OS LAZARETOS NA FORTALEZA DE ANTES DE ONTEM

 

Lazzaretto em Veneza – Itália

Lazareto palavra italiana (Lazzaretto), remota ao Lázaro bíblico expressado numa das parábolas de Jesus Cristo, cujo registro está no Evangelho de Lucas capitulo 16, versículos 19 ao 31.

Lázaro sofria o mal de chagas, ou seja lepra, doença contagiosa, tal qual a que seriam a varíola e a cólera. O bacilo de Hansen que a ciência descobriria em 1873 (daí o nome “Hanseníase”) e outras doenças contagiosas, levaram as autoridades sanitárias a isolar os que eram acometidos.

Na época da criação dos Lazaretos, não existia cura para as doença contagiosas, e o tratamento com isolamento perdurou, segundo o doutor Lima Junior Biomédico*, até 1940.

Hoje existe o combate eficaz, e a varíola segundo a OMS, foi erradicada em 1980.

 

Retroagindo

A saúde pública sofreu mudanças, um dos benefícios da vinda da família real para o Brasil em 1808. Dom João VI que já havia tomado conhecimento destas pestes na Europa, abriu os portos, criou o Banco do Brasil, e daí investimentos no setor. Criou-se duas escolas médicas: Escola de Cirurgia da Bahia, e a Médica no Rio de Janeiro.

Foi Luís Barba Alado de Meneses, o primeiro governador a ter a responsabilidade de preparar médicos para o Ceará Autônomo da Colônia, mas devemos o avanço ao Inácio de Sampaio que Governou de 1812 até 1820, a concretização dos Lazaretos e pequenas casas de atendimento médico pois, o Primeiro hospital público seria o Hospital da Caridade, depois Santa casa de Misericórdia que data de 12 de março de 1857, ao lado do Campo da Pólvora (Passeio Público).

O primeiro Lazareto é datado de 1814, e a assistência aos doentes em sua maioria indígenas, era feita pelos Jesuítas, mas de modo precário em local de taipa, com cobertura de palhas de coqueiros. O serviço não era organizado, e os pacientes muitas vezes eram abandonados após cada crise.

No entardecer do Brasil Colônia quando o mesmo passou para Reino-Unido, o Governador Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, criou casas de saúde para abrigar doentes contagiosos, principalmente os leprosos, daí o nome “ Leprosários ou Lazaretos”.

Por volta de 1817, começou os estudos para a estruturação no meio social urbano da cidade de Fortaleza; isto devido a percepção dos habitantes especificamente os acometidos dos males infectocontagiosos. A cidade se delineou quanto sua estrutura ao se falar em Cadeias Públicas, Lazaretos, criação de cemitérios já que, os enterramentos eram feitos nas igrejas.

Lazareto era sinônimo de uma espécie de quarentena preventiva ou seja, um local que possibilitava a desinfecção de mercadorias e as pessoas que, chegassem de regiões suspeitas.

Havia um contexto que, em meados do século XVIII, existisse uma relação empírica comercial, principalmente em locais banhados pelo mar, e que isto vinha ocorrendo desde a idade média.

Na gestão de Inácio Sampaio, em 1819 foi construído mas já com tijolo de alvenaria e cobertura de telhas, o Lazareto no Sítio Jacarecanga, logo após a passagem sobre o Riacho do mesmo nome, por Barcos.

Vista Aérea e o Local do Campo Baturité marcado. Foto de 1956

 

Arqueologia Involuntária

No Campo de Baturité, uma das quadras do Jacarecanga no entorno Sul da Vila São José, o autor destas linhas acompanhou como curioso, as escavações para a construção da Autoviária São Vicente de Paula em 1970, onde constantemente era encontrada ossadas humana.

Em 1975, já no Governo Adauto Bezerra defronte ao extinto SAPS na Avenida Francisco Sá, aconteceu o mesmo. Ossadas humanas encontradas, o que pressupõe a existência do cemitério dos coléricos, e dos pacientes do Lazareto que no desprezo por ali morriam.

