RÁDIO DRAGÃO DO MAR

                                                          RÁDIO DRAGÃO DO MAR

                     A Rádio Dragão do Mar nasceu com conotação política; enquanto a Rádio Verdes Mares já nas mãos de Paulo Cabral de Araújo apoiava a União democrática Nacional – UDN, o Partido Social Democrático – PSD com vistas à campanha sucessória de 1958 fazia oposição ao Governo do Estado do Ceará, que estava nas mãos de Paulo Sarasate (governador) e Flávio Marcilio (vice). O Rádio sempre fora um bom cabo eleitoral e, antes do advento da Televisão era um forte instrumento de base.

O fortalecimento da Dragão vingou na inspiração da Braveza, pois, em dezembro de 1957 a emissora já tinha inserções experimentais e a aparelhagem, estúdio e  escritório já estavam instalados no edifício Arara (Depois sede do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários IAPC) , na Rua Pedro Pereira, centro da cidade, ocupando todo o 11º andar do prédio.

O Jornalista Blanchard Girão teve como responsabilidade elaborar o esquema de programação na nova emissora, que foi inaugurada aos 25 de março de 1958, data comemorativa da abolição da escravatura negra no Ceará. A nomenclatura “Dragão do mar” foi uma justa homenagem ao aracatiense de “Canoa Quebrada”, o jangadeiro Francisco José do Nascimento, cognominado “Chico da Matilde”, cuja idéia desse batismo radiofônico, segundo os contemporâneos fora idealizado pelo radialista Olavo Peixoto de Alencar.

A música escolhida como característica foi “Terra da Luz”, música de exaltação, de autoria de Humberto Teixeira e Lauro Maia. Depois o humorista e compositor Silvino Neto, que em temporada por Fortaleza, fora incumbido de produzir um seriado de vinhetas sob o tema “Terra da Luz”, e foi quando a emissora obteve um toque mais suave na exibição de sua programação e intervalos comerciais

A denominação de “Dragão do Mar” já tinha como sugestão uma linha de protestos e lutas, como ficou ratificado, pois assim fora assegurada por ondas hertzianas uma labuta que culminou com a vitória do Sr. Parsifal Barroso, candidato da união PSD/PTB.

A rádio seria a “pedra no sapato” do Governo da UDN, onde havia denuncias de deficiências na administração estadual, e que na análise do hoje saudoso Jornalista Blanchard Girão: “tinha escândalos de afilhadíssimos que caracterizavam, de um modo geral, a prática política estadual daqueles tempos”.

Com força no setor jornalístico, que estava entregue aos irmãos Almir e Artur Pedreira, a “Dragão” tinha obviamente um caráter primordial: combater o Governo da UDN e a promoção eleitoral dos candidatos do PSD. A direção política da emissora estava a cargo do então deputado estadual Franklin Chaves. O editorial da rádio era a crônica “A Nossa Palavra”, que ia ao ar às 12.h30, escrita por Blanchard Girão, lida por Waldir Xavier e, esporadicamente  por Almir Pedreira.

A emissora, com forte oposição e radicalismo caiu na graça do povo e isso contribuiu especialmente no departamento de esportes, onde originou uma grande equipe (Ivan Lima, Gomes farias, Paulino Rocha, Josely Moreira e muitos outros). Os programas de estúdio, muitos elaborados por Juarez Barroso (já falecido) e Rui Paes de Castro, todos vislumbrando dotes jornalísticos e rádio/teatro.

Programas da “Dragão”, além da crônica, ficaram líderes em audiência, “O Contador de História”, quadros rápidos, com resumidíssimos contos de extraordinária graça. Ressalte-se, demais, o cast de radioteatro, dirigido por J. Oliveira, que encenou algumas das mais ouvidas novelas de rádio da época. Neste cast apareciam nomes jovens, que se consagrariam depois no rádio e no teatro brasileiro, por exemplo, Aderbal Junior e Oliveira Filho.

Sem demora, a “Dragão” passou a ocupar posição de relevo no campo radiofônico local.  Em alguns horários, a “Dragão” batia amplamente as concorrentes, razão pela qual era a emissora preferida por alguns fortes anunciantes, como a The Sidney Ross, que mantinha elevados contratos com a emissora para a divulgação de seus principais produtos, como “Melhoral”, “Talco Ross” e “Pílulas de Vida do doutor Ross”.

A rádio, segundo alguns jornalistas, sacudiu a opinião pública, denunciando os desmando do Governo udenista. Estes retrucavam mais violência onde na época o Secretario de Segurança, general Severino Sombra, mandou prender um carro de reportagens da “Dragão”. Isto provocou uma reação histórica da imprensa local liderada por Perboyre e Silva, presidente da Associação Cearense de Imprensa. Uma imensa passeata de carros formou-se na Sede da ACI e se dirigiram para o Quartel da PM em Antonio Bezerra, com até as rádios concorrentes transmitindo os lances do acontecimento, e o povo nas calçadas aplaudindo os jornalistas.  O comando do quartel não permitiu a entrada dos jornalistas e os mesmos se deslocaram para a Praça dos Voluntários (Centro de Fortaleza), onde aconteceu outra enérgica manifestação, exigindo a libertação dos companheiros presos, o que foi afinal conseguido graças à firmeza e à valentia pessoal de Perboyre Silva. Tudo isso fez crescer ainda mais o prestígio e a popularidade da “Rádio Dragão do Mar”, com seus índices de audiência subindo de tal forma que as concorrentes já se sentiam incomodadas.

Noutra ocasião, o mesmo Secretário de Segurança, general Sombra, mandou prender de modo arbitrário um grupo de jornalistas. Os policiais detiveram numerosos profissionais de jornal e rádio, dentre os quais Adísia Sá, Narcélio Lima Verde, Edmundo Maia. Todos esses lamentáveis acontecimentos só fortaleceram a oposição, afinal a rádio Dragão do Mar, que liderava a luta contra a orgia de nomeações feitas pelo Governo da UDN, a esta altura, já estava derrotado nas urnas.

Concluída a campanha com o PSD voltando ao poder, o partido sentiu que não tinha vocação para manter uma emissora, com seu um elenco milionário: equipe esportiva e de jornalismo, produtores de programas, cast de rádio-teatro. Foi herdada uma folha de pagamento altíssima, o que a colocou em permanente situação deficitária. O PSD passou o comando da rádio, então ao Sr. Moysés Pimentel.

