Assis Lima
Assis Lima

TRAVESSA PARÁ QUARTEIRÃO DESAPARECIDO

 

Vista aérea da Praça do Ferreira em 1937

 

Todos que palmilham pela Praça do Ferreira, se defronta no canto Nordeste já na calçada do Edifício Sul América, com a Placa TRAVESSA PARÁ. Teria sido abandonado esse indicativo, ou alguém teria afixado como lembrete de algo? Como existir um sentido para esse quase abandonado nome?

A compreensão virá a todos quantos mergulharem na história de nossa Fortaleza, a Loura do sol e Branca dos Luares. É só fazer um comparativo com fotografias antigas e logo veremos a existência de um quarteirão que desapareceu.

Existia entre esta placa e um sobrado que datava de 1825, uma via chamada “Travessa Boa Vista”. Este imóvel foi erguido sobre areal frouxo, de onde se observava alguns cajueiros rodeado de casebres, destacando-se o sobrados do comendador Machado (hoje Excelsior), também construído em 1825. Haveria de se cavar no meio desse campo uma cacimba de 1850, ainda hoje existente.

Entrada da Travessa Pará pela Rua major Facundo

 

 

 

 

 

 

Neste primeiro ou já segundo quartel do século XIX, tinha o “beco do cotovelo”, com casas em diagonal, que à posteriori seria derrubado por Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário que chegou a governar a cidade como presidente da Câmara Municipal. Por isto que, depois de incrementada o logradouro passou a se chamar Feira Nova, Dom Pedro II, da Municipalidade e desde 1871, leva o nome de Praça do Ferreira. O Beco do Cotovelo é a Rua Pedro Borges de hoje.

 

No meio da Travessa

 

 

 

 

Quarteirão Incendiado

 

Voltemos a Travessa Boa Vista

O sobrado já mencionado foi batizado de “Sobrado do Pachecão”, e diga-se de passagem foi o primeiro a ser erguido com cal e tijolo da cidade. O imóvel construído por o português Francisco José Pacheco de Medeiros, foi adquirido em 1831 para acomodar o Legislativo, ou seja o poder público municipal. Por o valor de 6:593$984 (Mais de seis contos de réis) pagado de quatro vezes, conforme escritura de 24 de janeiro de 1831, em cuja área surgiria a belíssima Intendência.

Entrada da Travessa pela Rua Floriano Peixoto

Foi neste prédio que funcionou o primeiro relógio público da cidade

21 de dezembro de 1932

 

 

 

 

 

 

Funcionava em baixo a Casa de Câmara com nove vereadores e na parte de cima o Gabinete do Intendente, que era o prefeito. Em 21 de dezembro de 1932, a Intendência ganhou um relógio que iria ser concorrido um ano após pela coluna da hora, no seio da Praça do Ferreira. Como o post é sobre a Rua Pará, deixemos para outra oportunidade o funcionamento dos poderes executivos e legislativo da Fortaleza, de antes de ontem e ontem.

Visto da Praça do Ferreira

 

 

Em 1941 ocorreu um incêndio numa das lojas, e alastrou todo o quarteirão atingindo inclusive a Intendência. Houve rumores e até fizeram maquete para reconstrução pelo menos no prédio da Intendência, o que não aconteceu.

Reaproveitamento de parte da Travessa

 

 

A Casa Mundlos, A Crisanto, A Livraria Edésio, Café Emidio, A Bahiana, Loja Paraense, Auto-Volante, A Libertadora que mesmo na esquina da Floriano Peixoto não foi poupada. O prefeito Raimundo Alencar Araripe e o Interventor Menezes Pimentel, alegando insegurança no local, destruíram. A administração municipal foi ocupar o espaço do Clube Iracema, na praça dos Voluntários. Foi reservado um espaço para a Guarda da documentação da Cãmara pois, o legislativo estava fechado, devido a Ditadura Vargas.

Com o terreno desocupado, houve uma extensão da Praça do Ferreira, que ficou em dois blocos, inclusive com a construção do Abrigo Central que, no local esteve de 1949 até 1967. Com a péssima reforma do Prefeito José Walter, uniu o logradouro com aqueles jardins suspensos que não agradou a ninguém. Na gestão de Juraci Magalhães, em 1991 a praça do Ferreira foi devolvida ao público.

Outra Vista Aérea do Quarteirão desaparecido

Justificamos historicamente a questão da Placa mas, por que Pará?

Quero dá uma síntese biográfica, do Tenente-Coronel Felipe de Araújo Sampaio, cearense de São Francisco da Uruburetama, nascido aos 13 de setembro de 1834.

Saiu aos 19 anos para frequentar a Escola Militar do Rio de Janeiro.   Concluído o curso foi para a Província do Pará, sagrando-se encarregado pelo Governo da montagem de um laboratório politécnico, e ali conservou-se até 1865 quando foi para o Paraguai.

Ao voltar ao torrão natal Ceará, entregou-se à política que de si, lhe deu postos importantes e de confiança, mas acarretou-lhe também dissabores e a propaganda abolicionistas, que o sagrou um do seus chefes.

Abandonando a carreira política, Felipe Sampaio fez-se como propagandista das ideias as mais generosas e altruístas: seu grande amor, aos pobres e aos fracos deu-lhe o lugar de presidente da Sociedade as Sociedade São Vicente de Paulo e o levou a instituir a Associação das Senhoras da Caridade de Fortaleza.

Lagoa do Garrote

Este ardor de caridade o acompanhou sempre, e disto deu provas em Pernambuco, onde foi sub gerente da Companhia Ferro Carril.

Atendendo convite do governo Paraense, nosso cearense de Uruburetama, assumiu  em Belém a chefia do Tráfego da Companhia Urbana Paraense.

 

Cansado e crescendo seus males que já vinha padecendo, Felipe Sampaio transferiu sua residência para castanhal, onde ali aos 27 de outubro de 1902 venho a falecer.

Imagens do Monumento de Apolo

 

 

 

Agora vamos fazer a correlação Histórica

O Parque da Liberdade propriamente dito, era um Jardim murado que rodeava a antiga lagoa do Garrote, com seu portão que dava para a igreja do Coração de Jesus até 1957.

Aos 13 de outubro de 1903, ocorreu o assentamento da 1ª pedra fundamental do Convento dos Padres Capuchinhas situado por detrás da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Boulevard do Livramento (Duque de Caxias) e Rua Pero Coelho, cerimônia presidida pelo reverendo Vigário Geral do Bispado, Monsenhor Bruno de Figueiredo.

Então tomando conhecimento destes acontecimentos, o Governador do Pará, Augusto Monte Negro, em gratidão aos cearenses que muito fizeram por seu Estado, enviou para Fortaleza a famosa estátua de Apolo, símbolo de Liberdade, que hoje ainda está lá.

Na intendência de Fortaleza, Gestão Guilherme Rocha, por proposta do Vereador José Elói, foi aprovado no Governo Pedro Borges e, a Travessa Boa Vista no final de 1903, denominou-se TRAVESSA PARÁ.

 

Tenente-Coronel Felipe de Araújo Sampaio

 

Augusto Monte negro

Governador do Pará

 

Referências:

Revistas do Instituto do Ceará anos 1905 e 1942.;

Arquivo Público do Estado Ceará;

Cearenses Notáveis,  Silva Nobre.

Arquivo do Autor;

Nota: As imagens das ruas Major facundo e Floriano Peixoto  Centro de Fortaleza antiga,  foram reproduzidas de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

 

 

 

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