Assis Lima
Assis Lima

BARBALHA E A BARBÁRIE

 

Barbalha Antiga

 

As terras localizadas às margens do Riacho Salamanca eram habitadas pelos índios Kariri, antes da chegada das Entradas no interior brasileiro, durante o século XVII. (Vide na história do Brasil o capítulo Entradas e Bandeiras).

Os integrantes das entradas, militares e religiosos, mantiveram os primeiros contatos com os nativos, estudaram todas as regiões dos Kariri. Com a catequização os indígenas os mesmos foram agrupados em aldeamentos ou missões. Este contato entre exploradores e nativos repercutiu profundamente na formação cultural do lugar.

Antiga Igreja de Santo Antonio

 

Com este acontecimento surgiu um distrito que fora criado aos 30 de agosto de 1838, pela lei provincial n° 130, com o nome de Barbalha. Subordinado ao Município do Crato, em 17 de agosto de 1846 ocorrera sua emancipação política, e o então distrito é desmembrado do Crato e elevado à condição de Vila com a denominação de Barbalha, pela lei provincial nº 374.

As cidades, situada na Chapada do Araripe, serviam como um verdadeiro oásis na paisagem árida do Sertão Nordestino e isto atraiu a instalação de engenhocas de rapadura, de onde baseou sua economia nas primeiras décadas de sua história. O canavial era sem igual.

Mapa do Ceará Ferroviário.

A partir de 1911 Barbalha passou a abrigar alguns empreendimentos comerciais e assumindo a sua vocação no setor de serviços, graças ao desenvolvimento da região, efeito da emancipação de Juazeiro do Norte.

Em 1926, passaram pela cidade lampeão e seu bando, que estavam a caminho de Juazeiro do Norte para integrar o Batalhão Patriótico. Por esta ocasião conversou com líderes locais e jornalistas. Comenta-se que o Padre Cícero não fora canonizado, porque teve oportunidade de acionar a polícia para prender Lampeão com o bando e não o fez.

Há registros de que a cidade, ainda em seu estágio embrionário, sofreu um saque empreitado por um grupo composto por, aproximadamente 2000 jagunços, os quais pilharam os valores que encontraram, e atearam fogo em milhares de contos de réis, causando um impacto na economia local e impedindo o crescimento do lugarzinho, que desfrutava de relativa prosperidade. Houve ainda um segundo saque, mas bem depois do primeiro. Desta vez, o fato se deu quando, da modificação do traçado da Rede de Viação Cearense (RVC).

O fato foi quando os trilhos da Rede de Viação Cearense, chegaram em Missão Velha em 1925. Pelo traçado piloto os trilhos deveriam seguir em frente para a localidade de Makapá (hoje Jati) e de lá, seguir para Pernambuco em rumo ao Rio São Francisco. Então, foi “graças” à intervenção significativa de Padre Cícero Romão Batista, a maior liderança política da região, que conseguiu junto ao Ministério da Viação e Obras Públicas, IFOCS e a diretoria da RVC, e o traçado sofreu modificação. O trem que ia para Jati e de lá saia um ramal para Juazeiro do Norte com sub-ramal para o Crato, via Barbalha, fora modificado.

O Trem da RVC 25 anos depois

Inauguração da Estação de Barbalha

Dia da Pátria em 1950

 

Todavia aos 7 de setembro de 1950, sob apoteose pelas presenças do diretor do Departamento Nacional de Estradas de Ferro – DNEF, engenheiro Emanuel de Araújo Doria que representou o excelentíssimo senhor Presidente da República Eurico Gaspar Dutra, do Governador do Ceará desembargador Faustino Albuquerque, do Diretor da RVC Hugo Rocha acompanhado do Chefe da Locomoção Eng.º Francisco Porfírio Sampaio   e do Prefeito de Barbalha, senhor Argemiro Sampaio: Estava inaugurada a Estação ferroviária de Barbalha com 15,462 de extensão e devido a Chapada, 400,000 metros acima do nível do mar.

Foram 25 anos de atraso, para a ferrovia e a economia do Estado no que diz respeito ao transporte de açúcar, calcário e gado barbalhense, afora o prazer socialmente do povo viajar. A periferia de Juazeiro ainda conseguiu transportar por ferrovia, mas Barbalha ficou em demanda reprimida, por intervenção política negativa. Para o autor destas linhas, fora um mancha negra na economia da região, pois o transporte rodoviário fora avançando como concorrente do trem.

Beleza de Estação 

No Ceará nesta arquitetura foram construídas:

Missão Velha, Aracoiaba, Itapipoca e na Paraíba Cajazeiras.

  

 

Todos os trens que chegavam em Juazeiro – Crato, religiosamente era fracionado com vagões e carros de passageiro para atender Barbalha. Era simplesmente sensacional a circulação dos trens mixtos.

As coisas em Barbalha deu uma melhorada em 1961, quando chegou energia de Paulo Afonso no Município, acabando com o motor de geração local e assim, a cidade voltou a crescer.

Em 1966 a já RFFSA criou o Grupo Executivo para Erradicação de Ferrovias e Ramais Antieconômicos – Gesfra. Na mesma leva de modelo administrativo/operacional ferroviário, no ano seguinte o Presidente Castelo Branco por força do Decreto-lei nº 200, extinguiu o Ministério da Viação e Obras Públicas e criou o Ministério dos Transportes. A RFFSA teve que se adequar à nova política de transportes no Brasil. Viria as supressões de Ramais antieconômicos, e fechamento de estações.

A Estação tinha em seu pátio um desvio, triângulo e uma linha morta.

 

Os ramais de Maranguape, Cariús e Orós foram desativados em 1974; depois viria o de Camocim – Sobral em 1977, seguindo aos 22 de fevereiro de 1978 o de Barbalha.

Barbalha poderia ter uma maior sobrevivência, se não fosse sub-ramal.

Planta da Estação

Situação e baixa

 

O prédio da desativada estação de Barbalha, é utilizado como terminal rodoviário para ônibus intermunicipais e interestaduais, com pequenos comércios. Tombado por Lei Municipal e pertence à Prefeitura, fora transformada em “Estação Barbalha Turismo”, equipamento de turismo pedagógico que visa atrair habitantes e turistas para percursos pelo centro histórico e localidades que abrangem a história local.

A cidade hoje é a que mais tem prédios tombados pelo patrimônio Municipal e Estadual, e possui a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, tombada como patrimônio histórico imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Barbalha hoje tem história, hospital de referência, indústria metalúrgica, clima agradável, mas o trem para os barbalhenses, é uma história contada pelos antigos.

É passado, passou……

A Estação Sobreviveu.

 

Referências:

  • Almanaques do ceará, 1925 e 1950, Instituto do Ceará;
  • Arquivo Público do Estado do Ceará;
  • Lima, Francisco de Assis Silva de Lima: O Ceará Que Entrou Nos trilhos, Gráfica Visual, 2015;
  • Revista do IBGE, 1956;
  • Revista “Noite Ilustrada”, edição 16/01/1951, Arquivo Nirez;.
  • Iconografia: As imagens da estação foram reproduzidas de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.

 

 

 

 

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