EUCLIDES PINTO MARTINS NOSSO HERÓI DO AR

 

Euclides Pinto Martins nasceu em Camocim – CE aos 15 de abril de 1892. Filho de Antônio Pinto Martins, natural de Mossoró – RN, e de Maria Araújo do Carmo Martins.

Em 1903, já com 11 anos, Pinto Martins foi com os pais morar em Mossoró e foi estudar no Atheneu Norte Rio Grandense e, paralelamente, ingressou num curso noturno de náutica.

Quatro anos mais tarde, (1907), embarcou no navio “Maranhão” saindo no ano seguinte, para ser segundo piloto do navio “Pará”. Infelizmente, um acidente de bordo interrompeu esta rápida carreira naval e, Euclides, com problemas na carótida, desembarcou em Natal sendo aconselhado pelos médicos a abandonar a carreira.

No início de 1909, seu pai mandou-o para os EUA com US$300,00 e uma recomendação para que uma empresa de amigos lhe repassasse uma certa quantia mensal para sua manutenção.

Euclides não perdera tempo, matriculou-se no “Drexell Institute” na Filadélfia onde, três anos depois se formaria em Engenharia Mecânica. Além de estudar, Pinto Martins trabalhava como estagiário na “The Baldwin Locomotive Work” , fabricante de locomotivas. Ali, o jovem aprendeu a falar inglês rapidamente e se inseriu na sociedade local, onde conquistou a Srta. Gertrudes Mc Mullan. Com quem casou.

Pinto Martins nas Águas do Jaguaribe – Aracati.

Nosso herói regressou ao Brasil logo após a formatura, (1911) desembarcou do navio “Booth Line”, em Fortaleza. Convidado por seu pai, viajou para Natal, onde passou a trabalhar como engenheiro na “Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca” e na Estrada de Ferro.

A vida de Euclides Pinto Martins foi marcada por constantes viagens e mudanças. Em 1918, faleceu sua jovem mulher e Euclides, muito sentido, por a perda quatro anos antes de uma filha, retornou aos EUA.

Apesar da dor da perda, acalentava no peito o desejo de uma grande aventura entre o Brasil e EUA.

Em seu retorno à América do Norte procurou parcerias e acabou se associando a Ladislau do Rego, que juntos, compraram um navio com a ideia de criar, no Brasil, uma companhia de navegação de cabotagem. Lamentavelmente, o negócio não deu certo, pois o navio naufragou.

Euclides não esmoreceu, casou-se novamente com uma americana Adelaide Sulivan. Adelaide era advogada e doze anos mais velha que ele, e novo casamento nasceu em 1920 Adelaide Lillian.

Euclides Pinto Martins não se conformou apenas com a navegação marítima. Colocou seu foco na aviação que se desenvolvia de forma espetacular por causa da guerra. Como parte desta idéia, entrou num curso de aviação e conseguiu o “brevet” de piloto em 1921.

Com sua entrada no meio aeronáutico, conheceu um veterano na área: Walter Hilton, instrutor de vôo na Flórida. Com este novo amigo e a afinidade de ideias, Euclides resolveu confidenciar a respeito de um velho sonho: Atravessar o Atlântico numa viagem de avião Nova Iorque-Rio de Janeiro desbravando assim, essa rota aérea.

A ideia encontrou eco na mente de seu colega e, juntos, começaram a trabalhar. Lutaram com força de vontade e, finalmente, conseguiram um banqueiro: Andrew Smith Jr. que asseguraria verbas para o atrevido projeto.  Assim, contrataram da Fábrica Curtis  um hidroavião biplano com 28 metros de envergadura e dois motores “liberty” de 400 hp, cada.  A máquina voadora pesava oito mil quilos! Depois do avião pronto decidiram batizá-lo de “Sampaio Corrêa” em homenagem ao Senador e Presidente do Aeroclube do Rio de Janeiro.

Euclides Pinto Martins 

Tudo pronto, avião novinho em folha! A tripulação: Piloto Walter Hinton, co-piloto –  Euclides Pinto Martins, mecânico de bordo – Jonh Edward Wilshusen da Fábrica Curtiss e para retratar a travessia George Thomas Bye, jornalista do “New York Word” e o cinegrafista John Thomas Baltzel da Pathé News. O hidroavião com sua equipe deveria decolar no dia 16/08/1922, mas ao colocá-lo no Rio Hudson, houve uma pequena avaria na asa esquerda, adiando então sua partida.

Por fim, no dia 17 de agosto de 1922, decolou do estuário do Hudson o majestoso “Sampaio Corrêa”, aplaudidos por milhares de pessoas!

A meteorologia que iniciava seus estudos, previa riscos de tempestades mas a equipe, afoita, não se importou e decolou sumindo no horizonte, assistidos das margens do Rio Hudson entre as ilhas de Manhatam e New Jersey. Vamos ver o depoimento da “Revista Semana” do Rio de Janeiro, sobre a decolagem:

 

A Doca do North River, diante da Rua 86, parecia mais um formigueiro humano. Mais de um milhão de pessoas havia se aglomerado de encontro ao cais com os olhos fixos no grande pássaro mecânico. O hidroavião Sampaio Corrêa, pintado de novo, ostentava nos flancos as bandeiras   consteladas    das   duas   grandes repúblicas irmãs. Às 15:00 horas contadas uma  por uma nos relógios da cidade, os possantes motores começaram a roncar  soturnamente. Com quatro ou cinco manobras hábeis o aparelho movia-se, evoluía entre embarcações apinhadas de gente, procurando a parte mais ampla e livre do rio. Houve então  um prodígio. Erguendo-se daquele milhão de almas em desatino, dez talvez cem milhões de vivas atroaram os ares. Concentraram-se neles, durante largo tempo, todos os rumores da metrópole tumultuosa e fervilhante. Nova Iorque que palpitou naquele brado, partido daquelas bocas de todas as idades, de todos os feitios, de todas as condições.

Dir-se-ia que era a boca da cidade que gritava”.    

Autoridades erguendo erma homenageando o ilustre filho da terra.

A verdade é que, apesar de saberem estar na época de grandes temporais, nossos afoitos aventureiros, se atreveram a iniciar a viagem. Neste mesmo dia, 17 de agosto, o avião foi obrigado a pousar em Nanten, por causa de um forte temporal. Pernoitaram ali, e decolaram de manhã com destino a Southport, onde chegaram dia 19/08.   Prosseguiram viagem e dia 20 chegaram em Charlston, sem dificuldades.

