ALGUMA COISA DE MARANGUAPE

Alguma coisa de Maranguape

 

A formação toponímica de Maranguape traduz-se por Marã = Guerra + Guá= Vale e PE= Em ou O, de onde se obtém “Vale da Guerra”.

A freguesia de Maranguape estabelecida aos 6 de agosto de 1649 foi formada da antiga Missão Paupina onde foram aldeados pelos jesuítas, os índios paupinas e parnamirins. A povoação foi elevada a categoria de Vila pela lei provincial nº 548 de 17 de novembro de 1851 e sendo inaugurada no ano seguinte, ficando desmembrada do Município da Capital. O termo Maranguape foi elevado à categoria de Comarca pela lei provincial nº 1.492 de 16 de dezembro de 1872.

A Vila de Maranguape era assentada na beira do rio que leva o seu nome, e primitivamente tinha 400 casas de telhas e alguns sobrados. Existia a feira do gado para o consumo da Capital e o seu solo, devido o privilégio que recebeu da natureza, era argiloso, fertilíssimo com coberta de cafezais, canaviais e próprio para o algodão, mandioca e legumes.

O segundo privilégio natural de Maranguape foram seus recursos hídricos, pois o Município foi banhado pelos rios Gereraú, Pirapora e Gavião que descia a encosta oriental da serra de onde, formavam após passar pela cidade, os ricos canaviais. O rio Cocó foi formado pelos Pitaguary e Genipabu.

Reservado estava ao futuro progresso da então Província do Ceará que, constasse no projeto de construção de sua primeira estrada de ferro (1870), uma linha que deveria ligar inicialmente Fortaleza à Vila de Pacatuba, mais um ramal ferroviário para Maranguape pelas razões econômicas já expostas.

Estava na frente dos trabalhos de construção e prolongamento da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A, o engenheiro fluminense José Privat, quando aos 29 de novembro de 1874 os trilhos chegaram ao distrito de Maracanaú. O assentamento dos trilhos no ramal de Maranguape foi lento, pois como o serviço terceirizado estava nas mãos do Sr. João Correia e, apesar de ter empregado 500 operários, aos 17 de junho de 1875, o trecho ainda não havia sido concluído, tendo referido atraso ocorrido por conta das trabalhosas bases na ponte sobre o rio Tangueiras.

A primeira vez que Maranguape recebeu um trem foi no dia 2 de setembro de 1875, em viagem de experiência ocorrida com excelente êxito nos seus 7,246 Kms de extensão. O comboio inaugural partiu da Estação Central ao meio dia e, com cinqüenta e quatro minutos de percurso chegou em Maranguape, onde os convidados e a diretoria da empresa foram recebidos com efusivos aplausos da multidão entusiasmada. Em meio à festa no pé da serra, a locomotiva Hunslet Leeds nº 2, recebeu o apelido de “A Maranguape”. Após uma hora de euforia, ao término dos discursos e cumprimentos pelas autoridades locais e agropecuaristas, o trem regressou a Fortaleza.

Aos 7 de setembro de 1875, com altitude de 66,604 m, era oficialmente inaugurada a Estação de Maranguape.

O trem em Maranguape, além de a população se beneficiar com dois horários de suburbanos diários, aqueceu os empreendimentos, dentre os quais menciono a “Ribeiro & Barbosa”, que em 1925 era o maior comprador de algodão do Município com fábrica de beneficiar algodão e arroz, tendo ainda miudezas e ferragens.

A vocação cearense sempre foi a agricultura, porém a nossa produção foi dizimada, talvez até por descaso político, a exemplo do bicudo que venceu o algodão. A falta de política para o homem do campo tem como efeito o êxodo rural, que em busca de sobrevivência, as pessoas vem para as cidades criando, as chamadas zonas de riscos. A pecuária foi transferida para o Sul e Centro Oeste do grande Brasil e, sem agricultura, os vagões de trens se esvaziaram.

Maranguape escasseou na exportação de produtos que justificasse o transporte ferroviário. O transporte de passageiros é extremamente deficitário, pois o custo operacional é até mais alto, devido o material humano utilizado.O trem se despediu de Maranguape aos 26 de novembro de 1962.

Maranguape ainda está correndo depressa, mas agora sem os cuidados do trem que lhe ensinou a caminhar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A COLUNA PRESTES NO CEARÁ

                       A COLUNA PRESTES E REDE DE VIAÇÃO CEARENSE

 

Governador Moreira da Rocha e autoridades em Missão Velha

 

O Tenentismo foi um movimento político militar que, em 1922 pela luta armada pretendia conquistar o poder e, fazer reformas na República Velha. Os tenentes queriam a moralização da administração pública e o fim da corrupção eleitoral. Pregavam a instituição do voto secreto e a criação de uma justiça eleitoral honesta. Defendiam o nacionalismo econômico: a defesa do Brasil contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro. Desejavam uma reforma na educação pública para que o ensino fosse gratuito e obrigatório para todos os brasileiros.

A primeira revolta foi no Forte de Copacabana, e dois anos após surgiram novas rebeliões no Rio Grande do Sul e São Paulo. Foi formada a Coluna Paulista que, seguiu em direção ao sul do País. A União do tenentismo formou com outros grupos, a Coluna Prestes, cujo chefe era o incontestável Luis Carlos Prestes.

Esse grupo de ex-oficiais do exército brasileiro, idealistas e corajosos, realizou uma grande marcha percorrendo mais de vinte mil quilômetros, atravessando quatorze Estados brasileiros, pregando sustos aos donos do poder.

