Entre 1630 e 1654, os holandeses dominaram o Nordeste brasileiro. A ocupação do Ceará pelos flamengos visava estabelecer um ponto de apoio para a conquista do Maranhão, já que Pernambuco estava dominado, sendo Maurício de Nassau o Governador do Brasil-Holandês. No Siará Grande foi designado pelos flamengos o estrategista, Gedeon Morris de Jonge, cujo objetivo era explorar a mão de obra indígena para abrirem estradas em rumo ao interior.
Antes da chegada dos colonizadores vindos da Europa, aqui no Brasil não existia nenhum meio de transporte terrestre, haja vista os animais tais como o burro, jumento, o boi, o cavalo terem sido trazidos por eles, juntamente com outros animais que se adaptaram ao nosso clima e hoje, anexados à nossa fauna. Ainda é desconhecida pelos historiadores, de que algum outro animal in natura da fauna brasileira, tivesse sido domesticado pelos nativos para o transporte de cargas, o que alimenta a crença de que todo transporte do indígena dava-se por meio braçal, e por via fluvial através de canoas.
A natureza, obra das dadivosas mãos de Deus nos presenteou uma bonita e fértil serra no local onde seria criada a Vila com o nome de “Monte-Mor o Novo da América”, passando depois a se chamar “Baturité” de onde etimologicamente provém Ybatyra + etê = Serra por excelência.
Seus primitivos habitantes chamados “índios Canindés e Jenipapos” se dispuseram a abrir caminho para pedestres, com o objetivo de migrações e conquista de novas terras. A noticia da existência dessa serra com riqueza de café, cana de açúcar e pastoreio encantou os holandeses que já haviam construído a Estrada do Mondoig, que como corruptela se denominou Mondubim, palavra originária do Tupi-guarani que significa “Estar em Montão”, devido à fartura de madeiras e material para alvenaria.
Já no Brasil Império, em 1836 o Padre José Martiniano de Alencar (pai do Romancista), então Presidente da Província Cearense, alargou a via conseguindo atingir a Serra de Baturité, tornando acessível aos consumidores da provinciana Fortaleza os produtos de Baturité, e adjacências.
Assim o inicio da Estrada de Mondubim que em 1864 denominou-se Estrada de Baturité, era na Praça da Vila Nova Arronches em local onde em 1873, a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A, inauguraria a estação de Parangaba, hoje pertencente ao Metrô de Fortaleza.
Primeira parada do trem em Mondubim.
Era chamada de Parada Intermediária – 1875
Mondubim distrito próspero
Com movimentação nas Vias, são comuns as famílias se organizarem nas beiras das estradas e explorarem a área economicamente, quer seja para subsistência ou para atender os transeuntes, formado assim os distritos, tal como Mondubim que se organizou e tornou-se uma zona de exportação. As madeireiras e olarias levaram os Srs. diretores da então Estrada de Ferro de Baturité (que já foi RVC, RFFSA e hoje divida entre o Metrô e a Transnordestina Logística S/A), a construírem uma estação no km 13,2 cuja inauguração ocorrera aos 14 de janeiro de 1875 quando, lá chegou o primeiro comboio, sendo recebido pelo agente nº. 01 da estação, Sr. Nelson Brígido dos santos. Assim os homens de negócios da época desde então, passaram a exportar seus produtos por trem e, os passageiros comodamente iniciaram suas viagens, diminuindo o movimento da Estrada de Mondubim.
Pátio da Estação com Calcário
Como era Mondubim
Mondubim em 1940, ainda era uma réplica do refrescante vento praiano; a via ainda em pedras toscas, era uma das mais verdes da nossa Fortaleza, e o seu encanto devia-se ainda por conta da adornada lagoa da Maraponga. Eram muitos os sítios ali existentes, com prados e casas de varandas. Foi num sitio destes que o saudoso empresário José Pessoa de Araújo contratou técnicos para instalar a estação transmissora da Rádio Uirapuru de Fortaleza que, foi ao ar em 1956, e aí a rua recebeu o nome do pássaro.
O trem suburbano chegava junto com o pôr-do-sol, de onde se observava no pátio ferroviário o Sr. Valdemar Cabral Caracas (faleceu com 105 anos em 2012) que, mesmo sendo secretário de Hugo Rocha, então diretor da RVC, dava suas recomendações em campo. O seu Oscar Sá Benevides, agente da estação, se alegrava com a afluência dos passageiros e dos tradicionais visitantes.
Edificação com reforma inglesa – 1911.
As duas gerações para o mesmo ideal
Hoje nada
A mutilação pelas transformações sociais e urbanísticas
O bairro de Mondubim ainda é muito arborizado, mas o alargamento da principal via de acesso; a inauguração do Departamento Estadual de Trânsito aos 3 de março de 1978; churrascarias e a proliferação de empreendimentos os mais diversos por conta das exigências reais, tiraram parcialmente do local aquele naturismo. A bonitinha estação ícone da zona, e que desafogara a roadway principal, desapareceu em 1981.
Hoje essa importante artéria de saída sul da Capital, recebeu o nome de Godofredo Maciel, homenageando aquele que era o prefeito de Fortaleza em 1920, e que quando deputado federal muito fez por nosso estado e principalmente por esta estrada que facilitou a vida de seus conterrâneos, daí a justa homenagem.
Quando a plataforma fora adaptada para o trem suburbano em 1979.
Muito dinheiro no ralo.
Fontes:
Arquivo Público do Estado;
Sinopse Histórica da EFB – 1892;
Fortaleza Ontem e hoje, Miguel ângelo de Azevedo, Nirez, Funcet 1991;
Créditos: A foto da lagoa de Maraponga fora reproduzida de original pertencente ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas.
As imagens das estações pertemcem ao Álbum de Mr. Hull, da Rede de Viação Cearense e do IPHAN.