A “Dragão”, já politicamente prestigiada, sob a orientação de Pimentel, tornou-se porta-voz das grandes bandeiras reivindicatórias da época, abrindo microfones a lideranças operárias, estudantis e mesmo camponeses. Sustentou a campanha em favor do general Lott à presidência da República (candidato do PSD/PTB) e, assumiu posição firme em prol da legalidade, quando da renuncia do Sr. Jânio Quadros, sendo a única do Estado a lutar em favor da posse do vice-presidente João Goulart.

Ao lado de Jango, a “Dragão” assumiu a linha de frente em prol das reformas de base e foi, no Ceará o grande veiculo de divulgação das teses progressistas que marcaram aquele período histórico brasileiro. Em 1962, como decorrência natural da conduta da emissora, a sua cúpula diretiva candidatou-se, sendo eleito com grande votação, o empresário Moysés Pimentel para a câmara federal e Blanchard Girão que era diretor de programação, juntamente com Aécio de Borba diretor administrativo, foram para a Assembléia Legislativa.

Os dias da “Dragão”, porém, estavam contados. Em 64, mal estourou o “golpe”, os militares trataram de ocupar a rádio, fechando-a e prendendo os seus jornalistas e locutores (Peixoto de Alencar, Nazareno Albuquerque dentre outros), enquanto os deputados Moysés Pimentel e o Blanchard Girão foram cassados e presos.  Desde 62 a emissora política mantinha a sua diretriz democrática e reformista, ao lado do Presidente da república João Goulart que fora deposto em 1964.

A “Dragão” saiu do ar por vários meses e, quando voltou veio sob outra direção,ou seja com o militar reformado General Almir Macedo de Mesquita. Totalmente descaracterizada e, de tombo em tombo, ficou na vala comum das rádios, quase ignoradas pelo público.

A Rádio Dragão do Mar, em seu primeiro período, como emissora do Partido Social Democrático e posteriormente sob a orientação político-ideológica do empresário Moysés Pimentel, (presidente regional do Partido Social Trabalhista – PST) confunde-se com a conturbada realidade sócio-política do Ceará e do País naqueles finais de década de 50 e princípios da década seguinte. Nacionalmente, a Dragão do Mar esteve na crista de acontecimentos históricos da maior relevância, como a renúncia do Presidente Jânio Quadros, seguida da afronta à Constituição vigente na tentativa de golpe por parte dos comandantes militares, que vetaram a posse do Vice-Presidente, João Goulart.

A Dragão foi a única emissora cearense a posicionar-se a favor da posse do Vice-Presidente, entrando em choque, conseqüentemente, com a área militar. Toda a momentosa jornada do governo Goulart, a luta pelas reformas de base da sociedade brasileira, o despontar da consciência cívica do nosso povo, estudantes e trabalhadores em memoráveis movimentos, tudo isso perpassou através das ondas da Rádio Dragão do Mar, cuja coerência política se manteve incólume durante toda aquela fase. Em 1964, no auge da crise política brasileira, a Dragão continuou impavidamente nas suas posições.

Pois bem, os estúdios da rádio Dragão do Mar, quando saiu do edifício Arara, esteveram na Avenida do Imperador, a qual por sua vez mudou-se para a antiga Avenida Estados Unidos (hoje Senador Virgílio Távora) quase esquina com a Avenida Antonio Sales, e para lembrança nossa ali era onde findava a Estância do Castelo (Hoje Dionísio Torres) e para lá só tinha salinas. Depois o equipamento e os profissionais passaram uma temporada na Rua Marcondes Pereira, próximo a Avenida Barão de Studart. Os estúdios da Dragão do Mar enquanto pertencente aos Cal’s esteve na Rua 25 de março nº. 685, e sua estação transmissora irradiava da Avenida Presidente Costa e Silva (Perimetral), no Mondubim Velho, com uma torre de 100 metros, 25 kW de potência com o transmissor EASA, e 10 kW com o auxiliar de marca Nautel.

Busquemos resumir. Com uma programação bem eclética, inclusive reservando o horário noturno para programação evangélica, sempre operando na freqüência de 690 kHz, com o prefixo ZYH 590, após a concessão ao Partido Social Democrático – PSD, a emissora foi adquirida por Moysés Pimentel juntamente com o Deputado Franklin Chaves; posteriormente das mãos do general Mesquita a mesma fora transferida para a Família Cesar Cal´s na pessoa de seu diretor presidente Dr. Sérgio Cal´s.

Finalmente a famosa Dragão do Mar em 1 de agosto de 2008, fora vendida para a Comunidade Católica Shalom. Seus estúdios hoje estão localizados na Rua Maria Tomásia, no Bairro Meireles.

A programação jornalística, musical, e toda diversificação fora erradicadas. O povo continua ouvindo rádio, mas a bravura política e a diversificação aprendida pela didática dos microfones da 690, foi para a história.

É dizer como o saudoso radialista Wilson Machado: “E os anos carregaram”.

 

 

A MOÇA DA ESTAÇÃO POBRE

                                                   A MOÇA DA ESTAÇÃOZINHA POBRE

“Eu amo aquela estaçãozinha sossegada

Aquela estaçãozinha anônima que existe,

Longe, onde faz o trem uma breve parada…

Na casa da estação, que é pequena e caiada,

Mora, a se estiolar uma menina triste;

À chegada do trem, semi-erguendo a cortina

Ela espia por trás da vidraça que a encobre,

Muita gente do trem para fora se inclina

E olha curiosamente o rosto da menina

Tão anônima quanto à estaçãozinha pobre;

O trem parte… Ficou na distância esquecida

A estaçãozinha… E a moça triste da janela…

Mas, vai comigo uma lembrança dolorida…

Quem sabe se a mulher esperada da vida

Não era aquela da estação, não era aquela,

Aquela que ficou para trás, perdida?”

Ribeiro Couto

 

MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

                                   MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES

 

É impossível desassociar o movimento de mercado e/ou feira livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias ao que está defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante.  O negócio é vender.

O primeiro mercado livre de que há registro no Centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas, o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que apesar de ter sediado uma das agências do extinto Banco do Estado do Ceará – BEC, hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.

O segundo Mercado livre, com planta do Engenheiro português Antônio José da Silva Paulet (nome de Rua) teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o Mercado Central na Rua Cond’eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.

A Fortaleza ainda Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a Rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado Norte desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês!

Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Piões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.

No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do mercado São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da Praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu saudoso pai, fiscal Valdemar Alves de Lima na época à serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatórios enfatizando promiscuidade e irregularidades, mas, parece que a resistência do popular neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela Rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no conhecido Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “sobral” e “Iguatú”.

Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos da CTC do bairro Alagadiço, mas que a placa de destino era “São Gerardo”. Os que hoje, não trafegam pelo inicio da Avenida Bezerra de Menezes são integrados, ao terminal de Antonio Bezerra.

Mercado São Sebastião (1937 – 1965)

A construção do novo mercado São Sebastião na Gestão Antônio Cambraia (1993-1997), resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a Rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a Rua Padre Mororó, esta que antigamente chamava-se Rua São Cosmo (1888), Rua 16 (1890) e ligava no sentido Norte Sul ao Morro do Croatá, ou seja, beirando a Praia do Jacarecanga e o Curral do Pecuarista Francisco Lorda; ia até ao inicio da Rua Flor do Prado atual Av.13 de Maio. A Estrada de Ferro em 1922 fez a primeira interrupção, e a segunda foi em passado recente, como já relatei.

No mais é só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio – SESC, que divergência foi aquela.

 Mercado São Sebastião (1965 – 1993)

Este pedacinho de Fortaleza foi assassinado esteticamente, para atender reclames dos que já haviam sido prejudicados com o desaparecimento da Sociedade de Investimentos e Empreendimentos LTDA – Siel, ou Mercado da Avenida Duque de Caxias, que funcionou de 1968 a 1973.

E o que os residentes têm a ver com isso, para perderem seu espaço, sua Praça e de modo compulsório conviver com mostrengagem? Ainda bem que mesmo particionado, o antigo Mercado de Ferro, está sobrevivendo, mostrando a posteriori que Fortaleza tinha Rosto.

 

PRAIA DOS ARPUADORES

                                                        PRAIA DOS ARPOADORES

 O nome do local provém do fato de, no passado, ser possível arpoarem-se baleias. Assim, historiadores atribuem a origem do nome ”’Arpoador”’, ao fato de que, no período colonial, o local era utilizado por pescadores (“arpoadores”) para visualização e posterior pesca com arpões das baleias que se aproximavam do local.

Aos que desconhecem nossa Capital foi saindo da escuridão à custa do sacrifício de fauna marinha, hoje na lista de extinção. As baleias desapareceram da Costa Norte brasileira, pois, a iluminação pública da Fortaleza Provinciana, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, o Dr. Casimiro José de Moraes Sarmento

O registro da Praia dos Arpoadores, ou da Primitiva Vila de Pescadores, deveu-se a importância dessa caça às baleias naquele local. No Mucuripe tinha o farol, no Centro movimento de navegação que fundeavam no Poço das Dragas; existiam trapiches no Jacarecanga; aliás existiam navegações nos Rios Maceió (Meireles), Pajeú (Centro), Jacarecanga (mesmo nome) e o Rio Ceará (Na Barra). O local mais propício para esses grandes animais marinho se aproximar era a calmaria da Vila dos Pescadores, que com essa atividade pesqueira o Presidente da Província juntamente com o Intendente comprava o animal, e trazia as carnes em barcos até o Poço das Dragas.

O processamento era retirar toda a gordura das baleias; e as mesmas eram transformadas em azeite para a iluminação pública. A carne era doada para a caridade.

A família Boris em 1906, contratou um fotógrafo e o levou ao local para fazer esses registros que hoje subsidiam à posteriori.

Em 1975 tive o privilégio de ir na casa de alguns amigos que eram enfermeiros, e ainda palmilhei na areia frouxa desse bairro, por sinal uma construção desordenada, sob o sol escaldante. Foi quando cheguei perto da antena da estação transmissora da minha Rádio Escola: Iracema de Fortaleza.

Arpuadores hoje é uma praia incorporada ao Bairro Colônia, e o projeto Vila do Mar, tornou o local atrativo, e a coisa ficou sem expressão. Ainda existe hoje pescadores remanescentes, mas muitos nem sabem dessa história.

 

VERDADEIRO BAR AVIÃO

          BAR AVIÃO, PARANGABA E A ENTRADA DA SERRINHA

Inaugurado em 1941 por Antônio Paula Lemos com casa redonda, esta é a verdadeira fachada do Bar Avião. A inspiração pelo nome fora dada ao seu idealizador, que era um apaixonado por aviões. Era que o antigo Cocorote (lagoa da Palha que gerou a corruptela Opaia), tinha um campo de aviação, que se transformaria em 1952 no antigo aeroporto Pinto Martins.

No local do desaparecido Jóquei Clube, hoje hospital da mulher, sentido Oeste do Bar percorrendo em rumo ao Sítio Ipanema, fora construída uma base militar Norte Americana, no período da Segunda Grande guerra. O autor destas linhas fui um dos que conheceram a deteriorada pavimentação, que era a pista das aeronaves estrangeiras. (no local hoje,Estação da Cagece). Isso influenciou o nome ao Bar.

No bar em baixo existia uma bomba de gasolina com estacionamento. Em cima um terraço. A linha férrea da Estrada de Ferro de Baturité passava ao lado e, tinha uma ruela que depois seria alargada.

O Cotonifício Leite Barbosa S/A, aos 16 de junho também de 1941 comprou um terreno da família do Cel. Zacarias Gondim, onde fora construída a Fabrica Santa Cecília, porém, a indústria só funcionaria em 1944. (Unitextil). Assim surgiram as ruas Prof. Theodorico, 15 de Novembro, Dom Carloto Távora e por aí se ia para a Serrinha, que devido à ligação com distrito de Messejana, o bairro ficou descaracterizado.

A via que era a Estrada da Boa Vista, passou a se chamar Paranjana (Parangaba-Messejana), depois Dedé Brasil e hoje Silas Monguba. O maior referencial do Bairro da serrinha, por coincidência era um concorrente do Bar avião; era o Bar do Raimundão, com seu tradicional forró aos sábados. Ficava na esquina com a Rua Bruno Valente.

A lagoa da Rosinha e o Serrote que inspirou o nome SERRINHA perderam nomenclatura, afinal, o novo aeroporto nivelou a área que era propriedade do Ministério da Aeronáutica. Quem trafega pela Avenida Carlos Jereissati percebe a diferenciação pela topografia. Mas isso é outra história…

O Bar Avião apesar de ser lendário, mutilaram-no entregando-lhe anexo com plataforma e colunas fugindo ao original. Com o Metrô de Fortaleza, seu viaduto tirou a estética do entorno de modo à edificação se monstregar. Estão matando a Parangaba.

