Assis Lima
Assis Lima

DO CHICO LAMPIÃO À UMA CIDADE QUE SE ILUMINOU

 

 

O homem tem a tarefa de acender o lampião de noite e apagá-lo de dia, mas o planeta gira muito rápido e o Sol se põe a cada minuto, o que faz com que o seu trabalho seja cansativo. O Acendedor de Lampiões simboliza as pessoas que cumprem determinadas tarefas sem pensamento crítico, muitas vezes fazendo coisas sem sentido ou sem entender porquê. Elas ligam o piloto automático, estão tão acostumadas com o que fazem, que não se dão conta da importância do que faz”.          José Augusto Wanderley, Publicitário. RJ.

Tudo o que é relacionado ao desenvolvimento, obedece a etapas ou estágios. Ao retornarmos historicamente ao passado, não implica em se sofrer atrasos, mas estamos resgatando merecimentos, afinal o moderno hoje é o antigo amanhã. O moderno carro de injeção eletrônica não chegou antes daqueles, cuja partida era à manivela com carburação falha; o compacto celular em que localizamos as pessoas apenas no tempo, não podia chegar primeiro do que os aparelhos de telefonia ao magneto, com sua extensão entre emissor e receptor não superior a 1000 metros; as aeronaves, os super-sônicos dar uma volta ao mundo em questão de horas, porém, Alberto santos Dumont penou bastante para fazer subir o 14 BIS em 1906 na França, com um metro de altitude e descer com apenas cem metros percorridos.

Será que a iluminação e energia elétrica foram diferentes? Claro que não! Fortaleza foi saindo da escuridão a custa do sacrifício de animais marinho, hoje na lista de extinção. (Vide Praia dos Arpoadores). No caso Refiro-me as baleias que desapareceram da Costa Norte. Sim, pois a iluminação pública de nossa cidade, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, Casimiro José de Moraes Sarmento.

 

 

Luminária do Café Caio Prado

Passeio Público

 

A exploração do serviço de iluminação de Fortaleza teve inicio, com a assinatura de um contrato com o Sr. Vitoriano Augusto Borges que tinha como atribuição, instalar 44 lampiões. Os lampiões tinham quatro faces, sendo mais estreitas em baixo do que em cima, com fundo e tampa de metal. Eram suspensos com armações de ferro como se fosse uma forca, afixados nas esquinas e na posição que pudessem iluminar ruas e travessas. Eram limpos constantemente, e para acendê-los deveriam descer, por isso eles pendiam de uma corda, que passava em duas roldanas. Tinha uma caixinha cheia de azeite de peixe com torcida de algodão. Era parecido com pequenos tachos de que trabalham os ourives para soldas ao maçarico. Foi assim que surgiu o primeiro personagem popular de Fortaleza: “Chico Lampião”, embora seu nome conste em algumas obras, mas nada se sabe acerca do mesmo, assim como os carregadores de Quimoas.

 Fortaleza bonitinha ficou sendo iluminada com azeite de Peixe até 1866 quando, o português Vitorino Borges encerrou suas atividades nesta prestação de serviço. Surgiu a era do Gás Carbônico sob a responsabilidade da “The Ceará Gaz Company Limited”.

 

Gasômetro ao lado da Santa da Casa.

 

Com o gás carbônico, as ruas de nossa cidade tiveram melhor qualidade na iluminação, pois as luminárias foram colocadas em ziguezague sendo a distância de um para o outro de apenas 30 metros, e com um atura de 2,40 cm. Ficava uma chama brilhante em forma de leque queimando o bem preparado gás, salientando que o gasômetro ficava na rua Senador Jaguaribe, ao lado da Santa Casa de Misericórdia olhando para a Praça do Passeio Público. Daí o antigo nome daquela denominar-se “Rua do Gasômetro”.

Experimentalmente, em 1933 foram colocadas quatro lâmpadas elétricas de 100 Watts na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), entre as Ruas da Municipalidade (Guilherme Rocha) e a das Hortas (Senador Alencar).

Em 1934, fora rescindido o contrato da “Companhia Ceará Gás” e o Governo do Estado do Ceará, naquele mesmo ano oficialmente, inaugurou-se na praça do Ferreira a energia elétrica, aos 8 de dezembro, o que fora uma apoteose.