Eu ainda alcancei um galpão com portas verde fechados, na Rua Monsenhor Dantas, onde vizinho, a Família dos Figueiredo construíram a Cajubraz em 1965. Os mais antigos diziam que aquele galpão fechado era a administração de “Campo Sagrado”. Cinco anos após, o mesmo seria destruído como já foi descrito: erguimento da Autoviária São Vicente de Paula.

Lembro-me que vinha umas caminhonetes da polícia fazer este resgate e, depositava os restos mortais no Cemitério São João Batista, no mausoléu chamado “Ao Cristão Desconhecido”. Tudo está indelével em minha mente, pena que não tenho documentos comprobatórios.

Ilustração interna de um Lazareto

 

Lazareto de Lagoa Funda

O segundo Lazareto, o de lagoa Funda surgiu em 1855, tendo sido autorizado por uma sessão da Junta real da Fazenda. Em terreno adquirido do coronel Francisco Xavier Torres, o Presidente da Província, João Silveira de Sousa teve essa iniciativa prevendo o surto colérico que estava ameaçando as Províncias do Pará, Bahia e Rio de janeiro, e estava prestes a chegar ao Ceará.

João Silveira de Sousa

Concluído no ano de 1856, o surto do Cólera-morbo não atingiu a cidade com a intensidade que receavam as autoridades. Fez vítimas em Maranguape e Pacatuba no ano de 1862.

Nos anos de 1878 até 1879 o Ceará vivenciou uma das piores secas de sua história. Vieram então para a cidade de Fortaleza em busca de assistência, milhares de retirantes. Nesse período ocorreu um surto de varíola sem precedentes na cidade e o Lazareto da Lagoa Funda era o único lugar para onde poderiam ser enviados os doentes.

No ano 1878 o lazareto da Lagoa Funda teve seu ápice de funcionamento. Neste período, mais precisamente no dia 10 de dezembro de 1878, deram entrada em um dia no cemitério do Lazareto, 1004 corpos. Naquele ano de 1878, o obituário em Fortaleza registrou 57.780 mortos, a maioria vítima da varíola.

O cemitério do Lazareto de Lagoa Funda, também foi confirmado através de ossadas encontradas na hoje Rua Olavo Andrade e no entorno da Lagoa Funda que fora aterrada em 1979. Atualmente existe em seu local um conjunto habitacional, beirando a Avenida Leste Oeste, próximo à Colônia. A natureza não se defende, se vinga. Constantemente ocorre enchentes nestes locais.

A entrada para este Lazareto era na Carroçável Estrada dos Carvalhos, Estrada do Urubu hoje Francisco Sá. Após a Via Férrea, entrava-se na antigas Rua da Felicidade, atual Dom Helder Câmara.

 

Fim dos Lazaretos

Por fim o Lazareto de Jacarecanga foi fechado quando da inauguração da Santa casa (1861), e o de Lagoa Funda após a estiagem de 1877.

 

Communico(sic) a Vossa Excelência que tendo hontem(sic) sahido(sic) do lazareto da Lagoa – Funda a ultima doente, que ali se achava em tratamento, fiz fechar o hospital depois de haver mandado lavar e desinfectar(sic) convenientemente”  Inspetoria de Higiene e Saúde Pública. Ofício N ° 286 de 15 de Novembro de 1877…Correspondência Expedida do médico encarregado do hospital João Moreira da Rocha ao Presidente da Província Caetano Estellita Cavalcante Pessôa 17 de Agosto de 1877.

Esta é uma síntese do início do serviço de saúde pública do Ceará, que se tem registro.

Fontes Primárias:

– Arquivo Público do Estado;

– Respostas Imunológicas ao Mycobacterium Leprae nas Formas Clínicas Tuberculóide e Virchowiana     Monografia do doutor Francisco Assis Silva de Lima Junior,

Biomédico – Patologista Clínico CRBM nº 8592.

– Lazaretos da Jacarecanga e da Lagoa Funda (1819 – 1891) Hévila de  Lima Martins,                 Mestranda – UFC.

Obra:

– Barbosa, José Policarpo de Araújo: A História da Saúde Pública do Ceará, Edições UFC,1994.