Volto ainda um dia para falar sobre a estação ferroviária que, também sofreu ameaça, e sobre a abandonada Casa de Intendência. Bem, borracharia e promiscuidade jamais. Tomara que uma boa ornamentação devolva ao local, um aconchego, mas o prediozinho aeronauta, não terá mais sua originalidade. Servirá apenas como ponto referencial. Destruíram um dos ícones de Fortaleza que um dia, sabe Deus, será bela.

A índia Iracema de José de Alencar, não teria mais coragem de tomar banho na bucólica lagoa de Porangaba. As famílias Ana Lemos, Monte Negro e os Pedra que o digam.

Bar Avião é Bar Avião.

 

 

OTÁVIO BONFIM QUE SAUDADE DO TREM

 

 

 

Quando o trem da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité (depois Rede de Viação Cearense – RVC, RFFSA e hoje Metrô de Fortaleza, começou a circular em 1873, a linha que partia da Estação Central fazia uma grande curva acentuada, penetrando na Rua Trilho de Ferro, atual Tristão Gonçalves que, devido ao afogamento no Centro de Fortaleza fizera com que o diretor da RVC, Dr. Henrique Eduardo Couto Fernandes desse início em 1916, aos estudos para o desvio dos trilhos, livrando o trânsito e a população de acidentes.

Atendendo sua consultoria técnica e recebendo o sinal verde das autoridades, Couto Fernandes iniciou as obras ficando os trilhos em paralelo com a já avançada linha do Soure (Caucaia); após a ponte metálica sobre o Riacho Jacarecanga, a via fez uma curva de 90º nas terras do Coronel Pedro Filomeno.

Ponte Sobre o Rio Jacarecanga

 

A primeira grande reforma ocorrida naquele pedaço, diz a história, que foi no início da Rua Dom Jerônimo. Há quase cem anos e ainda na areia, com projeto aprovado pelo Intendente Guilherme Rocha, fora construído um forno crematório, onde o lixo da cidade era incinerado; por o terreno pertencer a Intendência de Fortaleza (Prefeitura a partir de 1914) o mesmo abrigaria a Sumov, hoje Secretaria Regional.

A chamada “Linha Nova”, que havia tido o batimento da primeira estaca em 1920, foi inaugurada em dia 31de dezembro de 1922; a primeira parada era no Matadouro. Chamou-se assim pois, a matança de gado para o abastecimento de carne verde de Fortaleza era no local em que ergueram a estação. Em 1945 a direção RVC ordenaria que os trens suburbanos parassem na já Avenida Francisco Sá.

 

 

Com o novo trecho Estação central – Matadouro, a Rede de Viação juntamente com os órgãos governamentais oficializaram quatro passagens de nível assim descritas: Avenida Tomaz Pompeu (atual Filomeno Gomes), Estrada do Urubu (que já foi Demósthenes Rochert e agora Francisco Sá), Açude João Lopes (Sargento Hermínio) e o Caminho do Barro vermelho que se denominou Avenida Bezerra de Menezes, cuja inauguração de seu alargamento data de 1 de julho de 1959.

 

 

A Estação Matadouro passou a se chamar Otávio Bonfim aos 24 de fevereiro de 1926. O ponto de junção dos trilhos deu-se no Sitio que pertenceu ao abolicionista José Correia do Amaral (Curva do Amaral/Porangabussu), tal como esteve até 2010.

O Estado do Ceará era ícone na cotonicultura e, escoava sua safra na maior parte por ferrovia. Os empresários construíam estrategicamente seus empreendimentos nas proximidades da Via férrea. Os desvios particulares eram construídos para o atendimento de seus interesses. Foi o caso da Usina Gurgel de propriedade da Firma Teófilo Gurgel valente, que se chamou “Usina ceará”, inaugurada no dia das crianças de 1919. A Casa Machado, empresa também de beneficiamento de caroço de algodão, na entrada do Pirambú fez também o seu desvio para carga e descarga de vagões.

O destino às vezes coloca em nossa frente coisas efêmeras, e a Estação de Otávio Bonfim parece ser uma delas, se não vejamos:

– Inaugurada a linda estação, a mesma ficou com o nome de “Matadouro” de 31 de dezembro de 1922 até 24 de fevereiro de 1926;

– Já com o nome de Otávio Bonfim a fachada ficou até 1979, pois em 20 de maio de 1980 era inaugurada uma Estação, com plataformas para receber carros Pidner  pela Coordenadoria de Transporte Metropolitano da RFFSA, transferida hoje para a Companhia Cearense de Transporte Metropolitano – Metrô de Fortaleza.

– O depósito de lenhas que se localizava no pátio de Otavio Bonfim, aos 28 de janeiro de 1937 foi transferido para o Bairro das Damas no km 8 (atual Couto Fernandes) ficando lá até 1963; No local do depósito de lenhas, foi inaugurada aos 26 de dezembro de 1938 a Vila Operária da RVC.

Agora com o projeto Metrofor, o trem abandonou a área. É a inviabilização das coisas e espero o meu leitor concordar. A Siqueira Gurgel (fabricava o sabonete singel, sabão pavão, Óleo Pajeú e a gordura de coco Cariri) e a Casa Machado já desapareceram do local, e os cargueiros passaram a trafegar por uma variante na corrente de tráfego Pajuçara-Caucaia saindo de circulação do perímetro urbano.

É lamentável para uma empresa de transporte perder usuários, mas temos que viver a realidade; Otávio Bonfim é bem assistido por transportes alternativos, afinal a questão física da área continua imutável. Defronte passa a movimentada Avenida Bezerra de Menezes, sendo ainda ao Leste a entrada do Beco dos Pintos e ao Norte o Cercado Zé Padre.

Hoje quando chego ao cruzamento da Via férrea com a Avenida Bezerra de Menezes, quanta diferença. Não vejo mais saindo pela Rua Justiniano de Serpa os ônibus que faziam as linhas Granja Paraíso e nem o Dona Tereza. Cadê os ônibus para o Sitio Ipanema, Vila dos Industriários, Campo do Pio, os elétricos? E a farmácia da D. Rosélia na esquina?

Bem, o trem voltar a circular pela Tristão Gonçalves é a história se repetindo, mas uma nova história que facilitará a vida do fortalezense gerando ainda mais progresso.

O bairro Otávio Bonfim já está sentindo saudade do seu trem, porém, no silêncio da meditação vai compreender, se bem que já tem gente até cantando: “Que saudade temos do trem!”.

 

 

Nota: Octávio Bonfim. Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Foi Chefe do Setor de Obras do Departamento de Via Permanente. Elaborou o projeto de construção das Oficinas do Urubu e Construiu o Ramal Ferroviário de Orós. Estava no comando do Setor de tráfego da Rede de Viação Cearense – RVC quando aos 30 de Julho de 1925, veio a falecer, com 41 anos de idade..

