Assis Lima
Assis Lima

O PÃO NOSSO DE CADA DIA NA FORTALEZA DE ONTEM E HOJE

 

 

É coisa milenar a pessoa buscar o pão para alimento. Aliás de modo metafórico, pão significa alimento para sustento do corpo. “Pão nosso de cada dia” Bíblia Sagrada. Os trabalhadores dizem “este meu trabalho é o meu ganha pão”.

Neste post, conheceremos as imagens de alguns estabelecimentos de panificação de nossa Fortaleza, mas por falta de fontes, apenas vou me reportar sobre a Padaria Popular, que tinha uma filial com o nome de Triunfo, baixos do edifício do mesmo nome, na rua Liberato Barroso, Centro da Cidade.

Padaria Popular ou Padaria do português Augusto Pinho, pude fazer este relato, devido minha vivência nos anos 60 e 70 na Vila São José-Jacarecanga.

Estabelecimentos:

– Padaria Lisbonense

Em 1875 a fábrica de produtos alimentícios deu origem a Padaria e Confeitaria Lisbonense. Foi fundada como Lisbonense em março de 1916 por Pelágio e Abílio Rodrigues de Oliveira juntamente, José Teixeira de Abreu. Aos 20 de abril de 1927, a mesma passou a funcionar na Rua Pedro Borges nº 151.

Na alegativa de estar poluindo o Centro, a mesma encerrou suas atividades em 10 de outubro de 1983.

Padaria Americana

Essa panificadora foi iniciada em Aracati – CE mudando-se em 1880 para a Fortaleza, estabelecendo-se   na rua General Sampaio, tendo como proprietário João Otávio Vieira Filho. Foi a primeira fábrica de biscoitos e bolacha do Ceará.

–  Padaria Iracema

– Padaria Primavera

Surgiu em abriu de 1934, na Avenida Dom Luiz nº 541, atual Dom Manuel, tendo como proprietário Joaquim Antônio de Oliveira fabricantes das Bolachas Globo e Avenida.

 

 

– Padaria Palmeira

Era localizada na Rua Senador Pompeu esquina com Guilherme Rocha.

– Padaria Ideal

Iniciou suas atividades em 1925, na Rua Barão do Rio Branco, mudando-se em 1946 para a Rua Guilherme Rocha, esquina com Avenida Imperador;

Padaria Imperial, de Antônio Escudeiro de Almeida e José Antônio da Silva. Fundada em 1923 na Avenida Visconde do Rio Branco. Em 1934 passou a pertencer ao Grupo M. Dias Branco;

Padaria Natalense de José Pedra na Parangaba;

– Aveirense;

– Padaria Bijú, de José da Silva Bottas (1910);

Padaria Continental

Localizada na esquina das Ruas Pedro Pereira com Avenida Carapinima, defronte ao Senai. No início dos anos de 1980 desapareceu.

Padaria Globo

Ainda hoje estabelecida na Rua Padre Mororó, esquina com Pedro Pereira.

Padaria Popular

Na calçada larga, em forma triangular e defronte ao Guaratinguetá (Bar do seu Telles) no início da Rua Dona Maroquinha, ficava uma montanha de lenhas. Era para alimentação térmica, dos fornos da Panificadora Popular, cujos serviços iam noite adentro.

No lado Sul do prédio com dois andares e de 40 metros de fachada, havia uma estreita calçada onde chumbaram anéis de ferro trefilado de 5/8 de polegada no cimento armado. Designavam-se essas peças, para amarração dos animais que serviam como transporte dos rústicos caixotes, que iriam ser carregados com pães novinhos e crocantes. Naquela época o pão bengala era à semolina. Esse tinha outro sabor devido sua composição química diferenciada.

Os clientes eram mercearias como ainda posso lembrar: bodega do Edmilson, a do Luís Carvalho (ambas na Avenida Tenente Lisboa); Abelardo da Vila São Pedro, Seu Arteiro do Mercadinho da Via Férrea e seu Hozanan; saíam também mercadorias para o Morro do Ouro, Cercado José Padre e João Lopes, que depois de urbanizado pegou o nome de Monte castelo. (Não existiam os Bairros Santa Maria nem Ellery. Tudo era João Lopes). Lá se vai a gente querendo escrever outra coisa…….

