Em defesa, e para a pacificação dos indígenas em fins do século XVII no vale do Cariri, ocorreu a chegada de missionários de diversas ordens religiosas. Os jesuítas, agrupando-os, sob sua autoridade eclesiástica, em “aldeias” ou “missões”, criaram entre outras no sítio chamado Cachoeira, a Missão de São José, que seria a célula – Máter para criação do Município de Missão Velha.
Em 28 de janeiro de 1748, sob a invocação de Nossa Senhora da Luz, foi criado desmembrado do curato de Icó, na região dos Cariris Novos, o “Curato Amovível” das Minas dos “Cariris Novos”.
Igreja de São José
Por provisão do bispo de Olinda de 3 de maio de 1760, foi autorizada a ereção da Matriz de São José, no sítio da antiga capela do aldeamento indígena, passando o curato a denominar-se desde então, “São José da Missão Velha do Cariri”.
Segundo alguns historiadores, o nome do Município é devido ao fato de os jesuítas terem fundado outra missão, passando a ser conhecido como Missão Velha.
Elevado à categoria de Vila com a denominação de Missão Velha, por lei provincial nº 1120, de 08-11-1864, a mesma foi desmembrado de Barbalha. A sede no núcleo de Missão Velha, foi Instalado em divisão administrativa referente ao ano de 1911, quando a vila aparece constituída de 3 distritos: Missão Velha, Goianinha e Missão Nova.
Cine Rádio de Missão Velha.
Por fim fora elevado à condição de cidade com a denominação Missão Velha, pelo decreto, nº 262, de 28-07-1931. Pelo decreto estadual nº 1156, de 04-12-1933, referem-se a criação de Riacho dos Porcos.
Missão Velha contemplada pelo Trem da RVC
Recuemos um pouco.
No início dos anos de 1920, algo começou a agitar Missão Velha, ainda sem a formatação de uma Cidade, como já lemos. Os trilhos da Rede de Viação Cearense com estação inaugurada, estavam em Lavras da mangabeira sob os cuidados do Agente Anthero Dantas pereira. Por ser estação terminal à época tinha telegrafista e conferente.
Obras do trecho Ingazeira Missão Velha – Inspeção
Na construção do trecho Lavras – Missão Velha, a responsabilidade pertencia aos engenheiros Ermelindo Barros Lins, Raul Braga e Octacílio Leal, já que a ferrovia na linha sul estava atacando em dois pontos. O outro ponto era a linha da Paraíba, saindo de Paiano (Arrojado); nesta empreita estavam Otávio Bonfim e José Barreto carvalho (Eng.º Barreto), todos por designação de Arrojado Lisboa, lotados na Sexta divisão que era de Construção e Prolongamentos. (Lembremo-nos que neste período a RVC estava subordinado à IFOCS). Couto Fernandes, apenas respondia perante o Ministério da Viação e Obras Públicas.
Trem da Comitiva Inaugural
A silhueta da topografia dava conta de que o trajeto contemplaria Iborepi, Aurora, Ingazeira e em Missão Velha a linha seguiria para Macapá (Jatí). De lá sairia um ramal para Barbalha – Juazeiro e um sub-ramal para o Buriti – Crato.
Os reclames de onde o Padre Cícero exercia liderança à época, fizera com que a RVC modificasse o projeto piloto: O trem agora iria para Juazeiro do Norte e Crato terra natal do líder político e eclesiástico. Padre Cícero que, havia sido o primeiro prefeito de Juazeiro tinha muita influência junto ao Epitácio Pessoa presidente da República, do Governador do Ceará Justiniano de Serpa juntamente com Couto Fernandes e o Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa. Saiu no DOU: “Projeto de construção na ferrovia do Ceará sofre modificação”. 18/07/1920.
Fachada da Primeira estação de Missão velha.
Seu depósito incendiaria em 1940
Houve muitas paralisações, mesmo com verbas a conta gotas, devido as grandes obras do nordeste, porém, mesmo contingenciadas a coisa foi andando. Apoteóticas inaugurações, desafios sendo vencidos, como ponte sobre rios, e sem mais a bifurcação um pouco antes no Riacho dos Porcos já na jurisdição de Missão Velha. A estação fora entregue ao tráfego aos 10 de setembro de 1925, no km 564 com 352 metros acima do nível do mar.
Quando o trem inaugural chegou com a comitiva da administração, foi recebido por seu primeiro Agente Anthenor de Lemos Costa, Telegrafista Apparício da Rocha Sobreira além do Prefeito, Cel. Manuel Dantas Araújo.
A História passa pela estação de Missão Velha
(A Coluna Prestes no Ceará)
Quando esse lendário “Movimento Popular” se aproximava do Ceará, o Presidente da República, Artur Bernardes convocou ao Palácio do Catete (Rio de Janeiro), o deputado federal Floro Bartolomeu, delegando-lhes poder para organizar a “Defesa do Território Cearense”. Floro recebeu vasta quantidade de material bélico e recursos financeiros.