Rebelados contra a Velha República marcada pelo poder dos “Coronéis”, o numero dos efetivos da coluna variava de setecentos a setecentos e cinqüenta mil homens mal armados, fazendo à pé a maioria das marchas pelos rios, pântanos e nas regiões semi-áridas do Nordeste, entre julho de 1924 até março de 1927. Os membros da Coluna muitas vezes eram hostilizados pelo povo, devido o mesmo ser manipulado pelos coronéis interioranos.  Os homens enfrentavam tropas do Exército, milícias estaduais e até mesmo jagunços assalariados.

 

Trem com a Comitiva

Quando esse lendário “Movimento Popular’ se aproximava do Ceará, o Presidente da República, Artur Bernardes convocou ao Palácio do Catete (Rio de Janeiro), o deputado federal Floro Bartolomeu, delegando-lhes poder para organizar a “Defesa do Território Cearense”. Floro recebeu vasta quantidade de material bélico e recursos financeiros.

Por que o Presidente Bernardes convocou Floro e não o Governador Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) para combater a Coluna no Ceará? Era porque Sua Excelência obteve conhecimento do convívio de Bartolomeu com jagunços e Coronéis do Estado que lutaram a favor do Governo, desde a Sedição de Juazeiro em 1913, e que o mesmo era um político com forte influencia perante os bandoleiros.

Regressando ao Ceará, Floro Bartolomeu organizou um “Batalhão patriótico”, cujos membros eram todos jagunços enviados pelos latifundiários da zona sul cearense. O deputado teve ainda a idéia de procurar o grupo cangaceiro de Vigulino Ferreira da Silva, “Lampião”, para lutar ao seu lado na “defesa da liberdade”.

 

Tropa da Coluna Prestes

A Rede de Viação Cearense – RVC, por conta da incursão dos rebeldes, foi focalizada nesses aspectos: A construção e desempenho, afinal a Estrada de Ferro era de propriedade do Governo da União. As linhas estavam no sul do Estado (região do Cariri) e foram paralisadas por cerca de um mês, acarretando quase uma desorganização por completa. Quanto ao desempenho da RVC, não foi bom na época, ocorrendo um desequilíbrio na vida comercial, pois o itinerário do trem justamente na zona mais produtiva, estava impedido.  Essa queda de receita se deu também, porque as composições ferroviárias passaram a trafegar conduzindo tropas legais, prontidão de pessoal e material. Os trens da linha de Baturité foram prejudicados inclusive, os que circulavam no ramal de Poço dos Paus (Cariús), pois, integrantes da Coluna estavam também estacionados próximos.

Provenientes do vizinho Estado do Piauí e comandados pelo Capitão João Alberto, 132 homens pertencentes a Coluna Prestes, ocupou o trecho Ipú – Crateús de 13 a 26 de janeiro de 1926, e em ato de vandalismo destruiu os aparelhos telegráficos das estações de Ipú, Ipueiras, Charito (João Tomé), Nova Russas e Pinheiro (Sucesso) na Via Férrea de Sobral, ficando por cerca de dois dias a comunicação ferroviária interrompida, pois houve até um quebra-quebra de isoladores e derrubada de portes.

A Coluna Prestes no Ceará foi despeça e a Rede de Viação Cearense, a pedido da Governadoria do Estado, no total organizou 237 trens especiais tendo transportado forças militares, animais e o material bélico que o Presidente Bernardes havia colocado à disposição do deputado federal Floro Bartolomeu. Não teve condições de tal movimento prosperar no Ceará, pois a força militar e a dos “Coronéis”  extirparam as pretensões desse grupo.

Endereçados à diretoria da RVC, o Presidente do Ceará, José Moreira da Rocha “O Moreirinha” aos 4 de março de 1926, enviou oficio no qual expressa: “calorosos agradecimentos pelos relevantes serviços prestados ao Estado na defesa da ordem constitucional durante a permanência das hordes revolucionárias nos sertões cearense” . Acrescenta o oficio em apreço, que a diretoria da RVC e seus dedicados auxiliares, deram “as mais inequívocas demonstrações de amor às instituições democráticas, nos calamitosos dias por que passou este Estado”.

A ferrovia cearense na época como propriedade do Governo, apenas fez o seu papel e nada fez contra o povo, senão em dezembro 1988 quando o povo passou a chorar com saudade do seu trem, para as cidades do interior.

“Não acredito em partido político, e sim na ideologia. O anelo dos partidos é o poder. Todo movimento legítimo é a reivindicação do povo, mas a liberdade de idéias não dá direito à pratica do vandalismo”. (Do autor).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota: Foto da capa Governador Moreira da Rocha, Floro Bartolomeu, e autoridades civis e militares na Estação de Missão Velha. Estratégias para a debelar a Coluna no Sertão.

A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO

 ESTRADA DE FERRO E A SEDIÇÃO DO JUAZEIRO

Embarque na Estação Central

 

O Presidente da República do Brasil era o Marechal Hermes da Fonseca. Setores Civis e militares desenvolveram a chamada “Política das Salvações”, onde com a substituição das Oligarquias estaduais por grupos políticos (também Oligárquicos) ocorre a queda de Nogueira Accioly e a chegada de Franco Rabelo ao Governo do Ceará.

Com a Política de combate as oligarquias, e com bastante indecisão, Hermes da Fonseca prejudicava os planos de Pinheiro Machado, seu aliado, pois este tinha a pretensão de se eleger Presidente da república em 1914, com apoio das oligarquias tradicionais. Pinheiro começou a pressionar pelo afastamento dos militares e dos governadores salvacionistas. O quadro político era este, quando no Ceará, surgiu um movimento golpista em 1913-14, que se denominou Sedição de Juazeiro. Coronéis ligados a Pinheiro Machado depuseram, como iremos ler, o Governo Salvacionista de Franco Rabelo.

