Ceará é uma das obras mais representativas das primeiras décadas do nosso século (1920), período em que ocorre grande transformação na aparência arquitetônica da […]

 Panorâmica com a Praça do Ferreira

CONJUNTO CEARÁ ANTIGO CARNAUBAL DE VENEZA

Reprodução

Carnaúbas da Veneza

Vendo-se o riacho braço do Maranguapinho. 1966.

 

 

       Obras de Infra-estrutura do Conjunto Ceará. 1974.

 

Posto da Companhia Brasileira de Alimentação. 1978.

Hoje é o Centro cultural Patativa do Assaré

 

Não para de crescer o Conjunto Ceará

Que se transformou em mini-cidade,

Que traz tanta felicidade

E só construir, conservar, amar…

Do autor

 

Contexto Histórico

Era 1970.

Enquanto o mundo científico discutia com otimismo, a conquista do homem na lua, o Brasil era destaque na dimensão esportiva, com o primeiro título de Tri-campeão mundial de futebol, com o Jairzinho camisa sete. Ele foi o furacão, tendo em vista ter sido o artilheiro, daquela inesquecível copa que foi a copa da minha meninice e, diga-se de passagem, a primeira transmitida ao vivo pela televisão brasileira, ainda que em preto no branco.

Em Fortaleza, apesar dos chamados pichadores ocuparem os muros com a trivialidade “Abaixo a Ditadura”; o clima era de antagonismo a tudo o que se passava. Apesar de ter sido um ano eleitoral, ainda hoje o Nordeste não tem peso político para as grandes decisões nacionais. O título Terra da Luz foi uma bravura que, a história anexou aos grandes feitos, mas foi no passado, passou…

Foi no governo chamado por muitos “Os Anos Negros da Ditadura”, que se iniciou uma política habitacional, através de recursos, do já extinto Banco Nacional de Habitação. O presidente General Emilio Garrastazu Médici que, havia assumido a Suprema Magistratura da Nação em 30 de outubro de 1969, foi um homem mesmo com um Congresso Nacional mutilado, conseguiu assistir ao homem do campo, hoje o inverso. Não estou para defender “Regime Autoritário”, pois a melhor ditadura é pior do que a pior democracia.

O presidente Médici criou o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Pró-Rural). Pergunta-se: Quem criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL? Quem criou o FUNRURAL, o maior distribuidor de renda para o homem do campo? A história está ai para fazer justiça aos seus criadores.

Topografia no Alto da Avenida H

Já Próximo a Jurema – Caucaia.

 

Assim Nasceu o Conjunto Ceará

A história do pomposo Conjunto Ceará nasceu neste contexto. Os cearenses sempre foram vitimas de constantes secas, e não é novidade migrações. O êxodo rural incha as cidades grandes, e os flagelados começam a se refugiarem em áreas isoladas formando comunidades, e consequentemente com a instalação de casebres em locais indevidos, surgem as chamadas áreas de risco, ou indústria da miséria.

O problema é que, com o retorno da estação chuvosa, os refugiados já estão adaptados ou se adaptando com a vida urbana através do mercado de trabalho, até mesmo com a mão de obra não qualificada, permanecem no mesmo local. Quando um homem entra no mercado de trabalho, aí sua família entra no mercado de consumo. O interior fica esquecido.

Foi a hiper-população da Capital cearense que fomentou e tornou urgente, a aprovação do projeto do Governo Federal para a construção de casas populares, e o Conjunto Ceará fora inserido neste programa. A área escolhida, para melhor compreensão do leitor, foi de uma baixada após o Campo da Granja (hoje Praça da granja Portugal) até a beira da Via Férrea de Sobral, onde abrigaria as suas 4 etapas.

O terreno onde foram construídas as primeira, segunda, e terceira etapas denominava-se Estivas, e após o canal, que um dia foi braço do rio Maranguapinho e uma verdadeira riqueza em carnaúbas, havia tomado a nomenclatura de Veneza, pois eram terras que na época das sesmarias foram herdadas pela a família de Manuel Francisco da Silva Albano, dentre os quais um fora agraciado como Barão de Aratanha (nome de rua no centro da cidade de Fortaleza).

