Locomotiva Whitcomb nº 600 a primeira diesel-elétrica
Dia das Crianças em 1969.
Numa viagem de trem os usuários em geral se sentem aconchegados com sua companhia de viagem, pois, todos fazem amizades ao longo do percurso, até porque a própria estrutura dos carros a que dispõe os passageiros para bate-papos, favorecia a comunicação fomentando feedback.
Nas paradas das estações, além da efusão de encontros até mesmo com os que vivem a hostilidade do novo ambiente ou os que, de forma absoluta são antagônicos, abrem, mesmo que de maneira forçada um pequeno sorriso imposto pela alegria da viagem. Mãos, acenos com lenços, sorriso se podiam ser contemplados nas janelas de trem.
Carros de passageiros de 1ª classe. 1925
Dando prosseguimento em sua trajetória agrestina adentro, o desbravador dos sertões deixava rastros, afinal, sempre na estação que para trás ficava, havia sempre alguém mesmo que flertando, a olhar a passagem de um trem.
Como em toda ferrovia que se inicia, o aumento de demanda surge de acordo com o prolongamento das linhas e apesar de em 1892 os trilhos da Baturité já estarem na Cidade de Quixadá, relatórios informam que os trens de passageiros circulavam em dias intercalados. Os ingleses fizeram os trens circularem todo dia, mas a reestatização da Companhia e a seca de 1915, fizera novamente a intercalação do Sobre Trilhos.
Carros de passageiros 2ª classe. 1925
Em 1925 uma portaria assinada pelo Diretor da RVC, Dr Demósthenes Rochert, tornou novamente diária a circulação de trens para o interior cearense, porém, devido a não existência do “Carro Restaurante” o pernoite pelo horário era na Cidade de Senador Pompeu existindo paradas específicas para Almoço e janta.
Em 1940, Os prefixos dos trens de passageiros da Rede de Viação Cearense eram assim formados: Estação Central até Senador Pompeu (P1); Estação Senador Pompeu até Crato (P3); Estação de Crato até Senador Pompeu (P4); Estação Senador Pompeu até a Central (P2).
Uma nova freqüência foi inaugurada em abril de 1944 quando, partiu um trem de passageiros de Fortaleza até a cidade paraibana de Patos. Chegando à Estação de Arrojado esse trem que, ficou conhecido como o “Paraibano” penetrava no Ramal da Paraíba assistindo também, o Sub-Ramal de Cajazeiras.
Em 1957 quando houve a ligação do Ceará com a Paraíba em Campina Grande, o ramal paraibano passou a ser tronco, e de Arrojado em rumo ao Cariri, denominou-se: Ramal do Crato.
Em 25 de julho de 1951 surgiu o “Trem Expresso” e a sua composição era toda com carros metálicos de fabricação Marfesa na cor verde. Esse “Expresso do Cariri” partia da Central às 04h15min, chegando à Cidade de Crato às 22:12h, com retorno à Capital no horário idem, com um dia de intervalo. Recebendo o apelido de “Trem Verde”, eram estes os seus prefixos: Central – Crato (R1); Crato – Central (R2).
Com a chegada da última leva de locomotivas à vapor para a RVC, os Trens de passageiros novamente sofreram modificações voltando à antigos prefixos, só que com outros pontos de apoio: P1 Estação Central / Quixeramobim (Locomotiva Pacific 403); Quixeramobim / Cedro (Locomotiva Pacific 408); Cedro / Crato (Locomotiva Pacific 404). P2 obedecia ao mesmo esquema de troca de locomotivas Crato/Cedro, Cedro/Quixeramobim, e Quixeramobim/Central, sendo o pernoite em Iguatu, com muitos ainda chamando de Vila Telha.
Os agentes Afonso Pereira Lima e Alfredo Neto Lima (saudosos) em entrevistas lembraram: “fomos telegrafistas em Acopiara ao tempo do Agente Jáder Soares (1951). Vale lembrar que o alojamento dos agentes de trens, nesse período acabara de ser anexado na Estação de Acopiara, e não mais em Iguatu”.
Com a Criação do Sistema Regional Nordeste em 1969, os trens P1, P2, foram substituídos por: SCP1/SCP2.
Na linha Norte (Antiga Estrada de Ferro de Sobral) o marco para a inovação ocorreu em 1950, pois, a Estrada de Ferro de Fortaleza Itapipoca – EFFI se uniu com a de Sobral. O Ramal de Camocim ficou sendo assistido pelos trens mistos, M33 Sobral – Camocim e o M34 Camocim – Sobral. Posteriormente de Fortaleza para Crateús os trens passaram a se identificarem como: Central a Cidade de Crateús (SA 1); Crateús a Estação Central (SA 2). O trem às quintas-feiras da Central até a Cidade de Teresina-PI (SA 3); Teresina até a Estação Central (SA 4).
Complementando: o transporte de passageiros de Fortaleza para Teresina foi inaugurado no dia 15 de novembro de 1973, quando a RFFSA nas oficinas Demósthenes Rockert, começou a construir carros que, posteriormente foram batizados de “Sonho Azul”.
Esses carros sonho azul formaram composições, o que levou em 14 de novembro de 1975, surgir em Fortaleza o primeiro “Trem Especial” com passageiros destinados à Capital Pernambucana. O charmoso Asa Branca (R1-R2) passou a desfilar às 14.10 h de todas as sextas-feiras, com sua primeira parada programada na Cidade de Baturité. Devido, porém, seu alto custo operacional sua circulação fora efêmera, desaparecendo seis meses após.
Em 1987, a situação de trens de passageiros no Brasil, ficou insuportável. Com o fracasso do Plano Cruzado, os Ministérios no Governo Sarney fizeram cortes em seus orçamentos, e a RFFSA não pode mais manter o trem de passageiros de longo percurso, tendo em vista o mesmo ser deficitário.
Esse transporte era de excelente retorno social, mas não era mais interessante a Rede Ferroviária continuar pagando para mantê-lo. O engenheiro Ruy do Ceará que o diga, pois, era o Superintendente na época e foi um herói nesse negócio, quando remanejava recursos de cargas e mesmo com dias intercalados ainda mantinha o sistema em funcionamento, até quando não deu mais.
Com a implantação do Sistema de Gerenciamento Operacional – SIGO, a RFFSA conheceu o mundo da informática que já havia sido implantado em 1984. Os trens de longo percurso tinham mudado de nome, e desta pela ultima vez, lamento o que escrevo: no dia 12 de dezembro de 1988, com o prefixo SGF 0123 e com a locomotiva GE-U-10B n˚ 2210-4B, partiu às 17.05h da Estação Prof. João Felipe (Central), o ultimo trem de passageiros destinado ao Crato. Na linha de Sobral dois dias após, às 19.h também da Estação Central, o trem de prefixo SGC 0127 tracionado pela locomotiva n˚ 2226-1B, de fabricação idem, se despediu indo para a Cidade de Crateús e não mais retornar. Foi uma tristeza quando se procurou esse amigo do interior cearense, e não mais foi encontrado. Talvez uma atitude política mais sólida, tivesse evitado tanta frustração.
Tracionado por uma locomotiva GE-U10-B, 1000 HP 1971.
Severiano Celestino da Costa e Francisco Lopes (Popular pestana).
Expresso Asa Branca Ligação dos passageiros de Fortaleza para Recife.
Composição Asa branca