Reiniciaram a viagem e tiveram que pousar em West Palm Beach devido a outro temporal. Partiram dia 21 às 11:00 horas e aterrissaram em Nassau, onde pernoitaram, seguindo de manhã com destino a Porto Príncipe no  Haiti. Neste trecho foram surpreendidos por forte borrasca, perderam altitude e caíram no mar por volta das 20:00 horas, ao leste da ilha de Cuba, além do Cabo Maisi.

As coisas nesta noite ficaram pretas! Nossos aventureiros estavam em pleno Atlântico, escuridão total, riscos de tubarões e afogamento. Felizmente, não ficaram feridos na queda. O “Sampaio Corrêa” ainda flutuava e eles localizaram as pistolas sinalizadoras, encontradas com dificuldades no escuro.

Assim os fogos de artifícios iluminaram os céus do oceano, naquela noite, num desesperado pedido de socorro! Lamentavelmente, estes sinais não foram vistos…  A situação tendia a complicar, pois no avião entrava água por buracos feitos pela colisão com o mar. Foi neste clima de preocupação, que Pinto Martins com seus bons conhecimentos de náutica, lembrou-se que tinham uma lanterna grande, a qual achou numa parte do avião, ainda seca.

O jovem intrépido subiu no nariz da nave naufragando e passou a  fazer sinais luminosos de socorro. Não demorou muito, pois perto dali, a Canhoneira da Marinha Americana “Denver”, viu os sinais luminosos e apitou, seguindo em socorro dos náufragos. Foram feitas tentativas, em vão, de rebocar o “Sampaio Corrêa” que acabou indo para o fundo do mar sob os olhares tristes de nossos aventureiros…

O próprio Pinto Martins deu a seguinte declaração ao Jornal do Brasil:  “…sendo piores possíveis as condições atmosféricas, os aparelhos de altitude perderam a precisão. Reinava forte cerração e quando acreditávamos estar muito acima do nível das águas, nela batemos com violência. Com a força do choque o aparelho furou e foi invadido pela água...”   

Avião perdido. Os náufragos foram levados para a Base Naval de Guantânamo, em Cuba.

Pinto Martins e seus amigos não enfraqueceram, continuaram com a ideia de provar que uma rota aérea ligando as Américas (norte e sul) era viável. Assim, acabaram conseguindo que o Jornal” The New York Word” lhes dessem um outro avião para continuação da viagem. Viajaram para Flórida, Escola Naval de Pensacola, onde outro avião adquirido pelo Jornal os esperava. Era um hidroavião com seis anos de uso, que pertencera a Base. Graças a esta doação, em 04 de Setembro do mesmo ano, em São Petersburgo, na Flórida receberam a nave e batizaram-na de Sampaio Corrêa II.

Nossos aventureiros continuavam afoitos e logo decolaram da Flórida, pousando em Porto Príncipe no Haiti em 07/09. Ali, com problemas no sistema de refrigeração do avião ficaram 30 dias parados, até que peças de reposição chegassem de navio dos EUA.

Aos sete dias do mês de outubro, decolam novamente com destino a São Domingos, República Dominicana, onde pernoitam, seguindo para Porto Rico. Continuaram a viagem, chegando em Guadalupe e partiram para Martinica onde pousaram em 12 de outubro.

Avião no ar novamente, com muitas dificuldades causadas por chuvas, chegam em Port Spain, Trindad e Tobago, dia 15 de outubro. Ali, perderam mais 30 dias com troca de hélices e outros consertos. Em 21 de novembro, decolam para Georgetown na Guiana Inglesa, dali para Paramaribo, Guiana Holandesa, Caiena, Guiana Francesa e, finalmente em 1º de Dezembro, pousam no Brasil, Estado do Pará, no Rio Cunani, ao norte da foz do Rio Amazonas.

Os rapazes ávidos por aventuras e estas não faltavam, prosseguem para a Ilha de Maracá, Belém, e Bragança onde obrigados por um temporal pousam no Rio Caeté. Passaram três dias em Bragança seguido viagem para São Luís. Às 12:00 horas do dia 14 de Dezembro, o Sampaio Correia desce na Baia de São Marcos desembarcando na ilha de São Luis, no Maranhão, dia 14, onde ficaram até dia 19.

Finalmente, quatro horas e meia depois da decolagem, (dia 19 de Dezembro) pousam em Camocim, terra natal de Pinto Martins. Depois das muitas já conhecidas homenagens, partem no dia seguinte para Aracati, sem pousar em Fortaleza por dificuldades de amerissagem nas águas agitadas da enseada do Mucuripe.

Pernoitaram em Aracati e voaram para Natal onde dormiram um sono reparador. Logo bem cedinho, decolavam em direção ao sul. Mal viajaram 50 milhas quando o motor de bombordo apresentou um problema. Estavam sobrevoando ainda o território Potiguar, perto de Conguaretama, Bahia Formosa, e uma grave pane no motor esquerdo que forçou-os a amerissar na citada Baía. Analisado o motor descobriram que algumas engrenagens estavam irremediavelmente danificadas e tinham que ser substituídas. Só conseguiram o conserto das peças em Pernambuco, mais exatamente em Recife. Pinto Martins, que havia viajado para resolver o problema   retornou, dias depois, com as peças para reparar o motor.

Foi com muita dificuldades que decolaram de Bahia Formosa, rumo a Recife. Nova pane os forçou descer em Cabedelo, sendo que desta vez a coisa era bem pior.  A viagem quase terminou por ali, não fosse o Comandante da Aviação Naval, Capitão de Mar e Guerra, Protógenes Guimarães que, vendo a situação desesperadora dos viajantes com o motor irrecuperavelmente danificado, doou-lhes um novo! Esta simpática doação possibilitou a continuação da viagem.

O futuro mostraria que este Comandante teria pela frente uma bela carreira e chegaria a ser Ministro da Marinha.

Trocado o malfadado motor, eles decolam de Cabedelo e pousam no Recife. Ali, como em todos os lugares que pararam, foram muito bem recebidos, com festas, visita ao Governador enfim, todas as honrarias de heróis. Euclides, em Recife, teve a alegria de abraçar seu pai e suas duas irmãs, Abgail e Carmen. Daí para frente, a viagem seria tranqüila pois estavam no nordeste e a possibilidade de mal tempo era mínima.

Ficaram em Recife por 3 dias e seguiram viagem às 11:00 horas  rumo a Alagoas, pousando em Maceió onde permaneceram até o dia seguinte. Dali até Salvador, após as festas costumeiras, foram apenas 3 horas e 50 minutos. Na capital baiana, as festas e homenagens foram muitas. Autoridades diversas, inclusive o Cônsul Americano que prestigiou  as cerimônias de saudações aos conquistadores da travessia!

