Assis Lima
Assis Lima

PRADO, CAMINHOS DO ONTEM

 

Aspecto primitivo da Avenida Visconde Cauhype

 

Exórdio

Em 1607, a antiga aldeia indígena Potyguara foi transformada num lugarejo fundado pelos jesuítas com o nome de Missão Porangaba, pois, naquele período teve início a evangelização das populações indígenas aonde, foi profícuo o ministério do padre Francisco Pinto, a quem os nativos chamavam Pai Pina ou Amanaiara, “O Senhor das Chuvas”.

Durante a passagem de Martins Soares Moreno pelo Siará Grande (1612-1631), o célebre índio Jacaúna (irmão de Camarão) que, havia fixado sua tribo nas margens da lagoa de Porangaba protegeu e bastante, a Martins Soares, pois, o tratou por filho. Jacaúna foi mais carismático do que os jesuítas, pois, os mesmos haviam dado uma parada em sua missão evangelizadora, reiniciando os trabalhos somente em 1694.

Quando Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) aos 14 de setembro de 1758, por Ordem Régia, extinguiu a Companhia de Jesus, os portugueses com uma cartilha do bispado de Coimbra, nomearam o povoado da lagoa: “Arronches”, porém, aos 25 de outubro de 1759 passou a se chamar Vila Nova Arronches, quando a mesma passou à categoria de Vila e Freguesia.

Com o advento da República, voltou ao nome da Sesmaria “Porangaba”.

 

Parangaba a antiga Vila Arronches

“(…) havia uma formosa lagoa no meio de verde campina. Para lá volvia a selvagem o ligeiro passo. Era a hora do banho da manhã; atirava-se à água e nadava com as garças brancas e as vermelhas jaçanãs. Os guerreiros pitiguaras que apareciam por aquelas paragens, chamavam essa lagoa Porangaba, ou lagoa da beleza, porque nela se banhava Iracema, a mais bela filha da raça Tupã. E desde esse tempo as mães vinham de longe mergulhar suas filhas nas águas da Porangaba, que tinha a virtude de dar formosura às virgens e fazê-las amadas pelos guerreiros (…) Só havia sol no bico da arara, quando os caçadores desceram de Pacatuba ao Tabuleiro. De longe viram Iracema, que viera esperá-los à margem de sua lagoa da Porangaba…”

(Do livro Iracema, José de Alencar, maio de 1865, Ediouro Publicações S/A pág. 51).

A formação toponímica de Parangaba vem de Porangaba, que significa em tupi-guarani “Lindeza” referindo-se a sua bela lagoa.

Visconde Cahuype no momento do cruzamento dos bondes Benfica e Prado

 

 

 O Boulevard do Cahuype 

O antigo Boulevard Visconde Cahuype, localizado no Sítio Benfica, foi o antigo, estreito e carroçável caminho do Arronches que se iniciava na Praça Pelotas e ia prosseguindo para a lagoa da Porangaba, antiga aldeia indígena, como já foi descrito. (Em 1945 trocaram o “o” pelo “a”, que descubram os entendidos em corruptela.

A abertura do caminho (restrita a animais de galope), remota ao Holandeses no Brasil Colônia objetivando chegar as serras e ao chegar em Mondoig (Mondubim), foram expulsos. Naquelas aventuras é que foram descobertas duas grandes riquezas hídricas, maravilhas da natureza: as lagoas da Parangaba e Maraponga.

Em 1836, o então Presidente da Província Cearense, Padre José Martiniano de Alencar (Senador Alencar) construiu a carroçável Estrada “Fortaleza – Baturité” com mão dupla e, depois relatórios deram conta de que em 1863, já existia tráfego comercial.

 

Ficaremos na Avenida Treze de maio

Os transportes eram de tração animal, mas, o primeiro transporte coletivo fora os Carris da Companhia Cearense.

A linha Prado, seguia a mesma do Benfica, iniciando-se no cruzamento da hoje Avenida 13 de maio, quando o bonde entrava a esquerda e fazia ponto final na esquina da Estrada da Pirocaia (Avenida dos Expedicionários). Na época o local era chamado de Cachorra Magra, aonde ficava o Prado, hoje IFCE.