Adendo: Última Pandemia no Brasil

 

Observemos este Recorte de 1918 referente a Gripe Espanhola.

Da Inspetoria de Higiene

 

UMA OLHADELA DA JANELA DO TREM

 

Após um silvo longo

Novas imagens meus olhos desvendaram.

Meu amigo trem partiu robustamente para cumprir sua rota diária.

Enquanto a locomotiva arqueja,

As rodas dos carros vibram com o esfrego na linha de ferro.

Então medito:

No progresso das gentes,

No ferroviário autêntico,

No laborioso aposentado.

Lembro-me do matuto humilde do sertão;

Vejo a cidade com o povo se beneficiando com o rápido suburbano;

O comerciante e o industrial transportando seus produtos com segurança e economia”.

Viajando de trem não se teme o trânsito agitado,

Nem tão pouco as matas tenebrosas.

Passeio inesquecível.

De repente caiu-me o semblante;

É que cheguei a minha parada.

Após uma pausa, a sineta tocou.

Naquele êxtase motivado pela separação,

Ficara a lembrança de quem se foi.

O comboio desapareceu no horizonte.

Então reagi no saudosismo com alma de poeta:

“Partiu o trem desbravador

Caminhando ao seu destino,

Ficando no coração admirador

O abraço do maquinista, o barulho do sino”.

 

OS TRILHOS E A SAUDADE

 

Um dia alguém por aqui passou,

Trabalhando ao desbravar a agrestina,

Com suor, sol, aventura e auto-estima

Desejando chegar, e chegou;

Ferroviários que tinha no sangue o trem

Que com alegria labutavam,

Quanto mais construíam, mais se alegravam

E não temiam a ninguém.

O trem que outrora trafegou;

Alegrava os passageiros,

Pois ficavam dias inteiros

Junto com comerciantes

Todos delirantes;

Os industriais e turistas

Com todos os artistas

Foi algo que fascinou.

A estrada com muita idade;

Onde a locomotiva arquejava,

E o homem trabalhava

Nos comboios que circularam

E, que a muitos alegraram.

Possa ser que os meninos maltrapilhos,

Um dia vejam o trem nestes trilhos

E eles deixem de ser saudade…

FORTALEZA DO TEMPO E CONTRA TEMPO

 

Louvação ao Mucuripe

 

 

Desta praia da ponta do Mucuripe

 Aportaram piratas loucos,

E das matas que ladearam o Maceió

Lamentaram nativos que hoje dá dó;

Deixaram lembranças à sombra do mirante

Barcos aventureiros no marulho das vagas;

Velas balançam ao sabor do vento

Das entranhas da fêmeas,

 Às entranhas do mar

Sempre ao sabor do amor e da dor;

E a jangada que ao relento se faz

Esta nova praia será o passeio público,

Ou será sempre anseio público.

Será que não existiu local dos boêmios,

 Pastores da madrugada?

Dos que se inspiravam sob a luz da lua cheia

Repousando sobre as ondas espumantes?

Na vila de pescadores,

 Idosos fitam seus olhos para a maré,

Da janela lamentam a vida que por ele passou

A vida requer pressa mas pra quem quiser;

;

Litoral de Fortaleza que beleza,

És um amor que horror!

O que tu foste fazer

Nem barba tens ainda

E já estás a envelhecer!!!

Transcrito/Reescrito/Compilado

 

 

 

QUIXERAMOBIM HISTÓRIA TREM E MUITO MAIS…..

 

Quixeramobim era confinado na região outrora habitada pelos índios Canindés e Quixarás, cujos primeiros civilizados vieram de Jaguaribe, seguindo o rio Banabuiú.

Aos 7 de novembro de 1702, o Capitão-Mor Francisco Gil Ribeiro, então governador de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, concedeu as primeiras sesmaria às margens do rio Ibu, nome pelo qual era conhecido dos indígenas o atual rio Quixeramobim. O vocábulo Quixeramobim adveio de uma serra localizada ao norte da cidade e que posteriormente denominou-se Santa Maria.