 

OITICICA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA NÃO LEMBRADA

                                   

                                     CONSTRUÇÃO HISTÓRICA NÃO LEMBRADA

 

 Os trilhos da antiga Rede de Viação Cearense – RVC chegaram ao extremo Ceará – Piauí na seca de 1932, quando o Dr. Luciano Martins veras em segunda gestão, inaugurou a estação de Oiticica, que serviu como apoio aos trabalhos de construção e prolongamento entre os dois Estados nordestinos, em que os serviços foram atacados nos dois pontos, mas que, por escassez de recursos foram paralisados.

Somente em 1955 foi que o então Departamento Nacional de Estradas de Ferro – DNEF (para continuar as obras) foi delegado pelo 4º batalhão de engenharia e construção do 1º grupamento de engenharia do Ministério do Exército. Entretanto, passou-se dez anos para a concessão ser dotada de mais substancia, quando teve acelerado o seu ritmo, o que possibilitou aos 11 de janeiro de 1972 a integração de todo o Sistema Ferroviário Nacional.  A linha que saiu de Oiticica, fez junção em Altos – Castelo no Piauí, perfazendo um percurso de 196 quilômetros, e a pequenina locomotiva Brockville que tracionava as plataformas e gôndolas de materiais, veio para Fortaleza alternar com a locomotiva Whitcomb nº 623 (motor de caterpillar) o transporte do trem dos operários. Depois com todas as honrarias e verdinha, essa máquina fora recebida pelo museu ferroviário do Ceará em setembro de 1982.

Na época essa obra de ligação, além de condicionar os trens saírem de Uruguaiana, Bagé ou Jaguarão no Rio de grande do Sul, sem baldeações, os mesmos passariam a alcançar o porto de Itaqui em São Luis do Maranhão. No Plano Nacional de Viação, esse trecho ficou conhecido como Tronco Circular do Nordeste, afinal apresentou também concorrências para o desenvolvimento da região que se juntou aos incentivos oferecidos pela Sudene e à Hidrelétrica de Boa Esperança.

O custo desta construção atingiu na época, cerca de 35 milhões de cruzeiros, recursos próprios, orçamentários do Departamento Nacional de Estradas de Ferro. Com bitola de 1,00 m, trilhos de 37 Kg/m, rampa máxima de 1,5 % e raio mínimo de 245 m, essas obras exigiu um movimento para mais de 7 milhões de metros cúbico, além de execução de 11.000 m de obras de arte. No ato inaugural, se fez presente Excelentíssimo Senhor Ministro dos transportes, Mario Andreazza.

Agora acontecimento desta envergadura em Estado pobre, é condenado ao esquecimento, por isso com justiça a história precisa ser resgatada.

O moderno hoje é o antigo amanhã. E o antigo não foi moderno ontem? Então para que serve a história, senão para compreendermos o hoje! A ferrovia está ainda por aí, mas parece que junto com a erradicação dos trens de passageiros de longo percurso naquele dezembro de 1988, foi embora também o interesse de fatos notórios.

Aos 27 de setembro de 1825, surgiu na Inglaterra o trem no mundo; 30 de abril de 1854 foi a vez do Brasil e em 30 de novembro de 1873, o nosso Ceará entrou nos trilhos.  Agora parece que essas datas foram assinaladas na história por acaso. Ninguém lembra, assim como solitária estação de Oiticica que, serviu de apoio a uma grande realização não percebida. Tudo é passado, passou…

Nota: A Estação de Oiticica foi inaugurada aos 30 de novembro de 1932, no Km 500,077 da linha Norte e com 261 metros acima do nível do mar.

JOSE DE ALENCAR UMA PRAÇA QUASE SEM SOSSEGO

                                JOSÉ DE ALENCAR UMA PRAÇA QUASE SEM SOSSEGO

 

Terminal dos ônibus oriundos da Praça do Ferreira

 

 

Antes de ser praça, no local que seria um dos logradouros mais movimentados da cidade era apenas um areal, e a urbanização teve sua gênese a partir do lançamento da pedra fundamental de uma igreja, que ocorrera aos 2 de fevereiro de 1850, cujo nome fora Nossa Senhora do Patrocínio graças a um voto devocional do alferes Luis de França Carvalho. A igreja começou as celebrações em 1855.

Aspecto primitivo da Praça olhando para a Igreja

Um ano após o funcionamento da igreja, surge em Fortaleza uma planta desenhada pelo padre Manoel Rego Medeiros já mostrando o campo com a igreja mas, sem nenhuma edificação de destaque. Com a movimentação, foi o espaço ganhando vida e consequentemente fora se urbanizando. Nessas condições é que, fora levada à Intendência uma proposta do vereador Coelho da Fonseca (hoje nome de Rua no Bairro Carlito Pamplona), e a Praça do Patrocínio como era chamada, em 1870, denominou-se “Praça Marquês do Herval”, como uma homenagem a Manuel Luís Osório, Patrono da Cavalaria do Exército Brasileiro.

Batalhão da Policia Militar. 1906.

No local está o Theatro José de Alencar desde 1910.

 

Em 1903 era intendente de Fortaleza Guilherme Rocha que reformando a Praça, colocou um Coreto aformoseando-a com o Jardim Nogueira Acioly mas que, em 1912 foi mudado para Jardim Franco Rabelo. Depois, o coreto foi retirado e montado na Ponte metálica e lá se acabou. Começava assim as turbulências da Praça em epígrafe.

Existem vários documentários sobre praças de nossa cidade. Praça do Ferreira, Passeio Público. Imagens de época em filmes nos mostram as praças dos Leões, da Bandeira como, popularmente são conhecidas. A Praça José de Alencar, não.

Rádio Iracema de Fortaleza

A atual Praça que estamos descrevendo, é situada entre as ruas: Guilherme Rocha (antiga Rua da Municipalidade); Liberato Barroso (que já foi Rua das Trincheiras); General Sampaio (Da Cadeia) e a 24 de Maio (Rua da Lagoinha/ Do Patrocínio), tudo isso documentado pela planta do padre Medeiros.

Observemos: no canto Nordeste era a sede da Fênix Caixeiral (1905), que saiu para o canto Noroeste (1915), tomando o terreno onde estavam as ruínas da casa de Nogueira Acioly, incendiada em 1912. (Diz-se que entre os pertences do comendador estavam os projetos, plantas e as fotos da construção e inauguração do Theatro José de Alencar. Não sei se procede tal informação, mas em lugar nenhum encontramos tais registros). Quem disse que o segundo prédio da Fênix Caixeiral ainda está lá?