Um ano após, fora retirado o último lampião à gás encerrando assim, o segundo período da iluminação de Fortaleza, a era do Gás Carbônico.

Novo Privilégio para a The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd

 Descida da Rua Formosa (Barão do Rio Branco)

Cabos da Light

 

A firma inglesa “The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd” que já explorava o transporte de bondes elétricos desde de 1913, ganhou agora privilégio para o serviço de iluminação. A localização dos geradores da Light eram na Rua Adolfo Caminha (Baixos do Passeio Público) e as suas caldeiras eram alimentadas com lenhas vindas do Horto Florestal de Canafístula, trazidas em vagões gôndolas pertencentes a Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité.

 

Bonde Elétrico do Outeiro na Rua Floriano Peixoto

 

Aos 19 de maio de 1947 circulou o último bonde elétrico em Fortaleza e, apesar da sobra de demanda, a energia da Light ainda era muito precária. A “The Ceará Tramway”, por força do decreto federal nº 25.232 de 15 de julho de 1948 transferida a concessão para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo o Prefeito Acrisio Moreira da Rocha. Na época tinha que o General Dutra assinar, por ter sido o serviço explorado por uma firma estrangeira.

Carregamento de Lenhas

Vindas de Canafistula hoje Antônio Diogo

 

Aos 20 de maio de 1954, saiu o decreto nº 803 criando o “Serviço de Luz e Força do Município de Fortaleza – SERVILUZ” quando ainda estava prefeito, o radialista e advogado Paulo Cabral de Araújo. As novas instalações foram inauguradas em 8 de novembro do mesmo 54, ocupando o local onde funcionava o Escritório da extinta empresa de Bondes no Passeio Público, pela Rua João Moreira.

Usina Serviluz no Mucuripe

Fachada, Localização e Maquinas geradoras.

 

A Usina Termoelétrica fora instalada em maio de 1955 na Ponta do Mucuripe, inicio da Praia Mansa. Com modernos geradores Westinghouse, o Serviluz fora criado para resolver o problema da precária energia elétrica de Fortaleza.

As razões técnicas para a usina ficar distante do centro da cidade, segundo analistas da época, deveram-se a estratégica zona portuária com o surgimento de empreendimentos, tais como os já existentes: Shell Mexi, Atlantic, Texaco, Esso Standard do Brasil e Moinhos de trigo. Além do mais, o equipamento roncava e aquecia demais e a ventilação praiana, favorecia a regulagem térmica.

O Serviluz foi administrativamente transferido em 1 de maio de 1960 para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF (Estado da Bahia), a qual por sua vez, em 1 de abril de 1962 instala a Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza – CONEFOR que substituiu o Serviluz. Dois anos após, a rede elétrica proveniente da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso chegou em Fortaleza, com uma subestação no Bairro Mondubim.

 Aí com as presenças do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do Governador do Ceará Virgílio Távora, do Prefeito de Fortaleza Murilo Borges e várias autoridades, em 1 de fevereiro de 1965 precisamente às 18.30 h, na Praça Libertadores (Depois Farias Brito) no popular Bairro Otávio Bonfim, era acessa a primeira lâmpada de iluminação pública com energia elétrica da CHESF.

Em 5 de julho de 1971, o Governo César Cal’s cria a Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE e encampa a Conefor, que após três anos em assembleia geral, a extingue.

Como não era de se esperar, a história se repetiu. O comando do serviço de energia elétrica do Ceará saiu das mãos do Governo Estadual. A Coelce foi vendida, e aos 13 de maio de 1998, passou a pertencer a “Distriluz Energia Elétrica S.A.”, “Companhias Enersis S.A.”, “Chilectra S.A.”, “Endesa de España S.A.” e a “Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – CERJ”.

Então quem quiser deixar seu dinheiro no Brasil, consuma produtos da Terra e economize energia. Seja racional, pois, não existe mais Coelce e sim Enel.

 

Fontes:

– Fortaleza Belle Époque, Sebastião Rogério Ponte;

– Fortaleza de Ontem e de Hoje, Miguel Ângelo de Azevedo – Nirez.

– Fortaleza Velha, João Nogueira;

– Instituto do Ceará, Revista de 1934;

– História da Energia Elétrica do Ceará, Ary Leite.

Fotos: Ofipro e uma reprodução de originais pertencentes ao Arquivo Nirez, gentilmente cedidas. .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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