Por que o Presidente Bernardes convocou Floro e não o Governador Moreira da Rocha (Desembargador Moreira) para combater a Coluna no Ceará? Era porque Sua Excelência obteve conhecimento do convívio de Bartolomeu com jagunços e Coronéis do Estado que lutaram a favor do Governo, desde a Sedição de Juazeiro em 1913, e que o mesmo era um político com forte influência perante os bandoleiros.
Governador Moreira da Rocha, Floro Bartolomeu, e autoridades civis e militares na Estação de Missão Velha. Estratégias para debelar a Coluna no Sertão Cearense.
Regressando ao Ceará, Floro Bartolomeu organizou um “Batalhão patriótico”, cujos membros eram todos os jagunços enviados pelos latifundiários da zona sul cearense. O deputado teve ainda a ideia de procurar o grupo do cangaceiro de Vigulino Ferreira da Silva, “Lampião”, para lutar ao seu lado na “defesa da liberdade”.
Demósthenes Rockert e Moreira da Rocha (ao centro)
Reunidos em MV com o Coronel Franca e seu Assessor.
A Rede de Viação Cearense – RVC, por conta da incursão dos rebeldes, foi focalizada nesses aspectos: A construção e desempenho, afinal a Estrada de Ferro era de propriedade do Governo da União. As linhas estavam no Sul do Estado (região do Cariri). Foram paralisadas por cerca de um mês, acarretando quase uma desorganização por completa. Quanto ao desempenho da RVC, não foi bom na época, ocorrendo um desequilíbrio na vida comercial, pois o itinerário do trem justamente para a zona mais produtiva, estava impedido, que era Crato. Essa queda de receita se deu também, porque as composições ferroviárias passaram a trafegar conduzindo tropas legais, prontidão de pessoal e material. Os trens da linha de Baturité foram prejudicados pois, integrantes da Coluna prestes estavam estacionados em Missão Velha.
Bandoleiros da Coluna Prestes
A Coluna Prestes no Ceará foi despeça e a Rede de Viação Cearense, a pedido da Governadoria do Estado, no total organizou 237 trens especiais tendo transportado forças militares, animais e o material bélico que o Presidente Bernardes havia colocado à disposição do deputado federal Floro Bartolomeu. Não teve condições de tal movimento prosperar no Ceará, pois a força militar e a dos “Coronéis” extirparam as pretensões deste grupo.
Endereçados à diretoria da RVC, o Presidente do Ceará, José Moreira da Rocha “O Moreirinha” aos 4 de março de 1926, enviou oficio no qual expressa: “calorosos agradecimentos pelos relevantes serviços prestados ao Estado na defesa da ordem constitucional durante a permanência das hordes revolucionárias nos sertões cearense”. Acrescenta o oficio em apreço, que a diretoria da RVC e seus dedicados auxiliares, deram “as mais inequívocas demonstrações de amor às instituições democráticas, nos calamitosos dias por que passou este Estado”. (Relatório da RVC, 1926).
“O anelo dos partidos políticos é o poder. Todo movimento legítimo é a reivindicação do povo, mas a liberdade de ideias não dá direito à pratica do vandalismo”. (Do autor).
Inspetor Milton Pereira em Missão Velha.
A nova Estação de Missão Velha Sobreviveu.
à Posteriori ainda terá serventia.
A bem da verdade, a estação de Missão velha em demanda de passageiros era grande, exportando produtos agrícolas tais como açúcar, café, calcário, gado bovino além de pequenas encomendas vindas dos municípios vizinho. Esta cidade foi de vital importância da implantação do saudoso “Trem da Feira” que circulava apenas no Sertão sul do Ceará – Cariri.
Mas, para toda aquela gente, o que é um trem de passageiros hoje? É um passeio inesquecível, alegria dos sertanejos, um ícone de saudade.
Mas o povo missanvelhense ainda tem uma esperança: A Transnordestina Logística S/A vai revitalizar este município, pois o trem de carga, saindo do Porto do Pecém (São Gonçalo do Amarante), vai passar por Piquet Carneiro indo para Missão Velha, e de lá para Jatí adentrando o sertão pernambucano.
Sabe lá se o trem de passageiros não volta?
– Almanaque do Ceará, 1920 e 1926;
– Arquivo Público do Estado do Ceará;
– Diário Oficial da União 18/07/1920;
– Lima, Francisco de Assis Silva de Lima: O Ceará Que Entrou Nos Trilhos, Visual Gráfica, 2015.
– Relatório da RVC, 1926;
Registro Iconográfica: Imagens reproduzidas de originais pertencentes ao Instituto do Ceará, gentilmente cedidas.