O quartel da Polícia fora demolido e vizinho, em 1910 fora inaugurado o supramencionado Theatro. A Escola Normal D. Pedro II, que após desativação acolhera as Faculdades de Ciências de Saúde, hoje é a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

Antiga Escola Normal que já foi Faculdade de Medicina e Odontologia

Hoje é a sede da Superintendência do IPHAN

Em 1954, numa apoteótica festa animada por César de Alencar, aos 9 de outubro era entregue ao público o novo prédio da Rádio Iracema de Fortaleza, batizado de Edifício Guarany, onde lá a emissora permaneceu até 1973. O belo edifício uma vez abandonado fora batizado por ignorantes cultural de “Mostrengo” desaparecendo anos seguidos. No mesmo quarteirão, na gestão Cesar Cals Neto fora montado o Shopping do Camelô que, por ocupar os camuflados cabarés do Centro, herdou a nomenclatura de uma ruela cheia de lâmpadas vermelhas, chamado de Beco da Poeira.

A Biblioteca Pública foi derrubada no canto Sudoeste e o industrial Pedro Philomeno construiu um residencial e o Lord Hotel, que mesmo se deteriorando, parece que vai sobreviver. No canto Sudeste tinha um Posto de Saúde e hoje é um jardim. Quanta tribulação!

Postos de gasolina em número de dois, sumiram. As lojas e os cafés estão desaparecendo. E os armazéns de tecidos? O terminal de ônibus que funcionou recebendo os coletivos da Praça do Ferreira, lá ficou até abril de 1988. Até o Instituto – IAPB, fora entregue ao Município, e tinha afluência de pacientes, com as redundantes reclamações. O mesmo está interditado.

Reformas e reformas, mas vai ficando a igreja, e a estátua do patrono da Praça. O monumento fora idealizado pelo jornalista Gilberto Câmara, esculpido pelo paulista Humberto Cozzo, e financiado pelo cônsul Francesco da Itália. Pelo menos esta equipe foi feliz, colocando a estátua do grande escritor José de Alencar sentado, pois, a memória do homenageado ainda teve de ficar de 1 de maio de 1929 até 1938, para a praça tomar seu nome.

Direto da Ponte Metálica para exposição em Fortaleza.

Veículos Primalt – USA 1941. 

 

Um logradouro sem rosto e de tanto futricarem tem-se mesmo que assistir sentado, para não desmaiar! E agora veio o Metrô que tirou o Beco da Poeira. Na gestão de Roberto Cláudio (2013-21) parece que houve um conclusivo, mas com uma roupagem sem graça com bancos desconfortáveis. Não existe alma nesse logradouro.

Jornalista Gilberto Câmara e o Escultor Cozzi em 1929.

Será que nossa geração não vai alcançar uma praça, bonita e dela se usufruir?

Fortaleza beleza, revitalização do Centro, na minha despretensiosa análise são retóricas, afinal, está aí a história para nos dizer…

 

 

O GUINDASTE TITAN

O Guindaste Titan 

Quando menino morava na Vila São José no Jacarecanga, meu bairro berço. Quem ia dessa Vila para a praia, palmilhava por um estreito calçamento de pedras toscas; de um lado as paredes da Fábrica de “Redes Philomeno” e do outro o paredão que sustenta a ponte da via férrea sobre o riacho Jacarecanga, verificando-s a separação dos trens: Um para Baturité e outro para Sobral e a bifurcação era na mercearia do Edmilson, que contemplava a passagem dos trens em ambos os sentidos.

Na ponta Noroeste do cemitério São João Batista pelo lado da Avenida Filomeno Gomes (outrora Thomaz Pompeu), ainda existia a abandonada casinha de força dos bondes da The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd”, extintos em 1947. A casinha desapareceu em 1971.

Entrando à esquerda e transpassando as linhas, aquele cinturão verde/azul me encantava. Era o mar. Após quase meio quilômetro de caminhada em declive, meus pés tocava nas areias frouxas quando, ainda existiam coqueiros e a cerca de arame farpado que, demarcava o limite do terreno da Escola de Aprendizes marinheiros, pois, ainda não existiam a Avenida Leste Oeste e nem tão pouco, o interceptor oceânico. O Clube Ipuense com cobertura tipo palhoça animava seus frequentadores nos fins de semana.

Em minhas aventuras pescava nas praias do Jacarecanga e Pirambu onde comprava anzol apelidado de “cara torta” no “Bar do Ferrim”, na mesma calçada da casa do pintor primitivista Chico da Silva. Como menino, Deus me livre de ir para o Cabaré Gozo do Siri (Mansão que pertenceu à família ilustre Moraes Correia).

Como toda criança curiosa, ficava a indagar: O que fazia aquela grande chave de abrir carne de lata por detrás do mar? Depois, em 1970 fui levado por meu pai numa das tardes de domingo, a um passeio no Caís do Porto. Eu tinha 12 anos de idade e pela primeira vez vi de perto um monstro de ferro.

Proveniente do Rio de Janeiro, sob o comando do capitão mineiro Nabucodonosor Ferreira, chegou a Fortaleza às 11.45 h do dia 26 de maio de 1939, o vapor da Cia. Costeira “Itapoan” cujas cento e oitenta toneladas de materiais, eram o possante guindaste Titan.

Essa gigante máquina, com o motor Caterpillar foi montada pela “Companhia Nacional de Construções Civis e Hidráulicas – Civilhidros” que também era a proprietária do guindaste. O descarregamento do material durou cerca 10 dez dias, pois, o navio retirou as ferragens na própria enseada do Mucuripe, com o auxílio de Alvarenga.  Referida máquina foi montada para ajudar nas obras do porto do Mucuripe, quando inicialmente foi construído o espigão para retenção das águas, no local que hoje é denominado: “Praia Mansa”.

No dia 3 de junho de 1940 o gigantesco Titan caiu no mar. Foi a mais sensacional notícia do dia, quando os moradores do Mucuripe em procissão marcharam ao local. O monstro de ferro ao levantar uma carga de 50 toneladas de pedra, tombou no mar a três quilômetros da praia. As obras que dependiam dele ficaram paralisadas até janeiro do ano seguinte.