Antonio Pinto Nogueira Accioly dominava o Ceará, havia 16 anos. Os segmentos da burguesia comercial, classe média e populares de Fortaleza, derrubaram a poderosa Oligarquia Acciolyna. O Governador eleito foi o Coronel Marcos Franco Rabelo, com uma votação folgada dos Deputados da Assembleia Legislativa, então controlada pelo partido de Accioly. Rabelo via-se obrigado a negociar com o ex-oligarca, prometendo-lhe participação no Governo através de alguns cargos públicos, e de duas das três Vice-governadorias (uma seria de padre Cícero).

Estação Central

Aí começou a crise institucional e contextual do Governo Rabelo. Apesar do apoio do povo, não tinha base de sustentação. Com o objetivo de dar fim ao Governo salvacionista, Floro Bartolomeu, Nogueira Accioly, Thomaz Cavalcante e outros, em agosto de 1913 se reuniram no Rio de Janeiro com Pinheiro Machado, com aval do Presidente Hermes da Fonseca.

A Sedição de Juazeiro iniciou-se aos 9 de dezembro de 1913, quando jagunços de Floro e do Padre Cícero depuseram as autoridades juazeirenses Pró-Rabelo e com bacamartes armaram a população. Floro Bartolomeu foi eleito Presidente “legal” do Ceará. Por decreto do “novo” Governador, foi transferida a Capital do Estado para Juazeiro do Norte. Ao ser informado dos acontecimentos, Franco Rabelo enviou um trem com uma tropa de 500 homens da força policial do Estado para a Cidade de Iguatú que, era a estação terminal da Estrada de Ferro de Baturité.

Trem em Sussuarana (Engenheiro Barreto

De Iguatú as tropas seguiram para o Município de Crato. Juazeiro preparou-se para a defesa. Homens, mulheres, jovens, ex-combatentes de Canudos transformaram-se num verdadeiro exército improvisado com cerca de 5.000 pessoas. Foi cavada uma trincheira de 9 Km em torno da Cidade. Aos 20 de dezembro (11 dias após) ocorreu o primeiro ataque.

Após 15 horas de combate, os rabelistas debandaram derrotados. Os sediciosos conquistaram Barbalha aos 27 de janeiro de 1914.  O Governo Cearense ficou sem reforço para enviar ao Cariri. Hermes da Fonseca transferiu de Fortaleza os oficiais do Exército pró-Rabelo, proibindo o desembarque de munições na Ponte Metálica (então Porto de Fortaleza) e numa verdadeira demonstração de apoio aos golpistas, proibiu também o transporte de armas e tropas pela Brazil North Eastern Railway-(EFNB), firma inglesa que era subsidiária da South American Railway Construction Company LimitedSARCCOL que na época administrava os serviços da Estrada de Ferro de Baturité (que depois se chamou RVC, RFFSA, Companhia ferroviária do Nordeste-CFN, e hoje Transnordestina Logística S/A ).

Padre Cícero

Pois bem, os sediciosos conquistaram o terminal ferroviário de Iguatu. A maioria dos caboclos via pela primeira vez um trem e nele ia viajar. No distrito de Ibicuã encontraram o último foco de resistência Governista de 300 homens capitaneada por J. da Penha Alves que morreu no combate. A partir de então, cenas de covardia, saques e de assassinatos ocorreram em Cidades servidas pela Estrada de Ferro, quando maquinista, foguista, guarda freios, ficaram as disposições desse povo mais como reféns, do que como no desempenho de suas funções. O trem parava onde eles queriam.

O abalado Governador Franco Rabelo, a população de Fortaleza e a Associação Comercial do Ceará fizeram um desesperado apelo ao General setembrino de Carvalho, que era o comandante das tropas do Exército no Ceará para deter e desarmar os jagunços. Setembrino por sua fidelidade a Pinheiro Machado deixou tudo como estava.

Pinheiro Machado

Hermes da Fonseca pressionou Rabelo a renunciar e, finalmente aos 10 de março de 1914 decretou Estado de Sítio e logo em seguida intervenção Federal, levando 4 dias depois a Franco Rabelo renunciar a Presidência do Ceará. Sob os efusivos aplausos de uma multidão, o ex-Governador embarcou para o Rio der Janeiro. Setembrino de Carvalho assumiu como interventor o Estado do Ceará e, em meio às dificuldades, desarmou os jagunços enviando-lhes de volta ao Cariri, por uma composição ferroviária.

A Sedição de juazeiro foi um confronto armado, onde oligarcas  e coronéis derrubaram um Governador eleito pelo povo, que não agüentava mais Nogueira Accioly. Para desarticular Franco Rabelo, as oposições arquitetaram um plano cujas figuras foram: Padre Cícero e Floro Bartolomeu.

Franco Rabelo e os Sediciosos na época devem ter dito. Hoje impõe a história, e a justiça manda que os pesquisadores tornem a público, a significativa participação da Estrada de Ferro de Baturité neste capítulo.

DEPOSIÇÃO DE CLARINDO DE QUEIRÓS

                                          Deposição do Governador Clarindo de Queirós

 José Clarindo de Queirós, nasceu em Fortaleza em 22 de janeiro de 1841. Militar e político brasileiro..

Inclinado para a vida militar, assentou praça aos quinze anos de idade, em 1856. Em 1865 já tomava parte na Guerre da Tríplice Aliança e de lá voltou para o Rio de Janeiro e devido sua significativa atuação, ganhou o posto de Tenente-coronel.

Quando encarregado de fortificar as fronteiras da província do Amazonas , os cearenses lá residentes ofertaram-lhe uma espada de honra, em setembro de 1874, sendo promovido a Coronel.

No regime monárquico, foi Presidente da da Província do Amazonas , nomeado por Carta Imperial  de 9 de outubro de 1879, e ficou de 15 de novembro de 1879 a 26 de junho de 1880, e foi quando também passou a General de Divisão, para Comandar as Armas.