Partiram no final da semana, 04 de fevereiro, às 12:55 pousando em Porto Seguro às 16:30h. Após reabastecer o avião e tendo tido uma noite tranquila, partem de manhã, 8:50h para Vitória no Espírito Santo. Eram 12 horas e 12 minutos quando tem inícios as festividades de  recepção aos “viajores” do ar!

A Chegada

Faltava pouco para a chegada ao Rio de Janeiro e era necessário programar pois, uma esquadrilha da Aviação Naval, planejava escolta-los ao local da chegada!! Autoridades estariam presentes, afinal seria a grande conquista de uma rota que viria a ser explorada, no porvir, por grandes empresas de aviação mundial!!

Partiram, ansiosos, às 12:30 h., com destino a Cabo Frio e depois Rio de Janeiro! Aterrissaram em Cabo Frio às 15:15 horas em 7 de fevereiro de 1923 onde pernoitaram. Às 10:35 h. decolaram voando sobre Araruama, Saquarema, Maricá e demais localidades costeiras fluminenses.

Finalmente, às 11:32 h de 8 de fevereiro de 1923  o avião é avistado sobrevoando a  Baía da Guanabara! Ao pousar foram recebidos na lancha “Independência” do Ministério da Marinha onde o primeiro a ser abraçado pelo Senador Sampaio Correia foi Pinto Martins seguido por Hilton, o piloto, George Thomas, o jornalista e por fim o cinegrafista, John Thomas que, afinal, filmava o evento!!

Vários dias de festas e glórias aconteceram no Rio de Janeiro.

Tombou das Alturas

Sua Morte

Apesar de tantas glórias, Euclides Pinto Martins teve muitas dificuldades consequentes de suas aventuras. Dívidas adquiridas precisavam ser pagas. Após o “Raid”, a fama e a glória, ele sentia o peso de ser um homem comum e com pouco dinheiro. Sua mulher se recusava a morar no Brasil e entrara com a ação e divórcio. Estava sendo pressionado para pagar o dinheiro emprestado para financiar o evento (U$19.000). Foi neste clima que, tristemente, encontraram Pinto Martins morto em seu quarto com um tiro na cabeça vitimado talvez por uma crise de depressão. Era o dia 12 de abril de 1924, pouco mais de um ano depois de tão glorioso feito.

Nada mais se sabe a respeito de sua morte dada oficialmente como suicídio. Em profundo respeito a este grande conquistador nos limitaremos a reproduzir as palavras de seu pai sobre seu desaparecimento:

“Está provado que ele chegou a este estado de desespero levado por privações muito cruéis… Sua morte foi consequência da dignidade e altivez de seu caráter. ..”

 

Nosso profundo respeito, aviador!!!

Referências:

– Campos, Eduardo: Pouso da Águia, UFC,2000;

– Cooper, Ralfh: Pinto Martins, Manuscrito sem data e paginação;

– Jornal do Brasil, 4 de setembro de 1922;

– Revista Semana do Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1922;

– Theofilo G. de Oliveira, Tácito. Pinto Martins.  Fortaleza – Ceará – 1977.

– www.camocimpotedehistoria.blogspot.com

Agradecimentos

– A Base Aérea de Fortaleza;

– À Biblioteca Municipal de Camocim;

– Ao Instituto do museu jaguaribano, Aracati, Ceará.

– Ao Senhor Arthur Queiroz, historiador camocinense (in-memorian);

 

 

 

 

 

 

 

 

MARACANAÚ FICOU BEM ALI !

Pátio de Maracanaú em 1892

Observamos a linha do ramal de Maranguape.

Documentos do século dezenove dão conta de que, existia O Pequeno Arraial da Pavuna na Estrada de Pacatuba, vilarejo de Maranguape, e que pertencia a Antiga Missão de Paupina criada aos 6 de agosto de 1649, onde foram aldeados os índios Paupina e Parnamirim em Messejana. Os Pitaguary ficavam na Sesmaria onde era habitada por esses índios do mesmo nome, hoje uma Fazenda na localidade de Santo Antônio.

Com a freguesia que havia sido criada em 15 de maio de 1759, o Conselho do Governo Provincial aos 13 de maio de 1833, transferiu sua sede para Maranguape e extinguiu a Vila de Messejana, anexando-a como distrito da Capital do Ceará.

A formação toponímica de Maracanaú provém do Tupi MARACANAHÚ de onde se extrai: Maracanãs (aves) + Hú (águas) = águas das maracanãs, ou lugar onde bebem as maracanãs. A grande lagoa das maracanãs era um dos importantes recursos hídricos, pois, o município de Maranguape foi banhado também pelos rios Gereraú, Pirapora e Gavião que descia a encosta oriental da serra de onde, formavam após passar pela cidade, os ricos canaviais. O rio Cocó foi formado pelos Pitaguary e Genipabu.

A embrionagem do hoje Município de Maracanaú, uma das respeitosas arrecadações do Estado do Ceará deveu-se ao traçado da extinta Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A, pois, com o projeto em definitivo que fora aprovado em 5 de março de 1870, o trem partiria da Estação Central até a Vila de Pacatuba, com um ramal para Maranguape (município sede), cujos trilhos assentados atingiu as Águas das Maracanãs aos 29 de novembro de 1874.

Maracanaú, com a presença do trem foi se urbanizando, tomando forma de distrito em decorrência do entroncamento oblíquo e, assim passou a gerar emprego a um grande número de trabalhadores, até mesmo os de mãos de obras não qualificadas.

Aspecto de Maracanaú em 1908

Localizada no km 22,649 e com 45,154 m acima do nível do mar, a estação ferroviária fora apoteoticamente inaugurada aos 14 de janeiro de 1875. A edificação teve projeto do Engenheiro Luiz Ribeiro (construtor do trecho Mondubim – Maracanaú) sob a coordenação do fluminense Dr. José Privat, então fiscal geral da Estrada de Ferro de Baturité.

A solenidade contou com as presenças do Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil e do presidente do Estado do Ceará, Heráclito de Alencastro Pereira da Graça que chegaram no primeiro trem oficial, tracionado pela locomotiva inglesa Hunslet Leeds nº. 2, apelidada de “A Maranguape”.

Aspecto da Capela de Maracanaú. Foto raríssima de 1879.