Com a inauguração do Cais, o Titan ficou na ponta do espigão sendo um ícone, e foi quando em terra, lá da hoje Praça Marcílio Dias (Bairro Navegantes) despertou a curiosidade do menino que escreveu estas linhas. O guindaste já entregue às intempéries foi vencido pela corrosão, desabando parte de seu guincho. Em 1976 a Cia Docas resolveu destruí-lo com o uso de maçarico, e depois dinamitou suas bases.

O titan continua emoldurado apenas na lembrança dos enamorados da querida Fortaleza, nesse local onde o navegador espanhol Vicente Pinzon, pisou….

Inteiração:

“Material que veio no Itapoan para o Mucuripe”:

  • 2 vigas de madeira; 16 rodeiros de ferro; 8 motores elétricos; 5 vigas de ferro; 1 triângulo de ferro com coluna; 4 setores de ferro duplo (anel de orientação);
  • 4 setores de ferro duplo (suporte ,rolos com parafusos); 4 setores de ferro duplo (trilho base lança); 2 caixas de madeira com parafusos; 1 viga de ferro (conjunto triângulo); 1 base com rodeiros e rolos; 1 rodeiro fixo para máquinas; 1 caldeira à vapor; 3 secções de lança. Total: 53 volumes”.

(Jornal O Povo 27-05-1939).

RÁDIO ASSUNÇÃO CEARENSE

RÁDIO ASSUNÇÃO CEARENSE

 A Rádio Assunção Cearense tem sua embrionagem um tanto remota, e com inspiração estrangeira. Em 1947, na Colômbia um Sacerdote que havia sido nomeado vigário na cidade de Sutatenza, assistia 800 almas em sua paróquia. Mas, ele tinha algo que diferenciava dos demais. Gostava de rádio e era radioamador naquele país montanhoso.  Refiro-me ao Padre Jose Salcedo, que enfrentava dificuldade em contactar com suas ovelhas.

Padre Francisco Pinheiro Landim (1923 – 1993)

Discursando na Inauguração

A coisa foi revolucionária, afinal montou uma pequena estação transmissora, pois o mesmo era habilidoso na instalação e expansão de rádios receptores.  Com a tenacidade que lhe era própria, não era estático, e com verdadeiro dinamismo percebeu que a população local na década de 40 era iletrada. Foi a alavancada que daria grande crescimento ao seu ministério sacerdotal. Após a metade da segunda década desse projeto radiofônico eclesiástico, congregou muita gente pertencente a uma população dispersa pelas encostas dos Andes Colombianos, e a ação social tornou-se popular. Tamanha fora a repercussão que a programação diária captou discípulos na Venezuela e equador.

Essa idéia inspiradora mobilizou a Arquidiocese em Fortaleza, e o Padre Arimatéia Diniz em 1954 deu os primeiros passos, e quando tudo se encaminhava para o concreto, em 1958 a direção da Igreja católica no Ceará desviou toda a atenção e, os recursos alocados foram destinados para o flagelo da grande seca. (Foi neste ano que o autor destas linhas veio ao mundo).

Samantha Marques

Iniciou na Assunção em 1974

Essa estação foi um presente de uma comunidade católica alemã, ao Dom Antonio de Almeida Lustosa, então Arcebispo de Fortaleza, pela passagem de seu jubileu de ouro no sacerdócio. O nome oficial da rádio é Radio Nossa Senhora da Assunção, porém devido à programação e, para facilitar as chamadas em vinhetas, tomou a forma contracta de Radio Assunção. Como emissora integrante da Rede Nacional de Educação de Base foi ao ar oficialmente aos 11 de fevereiro de 1962. O estúdio foi localizado na Rua Visconde Saboya nº. 280, tendo como Superintendente o Padre Francisco Pinheiro Landim e como Diretor Comercial o também Pe. José Mirton Lavor. A estação transmissora na Rua Joaquim Manuel Macêdo, no bairro Henrique Jorge que, na época era chamado de Casa Popular, e nas adjacências da antena de 90 metros, um matagal. O professor Everardo Silveira foi o locutor da iniciação.

A Arquidiocese de Fortaleza agora contou com mais um aliado para a imprensa, haja vista ser proprietária do Jornal O Nordeste, cuja circulação fora erradicada em 1967, já na gestão de Dom José Delgado. A emissora de equipamento importado tinha antena direcional, cujo benefício técnico era o não desperdício de rádio – freqüência para o mar. trabalhando com ondas médias e tropicais (ondas intermediárias) isso permitia uma boa penetração no interior cearense e outros Estados do nordeste.

Com o advento da revolução de 1964, as coisas não ficaram bem para a imprensa.  José Milton firmou contrato com a Rádio dragão do mar e a Direção Comercial foi para as mãos de Geraldo Fontenele. A Rádio Assunção tomou um novo formato com o ingresso de Fontenele, que com apenas 30 anos de idade já tinha um currículo denotando experiência, já havendo sido produtor de programas, animador de auditórios, radioator, redator de noticias, narrador e Diretor de Broadcasting da Rádio Difusora de Teresina (PI) e com passagem pela Rádio Poti de Natal (RN).

Sob pressão de forças revolucionárias, o Governo do estado cortou verbas de incentivos e, a Assunção tinha que se manter por ela mesma. Nesse período muitos empresários em outros Estados, perderam a concessão de suas emissoras que, são renovadas a cada dez anos. Foi graças à habilidade de Fontenele, que havia acumulado a direção de Jornalismo e Comercial que, a Assunção cearense em 1972 renovou concessão, tendo em vista não permitir ao microfone, a participação de padres expressarem suas idéias por serem comunistas.

A emissora funcionava 24 horas, e há zero hora começava um programa chamado “Varig a dona da Noite”, com uma belíssima seleção musical indo até as 5 da matina. Com o clarear do dia vinha “Alvorada Cabocla”, com violeiros e cantadores, um estilo ainda muito aceitado no sertão, na periferia de Fortaleza e, no coração de todos aqueles que ainda querem preservar a cultura nordestina.

Radialistas que passaram pela Assunção em seu primeiro biênio: Hermano Justa, Narcélio Lima verde, Ivonete Maia, Ribamar Matos, Edvar de Souza, Nazareno Albuquerque, Ivan Lima, Luiz Cavalcante, Paulo Oliveira, Tarcisio Holanda, Oliveira Ramos, Mauricio Carvalho, Marciano Lopes, F. Capibaribe, Airton Monte, Silvio Leite, Júlio Sales.

A equipe esportiva foi incrementada com a contratação de Gomes Farias que permaneceu na rádio de 1964 a 1967, quando retornou para Dragão do Mar.