Acredita-se que a linha fora criada para atender famílias importantes do entorno, como a “Gentil”, daí Gentilândia.  O cruzamento dos referidos bondes era no início da Avenida Visconde Cahuype (da Universidade). Ainda sem nomenclatura oficializada, a própria Gentilândia era servida pelos bondes elétricos da Ceará Light que faziam as linhas Prado e Benfica.

Casarão na esquina da Av. Treze de maio.

Separação dos bondes Benfica e Prado 

 

#A questão de nomes e demarcações de territórios na urbe, até hoje são temas argumentáveis, pois, existe linha de ônibus, praças, igrejas, ícones e demais referências que por sua importância ou força de tradição, demarca o nome do Bairro #. (Do livro Por onde o Bonde Passou, do autor).

Exemplos: São Gerardo é a Igreja, mas o nome do Bairro é alagadiço; Otávio Bonfim era a estação Ferroviária, mas o nome do Bairro é Farias Brito antigo Cercado Zé Padre; Soares Moreno era um bairro pequeno de três Ruas, Agapito dos Santos/Padre Mororó/Teresa Cristina/Cemitério sendo demarcado pelo Sul com a Avenida Francisco Sá. Hoje é Jacarecanga/Centro. Couto Fernandes é a estação ferroviária, mas o bairro é Damas.

Bem, o Benfica onde, a bem da geografia demarcatória, começa nas Caixas d’água ao lado do Instituto José Frota, hospital de atendimento emergencial de Fortaleza. Em rumo ao sertão pela Avenida da Universidade (antiga Visconde de Cahuype) vai até o canal do Jardim América, após ter penetrando na Avenida João Pessoa.

Não existe Bairro Prado e, a Gentilândia foi criado em 2009.

Antigamente, toda a área que hoje faz parte do bairro Gentilândia pertenceu ao bairro Benfica, mas, em 2009 como já descrevemos, foi desmembrada e virou um bairro independente

Toda aquela área do cruzamento da Avenida 13 de maio/Shopping era um grande sítio que pertencia ao abolicionista José Correia do Amaral, por isto a curva existente no percurso é chamada de “Curva do Amaral”, topografia esta sentida de quem vem pela Avenida Tristão Gonçalves, no sentido do sertão. Ao Prado houve favorecimento, a que fosse inaugurado em 1941 o Estádio Presidente Vargas, Praça, Escola Industrial e outros ginásios poliesportivos.

Matagal onde fora erigida a mansão da família Gentil.

Hoje Reitoria

 

 

 O primeiro concorrente do Bonde surgiu junto com o Estádio. A linha do coletivo rodoviário “Prado via Rio Branco” depois passaria para a Cialtra tinha o seguinte Trajeto: Praça do Ferreira, Guilherme Rocha, Rua Senador Pompeu e nela em tangente ia até a Treze de Maio. Circulava a Praça da Gentilândia e descia até o Riacho Tauape (canal do Jardim América) retornando pela Avenida dos Expedicionários; em seguido pegava a direita e descia em rumo ao Centro pela Rua Barão do Rio Branco até a Rua Liberato Barroso que, na época circulava carros. Retomava a Praça do Ferreira pela Rua Floriano Peixoto, ficando no ponto novamente na Praçinha, já que o abrigo Central ainda não tinha sido construído.

Prado, tudo começou no segundo quartel do século XIX, quando os senhores das terras começaram praticas esportivas com seus cavalos. Depois a modalidade fora exportada para um campo do Pici, vizinho da Parangaba bairro já tão descrito neste artigo.

.Mais ilustrações

Mansão da família Gentil

 

Inauguração do Campo do Prado – Estádio Presidente Vargas. 1941

Ônibus do Prado trafegando na Rua Senador Pompeu.1941.

 

Avenida Treze de maio após a retirada dos trilhos da Ceará Light Tramway

Atual IFCE

 

 

Vista aérea do Prado

 

Referências: Arquivo Público, Leocácio Ferreira, Arquivo Nirez, Marciano Lopes e Cepimar

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