O local já pertencente ao Município de Caucaia, denominou-se Parque Albano. Ali o trem da antiga Rede de Viação Cearense – RVC (depois RFFSA, hoje Metrô de Fortaleza/Transnordestina Logística S/A) de 1917 até 1931, fazia parada no km 11, tanto para recebimento de gado, exportações e o envio de pequenas encomendas. O prestígio da família era grande perante a administração da Companhia Ferroviária. O trem suburbano do distrito de Barro Vermelho (Antonio Bezerra) ia direto para Soure (Caucaia). Foi aí que a população ribeirinha do Genibaú e da Jurema reivindicaram paradas para o trem suburbano.  O trem ficou parando no km 10 (hoje São Miguel) e Jurema a partir de 1945. A quarta etapa do Conjunto Ceará apesar de ter sido a última, parece que pela etnologia topográfica tem uma história mais rica.

Situada aquela zona Oeste para o Conjunto Ceará, a área havia sido demarcada ainda na gestão de Plácido Castelo, em cumprimento ao programa estabelecido pelo governo Federal, mas as obras de infra-estrutura só foram iniciadas no final do “Governo da Confiança”, ou seja, em 1974 quando o governador César Cal’s estava prestes a passar o governo para o Cel. Adauto Bezerra.

Cognominado a Capital da Periferia, o Conjunto Ceará começou a receber as famílias em sua primeira etapa com 966 casas, cuja solenidade de inauguração ocorrera aos 10 de novembro de 1977. Referido evento contou com as presenças de várias autoridades, dentre as quais o Governador Adauto Bezerra, que estrategicamente construiu a Avenida José Bastos para o devido escoamento de veículos que, para o Conjunto viria. A Avenida João pessoa não comportaria a demanda.

A segunda etapa ficou pronta em 1978, com 2.516 unidades, a terceira em 1979, e a quarta em 1981. A então RFFSA desde a inauguração do Conjunto já havia começado a parar o seu trem no km 12, mas a inauguração oficial da estação data de 19 de fevereiro de 1982. A estação Parque Albano só iria ser inaugurada em 1995.

 Pois bem, assim como bola de neve, os moradores de um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, foram triplicando, e lógico, cada um com seus empreendimentos libertando-se parcialmente assim do comércio do Centro e os Shoping. Acompanhada pela equipe de Assistentes Social da já extinta Cohab, os moradores foram se adaptando.

Hoje, o bairro cuja oficialização foi por conta da lei nº. 6.504 de 11 de novembro de 1989, conta com mais de 120 mil habitantes, que vivem em torno de 12 mil residências. Conta o CC com 11 Unidades de Vizinhança (UV’s), 12 avenidas, um hospital maternidade, um Posto de Saúde da Família (Maciel de Brito), duas Vilas Olímpicas, um terminal rodoviário do sistema de integração, três linhas de transportes alternativos, Várias auto-escolas, posto da ABCR, Um Liceu, Creches, mais de 50 escolas públicas e particulares, uma delegacia distrital, um contingente militar que forma a 4ª Cia. do 6º BPM, Bombeiros, um juizado de Pequenas Causas, o Centro da Cidadania Lúcio Alcântara (antigo CSU), três agencias bancárias, serviço de Correios, escritórios da Coelce e Cagece, e já possuiu Centro Cultural Patativa do Assaré e um  Pólo de Lazer que era destinado a apresentações artísticas porém, devido à má utilização, fora entregue às intempéries.

Na área religiosa as igrejas são as mais diversas: Católicas, Evangélicas dentre, as afro-brasileiras.

Aqui termino as duas reivindicações de todos os moradores: a Instalação de um Cartório Legal, e uma linha de ônibus Conjunto Ceará – Parangaba.

 

Parada do Trem no Conjunto Ceará – Fevereiro de 1982.

 

Avenida B no Centro do Conjunto.