A Estrada de Ferro de Baturité, foi um marco de desenvolvimento para Província do Ceará. Iniciada através da iniciativa privada, passando o trem a circular cerca de três anos e meio, após o protocolo de intenções. Juridicamente fora constituída em 25 de julho de 1870, mas que, oficialmente o primeiro trem circularia em 30 de novembro de 1873. Foi hercúleo o esforço de um Senador do Império, um engenheiro e três financistas. Cinco homens alavancaram e o trem partiu da Capital, colocando o Ceará nos trilhos.
A motivação desta estrada de ferro, visava escoamento da produção agrícola e calcária da província, onde os diretores da Companhia eram informados do escoamento de produção através do Tesouro Público, e assim a via férrea ia sendo guiada em sua construção.
No exordio era a serra de Baturité, mas o prolongamento ia se dando na medida em que as zonas fertilizantes prometiam. Arronches (Parangaba) era a feira do Gado que o povo da serra de Maranguape trazia; Mondubim / Maracanaú era o Calcário, Pacatuba Café e Algodão; Água Verde/Acarape Algodão e Gado e assim foram indo até chegar em Baturité.
Agora durante este tempo a queda de receita era grande, devido as secas que ocorreram, principalmente as de 1877-78. Os trilhos se encontravam apenas em Pacatuba, e a empresa já estava no vermelho, o que levou os acionistas majoritários a requererem suas ações. A Companhia da Via Férrea de Baturité perdeu apoio financeiro do Barão de Ibiapaba (Joaquim Freire), e do Henry Brocklehurst (inglês sócio da Singlehurst & Cia). Ficou apenas o Gonçalo Baptista (Barão de Aquiraz) e o engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante, junto com o Senador Tomaz Pompeu, sem prestígio e deprimido.
A empresa teve de ser encampada pelo Império para sobreviver.
Em julho de 1878, assume sob nova estrutura, Carlos Albert Morsing, já sob o comando de Dom Pedro II, com coordenação da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, que era comandada por João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu.
Assim as obras com novos recursos prosseguiram, e com um calendário super atrasado devido o corte da Serra do Itapahy, a empresa conseguiu chegar com muita interferência política em Baturité, aos 2 de fevereiro de 1882.
A Logística sempre é a mesma
A direção da empresa resolveu pausar nas construções e prolongamentos, devendo manter o já existente, atendendo a primeira parte do projeto.
De Baturité, o trem seguiria para Riachão (Capistrano) cortando as terras do pernambucano Manuel Dutra de Souza (pai de Alfredo Dutra) ele que havia se estabelecido no Maciço, para incrementar a cultura do café. O governo Geral não soltava verba, e a Estrada de Ferro de Baturité, mantendo o sistema, a conta gotas fazia alguma coisa para a construção, mas, por ser simbólica ficava arrastava.
A mão de obra não qualificada era absorvida, e quando chegava nos rios, apenas ficava a marcação das bases. Abarracamentos passaram a existir no longo da linha, e os responsáveis pela construção, já era outra equipe de engenheiros da linha de frente. Foi preciso surgir outra seca, a dos três oito (1888) para que o Governo Geral atendesse as reivindicações dos sofridos homens de campo.
Caio Prado
São paulo 1853 – Fortaleza 1889
O Ceará recebeu um novo presidente, *Antônio Caio da Silva Prado que juntamente com o Diretor da EFB, tocasse as obras, com subvenção pública. A rota agora era Quixadá, e assim o Governo Geral que estava no comando devido à encampação, inaugurou a estação de Capistrano e Cangaty no mesmo dia: 8 de dezembro de 1890.
Construção Trecho Muquem
Em 1891 foi um marco: inauguradas Itapiúna no dia 1 de junho e Daniel de Queiroz e Quixadá no dia da pátria.
E Muquém?
Moquém tem a seguinte formação toponímica: Assado envolto de folhas sobre a brasa. Era a maneira como os indígenas conservavam as caças e toda a carne para não se deteriorar. Era a primitiva defumação. Em todas casas tinha os fumeiros.
Etimologicamente Muquem /Moquem é uma corruptela de Mocdem, Assar na Labareda. Secar, Enxugar, Tostar, Moquear. Assim como Emouquecer-se, Encolher, embrulhar-se.
Abarracamentos do trecho Muquém Daniel de Queiroz
Muquém é a entrada de Quixadá. Originalmente, a região foi habitada pelos índios Kanindés e Jenipapos, pertencentes ao grupo dos Tapuias, resistindo à invasão portuguesa no início do século XVII, sendo “pacificados” em 1705, quando Manuel Gomes de Oliveira e André Moreira Barros ocuparam as terras de Quixadá. Estes grupos indígenas resistiram até 1760, pois, os conflitos entre índios e colonos, ocasionados pelo desenvolvimento da pecuária desde 1705, praticamente, extinguiram essas tribos.
A colonização da área compreendida pelo município de Quixadá ocorreu através da penetração pelo rio Jaguaribe, seguindo seu afluente o rio Banabuiú e depois o rio Sitiá, cujo objetivo principal era a conquista de terras para a pecuária de corte e leiteira.
As muitas fazendas existentes.
A Freguesia de Quixadá foi criada pela Lei provincial n. 1.305, de 5 de novembro de 1869. Em de 27 de outubro de 1870 a Lei provincial n. 1.347 criou o Município de Quixadá, desmembrando-o de Quixeramobim. Com a chegada do trem, conforme já lemos ocorreu a forte urbanização do Município.
A grande pergunta é: o porquê as estações de Açudinho, Muquém foram inauguradas trinta anos após. A resposta é devido o embarque de mercadorias que eram faturadas na estação seguinte. Exemplo: se o carregamento tiver sido em Açudinho (Alfredo Dutra) o faturamento era em Baturité; se fosse em Muquém o despacho era em Cangaty*. Agora o que ocorreu foi que o número de passageiros não aumentaram em proporção às cargas. Não havia necessidade de grandes construções. Até mesmo aqui em Maracanaú, o doutor Couto Fernandes usou deste artifício quando surgiu Pajuçara, que era uma casinha. Assim foram todas as demais: Tapirussu, Salva Vidas, Amanajú, José Lopes, Luna e Varzinha, Várzea da Conceição.
Alguém se lembra quando algum serviço da RVC/RFFSA era executado nas oficinas Demósthenes Rockert? O faturamento era na Estação de Álvaro Weyne. O autor destas linhas era manobrador, e viu muitas vezes o agente chefe José da Silva tirar a nota, com um bloco chamado “Outras Rendas”.