Aos 7 de maio de 1891 de volta à sua terra, o Congresso Constituinte do Ceará o nomeou Governador e nesse cargo se manteve até ser deposto, em 16 de fevereiro do ano seguinte, pelas Forças Federais.

 

Mas o que levou à Sua Deposição

Pelo exposto, sabemos que Clarindo conseguiu assumir vários cargos político na era imperial, inclusive Presidente da Província amazônica. A Assembleia Constituinte do Ceará tinha vários deputados ligados aos políticos imperiais. Floriano Peixoto temendo haver um recuo na história da República recém criada, resolveu depor todos os Governadores com afinidade política ao extinto Império.

Tudo ocorreu na tardinha de 16 de fevereiro de 1892. Fortaleza mal tinha acendido seus lampiões companheiro das noites pelas calmas ruas da cidade, quando começou rumores de algo atípico. A calmaria do vento leste proveniente do Outeiro (Aldeota), trazia algo estarrecedor. Barulho, estampido por armas de fogo.

Aos poucos cadetes da Escola Militar do Ceará (Colégio Militar) saíram num clima de revolta para atacar o Palácio da Luz, objetivando depor o Governador Clarindo de Queirós.

O Presidente Floriano Peixoto havia autorizado o Exército para fazer tal, e o tiroteio foi imenso. As barricadas foram postas para as charretes não circularem e privar os Pró-Clarindo a conduzir material bélico. A Praça General Tibúrcio virou campo de batalha, e tamanho foi o conflito armado que destruíram o pedestal da Estátua de general Tibúrcio, em que ela caiu de pé fora da sua base.

Percebendo que muita gente já estava ferida, de uma das sacadas do Palácio da Luz, o Governador estendeu “Bandeira Branca”, e renunciou.

Após uma pequena reorganização em sua vida familiar, Clarindo abandonou o Ceará indo para a Capital Federal, para não mais voltar.

Com saúde abalada, Faleceria no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1893. Hoje é nome de Rua no Centro de Fortaleza.

 

 

Governo: 28 de abril de 1891 até 16 de fevereiro de 1892.

Antecessor: Feliciano Antônio Benjamim;

Sucessor: João Nepomuceno de Medeiros Mallet.

RÁDIO DRAGÃO DO MAR

                                                          RÁDIO DRAGÃO DO MAR

                     A Rádio Dragão do Mar nasceu com conotação política; enquanto a Rádio Verdes Mares já nas mãos de Paulo Cabral de Araújo apoiava a União democrática Nacional – UDN, o Partido Social Democrático – PSD com vistas à campanha sucessória de 1958 fazia oposição ao Governo do Estado do Ceará, que estava nas mãos de Paulo Sarasate (governador) e Flávio Marcilio (vice). O Rádio sempre fora um bom cabo eleitoral e, antes do advento da Televisão era um forte instrumento de base.

O fortalecimento da Dragão vingou na inspiração da Braveza, pois, em dezembro de 1957 a emissora já tinha inserções experimentais e a aparelhagem, estúdio e  escritório já estavam instalados no edifício Arara (Depois sede do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários IAPC) , na Rua Pedro Pereira, centro da cidade, ocupando todo o 11º andar do prédio.

O Jornalista Blanchard Girão teve como responsabilidade elaborar o esquema de programação na nova emissora, que foi inaugurada aos 25 de março de 1958, data comemorativa da abolição da escravatura negra no Ceará. A nomenclatura “Dragão do mar” foi uma justa homenagem ao aracatiense de “Canoa Quebrada”, o jangadeiro Francisco José do Nascimento, cognominado “Chico da Matilde”, cuja idéia desse batismo radiofônico, segundo os contemporâneos fora idealizado pelo radialista Olavo Peixoto de Alencar.

A música escolhida como característica foi “Terra da Luz”, música de exaltação, de autoria de Humberto Teixeira e Lauro Maia. Depois o humorista e compositor Silvino Neto, que em temporada por Fortaleza, fora incumbido de produzir um seriado de vinhetas sob o tema “Terra da Luz”, e foi quando a emissora obteve um toque mais suave na exibição de sua programação e intervalos comerciais

A denominação de “Dragão do Mar” já tinha como sugestão uma linha de protestos e lutas, como ficou ratificado, pois assim fora assegurada por ondas hertzianas uma labuta que culminou com a vitória do Sr. Parsifal Barroso, candidato da união PSD/PTB.

A rádio seria a “pedra no sapato” do Governo da UDN, onde havia denuncias de deficiências na administração estadual, e que na análise do hoje saudoso Jornalista Blanchard Girão: “tinha escândalos de afilhadíssimos que caracterizavam, de um modo geral, a prática política estadual daqueles tempos”.

Com força no setor jornalístico, que estava entregue aos irmãos Almir e Artur Pedreira, a “Dragão” tinha obviamente um caráter primordial: combater o Governo da UDN e a promoção eleitoral dos candidatos do PSD. A direção política da emissora estava a cargo do então deputado estadual Franklin Chaves. O editorial da rádio era a crônica “A Nossa Palavra”, que ia ao ar às 12.h30, escrita por Blanchard Girão, lida por Waldir Xavier e, esporadicamente  por Almir Pedreira.

A emissora, com forte oposição e radicalismo caiu na graça do povo e isso contribuiu especialmente no departamento de esportes, onde originou uma grande equipe (Ivan Lima, Gomes farias, Paulino Rocha, Josely Moreira e muitos outros). Os programas de estúdio, muitos elaborados por Juarez Barroso (já falecido) e Rui Paes de Castro, todos vislumbrando dotes jornalísticos e rádio/teatro.

