Assis Lima
Assis Lima

ABRIGO CENTRAL QUEM NA ÉPOCA NÃO SE AGASALHOU

Inauguração do Abrigo Central

Fortaleza em 15 de novembro de 1949

 

Fortaleza, historicamente é uma metrópole acolhedora, abrindo suas portas para que os que turisticamente a visitam, bem como recebe os que lhe são enviados por força de êxodo rural. A Praça do Ferreira tal qual a de José de Alencar, sofreram em suas estruturas quer por reformas projetadas, que por circunstancias alheias ao destino.

Refiro-me pela Praça do Ferreira ao incêndio ocorrido no fim da década dos anos de 1930. Por medida de segurança e na promessa de reconstrução, em 1941 demoliram todo o quarteirão da antiga intendência e foi ao chão várias lojas. Foi um vexame e tanto para os comerciantes, verem as chamas levando seu patrimônio comercial.

O interventor Menezes Pimentel, o Prefeito Raimundo de Alencar Araripe; na área de Segurança Pública e Ordem Social, o Capitão do Exército Manoel Cordeiro Neto; pelo Corpo de Bombeiros o Capitão Francisco das Chagas Nogueira Caminha e, mais alguns engenheiros, que lavraram o laudo técnico, resolvendo não mais construir um novo quarteirão; ficou o Centro Fortaleza com a Travessa Morada Nova e a Travessa do Crato.

A Praça do Ferreira agora ganhou uma extensão, com bancos e iluminação com postes no estilo da Praça original, com passagens de veículos tal, como quando na existência do quarteirão que desapareceu.

Na eleição de 1948, foi eleito prefeito de Fortaleza Acrisio Moreira da Rocha, que teve como uma das primeiras medidas, construir o “Abrigo Central” por sensibilidade a querida Fortaleza que perdeu com a destruição do Quarteirão incendiado.

Aberto o processo licitatório e com maquete pronta, ganhou o comerciante Edson Queiroz que iniciou a construção de imediato do Abrigo, terminando em 15 de novembro de 1949. Os comerciantes que foram permissionários, já animaram economicamente o fim de ano dos fortalezenses.

A Vida do Abrigo Central

O abrigo central obedeceu a visão popular de seu idealizador, Acrisio que conseguiu colocar naquele recinto, de início cafés como o Havaí, Presidente e o Wal-can, para reunir a intelectualidade da cidade. Tomavam seu café no abrigo, e a conversa continuava nos bancos da praça, que até tinha nomes.  Segundo Eduardo Campos: “Quando nosso dinheiro acabava, os comerciantes davam café de graça pra gente, só pra continuar ouvindo nossa conversa, que era uma conversa proveitosa sobre literatura, atualidades e política”.

Próximo ao palácio da Luz, Assembleia Legislativa, Palácio da Justiça, Casa do Jornalista, o cafezinho era encontro de políticos, jornalistas, autoridades as mais diversas e, também a população que vinha pegar seu transporte ou fazer compras. Tudo   no Abrigo Central. Tinha o Pedão da Bananada, a Discolândia, Box do Alaor, dentre lojinhas de artesanatos.

O fortalezense que dependiam do transporte coletivo, tinha que se postar no abrigo, pois, os ônibus faziam parada obrigatória. Era um ambiente de vida social e econômica.

O autor destas linhas com nove anos de idade, ainda alcançou e visitou uma única vez o abrigo, trazido por seu pai. Era que o Prefeito Murilo Borges, que colocou no solo da Travessa Pará defronte à loja 4400 um exemplar do Ônibus Elétrico, para as linhas de Parangaba e São Gerardo. Os nove carros de carroceria Massari/Villares trafegariam de 1967 até 1972, quando foram erradicados, e vendidos para a Companhia de Transporte Metropolitana de São Paulo.

Assim como o povo de Fortaleza foi presenteado com o Abrigo Central em 1949, o Prefeito José Walter Barbosa Cavalcante, deu como presente aos fortalezenses a derrubada do Abrigo acolhedor do Centro da cidade.

Existem duas vertentes para a derrubada: o abrigo estava inseguro, podendo cair causando uma tragédia; segundo, muita promiscuidade com desocupados a noite em suas necessidades, e estava servindo para dormida aos moradores de rua, que assustadoramente estava crescendo.

Bom, com relação a promiscuidade e agasalho noturno, uma assistência social e construção de banheiros públicos higienizados teria resolvido. Agora, uma edificação que precisou ser dinamitada, aí não condiz com a história de algo ruir ameaçando a segurança dos frequentadores, transeuntes e permissionários.

Seja como for, já estava no projeto sua destruição e, em 1968 quando foi iniciada a Praça Mostrenga, foi embora também a coluna da hora, um monumento que informava a hora, desde 31 de dezembro de 1933.

Em 1991, o Prefeito Juraci Magalhães devolveu a Praça para Fortaleza. Os banqueiros de praça voltaram com suas conversas e encontros, e a partir das 15 horas, pense numa sombra gostosa com ventilação natural. Este é o desfrutar de uma praça que é o coração de Fortaleza.

Muitos ainda lamentam, ao olhar para o local do Abrigo e desejaria ainda hoje seu agasalho. Pena que o passado não volta, ficando no lendário popular boas conversar traçadas ali.

 

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