A televisão na época era somente a TV Ceará canal 2, o que permitia a existência do rádio-teatro, que tinha no elenco Oliveira Filho, J. Oliveira, Dóris… Locutores Mattos Dourado, José Costa, Oséas Cruz, Peter Soares, Bonifácio de Almeida.

A Superintendência da Emissora até 1966 ficou a cargo do Padre Landim, quando foi nomeado o Padre Gerardo Campos, que muito lutou para manter a Assunção num patamar estável. Eram seus companheiros de equipe sacerdotal: Padres Gotardo Lemos e Mirton Bezerra de lavor.  Foram eles os responsáveis pela irradiação dos programas religiosos: “Oração por um dia Feliz”; “A Casa é de Todos”; “Movimento de Educação de Base – Escolas Radiofônicas”; “Missa do Pastor” e “Palavra do Pastor”.

Em 1969, o veterano José Cabral de Araújo recebeu e aceitou o convite de Dom José Medeiros Delgado para assumira Superintendência da Assunção, em substituição ao Padre Gerardo Campos. Com o aval do Arcebispado, Cabral de Araujo apesar de paraplégico, tinha muita lucidez em suas decisões Houve assinatura e rescisão de contratos. Implantou em seis meses um novo modelo administrativo: o Arrendamento.

O primeiro arrendamento foi no setor esportivo com a volta da equipe de Gomes farias, e a posterior contratação de Paulino Rocha. A partir de então a Assunção de quarta colocada passou a primeira, o que atraiu muitos anunciantes da Capital e do Interior.

1973 foi um ano de doçura para a Assunção quando pelo Ibope, confirmou primeiro lugar, porém a rádio Verdes Mares ofereceu a equipe esportiva uma proposta irrecusável, e assim se despediram da Assunção: Gomes Farias, Paulino Rocha, Bonifácio de Almeida, Souza Filho, Peter Soares, Moraes filho, Daniel Campelo e de lambuja José Maria Sales o operador de áudio.

A emissora teve que buscar alternativas, e fora transformada em uma freqüência musical, enfatizando programas noticiosos, e voltar sua programação para os bairros, com sua unidade móvel de freqüência modulada, com locução de José Santana e o “Seu Repórter em Ação”.

Aos 4 de agosto de 1973, assumia a Igreja em Fortaleza, Dom Aluísio Lorscheider, com recepção transmitida diretamente do aeroporto Pinto Martins, pelo recém contratado José Lisboa, vindo de uma longa caminhada através da Rádio Iracema, e assim nasceu a “Discoteca do Lisboa”.

Em outubro do mesmo 73, Cabral de Araujo se desvincula da emissora por problema de saúde, e definitivamente abandona o rádio. Geraldo Fontenelle assume a superintendência. Fontenelle em suas andanças deu uma passada na Empresa Cearense de Turismo – Emcetur, quando ouviu uma linda voz de uma moçinha que fazia os anúncios para permissionários e turistas, no local da antiga cadeia pública. Tratava-se de Maria do Socorro Marques Viana, que de Iguatu havia chegado a Fortaleza em 1966. A mesma tinha um sonho, que era trabalhar em rádio, mas mesmo batendo nas portas não conseguia.

Geraldo Fontenelle à conduziu para os microfones da Assunção Cearense que ainda ficava na rua Visconde de Saboya, e assim começou a trabalhar no horário de 20 às 22 hs. A jovem Trabalhou por dois anos, indo para a Ceará Rádio Clube, e em seguida para a Dragão do Mar, quando em conversa com o diretor artístico da Dragão, José Elias vindo da Rádio Globo do Rio, sugestionou que Maria do Socorro deveria ser Samantha. Daí surgiu Samantha Marques.

Em 1976, Dom Aluisio Lorscheider foi eleito e proclamado Cardeal da Igreja Católica. Foram importantes solenidades e dias alternados: dia 24 e 29 de maio na sala de solenidades do Papa Paulo VI na Basílica de São Pedro. Geraldo Fontenele viajou para a Itália e durante a permanência de Dom Aluísio em Roma, diariamente as 12 e 18 horas havia transmissões. Com equipe própria, essas foram consideradas as primeiras transmissões internacionais de rádio no Brasil.

Por a emissora pertencer a igreja católica, ela teve por obrigação montar uma central de transmissão em seus estúdios (rua Visconde Sabóia), e com sua unidade móvel de FM, fazer toda a cobertura da visita do Papa João Paulo II à Fortaleza em Julho de 1980.

Em outubro de 1981, Dom Aluísio anunciou a venda da Rádio Assunção Cearense. O clero cearense não foi consultado, apenas o Conselho Arquidiocesano e membros da CNBB. Com a participação do Monsenhor André camurça nas negociações, a rádio fora vendida em dezembro de 1981. Em súmula, a igreja católica ficou sem o Jornal O Nordeste, O Palácio São José (Do Bispo) e o Banco Popular.

O radialista Moésio Loyola, que ainda atua nos microfones com programas esportivos tornou-se proprietário da Emissora, mas por tradição deixou espaço para a programação religiosa.

Sei que vou pecar por omissão, mas quero deixar registrados alguns programas que marcaram época: O Esportivo com Paulino Rocha; Programa Oseias Cruz; Discoteca do Lisboa, com José Lisboa; Forrozão da Assunção com Carneiro Portela; Política com Fernando Maia; Recordação Saudade, E Os Anos Carregaram e Parada dos Maiorais com Wilson Machado. Nas tardes de sábado tinha um programa exclusivo de nostalgia e com musicas do passado não distante.

Sempre na freqüência de 620 kHz, Rádio Assunção Cearense já esteve com o estúdio instalado na Rua Irauçuba e hoje na esquina da Rua Bárbara de Alencar com Avenida Rui Barbosa na Aldeota. Conservando programação esportiva a emissora de freqüência mais baixa de Fortaleza, no ano 2000 arrendou seus horários à Comunidade Católica Shalom, contrato este que perduraria até 10 de maio de 2006. A mesma, sem programação definida até 10 de julho do mesmo 06 tornou se afiliada da Rádio globo do Rio de Janeiro até 15 de julho de 2012. A partir do dia 16 numa Segunda feira, voltou novamente como Radio Assunção Cearense. A programação novamente enriqueceu a terra, mas de modo efêmero, pois depois intercalou sua programação com a Rede Bandeirante de Rádio.

Magnólia Paiva

A Assunção Cearense vai sempre se adequando com sua programação voltada para o ouvinte exigente e de bom gosto. Cito exemplo a chegada do Programa do Bem com Magnólia Paiva, que estreou em dezembro de 2020.

 

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