Programas da “Dragão”, além da crônica, ficaram líderes em audiência, “O Contador de História”, quadros rápidos, com resumidíssimos contos de extraordinária graça. Ressalte-se, demais, o cast de radioteatro, dirigido por J. Oliveira, que encenou algumas das mais ouvidas novelas de rádio da época. Neste cast apareciam nomes jovens, que se consagrariam depois no rádio e no teatro brasileiro, por exemplo, Aderbal Junior e Oliveira Filho.

Sem demora, a “Dragão” passou a ocupar posição de relevo no campo radiofônico local.  Em alguns horários, a “Dragão” batia amplamente as concorrentes, razão pela qual era a emissora preferida por alguns fortes anunciantes, como a The Sidney Ross, que mantinha elevados contratos com a emissora para a divulgação de seus principais produtos, como “Melhoral”, “Talco Ross” e “Pílulas de Vida do doutor Ross”.

A rádio, segundo alguns jornalistas, sacudiu a opinião pública, denunciando os desmando do Governo udenista. Estes retrucavam mais violência onde na época o Secretario de Segurança, general Severino Sombra, mandou prender um carro de reportagens da “Dragão”. Isto provocou uma reação histórica da imprensa local liderada por Perboyre e Silva, presidente da Associação Cearense de Imprensa. Uma imensa passeata de carros formou-se na Sede da ACI e se dirigiram para o Quartel da PM em Antonio Bezerra, com até as rádios concorrentes transmitindo os lances do acontecimento, e o povo nas calçadas aplaudindo os jornalistas.  O comando do quartel não permitiu a entrada dos jornalistas e os mesmos se deslocaram para a Praça dos Voluntários (Centro de Fortaleza), onde aconteceu outra enérgica manifestação, exigindo a libertação dos companheiros presos, o que foi afinal conseguido graças à firmeza e à valentia pessoal de Perboyre Silva. Tudo isso fez crescer ainda mais o prestígio e a popularidade da “Rádio Dragão do Mar”, com seus índices de audiência subindo de tal forma que as concorrentes já se sentiam incomodadas.

Noutra ocasião, o mesmo Secretário de Segurança, general Sombra, mandou prender de modo arbitrário um grupo de jornalistas. Os policiais detiveram numerosos profissionais de jornal e rádio, dentre os quais Adísia Sá, Narcélio Lima Verde, Edmundo Maia. Todos esses lamentáveis acontecimentos só fortaleceram a oposição, afinal a rádio Dragão do Mar, que liderava a luta contra a orgia de nomeações feitas pelo Governo da UDN, a esta altura, já estava derrotado nas urnas.

Concluída a campanha com o PSD voltando ao poder, o partido sentiu que não tinha vocação para manter uma emissora, com seu um elenco milionário: equipe esportiva e de jornalismo, produtores de programas, cast de rádio-teatro. Foi herdada uma folha de pagamento altíssima, o que a colocou em permanente situação deficitária. O PSD passou o comando da rádio, então ao Sr. Moysés Pimentel.

A “Dragão”, já politicamente prestigiada, sob a orientação de Pimentel, tornou-se porta-voz das grandes bandeiras reivindicatórias da época, abrindo microfones a lideranças operárias, estudantis e mesmo camponeses. Sustentou a campanha em favor do general Lott à presidência da República (candidato do PSD/PTB) e, assumiu posição firme em prol da legalidade, quando da renuncia do Sr. Jânio Quadros, sendo a única do Estado a lutar em favor da posse do vice-presidente João Goulart.

Ao lado de Jango, a “Dragão” assumiu a linha de frente em prol das reformas de base e foi, no Ceará o grande veiculo de divulgação das teses progressistas que marcaram aquele período histórico brasileiro. Em 1962, como decorrência natural da conduta da emissora, a sua cúpula diretiva candidatou-se, sendo eleito com grande votação, o empresário Moysés Pimentel para a câmara federal e Blanchard Girão que era diretor de programação, juntamente com Aécio de Borba diretor administrativo, foram para a Assembléia Legislativa.

Os dias da “Dragão”, porém, estavam contados. Em 64, mal estourou o “golpe”, os militares trataram de ocupar a rádio, fechando-a e prendendo os seus jornalistas e locutores (Peixoto de Alencar, Nazareno Albuquerque dentre outros), enquanto os deputados Moysés Pimentel e o Blanchard Girão foram cassados e presos.  Desde 62 a emissora política mantinha a sua diretriz democrática e reformista, ao lado do Presidente da república João Goulart que fora deposto em 1964.

A “Dragão” saiu do ar por vários meses e, quando voltou veio sob outra direção,ou seja com o militar reformado General Almir Macedo de Mesquita. Totalmente descaracterizada e, de tombo em tombo, ficou na vala comum das rádios, quase ignoradas pelo público.

A Rádio Dragão do Mar, em seu primeiro período, como emissora do Partido Social Democrático e posteriormente sob a orientação político-ideológica do empresário Moysés Pimentel, (presidente regional do Partido Social Trabalhista – PST) confunde-se com a conturbada realidade sócio-política do Ceará e do País naqueles finais de década de 50 e princípios da década seguinte. Nacionalmente, a Dragão do Mar esteve na crista de acontecimentos históricos da maior relevância, como a renúncia do Presidente Jânio Quadros, seguida da afronta à Constituição vigente na tentativa de golpe por parte dos comandantes militares, que vetaram a posse do Vice-Presidente, João Goulart.

A Dragão foi a única emissora cearense a posicionar-se a favor da posse do Vice-Presidente, entrando em choque, conseqüentemente, com a área militar. Toda a momentosa jornada do governo Goulart, a luta pelas reformas de base da sociedade brasileira, o despontar da consciência cívica do nosso povo, estudantes e trabalhadores em memoráveis movimentos, tudo isso perpassou através das ondas da Rádio Dragão do Mar, cuja coerência política se manteve incólume durante toda aquela fase. Em 1964, no auge da crise política brasileira, a Dragão continuou impavidamente nas suas posições.