Em seu livro “A Origem da Viação Férrea Cearense”, 1923, Octávio Memória na página 27, nos relata: “A propósito da subseção de Maracanaú, vem a pelo registrar a origem da capela dessa povoação obscura, mas de um bucolismo encantador e a que nos prende sentimentos de grata recordação. O pequenino templo foi construído por iniciativa dos engenheiros da Companhia Cearense, a cujos trabalhos consagravam suas horas de laser mediante subvenção do Governo da Província e auxílio da verba (socorros públicos)”. (Transcrito sem SIC).

Maracanaú posteriormente tornou-se zona de fabricação de produtos cerâmicos e, juntamente com Mondubim exportavam por trem seus materiais de construção. As telhas eram de marca famosa. Tinha um movimento intenso de encomendas, produtos das olarias, de passageiros, além de atender os trens de Maranguape e os serviços internos tais como, as turmas de trabalhadores de conserva e da linha telegráfica inaugurada em 1876.

A elevação do povoado à categoria de Vila ocorreu em virtude do    Decreto nº. 1.156 de 4 de

dezembro de 1933, e aí nesse período uma portaria do Dr. Ulpiano Barros determinou que o trem suburbano de Fortaleza – Maranguape pernoitasse em Maranguape, ficando o mesmo até 26 de novembro de 1962 quando os 7,246 km de extensão do Ramal de Maranguape, foram erradicado. O pernoite de composições e terminais de trens suburbanos ficou sendo em Maracanaú/Acarape até aos 22 de outubro 1993 quando, com a presença do Vice-Governador Lúcio Alcântara foi inaugurada em Pacatuba, a Estação Vila das Flores.

Inaugurada aos 14 de janeiro de 1875

Só retroagindo: foi a partir da implantação do serviço da Coordenadoria de Transportes Metropolitano – CTM em 1980, que os trens passaram a circular primeiro a cada sessenta minutos; em seguida de meia em meia hora.

Depois em janeiro de 1988 a CTM se transformaria em CBTU. Maracanaú além de ser privilegiada com a instalação do polo industrial no segundo governo de Virgílio Távora, tem em sua arquitetura um excelente arquivo histórico destacando-se: o Hospital de Maracanaú, Colônia Antônio Justa, o Casario da Rua Valdemar de Lima, Casa do farmacêutico Rodolfo Teófilo (descaracterizada), Casa de Menores (popularmente foi conhecida como Santo Antônio do Buraco), uma Casa na Fazenda em Santo Antônio do Pitaguary, um prédio da RVC – RFFSA que se livrou da destruição, e etc.

Maracanaú em 1911.

Finalmente com a lei nº. 10.811 de 4 de julho de 1983, Maracanaú tornou-se Município sendo instalado aos 31 de janeiro de 1985. Maracanaú, antigo aldeamento dos Pitaguary, Arraial da Pavuna ligada a colonial Missão Paupina, Vila e Município têm uma excelente história que se misturou com a do trem. É só saber contar.

Agora com o projeto Metrô de Fortaleza, com os Trens Unidade Elétricos (TUEs), Maracanaú ficou bem ali!

Triste Registro de 1981.

Fotos: Álbum da RFFSA, Jornal Opovo,  e Domínio Público.

 

 

 

ATLETA SEM VALOR O VAQUEIRO

 

Eis o mato estalando

Na imensa agrestina,

É um cabra trabalhando

Igual a gente fina;

O sol já na altura

Tremendo as imagens,

Vemos a sua bravura

Por entre as folhagens;

Com vestes de couro

Prá se livrar do espinho,

Ir de encontro ao touro

Até parece linho fino;

Correr atrás de animais

É coisa de homem valente,

Com alegria se satisfaz

Pois é algo decente;

Quando o sol da alturas desce

Recolhe o gado enfadado,

Aí o dia enegrece

E ele fica atrapalhado;

Será bom repousar

Ou ir ver a namorada,

Que está a esperar

Para boa temporada;

Vida de vaqueiro é labor

Que divide o coração,

Entre animais e o seu amor

Tudo é emoção;

Ao corajoso vaqueiro

Minha sincera admiração,

Quer barro rachado ou ribeiro

Nunca abandona o sertão.

 

ANOITECENDO NO BELO MUCURIPE

                                                

O sol desceu da altura

Sua luz cor de laranja,

Brilha naquela franja

Em último gesto de doçura;

Pescadores se recolhendo

Ao doce lar,

Terminando o labutar

O dia está morrendo;

Anoitecendo no Mucuripe. 1940

O astro rei declinando

O imenso oceano escurecendo,

A natureza estabelecendo

O vento noturno assobiando;

Na casinha de tapera

A luz do candeeiro ilumina

Essa é a grande mina

O homem do mar e sua bela;

Depois de conviver com seus

Ainda conversam com alegria,

E assim foi-se o dia

Só resta agradecer a Deus.

Folha do Álbum de Fortaleza de Paulo Bezerra, 1931.

 

QUANDO GETÚLIO VARGAS VISITOU O CEARÁ EM 1933

Getúlio Dorneles Vargas

Getúlio Vargas, visitou o Ceará no mês de setembro de 1933. Na ocasião, o chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil (como era chamado o País, na época) viajava por diversos estados do Nordeste, passando, além do Ceará, por Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba.

No Ceará Getúlio visitou, juntamente com uma comitiva composta pelos Ministros da Viação e Obras Públicas Dr. José Américo, Major Juarez Távora, além do Inspetor das Regiões Militares do Norte, General Góes Monteiro. Foram visitadas as cidades de Orós, Iguatu, Senador Pompeu, Quixeramobim, Quixadá, Caio Prado (Cangaty na época), Baturité, Acarape, Maracanaú e Fortaleza.

Getúlio visitando obras

Havendo feito este percurso de trem por ter embarcado em Iguatu, passou por alguns açudes, como o de Orós e Cedro no Município de Quixadá. Ao passar pelo então distrito de Maracanaú visitou o Instituto Carneiro de Mendonça, o Santo Antônio do Buraco na terra dos Pitaguary.

No dia 18 de setembro de 1933, Getúlio chegando na Estação Central, dirigiu-se aos altos da Casa de Carlos Misiano na Rua Major Facundo nº 136, onde autorizou a Concessão do PRAT, Ceará Rádio Clube, que passou a partir do dia 21 de setembro a fazer transmissões, sendo um dos receptores instalado no coreto existente na Praça do Ferreira.

Folha 041 do Álbum de Fortaleza 

Em seus discursos Getúlio falou sobre liberação de ajuda para a assolação da seca pois, foi levantado questões sobre o assunto: “O problema da seca, se racionalmente tivesse sido atacado com programa de solução técnica, pratica e inteligente, já estaria resolvido ou, pelo menos, atenuado os seus dolorosos efeitos”.

