Assis Lima
Assis Lima

RELEMBRANDO AS TERTÚLIAS NO JACARECANGA

 

Turma da Boca de Sino

A dança caracteriza-se pelo uso do corpo, seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos ritmados ao som e compasso de música, envolve a expressão de sentimentos potenciados por ela.

A dança é uma das três principais artes cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. No antigo Egito já se realizava as chamadas danças astro-teológicas em homenagem a Osíris. Na Grécia, a dança era frequentemente vinculada aos jogos, em especial aos olímpicos.

No curso de nossa vida duas coisas são indeléveis. Essas gravações devem-se as energias sensitivas da audição e o olfato. Traduzindo são coisas marcantes: Perfume e música, em que evocamos uma combinação feliz do maior brega/chique do Brasil Waldick Soriano, quando gravou a música “Perfume de Gardênia”.

Mas vamos lá. O bom é que na época das tertúlias, as moças e os rapazes se afinavam e dançavam até por todo o tempo, pela combinação de essências. Muitos se queixavam de rejeição ao convidar uma menina para dançar; mas tinha lógica. O cabra usava perfume feminino e a pessoa se sentia como se estivesse com alguém do mesmo sexo. Mulher também não deve usar fragrância masculina. Sabiam que isso funciona no psicológico? Agora, não existia naqueles bons tempos, nada de marcas famosas tais como hoje, com fragrâncias passando da casa dos R$ 100 (Cem reais).

Também nem tanto como “Leite de Rosa” e creme “Trim”. Ahahaha…

As calças eram boca de sino, blusão por dentro, e o medalhão só perdia para o de Erasmo Carlos. Não se fumava dentro do recinto, onde a luz negra tornava a sala um escurinho de cinema. Quem quisesse acender seu hollywood, Minister, Albany, Charm, Marlboro, Consul, Camel Filters (o mais caro) ou até mesmo o Continental, deveria sair para a calçada e após o uso, chupava Piper ou azedinho para mudar o hálito. Caramelo do Zorro e o Negrito eram chocolates e pregavam nos dentes. Chicletes Adams, Ping Pong, Ploc, idem. O Manuel Pé Cagado levou um spray bocal para se amostrar, e a válvula estourou quase cegando uma menina, e tome vaia.

As casas mais tradicionais em cederem espaço para as tertúlias na Vila São José eram as residências do Tutuca (Elenilson), da amiga Ilná Sousa e a Tayse que já ficava na Avenida Francisco Sá no entorno do SAPS. Tayse era namorada do Magão que na época morava na casa do Artur, grande zagueiro do Ceará Sporting Clube. Agora vez por outra a Núbia, filha do seu Zuza fazia também. Era na Coronel Philomeno nº 29.

A publicidade da tertúlia era notória, pois, o anfitrião saía nas casas solicitando por empréstimo, discos de vinil. Portanto era nossa parceria, bem como ficar próximo da vitrola virando e sequenciando as músicas. Como a dança era de cerca de três horas, nunca uma música era repetida. Na rua já ouvíamos com Roberto Carlos “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “A Distância”, “Maior que meu Amor” “Amanda Amante”; Os Pholhas “I Never Did Before” (Nunca Fiz Antes); Roberta Flack “Killing Me Softly” (Matando-se Suavemente); Stevie Wonder “You Are Sunshine Of My Life” (Você é forte luz em Minha Vida); Demis Roussos “Forever and Ever” (Sempre pra sempre); The Fevers “Mar de Rosa”, “Vivo a Sonhar com Você”, “Ninguém Vive sem amor”. Tinha também músicas eróticas como “Theme Love Airport” (Tema romântico do Aeroporto) com Vicente Bell; “Nuvens, Amar Sonhar Sofrer”, JET´AILME… mol non Plus Erótico (Eu Te Amo em francês) e por ai ia………

 

O Disco de Vinil foi uma marca nas Tertúlias.

Todos os bailes da Vila São José eram na própria vila, com exceção do Carnaval e Natal que era no Clubinho Marcílio Dias, na Avenida Philomeno Gomes, por detrás do Cemitério São João Batista, depois do muro da fábrica de tecidos.

Quem é que queria saber e, também não podíamos!!!! Náutico Atlético Cearense, Maguary, Diários, AABB, Clube de Regatas nem mesmo os clubes suburbanos que desapareceram, como podemos citar: O Uberlândia no Padre Andrade, Secai no Pirambú, Carlito Pamplona na Avenida Pasteur, Grêmio Recreativo dos Ferroviários na Francisco Sá, Internacional no Monte Castelo, Romeu Martins no Montese e o de Antônio Bezerra. Não, todos ficavam na Vila São José, porque aquele pedacinho tinha tudo de bom.

No escurinho, a gente combinava para chocar um casal com outro. Se a jovem esboçasse desconforto, ficava como estava, mas do contrário a quentura do corpo (pinar mesmo) tornava mais gostosa a dança.

Eram assim as tertúlias. A única despesa que tínhamos era quando o calor se intensificava nos dirigíamos, ao Bar do Chico Lima e/ou do Seu Telles para comprar refrigerantes como Blimp (sabor Limão), Crusch (Laranja de verdade) e Grapette (Quem bebe repete, uva).

 

 

 

 

 

Marcas de refrigerantes da época

Os dois incidentes de que recordo: o primeiro foi na casa de um em que a Conefor (atual Enel), no dia da festa cortou a luz pela parte da tarde. Nada se podia fazer porque era num sábado. No outro incidente que também não irei mencionar a casa, ao fazerem a festa nos deixaram de lado, trazendo gente estranha, querendo ser os Reis da Cocada Preta. Naquela ocasião o jardim do Seu Panchico foi visitado quando lhe subtraímos pimentas malaguetas de seu jardim/hortaliça.

À noite ao chegarmos à festa sem convite, discretamente soltamos pimenta ao chão. Daí começou a espirradeira e coceiras nos olhos e a festa acabou.

Então veio a colheita desta travessura de mal gosto. Seu Panchico foi ao Padre Mirton Lavor, pároco da Igreja dos Navegantes e cabuetou (à brasileira) aquela travessura. No sermão de sábado à tarde, ele baixou o Pau dizendo que “quem entrasse nos jardins alheios sem permissão, era ladrão e salteador”. Todos baixaram as cabeças.

Aí os tertulianos ficaram bonzinhos. Quem achou ruim foram algumas meninas sapequinhas, mas nós que levamos o arregaço do sacerdote, passamos a obedecer ao para-choque de caminhão: dançando “mantendo a distancia”. Voltou-se as danças soltas tal qual o Twist, e I iê iê iê.

Em tese tudo o que é fora do seu tempo, não presta. Mas as tertúlias marcou a juventude de seu tempo.

 

Marcas de Cigarros e refrigerantes

 

 

Fonte: Histórias do Jacarecanga (A vila São José que eu vivi), Visual art 2019.  Francisco de Assis Silva de Lima.

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