Pois bem, os estúdios da rádio Dragão do Mar, quando saiu do edifício Arara, esteveram na Avenida do Imperador, a qual por sua vez mudou-se para a antiga Avenida Estados Unidos (hoje Senador Virgílio Távora) quase esquina com a Avenida Antonio Sales, e para lembrança nossa ali era onde findava a Estância do Castelo (Hoje Dionísio Torres) e para lá só tinha salinas. Depois o equipamento e os profissionais passaram uma temporada na Rua Marcondes Pereira, próximo a Avenida Barão de Studart. Os estúdios da Dragão do Mar enquanto pertencente aos Cal’s esteve na Rua 25 de março nº. 685, e sua estação transmissora irradiava da Avenida Presidente Costa e Silva (Perimetral), no Mondubim Velho, com uma torre de 100 metros, 25 kW de potência com o transmissor EASA, e 10 kW com o auxiliar de marca Nautel.

Busquemos resumir. Com uma programação bem eclética, inclusive reservando o horário noturno para programação evangélica, sempre operando na freqüência de 690 kHz, com o prefixo ZYH 590, após a concessão ao Partido Social Democrático – PSD, a emissora foi adquirida por Moysés Pimentel juntamente com o Deputado Franklin Chaves; posteriormente das mãos do general Mesquita a mesma fora transferida para a Família Cesar Cal´s na pessoa de seu diretor presidente Dr. Sérgio Cal´s.

Finalmente a famosa Dragão do Mar em 1 de agosto de 2008, fora vendida para a Comunidade Católica Shalom. Seus estúdios hoje estão localizados na Rua Maria Tomásia, no Bairro Meireles.

A programação jornalística, musical, e toda diversificação fora erradicadas. O povo continua ouvindo rádio, mas a bravura política e a diversificação aprendida pela didática dos microfones da 690, foi para a história.

É dizer como o saudoso radialista Wilson Machado: “E os anos carregaram”.

 

 

A MOÇA DA ESTAÇÃO POBRE

                                                   A MOÇA DA ESTAÇÃOZINHA POBRE

“Eu amo aquela estaçãozinha sossegada

Aquela estaçãozinha anônima que existe,

Longe, onde faz o trem uma breve parada…

Na casa da estação, que é pequena e caiada,

Mora, a se estiolar uma menina triste;

À chegada do trem, semi-erguendo a cortina

Ela espia por trás da vidraça que a encobre,

Muita gente do trem para fora se inclina

E olha curiosamente o rosto da menina

Tão anônima quanto à estaçãozinha pobre;

O trem parte… Ficou na distância esquecida

A estaçãozinha… E a moça triste da janela…

Mas, vai comigo uma lembrança dolorida…

Quem sabe se a mulher esperada da vida

Não era aquela da estação, não era aquela,

Aquela que ficou para trás, perdida?”

Ribeiro Couto

 

MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

                                   MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

 

É impossível desassociar o movimento de mercado e/ou feira livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias ao que está defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante.  O negócio é vender.

O primeiro mercado livre de que há registro no Centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas, o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que apesar de ter sediado uma das agências do extinto Banco do Estado do Ceará – BEC, hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.

O segundo Mercado livre, com planta do Engenheiro português Antônio José da Silva Paulet (nome de Rua) teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o Mercado Central na Rua Cond’eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.

A Fortaleza ainda Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a Rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado Norte desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês!

Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Piões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.

No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do mercado São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da Praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu saudoso pai, fiscal Valdemar Alves de Lima na época à serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatórios enfatizando promiscuidade e irregularidades, mas, parece que a resistência do popular neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela Rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no conhecido Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “sobral” e “Iguatú”.

Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos da CTC do bairro Alagadiço, mas que a placa de destino era “São Gerardo”. Os que hoje, não trafegam pelo inicio da Avenida Bezerra de Menezes são integrados, ao terminal de Antonio Bezerra.

Mercado São Sebastião (1937 – 1965)

A construção do novo mercado São Sebastião na Gestão Antônio Cambraia (1993-1997), resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a Rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a Rua Padre Mororó, esta que antigamente chamava-se Rua São Cosmo (1888), Rua 16 (1890) e ligava no sentido Norte Sul ao Morro do Croatá, ou seja, beirando a Praia do Jacarecanga e o Curral do Pecuarista Francisco Lorda; ia até ao inicio da Rua Flor do Prado atual Av.13 de Maio. A Estrada de Ferro em 1922 fez a primeira interrupção, e a segunda foi em passado recente, como já relatei.

No mais é só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio – SESC, que divergência foi aquela.

 Mercado São Sebastião (1965 – 1993)

Este pedacinho de Fortaleza foi assassinado esteticamente, para atender reclames dos que já haviam sido prejudicados com o desaparecimento da Sociedade de Investimentos e Empreendimentos LTDA – Siel, ou Mercado da Avenida Duque de Caxias, que funcionou de 1968 a 1973.

E o que os residentes têm a ver com isso, para perderem seu espaço, sua Praça e de modo compulsório conviver com mostrengagem? Ainda bem que mesmo particionado, o antigo Mercado de Ferro, está sobrevivendo, mostrando a posteriori que Fortaleza tinha Rosto.

 

PRAIA DOS ARPUADORES

                                                        PRAIA DOS ARPOADORES

 O nome do local provém do fato de, no passado, ser possível arpoarem-se baleias. Assim, historiadores atribuem a origem do nome ”’Arpoador”’, ao fato de que, no período colonial, o local era utilizado por pescadores (“arpoadores”) para visualização e posterior pesca com arpões das baleias que se aproximavam do local.

