Foto colhida do único prédio que existia na Vila São José.
Vemos o inicio da Rua Maria Luiza.
Alguns me chamam de multifacetado, por ser apaixonado e escrever sobre o bairro que me viu nascer e, fui menino. As memórias de minha infância são aquelas doces lembranças, não sei se tem cheiro, mas tem sabor e cada lugar de modo indelével, ficou em mim do que fui e do que sou em dia. Suas ruas e a cada calçamento, tem o cheiro de minhas pisadas.
Meu saudoso pai, natural de Jucás, foi trazido numa das composições ferroviárias da Rede de Viação Cearense – RVC (Depois RFFSA e hoje Transnordestina Logística S/A), chegando em Fortaleza naquela seca de 1946 ainda observando, o flagelo na estação de Iguatu, onde havia embarcado. A locomotiva à vapor chegando na Estação Central depois de diversas horas de enfadonha viagem, ainda bufava fumaça branca sufocando o telhado de amianto da gare.
Ao descer os degraus do terminal ferroviário, tudo diferente, trânsito agitado, trilhos de bondes elétricos, prédios como o Excelsior, Diogo, Majestic…..
Após uma acolhida por um conterrâneo que o esperava e que, morava no bairro Campo de Aviação (hoje Aerolândia), o mesmo o direcionou para as construções da segunda etapa da Vila do Coronel Philomeno. Talvez ele não fizesse ideia da importância daquele bairro, de como aquela singela Vila faria parte da sua vida, inclusive conjugal.
Minha mãe havia chegado um pouco antes, proveniente da Serra de Meruoca que, na época pertencia à Sobral. Coincidência: ambos vieram em busca de melhoras na Capital e vieram também de trem. Foi dali, daquele pedacinho de chão, que veio o sustento da família que iriam construir e eu fui o sexto dos dez filhos que lhe nasceram.
Interiorano já sabe, agarra a primeira oportunidade que surge e assim ajudou a construir as Ruas Maria Luiza, D. Bela e Coronel Philomeno (hoje Messias Philomeno), erguendo casas e alguns prédios de dois andares.
Casas de dois andares construídas em 1946.
No Jacarecanga, ele criou raízes!
Muitos moradores e ex-moradores, ou lembram da história do Jacarecanga ou ainda tentam salvar os resquícios dela, como é o caso dessa obra, um verdadeiro mergulho no passado do bairro e da sua gente. Quem está apenas de passagem, precisa tentar ver, ao invés de apenas olhar. Só assim, prestando atenção nos detalhes, é que a vista alcança traços do passado elegante, quando o lugar era ocupado pela aristocracia cearense.
Em outros tempos, o Jacarecanga abrigou palacetes e chácaras das famílias abastadas de Fortaleza. Os casarões eram erguidos em imitação às tendências arquitetônicas da França. Alguns imóveis foram restaurados, mas a maior parte deles, no entanto, encontram-se abandonados ou sobrevivendo à míngua. Isso sem se esquecer dos inúmeros bangalôs que foram demolidos, verdadeiras joias que não tiveram seu valor reconhecido e ficaram apenas na memória de alguns, como uma foto esquecida dentro de um livro, ou que vai amarelando num álbum no fundo de um baú.
Jacarecanga Que Eu Vivi, Histórias de Vila São José é o que eu vou tentar descortinar para o leitor e, espero ter muita leveza e cativar envolvendo minhas memórias de menino, como se cada um estivesse debruçado na janela da saudade.
Chego a sentir o frescor das abundantes e límpidas águas do rio que banha o bairro e logo mais à frente, observamos assustados a chegada avassaladora da urbanização, que modificou toda a paisagem, mas que também trouxe o progresso.
Aspecto de casas primitivas algumas já mutiladas
Rua Messias Philomeno, antes Coronel Philomeno.
A casa em que nasci na Rua Coronel Philomeno (hoje Messias Philomeno), não existe mais, porém, furtivamente era patrimônio do Jacarecanga!