Quixeramobim é uma palavra de origem tupi que significa “Carne Gorda” e para outras “Pássaro Verde”. Segundo relatórios do IBGE publicado em 1956, no ano de 1730 foi fundada a fazenda “Boqueirão de Santo Antonio”, e iniciado a construção de uma capelinha.

Em 15 de novembro de 1755, esse templo fora elevado à categoria de matriz, com a criação da paróquia por provisão do Frei Manuel de Jesus Maria, religioso carmelita, que ali chegou com autorização do Bispado de Pernambuco. Em local próximo, foi construído o primeiro açude público do Ceará nas terras de sesmarias do riacho Pirabibu.

O governador de Pernambuco, D. Tomás José de Melo, por força de Carta Régia datada de 22 de julho de 1766, autoriza a Ouvidoria Geral da Comarca do Ceará, a que fosse elevada à categoria de Vila a povoação de “Santo Antonio do Boqueirão de Quixeramobim”, e aí foi instalado o município no dia 13 de junho de 1789, e recebeu o nome de Nova Vila do Campo Maior de Quixeramobim.

A Confederação do Equador no Ceará teve inicio em Quixeramobim, quando a Câmara Municipal, no dia 9 de janeiro de 1824, declara extinta a Dinastia da Família Real e proclama uma República, como uma insatisfação, pelo autoritarismo de D. Pedro I em dissolver a Assembléia Constituinte, quando outorgou uma constituição sem consultar o povo.

Outro ponto que a história iria descrever, é que nessa antiga Vila do Campo Maior, seria o berço de Antonio Conselheiro, o homem de Canudos.

A Comarca da Nova Vila do Campo Maior de Quixeramobim, cujo primeiro juiz de direito fora o Doutor Antonio Pereira Ibiapina, fora instituída aos 6 de março de 1833. Depois pela lei nº. 770 de 14 de agosto de 1856, o Município passou a foros de cidade e tomou a nomenclatura de apenas “Quixeramobim”.

O já Estado do Ceará tinha a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité, empresa ferroviária que, estava sob o domínio do Governo desde 1878, e que inaugurou a estação de Quixeramobim em 4 de agosto de 1894, no Km 237,467 da linha Sul, com 187,010 m acima do nível do mar, e nas seguinte coordenadas latitude 5º 11’ 57” e de longitude 39º 18’ 27” do W.Greenwich.

 

A Arte de Sua Ponte

A ponte ferroviária de duzentos metros para ser montada em quatro vãos de proporções iguais, foi adquirida na Filadélfia – USA, e na Via Férrea de Baturité, Ernesto Lassanse Cunha era o Engenheiro em Chefe. Desde o seu desembarque no Poço das dragas (antigo porto de Fortaleza) até a beira do rio do Quixeramobim, a mesma foi transportada em gôndolas sob a coordenação do Engº João Felipe que era Chefe de obras da Via Férrea Baturité.

Tendo em vista João Felipe Pereira ter sido exonerado da chefia de obras da EFB e, ter ido assumir o Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, a montagem dessa ponte ficou a cargo do Engº Luiz de Andrade Sobrinho que, depois também montou a de Banabuiu em Humaitá (Hoje senador Pompeu).

O Município de Quixeramobim é o centro geográfico do Ceará, e está localizado na zona fisiográfica do Sertão Central. Duas coisas justificaram a passagem do trem por essa localidade:

A Partir de 1992 o trem passou a trafegar por variante.

 Primeiro: os recursos naturais como solo aluvião, jazidas calcárias, matas para a extração de madeira de construção, riquezas em gado, cotonicultura e outros produtos da terra;

Segundo: a luta do Comendador Garcia, pois depois de Quixadá o trecho era para tomar o vale jaguaribano e ir pelo Icó, para só em seguida ir à Vila da telha (Iguatú). Em 1880, essa liderança de muita influência em Quixeramobim, esteve até na corte e falou com as autoridades no Rio de Janeiro. O trem estava garantido para Quixeramobim.

Esse foi o grande impulso ao tempo de nossa cultura agropecuária.