Aos que desconhecem nossa Capital foi saindo da escuridão à custa do sacrifício de fauna marinha, hoje na lista de extinção. As baleias desapareceram da Costa Norte brasileira, pois, a iluminação pública da Fortaleza Provinciana, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, o Dr. Casimiro José de Moraes Sarmento

O registro da Praia dos Arpoadores, ou da Primitiva Vila de Pescadores, deveu-se a importância dessa caça às baleias naquele local. No Mucuripe tinha o farol, no Centro movimento de navegação que fundeavam no Poço das Dragas; existiam trapiches no Jacarecanga; aliás existiam navegações nos Rios Maceió (Meireles), Pajeú (Centro), Jacarecanga (mesmo nome) e o Rio Ceará (Na Barra). O local mais propício para esses grandes animais marinho se aproximar era a calmaria da Vila dos Pescadores, que com essa atividade pesqueira o Presidente da Província juntamente com o Intendente comprava o animal, e trazia as carnes em barcos até o Poço das Dragas.

O processamento era retirar toda a gordura das baleias; e as mesmas eram transformadas em azeite para a iluminação pública. A carne era doada para a caridade.

A família Boris em 1906, contratou um fotógrafo e o levou ao local para fazer esses registros que hoje subsidiam à posteriori.

Em 1975 tive o privilégio de ir na casa de alguns amigos que eram enfermeiros, e ainda palmilhei na areia frouxa desse bairro, por sinal uma construção desordenada, sob o sol escaldante. Foi quando cheguei perto da antena da estação transmissora da minha Rádio Escola: Iracema de Fortaleza.

Arpuadores hoje é uma praia incorporada ao Bairro Colônia, e o projeto Vila do Mar, tornou o local atrativo, e a coisa ficou sem expressão. Ainda existe hoje pescadores remanescentes, mas muitos nem sabem dessa história.

 

VERDADEIRO BAR AVIÃO

          BAR AVIÃO, PARANGABA E A ENTRADA DA SERRINHA

Inaugurado em 1941 por Antônio Paula Lemos com casa redonda, esta é a verdadeira fachada do Bar Avião. A inspiração pelo nome fora dada ao seu idealizador, que era um apaixonado por aviões. Era que o antigo Cocorote (lagoa da Palha que gerou a corruptela Opaia), tinha um campo de aviação, que se transformaria em 1952 no antigo aeroporto Pinto Martins.

No local do desaparecido Jóquei Clube, hoje hospital da mulher, sentido Oeste do Bar percorrendo em rumo ao Sítio Ipanema, fora construída uma base militar Norte Americana, no período da Segunda Grande guerra. O autor destas linhas fui um dos que conheceram a deteriorada pavimentação, que era a pista das aeronaves estrangeiras. (no local hoje,Estação da Cagece). Isso influenciou o nome ao Bar.

No bar em baixo existia uma bomba de gasolina com estacionamento. Em cima um terraço. A linha férrea da Estrada de Ferro de Baturité passava ao lado e, tinha uma ruela que depois seria alargada.

O Cotonifício Leite Barbosa S/A, aos 16 de junho também de 1941 comprou um terreno da família do Cel. Zacarias Gondim, onde fora construída a Fabrica Santa Cecília, porém, a indústria só funcionaria em 1944. (Unitextil). Assim surgiram as ruas Prof. Theodorico, 15 de Novembro, Dom Carloto Távora e por aí se ia para a Serrinha, que devido à ligação com distrito de Messejana, o bairro ficou descaracterizado.

A via que era a Estrada da Boa Vista, passou a se chamar Paranjana (Parangaba-Messejana), depois Dedé Brasil e hoje Silas Monguba. O maior referencial do Bairro da serrinha, por coincidência era um concorrente do Bar avião; era o Bar do Raimundão, com seu tradicional forró aos sábados. Ficava na esquina com a Rua Bruno Valente.

A lagoa da Rosinha e o Serrote que inspirou o nome SERRINHA perderam nomenclatura, afinal, o novo aeroporto nivelou a área que era propriedade do Ministério da Aeronáutica. Quem trafega pela Avenida Carlos Jereissati percebe a diferenciação pela topografia. Mas isso é outra história…

O Bar Avião apesar de ser lendário, mutilaram-no entregando-lhe anexo com plataforma e colunas fugindo ao original. Com o Metrô de Fortaleza, seu viaduto tirou a estética do entorno de modo à edificação se monstregar. Estão matando a Parangaba.

Volto ainda um dia para falar sobre a estação ferroviária que, também sofreu ameaça, e sobre a abandonada Casa de Intendência. Bem, borracharia e promiscuidade jamais. Tomara que uma boa ornamentação devolva ao local, um aconchego, mas o prediozinho aeronauta, não terá mais sua originalidade. Servirá apenas como ponto referencial. Destruíram um dos ícones de Fortaleza que um dia, sabe Deus, será bela.

A índia Iracema de José de Alencar, não teria mais coragem de tomar banho na bucólica lagoa de Porangaba. As famílias Ana Lemos, Monte Negro e os Pedra que o digam.

Bar Avião é Bar Avião.

 

 

OTÁVIO BONFIM QUE SAUDADE DO TREM

 

 

 

Quando o trem da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité (depois Rede de Viação Cearense – RVC, RFFSA e hoje Metrô de Fortaleza, começou a circular em 1873, a linha que partia da Estação Central fazia uma grande curva acentuada, penetrando na Rua Trilho de Ferro, atual Tristão Gonçalves que, devido ao afogamento no Centro de Fortaleza fizera com que o diretor da RVC, Dr. Henrique Eduardo Couto Fernandes desse início em 1916, aos estudos para o desvio dos trilhos, livrando o trânsito e a população de acidentes.