Recepção ao Presidente Getúlio Vargas

Estação Central de Fortaleza.  Setembro de 1933.

O Presidente havia assinado decreto

Aos 20 de fevereiro de 1931, o presidente havia assinado o decreto nº 19.726 que aprovou o regulamento da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, com os seguintes objetivos: Construção de açudes e canais de irrigação; perfuração de poços; construção das estradas de rodagem que, constituam as linhas-tronco do Nordeste e a execução de quaisquer serviços que tinham por fim atenuar os efeitos do regime irregular dos cursos da água.

Ainda no discurso, Getúlio ressaltou que “a solução do problema, consiste no aproveitamento dos excessos pluviométricos, reservando-os para as épocas de estiagem. Semelhante solução estará ultimada quando se houver construído, nas zonas atingidas pelo flagelo, barragens e açudes com tal capacidade que possam armazenar, nos anos chuvosos, água bastante para atender, nos tempos de escassez, as necessidades das populações sertanejas e manter a fertilidade do solo, pela irrigação das terras adjacentes”. (Transcrição sem Sic).

A visita de Vargas ao Ceará foi histórica, tendo a seguinte manchete no jornal A Ordem: A Estada do chefe do Governo Provisório e a sua comitiva no Ceará.

Adendo: Depois o Getúlio voltaria ao Ceará e já como ditador, desfilou por Fortaleza em carro aberto com o Interventor Menezes Pimentel e inauguraria o serviço de Piscicultura da IFOCS.

Jornal A Ordem, circulou em Sobral

 

Fontes:

– Álbum de Fortaleza, Paulo Bezerra, 1931

– O jornal A Ordem, do Município de Sobral;

– Arquivo Nirez.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA NA FORTALEZA DE ONTEM E HOJE

 

 

É coisa milenar a pessoa buscar o pão para alimento. Aliás de modo metafórico, pão significa alimento para sustento do corpo. “Pão nosso de cada dia” Bíblia Sagrada. Os trabalhadores dizem “este meu trabalho é o meu ganha pão”.

Neste post, conheceremos as imagens de alguns estabelecimentos de panificação de nossa Fortaleza, mas por falta de fontes, apenas vou me reportar sobre a Padaria Popular, que tinha uma filial com o nome de Triunfo, baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro da Cidade.

Padaria Popular ou Padaria do português Augusto Pinho, pude fazer este relato, devido minha vivência nos anos 60 e 70 na Vila São José-Jacarecanga.

Estabelecimentos:

– Padaria Lisbonense

Em 1875 a fábrica de produtos alimentícios deu origem a Padaria e Confeitaria Lisbonense. Foi fundada como Lisbonense em março de 1916 por Pelágio e Abílio Rodrigues de Oliveira juntamente, José Teixeira de Abreu. Aos 20 de abril de 1927, a mesma passou a funcionar na Rua Pedro Borges nº 151.

Na alegativa de estar poluindo o Centro, a mesma encerrou suas atividades em 10 de outubro de 1983.

Padaria Americana

Essa panificadora foi iniciada em Aracati – CE mudando-se em 1880 para a Fortaleza, estabelecendo-se   na rua General Sampaio, tendo como proprietário João Otávio Vieira Filho. Foi a primeira fábrica de biscoitos e bolacha do Ceará.

–  Padaria Iracema

– Padaria Primavera

Surgiu em abriu de 1934, na Avenida Dom Luiz nº 541, atual Dom Manuel, tendo como proprietário Joaquim Antônio de Oliveira fabricantes das Bolachas Globo e Avenida.

 

 

– Padaria Palmeira

Era localizada na Rua Senador Pompeu esquina com Guilherme Rocha.

– Padaria Ideal

Iniciou suas atividades em 1925, na Rua Barão do Rio Branco, mudando-se em 1946 para a Rua Guilherme Rocha, esquina com Avenida Imperador;

Padaria Imperial, de Antônio Escudeiro de Almeida e José Antônio da Silva. Fundada em 1923 na Avenida Visconde do Rio Branco. Em 1934 passou a pertencer ao Grupo M. Dias Branco;

Padaria Natalense de José Pedra na Parangaba;

– Aveirense;

– Padaria Bijú, de José da Silva Bottas (1910);

Padaria Continental

Localizada na esquina das Ruas Pedro Pereira com Avenida Carapinima, defronte ao Senai. No início dos anos de 1980 desapareceu.

Padaria Globo

Ainda hoje estabelecida na Rua Padre Mororó, esquina com Pedro Pereira.

Padaria Popular

Na calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles) no início da Rua Dona Maroquinha, ficava uma montanha de lenhas. Era para alimentação térmica, dos fornos da Panificadora Popular, cujos serviços iam noite adentro.

No lado Sul do prédio com dois andares e de 40 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada no cimento armado. Designavam-se essas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes, que iriam ser carregados com pães novinhos e crocantes. Naquela época o pão bengala era à semolina. Esse tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada.

Os clientes eram mercearias como ainda posso lembrar: bodega do Edmilson, a do Luís Carvalho (ambas na Avenida Tenente Lisboa); Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do Mercadinho da Via Férrea e seu Hozanan; saíam também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo. (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai a gente querendo escrever outra coisa…….

O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué (vendedor ambulante) saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog. Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde.

As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961.

Rapazinho robusto, ainda carreguei caixotes na cabeça com até um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro da usina era o Pinheiro “Cabeça Branca”; O seu Nogueira “Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Os infanto-juvenis nunca saíam sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida.

Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de “Bacana”. Lá dentro literalmente com mãos na massa e, outras na lenha tínhamos: o Riba, o Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Recebi dois batismos: “Pirulito Americano”, e “Pai da Mata” porque meu cabelo era crescido. Rotulou e pegou! Ê, molecagem!!

Intenso era o movimento na calçada da panificadora do português, e uma chaminé bufando fumaça preta, poluía a Avenidinha Sul, e às vezes inquietava os animais ali amarrados mas a espera era pouca.

À noite na calçada quando livre, a meninada aproveitava para lazer. Brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.

Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia muitas vezes Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento.

Aos sábados pela tardinha também na calçada da padaria, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para os que iam fazer primeira comunhão, cujo evento ocorria na Igreja dos Navegantes, quase defronte a Escola de Aprendizes Marinheiros, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor. O Frei Memória realizava o confessionário tudo com o aval do Monsenhor Hélio Campos.

Desse modo escrevemos com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos.

Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins.

Matou o lugar.

O espanhol Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou.

Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável passou a ser um fracionado monstrengo, com uma adaptação não planejada para residências.

Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde as brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Doutor Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu Pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ainda ficam para os que cultuam o passado.

Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.

 

Ai está o que restou do Prédio da Padaria Popular.

Até nosso calçadão reduto de nosso lazer, desapareceu….

SANTO ANTONIO DO BURACO TERROR DOS DESOBEDIENTES DE ONTEM

 

 

Estrada de Ligação para a Terra dos Pitaguary

Estrada de Santo Antonio. 1919

Na Terra dos Pitaguary

De origem Tupi, o termo Pitaguary sempre aparece, nos documentos oficiais dos séculos XVII, XVIII e XIX, designando um lugar: uma serra, um sítio ou um terreno. Possivelmente, é um termo derivado de variáveis do nome Potiguara, etnia que teria ocupado extensas terras, já em 1603, na costa cearense. Para o termo “Potiguara” há diversas interpretações e é nelas que se pode perceber a semelhança existente para com a denominação Pitaguary.

O Ceará foi a primeira província a negar a existência da presença indígena em seu território, ainda no século XIX. Como resultado dessa medida, extensas faixas de terra tornaram-se disponíveis, o que beneficiou de forma direta a pecuária extensiva.

Nesse contexto, povoados originados pela expansão dessa atividade foram transformados em vilas e o Estado passou a exercer controle crescente sobre a mão-de-obra local, uma mão-de-obra que era basicamente formada por índios submetidos ao regime de trabalho forçado.

O Estado conquistou hegemonia que sobre os índios após a expulsão dos jesuítas; foi dado lugar a um processo de perda de visibilidade indígena que só começou a ser revertido na segunda metade do século XX, quando, a partir da década dos anos de 1980, dada à mobilização do povo Tapeba (Caucaia), voltou-se a falar sobre a presença indígena no Ceará.

Logo em seguida dez anos após, foi a vez dos Pitaguary, que começaram a se organizar politicamente para pressionar pela demarcação de sua terra.

Pitaguary é a autodenominação do povo indígena cuja remanescente ainda vive ao pé da serra entre os municípios cearenses de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. Distando aproximadamente 26 Km de Fortaleza, a Terra Indígena Pitaguary está situada na região metropolitana da Capital cearense, tendo em seus arredores uma área caracterizada pela concentração de indústrias e urbanização crescente.

 

Assentamento dos Pitaguary.  Registro de 1933.

Habitada pelos Pitaguary desde há muito, essa terra é socialmente marcada por uma série de acontecimentos que fundam a memória coletiva de seu povo. Foi nela que os “troncos velhos” pereceram, deixando suas “raízes antigas”, assim como é dela que sobrevivem os Pitaguary de hoje.

A Era Vargas foi o período em que a república brasileira foi presidida por Getúlio Vargas, estendendo-se de 1930 a 1945. Politicamente falando, uma das grandes características da Era Vargas foi o autoritarismo sob o qual o Brasil foi governado.

Por ter ido Vargas ao poder via Revolução (1930), o mesmo ficou rotulado como o Governo revolucionário, até porque a revolução constitucionalista foi em 1932.

A Educação Correcional na Escola Santo Antônio do Buraco

Em outra mão, os “desvalidos” e “perigosos” para a sociedade eram arrancados das ruas e internados em instituições “corretivas”; também muitas famílias abastadas requeriam a internação de seus filhos “trabalhosos”.

É nesse contexto, que o capitão Roberto Carneiro de Mendonça, segundo interventor do Ceará (1931-34), politicamente neutro e vindo de outro Estado, cria por meio do Decreto n. 1.163, de 11 de dezembro de 1933, o Instituto Carneiro de Mendonça, popularmente conhecida por Escola Santo Antônio do Buraco.

A escola fora criada em meio aos efeitos da catastrófica seca de 1932, momento em que milhares de pessoas morreram de fome, de sede e de doenças, tendo em vista à pouca assistência do governo. A instituição foi instalada na Fazenda Santo Antônio do Pitaguary, de propriedade do Estado e se destinava a preservação e correção de menores de 8 a 18 anos de idade. A construção da escola foi feita com o auxílio de uma turma de sentenciados de bom comportamento.

Consta no relatório do Interventor Carneiro de Mendonça (1931-1934), que o Governo Federal deliberou através do decreto nº 20.348, de 29 de agosto de 1931, para que os municípios se obrigasse a recolher aos cofres do Estado, 10% de sua renda para auxiliar o custeio das escolas de ensino primário, além disso, este decreto determinasse que todas as escolas municipais fossem transferidas para o Estado. Nessa perspectiva, em 1931, por lei o Estado passou a assumir os encargos referentes ao ensino primário, com a colaboração financeira dos Municípios.

O Estado gradativamente deveria passar a se preocupar mais com a educação, de modo que a Constituição Estadual de 1935 em seu Art. 156 determinaria a que o Estado e os Municípios aplicassem entre 20% e 10%, no mínimo, da renda dos impostos, respectivamente, na manutenção e desenvolvimento do sistema educativo que se organizaria pelo Conselho de Educação.

Assim, os governos cearenses em meados dos anos 1930 e início da década de quarenta desenvolveram várias campanhas de recolhimento de mendigos e falsos mendigos. Começou a recolher os pedintes no Centro de Fortaleza.

As crianças, de até 12 anos e as de idade superior a essa faixa, deveriam ser recolhidas ao Instituto Carneiro de Mendonça, em Santo Antônio do Pitaguary, popularmente conhecido como Santo Antônio do Buraco.

Desde este período, a Escola Santo Antônio do Buraco começa a fazer parte do imaginário popular cearense como sendo um lugar tenebroso onde se imaginava: existir um grande buraco escuro no qual seriam jogadas as crianças que não tivessem um comportamento compatível com o que era exigido na época na perspectiva dos moldes atuais.

Esta é a conhecida Madalena transporte de detentos.

As crianças na época ouviam histórias de que, iam pra lá pra ficar enterrada no buraco, onde passaria o dia inteiro; temendo o Santo Antônio do buraco os meninos se ajeitava ligeirinho. Quando a caminhoneta Madalena chegava na esquina, pronto, ela abria aquela sirene, corria o que era de menor, corria tudo

A Escola Santo Antônio do Buraco, como era mais conhecida, acabou sendo uma opção para muitas famílias que não sabiam como lidar com seus filhos que davam muito trabalho para se educar. Assim, algumas famílias mais abastadas entregavam seus filhos aos cuidados,  de modo que pudessem ser corrigidos e aprendessem alguma profissão como, por exemplo, carpintaria, alfaiataria, tecelagem e sapataria.