Como o tempo é uma coisa dinâmica, as coisas vão tomando outros rumos. O transporte ferroviário movimentou e muito Quixeramobim. Pouco antes da erradicação dos trens de passageiros naquele triste dezembro de 1988, havia diariamente às 23. h o cruzamento dos trens Fortaleza-Crato SCP1 e Crato – Fortaleza SCP2 e, a troca de tripulação. O povão mesmo já tarde da noite, ia observar esses trens de passageiros.

Depois com as crises na agricultura, dizimação de gado, a derrota da cotonicultura e outros agravantes efeitos de estiagens, faltou o que a estação exportar.  Complementando a linda ponte metálica, fora aposentada tendo em vista, em 1992, o trem passar a trafegar numa variante, modificando assim o traçado original.

Como disse José de Alencar: “O maior arquivo de um local está na sua etnologia topográfica”. Visite Quixeramobim. Olhe para o pátio de manobras, os edifícios da RVC, e pergunte aos moradores o que eles sabem sobre o trem…

 

IBICUÃ TEM SUA HISTÓRIA

 

Estação de Ibicuã – Miguel Calmon

O trem quer os rodoviários queiram ou não, foi o criador no duro, de todos os locais por onde a linha férrea passou. Caso já fosse cidade, complementava o seu desenvolvimento.

Os trilhos têm um magnetismo extraordinário pois, tropeiros estrategicamente faziam seus parados à beira da ferrovia, e as famílias menos favorecidas migravam para lá. Parece que a passagem do trem consolava ou dava segurança onde se estabeleciam. Aí havia silenciosa reivindicação de uma parada, inicialmente para o transporte de passageiros.

Com o vaivém de usuários, a população começa a ficar economicamente ativa, afinal quando o homem entra no mercado de trabalho, a sua família entra no mercado de consumo. É assim que nascem cooperativas, pequenas e médias indústrias, comércio varejista e os distritos prósperos que na maioria das vezes, se transformam em Cidades.

Neste relato quero falar do próspero distrito de Ibicuã, localizado no Município de Piquet Carneiro (antigo Jirau) cujo território foi desmembrado de Senador Pompeu em 1957. Ibicuã tem a seguinte formação toponímica: Yby= Terra, chão, solo + Cui+ Farinha, areia fina. + Tab donde se obtém “habitação ou lugar sujeitos ao fluxo das tempestades marítimas”. (Dicionário de topônimos do Profº Aragão).

Casa do Agente de Ibicuã em 1911.

Primitivamente, Ibicuã foi chamado de Miguel Calmon; era habitada pelos índios Quixelôs (Tapuias) que foram aldeados, às margens do Rio Jaguaribe na Vila da Telha (Iguatú). Em 1719 esses indígenas passaram a habitar toda a região do Sertão Central do Ceará, no Brasil Colônia.

Nessa época, as terras no sertão eram conseguidas gratuitamente, bastando serem requisitadas através da chamada “Carta de Sesmaria” às autoridades coloniais. Normalmente se iniciava antes a atividade pecuária, quando se tomava posse da terra e se erguia os currais; depois havia o pedido de propriedade legal concedendo Sesmarias (pedaços de terras cujas medidas eram no máximo três léguas de frente e uma de fundo).

O Governo português estimulava a ocupação dos sertões pois garantia domínio sobre as terras há tanto possuídas e não ocupadas, como também o entesouramento com cobranças de impostos sobre gados e a produção da terra.

Foi assim que os conquistadores lusos invadiram pelo rio Jaguaribe o interior cearense e escravizaram os índios submissos e exterminaram os “rebeldes”. Assim os índios, verdadeiros donos de nossas terras desapareceram, restando entre nós um remanescente sem expressão.

Doutor Miguel Calmon

Ministro da Viação e Obras Públicas quando a Estação foi Inaugurada.

Com o incremento do latifúndio, ficou a pecuária e a cotonicultura que motivou no último quartel do século XIX quando da aprovação do traçado da Estrada de Fero de Baturité, para que o trem passasse no distrito de Ibicuã, cuja inauguração da estação ferroviária ocorrera aos 3 de maio de 1908, no km 338,166, linha Sul do Estado.

