Assis Lima
Assis Lima

TREM DOS OPERÁRIOS UM SOCIAL DA RVC

 

Locomotiva nº 30 que tracionava o trem dos operários

Quando morador da Vila São José no bairro Jacarecanga, contemplava a passagem de uma locomotiva á vapor, a chamada “Maria Fumaça”, que correndo e bufando pelas válvulas, despertava a curiosidade de todos. Na minha meninice se existia algo que amedrontava os guris do meu tempo, era aquela coisa preta correndo e cantando o poema de Manuel Bandeira “Café com Pão”. Pobres crianças! Não puderam alcançar emocionante viagem de trem com máquinas à lenha, afinal a última locomotiva desse tipo circulou no Ceará em 1 de janeiro de 1963.

Mas, que trem era aquele? Respondeu-me um ferroviário: “É o trem dos operários das oficinas do Urubu”. A Vila onde nasci acompanhava todo o movimento ferroviário pois, é lá onde há a separação das linhas de Baturité (sul) e Sobral (norte) formando o triângulo onde, até 2010 ainda circulava trens.

Em 1972 ingressei no Colégio ginasial José Waldo Ribeiro Ramos (ex-Centro Educacional Ferroviário), tornando-me passageiro do trem dos operários. Para orgulho nosso, nesse trem tinha um carro exclusivo para os estudantes. Passei então do lado de fora, para o de dentro. A composição tinha cinco carros e era assistida pelo condutor de nome Daniel, que revezava com o Sr. Antonio.

A Partida do trem dos operários da estação Prof. João Felipe, era às 6.30 h e tinha 12 minutos de percurso obedecendo as seguintes paradas: Padre Mororó, Marinha, Vila Assis, Francisco Sá, Av. Pasteur e a estação de Álvaro Weyne que, na época era depois da passagem de nível da Av. Dr. Themberg.

Quando aluno/passageiro desse trem, o mesmo era puxado pelas locomotivas   Brockville (pequenina) e a Whitcomb nº 623 que tinha motor de caterpillar (era um barulhão!).

Em 1981 ingressei no quadro de funcionários da RFFSA, o que me possibilitaria com responsabilidade, com a devida autorização do Setor de Patrimônio, ter acesso a documentos, oportunidades para entrevistas, reprodução de fotografias e assim resgatar a história daquele trem de minha infância e, nascendo o espírito de pesquisador de uma empresa de tamanha grandeza.

Portanto, recuemos no tempo.

Antigas Oficinas na Estação Central  . Foto de 1911

# As oficinas da então Estrada de Ferro de Baturité foram inauguradas aos 9 de junho de 1880, sendo diretor da Companhia o Engº Amarílio Olinda de Vasconcelos, que nomeou José da Rocha e Silva para ser seu mestre geral.

Devido ao crescimento da Empresa, expansão no pátio de manobras, a construção de armazéns e uma grande reforma por que passou a RVC em 1920, a Estação Central não podia mais comportar os trabalhos de manutenção mecânica, e foi quando foram iniciados os estudos quanto ao local da futura instalação das oficinas.

Em 1922 o Sr. Antonio Joaquim Carvalho Junior (Cel. Carvalho), havia doado para a União um terreno no bairro do Urubu, bem na beira da Estrada da Barra do Ceará. A Rede de Viação Cearense nesse tempo estava sob o comando da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS, atual DNOCS.

Administração das Oficinas. Foto de 1929.

O Inspetor Arrojado Lisboa conseguiu junto ao Governo federal que, o referido terreno fosse destinado para a Rede de Viação Cearense e assim, construir o tão almejado complexo arquitetônico.

Com o terreno à disposição da RVC e já sob o comando de Demósthenes Rockert, o engenheiro Otávio Bonfim ficou como encarregado para consolidar o projeto junto a Firma “Alfredo Dolabela Portela & Cia” em 1922. Assim em 1929 com os galões já prontos, começaram o translado das máquinas e o material pesado.

Composição do trem dos operários.

Enfim na gestão de Abraão Leite, aos 4 de outubro de 1930 ocorreu a apoteótica inauguração das Oficinas. Por portaria, é criado o “Trem dos Operários” que passaria a ser tracionado por uma locomotiva “The Baldwin Locomotive Work” tipo 0-4-0, cuja fabricação é de abril de 1922. Essa é a máquina que depois assombraria as crianças, da minha bucólica Vila da Usina São José.

Pois bem, em 1977 o Eng.º José Walter Barbosa Cavalcante que era o Superintendente Adjunto de Operações – SOP, determinou sua erradicação, quando o mesmo era conduzido pela última locomotiva existente da marca Whitcomb. A de número 617. #

Locomotiva Whitcomb nº 617

É como disse Raquel de Queiroz: “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”.

Interação:

Antônio Joaquim Carvalho Junior (Cel. Carvalho). 

Foto Instituto do Ceará.

 

 

 

 

 

 

 

                                      

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