SINTESE HISTÓRICA DO CONJUNTO CEARÁ
O ANTIGO CARNAUBAL DA VENEZA
Não para de crescer o Conjunto Ceará
Que se transformou em mini-cidade,
Que traz tanta felicidade
E só construir, conservar, amar…
Do autor
Era 1970.
Enquanto o mundo científico discutia com otimismo, a conquista do homem na lua, o Brasil era destaque na dimensão esportiva, com o primeiro título de Tri-campeão mundial de futebol, com o Jairzinho camisa sete. Ele foi o furacão, tendo em vista ter sido o artilheiro, daquela inesquecível copa que foi a copa da minha meninice e, diga-se de passagem, a primeira transmitida ao vivo pela televisão brasileira, ainda que em preto e branco.
Em Fortaleza, apesar dos chamados pichadores ocuparem os muros com a trivialidade “Abaixo a Ditadura”; o clima era de antagonismo a tudo o que se passava. Apesar de ter sido um ano eleitoral, ainda hoje o Nordeste não tem peso político para as grandes decisões nacionais. O título Terra da Luz foi uma bravura que, a história anexou aos grandes feitos, mas foi no passado, passou…
Foi no governo chamado por muitos “Os Anos Negros da Ditadura”, que se iniciou uma política habitacional, através de recursos, do já extinto Banco Nacional de Habitação. O presidente Emilio Garrastazu Médici que havia assumido a Suprema Magistratura da Nação em 30 de outubro de 1969, foi um homem que, mesmo com o Congresso Nacional mutilado, conseguiu assistir ao homem do campo, hoje o inverso. Não estou para defender regime autoritário.
O presidente Médici criou o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Pró-Rural). Pergunta-se: Quem criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL? Quem criou o FUNRURAL, hoje o maior distribuidor de renda para o homem do campo? A história está ai para fazer justiça aos seus criadores.
A história do pomposo Conjunto Ceará nasceu neste contexto. Os cearenses sempre foram vitimas de constantes secas, e não é novidade migrações. O êxodo rural incha as cidades grandes, e os flagelados começam a se refugiarem em áreas isoladas formando favelas, e consequentemente com a instalação de casebres em locais indevidos, surgem as chamadas áreas de risco, ou indústria da miséria.
O problema é que, com o retorno da estação chuvosa, os refugiados já estão adaptados ou se adaptando com a vida urbana através do mercado de trabalho, até mesmo com a mão de obra não qualificada e permanecendo no mesmo local. Quando um homem entra no mercado de trabalho, aí sua família entra no mercado de consumo. O interior fica esquecido.
Foi a hiper-população da Capital cearense que fomentou e tornou urgente, a aprovação do projeto do Governo Federal para a construção de casas populares, e o Conjunto Ceará fora inserido neste programa. A área escolhida, para melhor compreensão do leitor, foi de uma baixada após o Campo da Granja (hoje Praça da granja Portugal) até a beira da Via Férrea de Sobral, onde abrigaria as suas 4 etapas. O terreno onde foram construídas as primeira, segunda, e terceira etapas denominava-se Estivas, e após o canal, que um dia foi braço do rio Maranguapinho e uma verdadeira riqueza em carnaúbas, havia tomado a nomenclatura de Veneza, pois eram terras que na época das sesmarias foram herdadas pela a família de Manuel Francisco da Silva Albano, dentre os quais um fora agraciado como Barão de Aratanha (nome de rua no centro da cidade de Fortaleza).
O local já pertencente ao Município de Caucaia, denominou-se Parque Albano. Ali o trem da antiga Rede de Viação Cearense – RVC (depois RFFSA, hoje Metrô / Transnordestina) de 1917 até 1931, fazia parada no km 11, tanto para recebimento de gado, exportações e o envio de pequenas encomendas. O prestígio da família era grande perante a administração da Companhia Ferroviária. O trem suburbano do distrito de Barro Vermelho (Antonio Bezerra) ia direto para Soure (Caucaia). Foi aí que a população ribeirinha do Genibaú e da Jurema reivindicaram paradas para o trem suburbano. O trem ficou parando no km 10 (hoje São Miguel) e Jurema a partir de 1945. A quarta etapa do Conjunto Ceará apesar de ter sido a última, parece que pela etnologia topográfica tem uma história mais rica.
Situada essa zona Oeste para o Conjunto Ceará, a área havia sido demarcada ainda na gestão de Plácido Castelo, que em cumprimento ao programa estabelecido pelo governo Federal, as obras de infra-estrutura só foram iniciadas no final do “Governo da Confiança”, ou seja, em 1974 quando o governador César Cal’s estava prestes a passar o governo para o Cel. Adauto Bezerra.
Cognominado a Capital da Periferia, o Conjunto Ceará começou a receber as famílias em sua primeira etapa com 966 casas, cuja solenidade de inauguração ocorrera aos 10 de novembro de 1977. Referido evento contou com as presenças de várias autoridades, dentre as quais o Governador Adauto Bezerra, que estrategicamente construiu a Avenida José Bastos para o devido escoamento de veículos que, para o Conjunto viria. A Avenida João pessoa não comportaria a demanda.
A segunda etapa ficou pronta em 1978, com 2.516 unidades, a terceira em 1979, e a quarta em 1981. A RFFSA (Metrô e antiga RVC) desde a inauguração do Conjunto já havia começado a parar o seu trem no km 12, mas a inauguração oficial da estação data de 19 de fevereiro de 1982. A estação Parque Albano só iria ser inaugurada em 1995.
Pois bem, assim como bola de neve, os moradores de um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, foram triplicando, e lógico, cada um com seus empreendimentos libertando-se parcialmente assim do comércio do Centro e os Shoping. Acompanhada pela equipe de Assistentes Social da extinta Cohab, os moradores foram se adaptando.
Hoje o bairro cuja oficialização foi por conta da lei nº. 6.504 de 11 de novembro de 1989, conta com mais de 130 mil habitantes, que vivem em torno de 15 mil residências. Conta o CC com 11 Unidades de Vizinhança (UV’s), 12 avenidas, um hospital maternidade, um Posto de Saúde da Família (Maciel de Brito), duas Vilas Olímpicas, um terminal rodoviário do sistema de integração, três linhas de transportes alternativos, Várias autoescolas, posto da ABCR, Um Liceu, Creches, mais de 50 escolas públicas e particulares, uma delegacia distrital, um contingente militar que forma a 4ª Cia. do 6º BPM, Bombeiros, um juizado de Pequenas Causas, o Centro da Cidadania Lúcio Alcântara (antigo CSU), três agencias bancárias, serviço de Correios, escritórios da Enel e Cagece, Centro Cultural Patativa do Assaré, além do Pólo de Lazer Luiz Gonzaga. Na área religiosa as igrejas são as mais diversas: Católicas, Evangélicas dentre, as afro-brasileiras.
Aqui termino com duas reivindicações de todos os moradores: a Instalação de um Cartório Legal, e uma linha de ônibus Conjunto Ceará-Parangaba.