Ibicuã por ferrovia transportou por muito tempo algodão arbóreo e herbáceo, e também gado, porém, com o enfraquecimento da cotonicultura cearense e, as constantes secas ocorridas no século passado, esse distrito sofreu também o efeito. As cargas desapareceram.

Com a erradicação dos trens de passageiros de longo percurso em dezembro de 1988, Ibicuã saiu da mídia, ficando vinculado seus acontecimentos à Piquet Carneiro, sua sede. Os moradores amam com orgulho a terra que os viu nascer, mas lhes falta algo, que presumo ser o movimento da estação e as viagens de trem.

Tudo passou!!

 

OSCAR PEDREIRA EMPRESÁRIO SOLIDÁRIO

Oscar Jataí Pedreira nasceu em Fortaleza aos 18 de julho de 1896. Filho de Luiz da Silva Pedreira e Francisca Jataí Pedreira. Foi o primeiro empresário de ônibus coletivo de Fortaleza, a qual conduziu seu empreendimento por 30 anos.

Casado com a Sra. Francisca Holanda Pedreira, e para homenageá-la Oscar Pedreira por chamá-la na intimidade Francisquinha, colocou o nome em sua mansão o nome de “Vila Quinquinha”, na Avenida Francisco Sá nº 1855.

Vila Quinquinha

Apesar de o casal não ter tido filhos, adotou seus irmãos, sendo um exemplar chefe de família, deixando legado de excelente empresário, e como prova de que gostava dos moradores assistidos por suas linhas coletivas, pensou nos que não eram seus usuários. Foi graças a sua intervenção significativa, que em 1952, Jacarecanga contou com seu primeiro posto de combustível. O Posto Clipper, que revendendo produtos Atlantic, fora instalado em local estratégico: Fim da Rua Jacinto de Matos, início da Rua José Bastos, convergindo ambas as com a Avenida Francisco Sá tendo passagem de Nível ferroviário, que acompanhava a José Bastos, tal como ficou até 2010. Hoje é Av. José Jataí.

Posto Clipper 

Faleceu em 13 de dezembro de 1977, e a família resolveu vender a propriedade e quando de sua demolição desnecessária, desapareceu um grande galpão, que era a garagem da empresa do Pedreira. Assim é que a aristocracia do Jacarecanga foi se acabando.

Nota: Atendendo projeto do Vereador Luiz Ângelo, a Rua Quixeramobim aos 18 de julho de 1978, passou a se denominar Rua Oscar Pedreira.

 

Rua Quixeramobim atual Oscar Pedreira

Jacarecanga

 

 

MOTORISTA JOÃO PILÃO HUMILDADE E TRABALHO

 

 

          Motorista João Pilão    

João Amora Moreira (João Pilão) nasceu em Aquiraz aos 14 de junho de 1914. Veio para Fortaleza em 1941, já trabalhando como motorista de uma fabrica de aguardente. Nesse mesmo ano trocou o caminhão pelo ônibus e trabalhou com os primeiros empresários de ônibus de Fortaleza, na Empresa Pedreira (1929) de propriedade dos Srs. Oscar Jataí Pedreira e João de Carvalho Góes, de onde faziam as linhas: Vila São José/Centro; Jacarecanga/Centro; Brasil Oiticica/Centro e Carlito Pamplona/Centro. Depois o Sr Oscar Ficou comandando sozinho o empreendimento. Foram essas as quatro concessões inicialmente dadas aos empresários.

Foi aí que João Amora popularmente em toda Fortaleza motorizada e usuária de transporte coletivo, conheceu João Pilão. Folgava rapidamente uma mão do volante e acenava para o povo.

Só dirigia de bem consigo mesmo, e sorria para os passageiros. Foi um vereador que não tivemos, se tivesse sido um aproveitador por sua popularidade. Trabalhou ao volante até dezembro de 1973 quando merecidamente obteve sua aposentadoria previdenciária, aproveitando o encerramento das atividades e perca de concessão da Empresa Pedreira. Ainda cheguei a passear em seus veículos da marca GMC e Ford com carrocerias de madeira, fabricadas em 1946.