O cavalo que levava a mercadoria do Seu Josué (vendedor ambulante) saía da calçadinha, abarrocado com o pão nosso de cada dia. Carioquinha é coisa dos anos oitenta, quando também fizeram com o pão sovado, muito aproveitado para o Hot Dog. Conservantes industrializados é que lascam nossa saúde.

As fábricas São José, José Pinto do Carmo, Casa Machado além da Padaria Triunfo na Rua Liberato Barroso, todos esses empreendimentos eram abastecidos pela Panificadora de Augusto Pinho, que se estabeleceu na Vila São José em 1961.

Rapazinho robusto, ainda carreguei caixotes na cabeça com até um cento de pão para a Fábrica de tecidos do bairro. O porteiro da usina era o Pinheiro “Cabeça Branca”; O seu Nogueira “Simpatia” era o responsável pelo restaurante. Os infanto-juvenis nunca saíam sem lanchar. Quantas vezes havia disputa para quem ia fazer essa entrega. Só coisa de menino: trabalhar pela comida.

Na panificadora Popular, era caixa e despachante um personagem baixo e gordo chamado de “Bacana”. Lá dentro literalmente com mãos na massa e, outras na lenha tínhamos: o Riba, o Maranguape, Pau Branco, Caladinho e o Tarzan. Foi uma convivência de doze anos e ninguém sabia nome de ninguém. Recebi dois batismos: “Pirulito Americano”, e “Pai da Mata” porque meu cabelo era crescido. Rotulou e pegou! Ê, molecagem!!

Intenso era o movimento na calçada da panificadora do português, e uma chaminé bufando fumaça preta, poluía a Avenidinha Sul, e às vezes inquietava os animais ali amarrados mas a espera era pouca.

À noite na calçada quando livre, a meninada aproveitava para lazer. Brincadeira do buldogue, onde duas equipes se confrontavam corporalmente e quem conseguisse levantar o outro, era eliminado.

Na época do milho verde, pessoas não se sabem de onde, vinham acender fogareiros para vender: cozidos e assados. No outro dia muitas vezes Seu Augusto se irritava por haver ficado palha defronte seu estabelecimento.

Aos sábados pela tardinha também na calçada da padaria, a professora Francisca, do Grupo Marcílio Dias, ministrava o Catecismo para os que iam fazer primeira comunhão, cujo evento ocorria na Igreja dos Navegantes, quase defronte a Escola de Aprendizes Marinheiros, cerimônia regida por o Padre Mirton Lavor. O Frei Memória realizava o confessionário tudo com o aval do Monsenhor Hélio Campos.

Desse modo escrevemos com o sentimento renascente de cada instante rememorado. Que não nos desviemos das lembranças de quem fomos e ainda somos.

Em 1972, seu augusto abandonou o lugar, entregou o prédio ao Pedro Philomeno, retirando sua panificadora. Lá tínhamos pão comum, pão Recife, de Coco, bolachas, laticínios e afins.

Matou o lugar.

O espanhol Raul e Dona Madelú alugaram o prédio para uma indústria de calçados, mas não vingou.

Hoje a calçada não mais existe. O prédio com estética invejável passou a ser um fracionado monstrengo, com uma adaptação não planejada para residências.

Ficou no lendário o movimento da Padaria, lazer e eventos que ali foram realizados. Desde as brincadeiras, movimentos religiosos até o lançamento das candidaturas do Doutor Dorian Sampaio para Deputado Estadual, e Valdemar Alves de Lima (meu Pai) para a Câmara Municipal de Fortaleza. São lembranças que com a mutilação topográfica, ainda ficam para os que cultuam o passado.

Não é fácil passear pelo ontem garimpando fatos.

 

Ai está o que restou do Prédio da Padaria Popular.

Até nosso calçadão reduto de nosso lazer, desapareceu….

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