O Santo Antônio do Buraco foi um colégio que ficou na história como um exemplo excelente. Ele não era só aquele colégio que tirava das ruas crianças marginais, mas também aquelas que as mães não tinham condições de sustentá-los e educá-las. Não foi só um colégio do ensino fundamental, mas de ensino profissionalizante, quase todos os aluno da época foram recuperados e ressocializados a viver na sociedade.

Meu saudoso pai, quando sentia que estava perdendo as estribeiras com os demais de minha casa, ameaçava para lá nos levar. Ficávamos bem “santinhos”.

Quando o Presidente Emílio Garrastazu Médici, com seu Ministro de Estado da Educação Sr. Jarbas Passarinho, promoveu a grande reforma no ensino do Brasil, exemplo extinção de quatro séries do Ginasial (1972), o Santo Antônio do Buraco já estava desativado.

Escola Santo Antônio do Buraco

Instalada na reserva Pitaguary

 

Relatório de Carneiro de Mendonça 

Arquivo Público do Estado

Referências

Fontes:

– Relatório Administração Carneiro de Mendonça

22 de setembro de 1931 a 5 de setembro de 1934

Site: índios.org.br

 

VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA HOMENAGEADOS COM PRAÇA

Aspecto Geral da Praça do Voluntários

No local existia apenas um grande campo onde foram concentrados, aqueles que voluntariamente se alistavam para a Guerra do Paraguai em 1864 e que em 1865 no Governo do Dr. Lafaiete Rodrigues Pereira realizou-se a organização pelo 26° Batalhão, onde concorreu 6. Mil homens, sob o comando dos Generais Tibúrcio Ferreira e Antônio Sampaio.

Registro raríssimo O Brasil em capo da Batalha do Paraguai

Foi um luta sangrenta que durou seis anos, onde se formou a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina, Uruguai) e em combate o Marechal Solano López, foi abatido pelo Cabo Chico Diabo, do Exército Brasileiro. Dentre alguns voluntários se destacou Antonio Tibúrcio, Jose Martiniano Peixoto de Alencar (Porta Bandeira), Francisco Pedro dos Santos, Antônio Cândido de Guerra Passos (Padre Guerra), Francisco Frederico Filgueira de Melo, Antônio Pompeu de Albuquerque Cavalcante entre tantos….., como destaque a jovem de 17 anos vinda de Tauá, que cortou o cabelo e se vestiu de homem, mas que fora barrada no Rio de Janeiro: Antônia Alves Feitosa, Jovita era apelido. Pelo desgosto de não poder defender a pátria praticou suicídio, quando perfurou seu próprio peito com um punhal.

Jovita Feitosa

Depois por o local ficar bem próximo a Lagoa do Garrote que se transformaria na Cidade da Criança (Parque da Liberdade) antes de 1932, a Praça dos Voluntários recebeu o nome de LARGO DO GARROTE; essa Nomenclatura deveu-se segundo os historiadores eruditos, em que nos cajueiros e demais árvores que ficavam na beira da Lagoa do Garrote, abatia-se gado provenientes de Messejana e Parangaba, para o abastecimento de carne verde para a cidade.

Lagoa do Garrote

LARGO DOS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA: Homenagem aos cearenses que seguiram para a Guerra do Paraguai.

Finalmente PRAÇA DOS VOLUNTÁRIOS, decreto n° 075 de 31 de dezembro de 1932, assinada pelo prefeito Raimundo Girão, no mesmo dia em que inaugurou a Coluna da Hora na Praça do Ferreira.

Palácio Iracema que abrigou o gabinete do Prefeito

Após o antigo Prédio da Antiga Intendência Incendiar  

Em 1941 já era Prefeito de Fortaleza, Raimundo de Alencar Araripe e a Praça Foi Remodelada quando, foi erguida uma herma “homenageando” o Presidente ditador Getúlio Vargas, isso após o empedramento e jardinagem do logradouro. Tem gente que até chama Praça Getúlio Vargas, e outros a Praça da Polícia ou Ordem Social, mas isso de modo informal.

Praça já com o Prédio da Segurança Pública

A localização da Praça é no seguinte quadrilátero: Ruas do Rosário, Perboyre Silva, General Bizerril e Monsenhor Luis Rocha. No centro da Cidade, Ficou defronte ao Liceu Antigo, que demolido pelo General Cordeiro Neto, que era Chefe de Polícia (Atual Secretário de Segurança) hoje está o edifício da Policia Civil.

 

Cond’eu reunido com voluntário no Paraguai

MARYLIN MONROE PROSTITUTA OU RAINHA DA SENSUALIDADE

 

A televisão chegou ao Brasil em setembro de 1950, pelas mãos do jornalista Assis Chateaubriand e dez anos após, com muito esforço o Ceará conseguiu instalar a TV Ceará Canal 2, emissora também integrante da grande cadeia dos Diários Associados, mas que saiu do ar em julho de 1980.

O cinema que, havia chegado a Fortaleza na primeira década do século XX sendo mudo até 1930, sofreu sua primeira ameaça em 1924, com estudos da primeira emissora de rádio que se chamou se Rádio Clube Cearense, com estatuto aprovado em 15 de fevereiro do mesmo 24. Os receptores existentes em Fortaleza eram de propriedade dos associados Clovis Meton de Alencar e de Alfredo Euterpino Borges, mas, essa emissora não chegou a entrar no ar.

Em 1 de janeiro de 1928 o céu de Fortaleza foi cortado pelas ondas hertzianas da “Rádio Educadora Cearense”, fato este registrado aos 12 de janeiro de 1928, no Jornal O Povo em sua edição nº. 6, em que traz a seguinte nota: “Esta nova sociedade de Rádio, ciosa de seus deveres de educar o povo de nossa terra, está promovendo um concurso que sobre os aspectos, é merecedor dos aplausos do público e dentro de pouco tempo saberemos qual o melhor Rádio telegrafista…”. Lamentavelmente antes dos rumores da revolução de 1930, essa emissora que, tinha o poeta Pierre Luz como locutor chefe, já não estava mais no ar. Assim o cinema cearense de fato só sofreu sua primeira concorrência quando, a Ceará Rádio Clube em maio de 1934, começou a fazer broadcasting. O rádio em seus anos de ouro e com a implantação de programas de auditórios, não conseguiu tirar o fascínio das imagens que, o povo tinha como vantagem ao ir ao um cine.  Pergunte aos que foram frequentadores do cinema, se já não assistiram alguma coisa produzindo pela Twentieth Fox e das produções de Hollywood?