João Pilão residindo na Capital, primeiro morou na Rua Padre Mororó defronte ao Cemitério São João Batista indo depois para o Bairro Carlito Pamplona, vindo a residir na Rua Assis Bezerra e por ultimo na Rua Coelho Fonseca, no mesmo bairro.

Faleceu em 2 de maio de 2000 e era casado com Nedir Nogueira Moreira, falecida dois meses antes dele, deixando sete filhos.

MIRTON LAVOR MISSIONÁRIO DO JACARECANGA

 

 

Padre Francisco Mirton Bezerra de Lavor (Pároco dos Navegantes);

Ordenação Sacerdotal: 7/12/1952

Provisão e outras atividades: Pároco da Paróquia de São Francisco de Assis – Jacarecanga.

Histórico Pastoral

– Vigário das Paróquias São Francisco de Assis, em Fortaleza 15/02/1959;

– Diretor Artísitico da Rádio Assunção de Fortaleza – CE;

– Diretor chefe do Jornal O NORDESTE, em Fortaleza;

– Professor dos colégios: Nossa Senhora de Lourdes (1960), Colégio Santa Isabel (1970);

Santa Cecília (1970-1971), Colégio Castelo Branco (1969 a 1972),

– Diretor do Ensino e Treinamento do SENAI-CE – 1972;

– Diretor Regional do SENAI – 1973-1974;

Faleceu aos 8 de Agosto de 2021.

(Fonte: Arquidiocese de Fortaleza).

   Paróquia dos Navegantes. 

PEDRO PHILOMENO FERREIRA GOMES UM VISIONÁRIO

Pedro Philomeno Ferreira Gomes natural de Sobral, nascido aos 7 de junho de 1888, filho de Francisco Philomeno Ferreira Gomes e Maria Isabel Carneiro F. Gomes. Chegou em Fortaleza com seis anos de idade e após viagem ao Sul do País, tornou-se sócio com seu pai de uma fábrica de cigarros, e com seu espírito empreendedor, ampliou suas atividades para os ramos de usinas têxtil, imobiliário e da industrialização do caju.

 

 Industrial Pedro Philomeno

Na indústria de beneficiamento de algodão, foi um dos sócios fundadores da Siqueira Gurgel, Gomes & Cia Ltda. No setor têxtil, implantou em Fortaleza, a Fábrica de Tecidos São José em 1926, tendo como sócios Antônio Diogo de Siqueira e Raimundo Frota. O objetivo da sociedade é a indústria de fiação e fabricação de tecidos através da instalação da Fábrica de Tecidos São José, localizada no bairro de Jacarecanga em Fortaleza.

Logo em 1927, os sócios A.D. Siqueira & Filho retiram-se da sociedade que passa a se chamar Frota & Gomes Ltda. Em 1928, com a morte de Raymundo Silva Frota, recebe a denominação de Gomes & Cia Ltda. No que diz respeito à sua natureza jurídica somente em 1961 transforma-se em Sociedade Anônima com o nome de S/A Philomeno Ind. E Comércio. (Foi meu primeiro emprego formal em 1973, e a lei permitia menor trabalhar em serviços não qualificados).

A imobiliária Pedro Philomeno Ltda, foi a pioneira na implantação de hotéis turísticos no Ceará. Foram de sua responsabilidade a construção do “Iracema Plaza Hotel”, o primeiro a ser construído na orla marítima, e o “Lord Hotel”, tradicional hotel do Centro da cidade. Foi igualmente inovador, quando montou a ‘Fazenda Guarany”, em cujas terras plantou inicialmente duzentos mil pés de caju, fruto que se transformaria numa das maiores fontes de riqueza do Estado.

Pedro, no entanto, destacou-se como pioneiro em diversos ramos de atividade. Antes da criação da fábrica de tecidos, produzia o antisséptico cognominado ASSEPTOL. Homem de muita visão.

Faleceu em 1983.