Atendendo sua consultoria técnica e recebendo o sinal verde das autoridades, Couto Fernandes iniciou as obras ficando os trilhos em paralelo com a já avançada linha do Soure (Caucaia); após a ponte metálica sobre o Riacho Jacarecanga, a via fez uma curva de 90º nas terras do Coronel Pedro Filomeno.

Ponte Sobre o Rio Jacarecanga

 

A primeira grande reforma ocorrida naquele pedaço, diz a história, que foi no início da Rua Dom Jerônimo. Há quase cem anos e ainda na areia, com projeto aprovado pelo Intendente Guilherme Rocha, fora construído um forno crematório, onde o lixo da cidade era incinerado; por o terreno pertencer a Intendência de Fortaleza (Prefeitura a partir de 1914) o mesmo abrigaria a Sumov, hoje Secretaria Regional.

A chamada “Linha Nova”, que havia tido o batimento da primeira estaca em 1920, foi inaugurada em dia 31de dezembro de 1922; a primeira parada era no Matadouro. Chamou-se assim pois, a matança de gado para o abastecimento de carne verde de Fortaleza era no local em que ergueram a estação. Em 1945 a direção RVC ordenaria que os trens suburbanos parassem na já Avenida Francisco Sá.

 

 

Com o novo trecho Estação central – Matadouro, a Rede de Viação juntamente com os órgãos governamentais oficializaram quatro passagens de nível assim descritas: Avenida Tomaz Pompeu (atual Filomeno Gomes), Estrada do Urubu (que já foi Demósthenes Rochert e agora Francisco Sá), Açude João Lopes (Sargento Hermínio) e o Caminho do Barro vermelho que se denominou Avenida Bezerra de Menezes, cuja inauguração de seu alargamento data de 1 de julho de 1959.

 

 

A Estação Matadouro passou a se chamar Otávio Bonfim aos 24 de fevereiro de 1926. O ponto de junção dos trilhos deu-se no Sitio que pertenceu ao abolicionista José Correia do Amaral (Curva do Amaral/Porangabussu), tal como esteve até 2010.

O Estado do Ceará era ícone na cotonicultura e, escoava sua safra na maior parte por ferrovia. Os empresários construíam estrategicamente seus empreendimentos nas proximidades da Via férrea. Os desvios particulares eram construídos para o atendimento de seus interesses. Foi o caso da Usina Gurgel de propriedade da Firma Teófilo Gurgel valente, que se chamou “Usina ceará”, inaugurada no dia das crianças de 1919. A Casa Machado, empresa também de beneficiamento de caroço de algodão, na entrada do Pirambú fez também o seu desvio para carga e descarga de vagões.

O destino às vezes coloca em nossa frente coisas efêmeras, e a Estação de Otávio Bonfim parece ser uma delas, se não vejamos:

– Inaugurada a linda estação, a mesma ficou com o nome de “Matadouro” de 31 de dezembro de 1922 até 24 de fevereiro de 1926;

– Já com o nome de Otávio Bonfim a fachada ficou até 1979, pois em 20 de maio de 1980 era inaugurada uma Estação, com plataformas para receber carros Pidner  pela Coordenadoria de Transporte Metropolitano da RFFSA, transferida hoje para a Companhia Cearense de Transporte Metropolitano – Metrô de Fortaleza.

– O depósito de lenhas que se localizava no pátio de Otavio Bonfim, aos 28 de janeiro de 1937 foi transferido para o Bairro das Damas no km 8 (atual Couto Fernandes) ficando lá até 1963; No local do depósito de lenhas, foi inaugurada aos 26 de dezembro de 1938 a Vila Operária da RVC.

Agora com o projeto Metrofor, o trem abandonou a área. É a inviabilização das coisas e espero o meu leitor concordar. A Siqueira Gurgel (fabricava o sabonete singel, sabão pavão, Óleo Pajeú e a gordura de coco Cariri) e a Casa Machado já desapareceram do local, e os cargueiros passaram a trafegar por uma variante na corrente de tráfego Pajuçara-Caucaia saindo de circulação do perímetro urbano.

É lamentável para uma empresa de transporte perder usuários, mas temos que viver a realidade; Otávio Bonfim é bem assistido por transportes alternativos, afinal a questão física da área continua imutável. Defronte passa a movimentada Avenida Bezerra de Menezes, sendo ainda ao Leste a entrada do Beco dos Pintos e ao Norte o Cercado Zé Padre.

Hoje quando chego ao cruzamento da Via férrea com a Avenida Bezerra de Menezes, quanta diferença. Não vejo mais saindo pela Rua Justiniano de Serpa os ônibus que faziam as linhas Granja Paraíso e nem o Dona Tereza. Cadê os ônibus para o Sitio Ipanema, Vila dos Industriários, Campo do Pio, os elétricos? E a farmácia da D. Rosélia na esquina?

Bem, o trem voltar a circular pela Tristão Gonçalves é a história se repetindo, mas uma nova história que facilitará a vida do fortalezense gerando ainda mais progresso.

O bairro Otávio Bonfim já está sentindo saudade do seu trem, porém, no silêncio da meditação vai compreender, se bem que já tem gente até cantando: “Que saudade temos do trem!”.

 

 

Nota: Octávio Bonfim. Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Foi Chefe do Setor de Obras do Departamento de Via Permanente. Elaborou o projeto de construção das Oficinas do Urubu e Construiu o Ramal Ferroviário de Orós. Estava no comando do Setor de tráfego da Rede de Viação Cearense – RVC quando aos 30 de Julho de 1925, veio a falecer, com 41 anos de idade..