Pois bem, em Los Angeles – USA em 1 de junho de 1926, nasceu Norma Jean Mortenson filha de Gladys Monroe Baker e de pai ignorado. Devido à instabilidade mental da sua mãe e ao fato que era solteira naquele tempo, Norma Jeane foi colocado no repouso Foster de Albert e de Ida Bolender. Ali ela viveu os primeiros 7 anos de sua vida.

Em 1933, Norma Jeane viveu momentaneamente com sua mãe. Gladys começou a mostrar sinais de depressão mental e em 1934 fora admitida para um descanso numa casa em Santa Mônica. Grace McKee, um amigo próximo de sua mãe tomou cuidado sobre Norma Jeane. O Grace amou e adotou-a. Norma Jeane sob seu incentivo foi se transformando numa menina bonita e, quando se formou mulher se tornaria uma importante estrela de filme.

Em setembro 1941 Norma Jeane estava vivendo outra vez com Grace quando se encontrou com Jim Dougherty, que seria seu marido. Norma Jeane casou-se em 19 de junho de 1942.

Dougherty se juntou aos fuzileiros navais em 1943-44 e foi enviado para além mar. Norma Jeane, ao trabalhar em uma fábrica que inspecionava pára-quedas em 1944, foi fotografada pelo exército como uma promoção, para mostrar mulheres na linha de conjunto que contribui ao esforço da guerra. Um dos fotógrafos de nome David Conover, pediu para fazer exame de retratos mais adicionais dela. Em 1945, rapidamente as fotos de Norma estavam como os “fotógrafos sonham” e, tinham aparecido em 33 capas de revistas, tornando-se celebridade. Aí os produtores da indústria cinematográfica não pouparam a timidez e antagonismo da jovem Norma, e a transformaram em Marilyn Monroe que, com os cabelos oxigenados, passou a usar o nome de sua mãe.

Em 1946 ela se divorciou sendo depois contratada por grandes stúdios fotográficos. Assim Johnny Hyde, da agência de William Morris, transformou-se em seu mentor e amante em 1949. Também, em 1949, Marilyn concordou em posar nua para um calendário.

Segundo os fofoqueiros da mídia, que muitos chamam de “Colunista Social”, dizem que existe a mulher sensual e a sexy. A sensual atrai os homens pelo carisma e beleza física natural; a sexy é a que se expõe, provocando. Assim os produtores do cinema dos Estados Unidos transformaram a sensualidade de Marilyn em sexy, oferecendo-lhe personagens extravagantes, e como a telinha é uma fabrica de sonhos, o público e a opinião geral, fizeram da bela moça uma prostituta, embasado em seus constantes insucessos na vida matrimonial.

Para mim a prostituta é a que vende o seu corpo, para saciar o garanhão, a causadora na destruição de um bom relacionamento, ou que tem prazer em abalar uma família bem estruturada. A mulher que se vende não vale o que recebe. Marilyn era uma atriz como qualquer outra, tal como as da televisão brasileira, verdadeira vergonha em suas novelas exibidas em horário nobre. Hoje infelizmente a sociedade com a mente deturpada é quem faz a moral.

Foram muitas produções que essa bela atriz fizera, dentre as quais menciono: “O Rio das Almas Perdidas”, “Torrentes da Paixão” dois excelentes clássicos, mas o povo já começou a vê-la com maus olhos, efeito da terrível exploração da Twentieth Fox. Estava sendo considerada como objeto, e ninguém mais a via como criatura humana, tal como a medicina desumanizada em que o pobre paciente não é gente, e sim caso médico ou número de prontuário. Então isso fez, segundo a medicina psiquiátrica, uma conexão com sua infância e aí começou a lourinha a ser uma pessoa depressiva, e já na conseguia mais trabalhar com o potencial que lhe era próprio, passando a ser usuária de remédios controlados. Passou a ser acompanhando por psicanalistas e algumas obras sobre sua vida, dão conta de que ela teve péssimo tratamento.

Em 19 de maio de 1962, no aniversário de John Kennedy, Marylin foi convidada a cantar, HAPPY BIRTHDAY FOU YOU e, a coisa complicou ainda mais, pois surgiram rumores de um possível relacionamento amoroso entre a própria Marilyn e o chefe do Estado Americano.

Aquela participação com a família mais importante da época, em vez de trazer-lhe alívio, só complicou ainda mais o seu estado depressivo e, segundo relatos de pesquisadores de sua biografia, o seu psiquiatra não foi um bom profissional.

MariIyn Monroe foi encontrada morta em sua modesta casa aos 5 de agosto de 1962, e segundo a perícia, seu corpo estava numa posição de querer usar o telefone, o que se presume um possível pedido de socorro. A morte desta estrela que nunca deveria ter brilhado, mas, que tanto brilhou na telas da Twentieth Fox ainda hoje é um mistério.

“Hollywood é um lugar onde pagaram mil dólares por seu beijo, e cinqüenta centavos por sua alma”. Um Fã anônimo.

FORTALEZA HERDOU O ALPENDRE SERTANEJO

                                                                  Nada da Europa se construiu

Foi uma herança sertaneja,

Que com muita peleja

Realizada o povo sorriu;

Atribui-se a Belle Époque

Construção de bangalôs,

Isto são alôs

Que francês, é o sertão no toque;

 

 

O Alpendre do Sertão

O homem com suor ainda a cair

Vem para casa se recolher,

Depois ainda tem o que fazer

Vai ainda se reunir;

 

Palco da conversa dos sertanejos

No armador redes armadas,

No embalar contam-se piadas

De todos vêm gracejos;

Aí o gado rugindo já dentro do curral

As galinhas no poleiro adormecendo,

O dia já está morrendo

A labuta chegou ao final;

 

Com o cheiro da roça trabalhada

O vento assobiando no matagal,

Ao longe rugido de algum animal

Procurando ainda pousada;

 

Todo se reúne após a ceia

Para comentar como foi o dia,

No convívio quanta alegria

Nada de conversa feia;

Enfadados se recolhe o povo

O recanto fica melancólico,

Mas é efêmero e simbólico

Amanhã tem de novo;

 

Fica o grilo, e o barulho do vento

Estalando a folha seca do cajueiro,

É barulho corriqueiro

Tudo ao relento;

Depois a lua invade com imensidão

Trazendo sua luz prateada

Deixando a melancolia escanteada

Para o alpendre não ficar na solidão.