A Transnordestina Logística S/A (Ex – CFN) e a Companhia Cearense de Trens Metropolitano – Metrô são empresas oriundas de uma só organização: Rede Ferroviária Federal S/A – RFFSA, que já se denominou Rede de Viação Cearense – RVC.
Quando surgiu originalmente em 1870, tinha a nomenclatura: Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité S/A (Estrada de Ferro de Baturité).
Quando o Brasil se tornou República (1889), o Governo da União fez a necessária reforma na máquina pública para que, as Províncias passassem a funcionar como Estado. Assim o Governo cortou muitos recursos no orçamento das pastas ministeriais e o Ministério que ainda não era da Viação e sim Agricultura, Comércio e Obras públicas, sofreu esse efeito. As ferrovias começaram a mergulhar em déficits.
No Ceará com a queda do Império, os que iam chegando ao poder encontraram dificuldades na missão de reorganizar a Terra da Luz, nos postulados da República.
Havia uma divisão de grupos com correntes opostas. Os civis exigiam de imediato uma assembléia constituinte optando pela figura do primeiro ministro, como contida no sistema parlamentarista; por outro lado os militares reivindicavam uma ditadura e a substituição das Juntas Governativas Estaduais, por governadores.
O beato Antonio Conselheiro, protagonista de Canudos, estava em choque com setores conservadores da igreja, e isso tornava repugnante a separação entre a Igreja e o Estado, o Casamento Civil, a Liberdade de Culto e outras medidas do novo governo que, apareciam como sacrilégio a ser combatido, o que gerou conflito direto com a nova ordem do País.
Fortaleza apresentava uma população de 50 mil habitantes e já contava com equipamentos e serviços que já condizia com o urbanismo de uma cidade qualificada à médio porte, a exemplo do bonde de tração animal, iluminação à gás carbônico, fábricas têxteis, ruas do centro com calçamento e as redes telegráfica e telefônica, sendo gestor municipal o Capitão Teófilo Gaspar de Oliveira.
Foi neste contexto que ingressou no quadro de funcionários da Via Férrea Cearense, João Felipe Pereira, engenheiro civil formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, porém, cearense de Tauá, nascido aos 23 de março de 1861. Como encarregado do setor de obras da EFB, em 1890 juntamente com os também engenheiros Julius Pinkas e Carlos Morsing teve participação significativa na construção e prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité, no trecho Baturité – Quixadá.
Não era fácil fazer traçado naquela época, afinal a engenharia ainda não tinha ao dispor, silhuetas por foto aérea. Era coisa complexa fazer desapropriações em terrenos que, tiveram de ser ocupados pelo leito de prolongamento de trilhos e suas dependências, bem como indenizar proprietários das benfeitorias existentes.
Todo cearense de pé na estrada conhece a bonita ponte metálica na cidade de Quixeramobim, porém, muitos desconhecem o trabalho que houve do recebimento das estruturas no trapiche do Poço das Dragas (primitivo Porto de Fortaleza), limite das Praias Formosa e a do Peixe (Iracema).
Foi o professor João Felipe quem esteve no porto e acompanhou desde o descarregamento do vapor, da partida do trem sob à tração da Locomotiva Amarílio, da circulação das gôndolas de sertão adentro, até que os duzentos metros de estrutura metálica para serem divididas em quatro vãos, chegassem às margens do rio Quixeramobim, no município de mesmo nome.
Ponte de Quixeramobim
Em fevereiro de 1893, João Felipe se desligou da EFB e foi assumir à convite, o Ministério das Relações Exteriores no governo Floriano Peixoto. O País estava em crise, pois, havia estourada a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, quase ao mesmo tempo com a revolta Armada (Marinha) que, era controlada por partidários da extinta monarquia. A dupla rebelião foi esmagada pelo presidente da República (Marechal de ferro) que contou com a confiança do seu recém-nomeado Ministro João Felipe Pereira, no caso de crises diplomáticas. Depois João Felipe assumiria a pasta da Indústria Viação e Obras públicas.
Em 1897 devido a sua significativa intervenção junto ao Ministério da Indústria Viação e Obras Publicas já na pessoa de Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda (Sebastião Lacerda), o nobre cearense conseguiu recursos o que permitiu livrar a Via Férrea do Ceará de um iminente colapso, viabilizando assim transferir em 1898, a abalada Estrada de Ferro de Baturité para a iniciativa privada, em regime de arrendamento.
Sobre a Estação do Centro, convém salientar que, o terminal ferroviário de Fortaleza desde sua inauguração aos 30 de novembro de 1873, sempre fora chamada de Estação central até que, o Decreto Lei n° 3.599 de 6 de setembro de 1941 assinado pelo Presidente Getúlio Vargas, mandou que a mesma se denominasse “Estação Fortaleza”. Com a saída de Vargas em 1945, e como o Brasil estava sob a ditadura do “Estado Novo”, assumiu a presidência da República, o presidente do Supremo Tribunal Federal, o cearense de Baturité, Dr. José Linhares. Aí com um novo DL sob o nº. 8.836 de 26 de janeiro de 1946, o Chefe da Nação atendeu a uma reivindicação do Dr. Hugo Rocha (Grande diretor da RVC) e a Estação Fortaleza, passou ao nome de Estação Professor João Felipe.
Essa foi uma das mais belas homenagens, afinal, o Dr. João Felipe em Fortaleza foi o autor do projeto de abastecimento de água em Fortaleza, depois de Ministro de Estado, presidiu no Rio de Janeiro o Clube de Engenharia; dirigiu a Repartição dos Telégrafos, além de assumir a prefeitura.
Faleceu em 15 de maio de 1950.
Esse é um dia não lembrado, assim como os comandantes da Ferrovia Cearense nunca lembraram o nome de Hugo Rocha a quem a Via Férrea deve tanto, pois, para quem conhece a história da ferrovia cearense, deve deixar consignado como imperativo de justiça a gratidão de ter Hugo Rocha como patrono de uma estação. Se o leitor amigo não soube quem foi esse grande homem, porque não perguntaram ao Valdemar Cabral Caracas? Agora já é tarde, afinal, Caracas nos deixou em 2012.